sexta-feira, 23 de setembro de 2016

O Chuva Ácida completa cinco anos. E é hoje...

POR CHUVA ÁCIDA

Hoje o Chuva Ácida completa cinco anos. Ao fazer uma leitura do primeiro post (onde era feito um statement) fica a certeza de que muitos objetivos foram alcançados. Não deixa de ser curioso que a expressão mais usada tenha sido “democracia” (e suas variantes), porque a proposta inicial passava por promover uma democratização da mídia. Eis um ponto importante. Fizemos a nossa parte, apesar de que a mídia tradicional, centrada em velhos modelos, ainda vive num deficit democrático.

A diversidade de pensamento era outra proposta e também foi conseguida. O Chuva Ácida tornou-se um palco de diversidade política. Acolheu vozes do feminismo. Abriu espaço para o debate do racismo. Serviu como meio para a expressão de questões complexas, como as relacionadas aos movimentos LGBT. Enfim, o blog fez mais pela diversidade do que a velha mídia fez em décadas. A estratégia do blog continua a apontar para esse caminho. Muito provavelmente até intensificar essas abordagens.


Enfim, temos a pretensão de dizer que o Chuva Ácida efetivamente trouxe uma nova energia para o plano mediático de Joinville. Porque foi – e continuará a ir – onde outros não ousam. E o mais importante: sempre agindo pelas regras do jogo democrático.

A seguir, uma reprodução do nosso primeiro post. O leitor e a leitora poderão conferir a proposta feita há cinco anos.


O mal naturalizado














POR LIZANDRA CARPES

Vivemos em uma sociedade que encara como “o mal” apenas as grandes violências, terrorismo e o acompanha pela mídia manipuladora e vil que temos no Brasil. Logo, existem fatos que caem na insignificância e geram a banalidade do mal. Vem sempre de maneira manipulada pelo poder hegemônico e se alia aos preconceitos e ignorância das massas. A banalização do mal é tão orquestrada pelos que estão no poder que os próprios oprimidos acreditam que esta é a natureza do curso da humanidade.

Em muitos casos o violador de direitos “cumpre ordens”, no estilo daqueles que organizaram o Holocausto que Hanna Arendt descreve tão bem, a respeito do julgamento do nazista Adolf Eichmann. De acordo com esta leitura, ela levanta que o maior mal do mundo é aquele perpetrado por ninguém: o mal que é consequência de um sistema. É claro que ela retratou um fato histórico, mas a teoria vale para muitas situações onde o mal é banalizado.

Hoje é possível dizer que a banalidade do mal perpassa, por exemplo, no chão de fábrica. Uma gama de profissionais que atendem apenas ao apelo do sistema capitalista e jogam por terra a ética profissional de trabalhar “para e com as pessoas”. Criam formas de escravizá-las e maltratá-las. Engenharia, Ergonomia, Medicina e Gestão Interna, todas voltadas para as linhas de produção e lucro. O resultado são pessoas mutiladas fisicamente e psicologicamente.

Sem contar que se naturalizam também os preconceitos, inclusive com piadas. Naturalizar o preconceito é uma das mais cruéis formas de banalizar o mal. A xenofobia e a LGBTfobia são as mais contempladas na banalização do mal. É muito comum associar o nome de cidades e regiões do Brasil a  xingamentos, características e adjetivos pejorativos. Não é diferente com as referências às pessoas LGBT’s, usando a orientação sexual como ataque. Esta banalização se torna visceral dentro da sociedade e só termina com a violência que extermina vidas.

A banalidade do mal passa pela linguagem, pelo discurso e se concretiza quando o percentual de mortes neonatal de uma cidade é apresentado como  “excelente” por estar abaixo da média, porque vidas viram números e estatísticas. A banalidade do mal se expressa nas retiradas de direitos e nos ataques à Educação com a medida provisória que tira a obrigatoriedade e a oportunidade de toda uma nação falar sobre arte, filosofia, sociologia e educação física. E banalizar o mal se torna crônico e quase imperceptível, porque até os questionamentos serão abafados.


E quando a história nos questionar quem permitiu estas violações e banalização do mal, uns dirão que foi o governo. E os homens dos governos vão responder que foram eleitos pelo povo.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Prazer, pastor Filipe
















POR FILIPE FERRARI



Estive dando uma olhada nos candidatos a vereador para Joinville, e algo (que não é nenhuma novidade) me chamou a atenção: os “pastores”. Na listagem dos 300 e tantos candidatos, cinco deles carregam em seus nomes “artísticos” alguma alcunha que remeta à religiosidade, tal qual “pastor(a)”, “evangelista” ou “capelã”. E, qual o problema disso?

Eu sou professor. Em algumas oportunidades, coloco esse título em frente ao meu nome, especialmente por questões profissionais. Entretanto, esse título me é concedido por um diploma, no qual consta o reconhecimento de uma universidade, reconhecida e chancelada pela instância máxima da educação nacional, o MEC. Se eu sair do país, mediante as burocracias necessárias, esse meu diploma é válido em diversos outros países do mundo. Agora, quem regulamenta a profissão de “pastor”?

A função de pastor/ministro/sacerdote é extremamente importante, e exige muito estudo. Em diversos âmbitos e círculos sociais, é essa pessoa quem presta auxílio para pessoas em depressão, questões conjugais, enlutados, aconselhamentos, entre outros. Até o século XX, e até hoje em determinados rincões desse país, as igrejas são um dos únicos espaços fomentadores de dignidade e socialização, especialmente em situações de marginalização social. Aí que está o problema da picaretagem. Assim como em todo ramo de trabalho, os picaretas pululam no cargo de ministros religiosos, e são os que trazem má fama à classe.

Aqui em Joinville, passamos pelo mesmo problema. Tem tecnólogo tatuadão (que, graças a Deus não concorre ao legislativo) que fez teologia em lugares meio obscuros (que comemora quando UM aluno consegue validar o diploma), tem pedagoga vereadora pastora que quer enfiar goela abaixo o Escola Sem Partido, e por aí vai. Na verdade, dos religiosos que concorrem à Câmara, apenas um deles declarou como profissão ser Sacerdote ou Membro de Ordem ou Seita Religiosa, apesar do Ensino Médio Incompleto. Sendo assim, até eu posso me chamar de pastor (não, obrigado, o título é uma ironia)!

Obviamente a regulamentação de um cargo como esse merece muita discussão, e não se pode exigir que o Estado interfira nas religiosidades. Entretanto, também não se poderia achar normal que pessoas se invistam de títulos e cargos para agir no meio público. Se determinada denominação acredita no seu “ungido”, que essa unção seja agente transformador (ou deformador) do meio que a aceitou. A autoridade religiosa para o meio público somente deveria ser levada em consideração se tivesse o aval da regulamentação oficial. Existem por aí excelentes escolas e faculdades de Teologia, que inclusive tem conceito máximo junto ao MEC e à Capes.


Afinal, sempre cabe a pergunta, você iria a um médico que exerce sua profissão sem um diploma, apenas pelo reconhecimento?

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Colombo erra ao querer militarizar a educação

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Uma das principais novidades advindas da reunião de Colombo com os empresários sobre a segurança pública, a criação de um colégio militar é um erro e não resolve os problemas da educação pública e da violência urbana. Pelo contrário, tende a piora-los.

Primeiro, é preciso relativizar que a educação militar educa melhor. Várias entidades atuantes na questão já mostraram que os colégios militares espalhados pelo Brasil não são totalmente públicos, apesar de serem sustentados pelo dinheiro público. No caso dos colégios de Florianópolis e Lages (modelos citados pelo governador), apenas 10% das vagas são abertas à comunidade, por sorteio (o restante é para os filhos dos policiais). Os diretores não são professores da rede pública, são militares.

A noção de “disciplina” presente nesse ideal camufla a falência do ensino público estadual, desvirtua o papel da polícia e abre mão da formação de sujeitos para formar cidadãos que obedecem ordens, tamanha a esterilidade social que a repressão estatal carrega nas fardas e condecorações. A tolerância, a divergência, a discussão e a livre manifestação passam longe dessas instituições rigidamente hierarquizadas.

Como se não bastasse, o alto custo de manutenção dos uniformes leva a uma elitização dos alunos, amplamente classificados como de classe média-alta nas demais unidades cedidas aos militares. Lembramos, também, que dependendo da unidade a ser escolhida para abrigar a nova metodologia, muitos alunos carentes podem ser forçados a buscar outra escola, distante do local de moradia, pois fazem parte dos 90% excluídos. Ou, ainda, entregar uma das melhores escolas da cidade para à militarização (é o que vai acontecer com Joinville, por exemplo).


Precisamos criar uma escola baseada em diálogo constante entre alunos, professores e gestores, construindo coletivamente um espaço de futuros adultos em cidades menos desiguais e mais inclusivas. O que falta em Joinville é diversidade na educação, e não militarização. Se, porventura, esse anúncio serviu como medida de combate à violência, esquece-se que a educação precisa desativar a ordem que exila o jovem nas periferias, ao invés de fomentar os valores bélicos. A mesma mão que mata os jovens, negros e pobres não pode ser aquela que os educa; nem aquela que mostra isso como natural para as próximas gerações.