As redes sociais, grupos de Whats e espaços que
frequento andam preocupados com o sumiço de algumas pessoas. Cada um em seu
âmbito, muito se fala sobre o desaparecimento midiático do senador Aécio Neves,
e aqui na nossa cidade, procurava-se desesperadamente um prefeito que deu o ar
da graça essa semana para anunciar sua chapa que concorrerá ao paço municipal.
O chá de sumiço tem sido uma estratégia
política importante na atual conjuntura brasileira, pois muitos políticos
preferem ser esquecidos (e adotar estratégias agressivas de marketing nas
eleições), do que estar sempre na linha de fogo da opinião pública. Quem deve,
teme. Para estes, o esquecimento tem um papel importante em suas estratégias de
campanha.
O historiador francês Paul Ricouer tem
trabalhos interessantes sobre essa função da memória: o esquecer. Ele defende,
inclusive, o direito ao esquecimento. Realmente, em alguns casos isso é
importante, apesar dos diferentes tipos da ação do não-lembrar. O trabalho do
governo alemão pós-holocausto é um exemplo. Fez-se um julgamento, colocou-se
nome nos culpados, que foram então penalizados, ergueram-se (ou preservaram-se)
museus e lugares de memória, e hoje a nação alemã tem sobre si a sombra do
genocídio, mas essas gerações não precisam carregar a culpa. Foi. Aconteceu.
Lembremos, mas esquecendo e nos libertando. É um trabalho psicológico de Estado
e de cultura nacional.
Trabalho esse que foi desenvolvido em
alguns países da América Latina com as Comissões da Verdade pós ditaduras.
Trabalho que demorou a ser feito no Brasil, e que ainda não teve o alcance
necessário, visto as aberrações que vemos nas últimas manifestações, ou mesmo
as aberrações no congresso que pedem e defendem a Ditadura Militar.
Em época eleitoral, a estratégia do
esquecimento é utilizada de forma canalha. Querem que se esqueça do candidato
que foi condenado (sim, condenado; não delatado, julgado, suspeito...) por
desvio de dinheiro público, querem que se esqueça do prefeito que fez mil
promessas em cima da sua capacidade de gestão, e que paralisou a cidade.
Em
determinados casos, o esquecimento é um direito, mas lembrar é um dever.