E num dia em que teve até peixe saindo do bueiro, o pessoal do ÉÉÉgua traz mais esta preciosidade para o Facebook.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
Os haitianos de hoje são os nossos parentes de ontem
POR CHARLES HENRIQUE VOOS
Segundo fontes,
no conjunto do fluxo migratório que chega ao país, eles representam 10% do contingente – há quatro anos eles não passavam de duas centenas, mas, no fim de 2011, somavam 4 mil. As estatísticas fazem do Brasil o maior ponto do tráfico de imigrantes haitianos da América do Sul: 75% passam pelo Equador, seguem para o Peru e ingressam no Brasil por Tabatinga e Brasileia, fazendo, na fronteira, o pedido de refúgio. Apenas 5% deles tomam rotas distintas com passagem pela Argentina, Bolívia ou Chile antes de imigrar para o Brasil. Cerca de 20% saem do Haiti com vistos obtidos nos consulados e fazem escala no Panamá, antes de desembarcar nos aeroportos de Belo Horizonte, Brasília ou São Paulo.
A imigração de Haitianos é uma realidade presente em uma boa quantidade de municípios brasileiros, principalmente nas cidades catarinenses onde o superávit de empregos é noticiado nacionalmente. Muitos possuem ensino médio completo e são absorvidos pelos setores da construção civil e comércio em geral. Inclusive em alguns lugares há campanhas específicas para estes grupos, com acompanhamentos de assistentes sociais e médicos do Programa Saúde da Família. É uma população com alta vulnerabilidade que precisa de apoio para conviver harmoniosamente com a realidade brasileira e fugir das drogas, do tráfico e mendicância. Infelizmente o preconceito e o descaso ainda competem com a busca por oportunidades de uma vida melhor.
O recado que os preconceituosos merecem vai no sentido do título deste texto. Claro que as condições do país são diferentes e as realidades são outras, mas todos os nossos parentes (inclusive os indígenas) foram imigrantes em alguma parte da história. As nossas origens provam que estes povos merecem sim o respeito, a dignidade e a inclusão como qualquer outro ser humano merece, sem o constrangimento de que "estão tirando vagas de trabalhadores brasileiros" e sem patriotada. Mesmo assim, se alguém pensar contra esta linha de raciocínio, que vá abrir os álbuns antigos de família e ver que, se não fossem pelas oportunidades conquistadas na dura realidade social brasileira (escravidão, campesinato, êxodo rural, ditadura, etc.) talvez nem teria existido.
Somos todos nômades. Está em nossa essência.
terça-feira, 20 de janeiro de 2015
Ai, que saudade...
POR FELIPE CARDOSO
Recentemente o “humorista” Renato Aragão, vulgo Didi, saudosista que só, relembrou desse período em que negros e homossexuais não se importavam com as piadas racistas e homofóbicas. “Naquela época, essas classes dos feios, dos negros e dos homossexuais, elas não se ofendiam. Elas sabiam que não era para atingir, para sacanear”, desabafou.
O mundo atual está vivendo a época do “politicamente correto”, que está deixando a nossa vida mais chata.
- “Para que tirar as pessoas da miséria? Vamos rir da miséria de quem?”, não é Silvia Pilz? O link está no final deste texto.
- “Negros cursando universidade? Para quê? Quem vai dirigir meu carro? Quem vai lavar minhas cuequinhas?”
- “Homossexuais casando e constituindo família? Por que isso? Pra que adotar crianças abandonadas e ensinar a serem gays?”
- “Lei Maria da Penha? Mulheres ganhando salários maiores do que o meu? Morando sozinhas? Independência feminina? Donas do próprio corpo? Quem vai cozinhar e limpar minha casa agora?”
- “Nós, brancos, heterossexuais, cristãos, pagadores de impostos estamos sendo oprimidos!”
Esses são alguns dos pensamentos dos intolerantes e reacionários que são representados por pessoas que se intitulam humoristas e mostram seus ideais (da Idade Média) por meio de piadas. Acham que estão sendo perseguidos e proibidos de caçoarem dos outros.
É assustador ver a quantidade de comentários preconceituosos de pessoas que, de alguma maneira, querem propagar, incentivar e fazer prosperar o discurso do ódio, da intolerância e da violência.
Se você sente saudade de alguma coisa citada acima, sinto informar, mas você precisa urgentemente de um tratamento psiquiátrico.
Então quer dizer que ensinarmos as pessoas de todas as idades a respeitarem as diferenças e conviver de maneira pacífica e harmônica para contribuir com o crescimento do país é algo simplesmente “chato” e “sem graça”? Lutar por igualdade e justiça é balela? Devemos celebrar a cultura das ofensas e desavenças? Continuar achando que é apenas uma piada?
Certamente essas pessoas que defendem essa época “gloriosa” são as mesmas que reclamam dos assaltos e assassinatos presentes no nosso dia a dia.
- “Mas o que tem a ver uma coisa com a outra? Uma coisa é falar, outra é agir!”.
Lembram da repórter Rachel Sheherazade, que disse ser “compreensível a atitude de justiceiros”? Lembram o que aconteceu depois desse depoimento? As palavras têm poder. Para que a teoria vire prática basta uma simples atitude.
Quando semeamos na nossa cabeça a raiva, a intolerância e a ignorância, nosso subconsciente nos leva a ações maldosas que prejudicam pessoas ao nosso redor quando precisamos resolver nossos problemas.
Rir da diferença do outro é errado, pois você está desqualificando seu semelhante. Você está hierarquizando e segregando a sociedade. Quem se parece com você é bonito, inteligente e merece tudo de bom. Quem é diferente de você é feio, burro e merece tudo de ruim. Acho isso já foi usado em alguns períodos da história mundial. Se não estou enganado foi na escravidão e no nazismo.
Assustador, não? Uma simples piada pode parecer apenas uma simples piada quando não é analisada. Ela se naturaliza e, muitas vezes, é tomada como verdade. Então não tem graça as suas piadas preconceituosas. Na verdade nunca tiveram. A diferença é que tempos atrás quem sofria com tais humilhações não tinha força para reivindicar, mas agora elas têm.
Se estamos evoluindo para uma cultura mais respeitosa e você está descontente com o mundo, não pense que a sociedade está chata. Na verdade é você que não está acompanhando essa evolução. Isso é normal. Acontece com todas as pessoas preconceituosas. Elas não estudam, não sentem empatia e só leem e assistem o que combina com os seus pensamentos. Isso quando leem. Então não pense que nós (que lutamos contra todo o tipo de preconceito e violência) é que estamos errados.
Ensinar e semear o amor, a paz e o respeito para todos é fundamental para uma melhor educação e uma melhor convivência entre os humanos. Fazendo as pessoas pararem de achar graça em ofensas baratas e agressivas nos fará ficar mais exigentes. Não rir de qualquer coisa. Nossos humoristas terão que se esforçar mais. Exigiremos mais piadas inteligentes. As “zoações” nas escolas serão diferentes.
Estamos evoluindo e não podemos dar marcha a ré. Mais paz, amor, união e respeito, por favor.
Ah, e Renato, eu achava (e ainda acho) o negro e o homossexual os mais engraçados daquele grupo “Os Trapalhões”. Não é a toa que você e o Dedé perderam a visibilidade depois que eles faleceram.
Para encerrar, deixo aqui o documentário “O Riso dos Outros”, do Pedro Arantes, que contribui bastante com o debate.
(http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/01/blogueira-globo-esculacha-pobres-em-artigo-espantoso.html).
https://www.youtube.com/watch?v=uVyKY_qgd54
segunda-feira, 19 de janeiro de 2015
Está quente?
POR JORDI CASTAN
Está quente? Se tivéssemos mais árvores nas ruas, a temperatura baixaria alguns
graus. Em média, ruas arborizadas são de 3 a 5 graus menos quentes. Mas falar da
arborização urbana em Joinville é mexer num vespeiro.
As árvores atrapalham, dão trabalho, custam dinheiro, arrebentam calçadas, folhas caem e sujam as ruas. E por aí vai. Ninguém lembra que árvores reduzem a temperatura no verão, produzem oxigênio, fixam poluentes e melhoram a qualidade do ar, embelezam e aumentam o verde urbano. Árvores melhoram a qualidade de vida.
Em Joinville, a arborização urbana vem se deteriorando a ritmo alarmante. O poder público não tem um projeto de arborização urbana. Podas de manutenção e formação não são programadas, nem estão previstas. Os menos avisados dirão que a Celesc gasta mais de R$ 1.000.000 ao ano na poda de árvores, sem entender que a empresa, através das suas subcontratadas, não faz poda de árvores, só as deixa "podidas" para facilitar a manutenção da fiação elétrica e evitar problemas no fornecimento de energia. O resultado é a deformação e até a destruição das árvores, como resultado do manejo inadequado.
Nas novas praças há mais concreto que verde. As árvores, quando plantadas, não desenvolvem e morrem a míngua. E quando isso acontece não são repostas. É só ir ao Parque José Alencar, também chamado Parque da Cidade, e ver que depois de mais três anos as árvores que teimam em sobreviver estão ainda do mesmo tamanho que foram plantadas.
O rebaixo do meio fio e a priorização do carro, unido à visão míope de alguns comerciantes que não querem árvores na frente de suas lojas e pontos comerciais, faz com que Joinville perca cada ano mais cobertura arbórea. O saldo é negativo há mais de 25 anos. E ainda tem quem reclama do calor. Seria melhor reclamar da ignorância, mas essa, ao contrário da arborização urbana, vai muito bem e tem, na nossa cidade, um futuro próspero.
A Prefeitura tampouco ajuda muito. As árvores plantadas nas ruas não têm o tamanho adequado, não se seguem normas técnicas, nem há padrões para o fornecimento das mudas, o DAP (diâmetro a altura do peito), um dos critérios para estabelecer um bom padrão de arvore para rua, não é exigido e nem o tamanho mínimo de cova é cumprido. Colocar fertilizante é um luxo impensável.
Como resultado, num cálculo bem conservador, mais da metade das novas árvores plantadas nas ruas de Joinville nos últimos anos se perderam. Tempo e, principalmente, recursos públicos jogados fora. Alguém se preocupa com isso? Parece que não. Perder mais da metade das árvores plantadas parece um padrão aceitável, numa cidade que nem cuida do jardim da própria Prefeitura. Aliás, outro espaço em que as plantas também morrem a míngua, ante o olhar impertérrito dos técnicos responsáveis do verde urbano da nossa cidade.
As árvores atrapalham, dão trabalho, custam dinheiro, arrebentam calçadas, folhas caem e sujam as ruas. E por aí vai. Ninguém lembra que árvores reduzem a temperatura no verão, produzem oxigênio, fixam poluentes e melhoram a qualidade do ar, embelezam e aumentam o verde urbano. Árvores melhoram a qualidade de vida.
Em Joinville, a arborização urbana vem se deteriorando a ritmo alarmante. O poder público não tem um projeto de arborização urbana. Podas de manutenção e formação não são programadas, nem estão previstas. Os menos avisados dirão que a Celesc gasta mais de R$ 1.000.000 ao ano na poda de árvores, sem entender que a empresa, através das suas subcontratadas, não faz poda de árvores, só as deixa "podidas" para facilitar a manutenção da fiação elétrica e evitar problemas no fornecimento de energia. O resultado é a deformação e até a destruição das árvores, como resultado do manejo inadequado.
Nas novas praças há mais concreto que verde. As árvores, quando plantadas, não desenvolvem e morrem a míngua. E quando isso acontece não são repostas. É só ir ao Parque José Alencar, também chamado Parque da Cidade, e ver que depois de mais três anos as árvores que teimam em sobreviver estão ainda do mesmo tamanho que foram plantadas.
O rebaixo do meio fio e a priorização do carro, unido à visão míope de alguns comerciantes que não querem árvores na frente de suas lojas e pontos comerciais, faz com que Joinville perca cada ano mais cobertura arbórea. O saldo é negativo há mais de 25 anos. E ainda tem quem reclama do calor. Seria melhor reclamar da ignorância, mas essa, ao contrário da arborização urbana, vai muito bem e tem, na nossa cidade, um futuro próspero.
A Prefeitura tampouco ajuda muito. As árvores plantadas nas ruas não têm o tamanho adequado, não se seguem normas técnicas, nem há padrões para o fornecimento das mudas, o DAP (diâmetro a altura do peito), um dos critérios para estabelecer um bom padrão de arvore para rua, não é exigido e nem o tamanho mínimo de cova é cumprido. Colocar fertilizante é um luxo impensável.
Como resultado, num cálculo bem conservador, mais da metade das novas árvores plantadas nas ruas de Joinville nos últimos anos se perderam. Tempo e, principalmente, recursos públicos jogados fora. Alguém se preocupa com isso? Parece que não. Perder mais da metade das árvores plantadas parece um padrão aceitável, numa cidade que nem cuida do jardim da própria Prefeitura. Aliás, outro espaço em que as plantas também morrem a míngua, ante o olhar impertérrito dos técnicos responsáveis do verde urbano da nossa cidade.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2015
Após a tragédia
POR PEDRO HENRIQUE LEAL
Havia planejado para o meu
primeiro texto algo mais otimista. Algo sobre como deixávamos para trás as
agruras dos anos passados, e 2015 se abria esperançoso. Esse texto perdeu todo
o sentido na última quarta-feira (7/1), quando três atiradores invadiram a
redação da revista satírica Charlie Hebdo, matando dez funcionários. Em seguida dois dos terroristas tomaram reféns em um mercado Kosher. Agora,
passada uma semana, as reações ao evento vão de solidariedade à violência,
passando pela mais pura hipocrisia.
Imediamente após o desastre,
comentaristas, leigos e formadores de opinião saltaram para a resposta óbvia:
os terroristas fizeram o que fizeram pois se ofendiam com as charges da revista
sobre o profeta Maomé. Talvez seja esse o caso - ou talvez isso seja uma
análise precipitada e marcada por clichês simplistas. Certo que este pode ter
sido um fator, mas terrorismo busca exercer pressão política através da
violência; é igualmente, ou mais provável , que o alvo tenha sido escolhido por
seu destaque e que o interesse real seja o governo francês. No entanto, essa
narrativa de “eles se ofenderam por causa das charges” tem muito a beneficiar o
terror, ao justificar discursos de ódio simplistas de “eles nos odeiam por que
nos odeiam”.
Pouco após a tragédia, o hino de “Je
suis Charlie” em simpatia às vítimas do ataque tomou a internet. No entanto,
rapidamente a empatia pelas vítimas deu lugar ao radicalismo de “conosco ou
contra nós”. Aqueles que apontaram os problemas éticos quanto a linha editorial
da Hebdo (como Leonardo Boff e o cartunista americano Joe Sacco) rapidamente
foram acusados de “defenderem os terroristas”. E muitos dos que manifestaram
apoio rapidamente retiraram seus hinos de “Je suis Charlie” ao ver que as
caricaturas ácidas da revista não se restringiam a atacar o Islã.
Neste domingo (11/1), líderes
mundiais se reuniram para “liderar a marcha” em prol da liberdade de expressão
e contra o terrorismo. Um gesto nobre, não fossem alguns dos participantes
dessa marcha. Segundo a Repórteres Sem Fronteiras, vários dos enviados para a
manifestação estão longe de serem aliados da liberdade de expressão. Entre eles
estavam representantes da Turquia, dos Emirados Árabes Unidos, da Arábia
Saudita (onde um blogueiro foi condenado a 1000 chibatadas por “insultar o
Islã”), da Rússia e da Algéria.
Desde o ataque a redação da Charlie
Hebdo, já foram mais de 50 ataques e atos de vandalismo contra mesquitas e
centros comunitários islâmicos na França. Nos casos mais graves, tiros foram
disparados, granadas foram lançadas e até um restaurante foi explodido. Nas
redes sociais e em canais de TV, pede-se por medidas mais duras contra “a
ameaça islâmica”. Na Fox News, “especialistas” propagam o medo com afirmações
sem embasamento (como dizer que a cidade britânica de Birmingham “é uma área
somente para muçulmanos”. E essa onda de temor e ódio pode muito bem ser o que
os terroristas desejavam: empurrada a margem da sociedade ocidental, a
comunidade islâmica vira cada vez um prato cheio para o radicalismo.
PERSPECTIVAS - Talvez o aspecto mais condenável da
reação ao ataque, os últimos dias foram marcados por opinadores de todo o
espectro político assumindo para si as dores e a reação. Tivemos revistas de
esquerda tentando pintar o caso como “um ataque às esquerdas”. Membros da
extrema direita alegando que era “um ataque a civilização ocidental”.
Movimentos armamentistas usando do terror para empurrar sua agenda. Grupos
anti-imigração pedindo deportações em massa.
Formadores de opinião declarando que todo muçulmano devia desculpas.
Houveram até publicações brasileiras usando da tragédia parisiense para clamar
por uma retomada dos protestos de junho passado.
Enquanto os olhares do mundo se
viram para o massacre em Paris, outras
tragédias recentes parecem ter sido completamente esquecidas. Uma menina bomba
matou 20 pessoas e feriu 51 em Maiduguri, na Nigéria, neste domingo (11/1),
Também na Nigéria, o grupo terrorista Boko Haram cometeu o maior massacre da
sua história na aldeia de Baga, nordeste do país. Com estimados 2 mil mortos
(as forças de defesa nacional desistiram da contagem de corpos, segundo a
Anistia Internacional), o massacre parece ter sido quase que totalmente
ignorado pela comunidade internacional.
O que ocorreu em Paris na última
quarta-feira não é nada simples. No entanto, insistimos em explicações
simplificadas e que não contemplam as implicações nefastas tanto do caso,
quanto das reações. Não, não foi sobre liberdade de expressão (ao menos não apenas sobre isso). Reduzir a “eles são
selvagens que não aceitam humor e devem ser expulsos da civilização” é tentar
resolver violência com mais violência. Seguir nesse caminho é abraçar a
barbárie, em meu ver.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2015
Crise! Qual crise?
POR VALDETE DAUFEMBACK NIEHUES
Depois de um ano intenso de trabalho, de estudo, de tentativa de compreensão das inconveniências ideológicas manifestadas nas redes sociais, eu só queria passar o fim de ano em um lugar calmo, sem a agitação da “ditadura” da contagem regressiva do tempo que, simbolicamente, se enterra o passado e faz nascer o futuro desejoso de uma vida fortuita, de paz, amor, saúde e dinheiro.
Assim, fui para a minha terra natal, no sítio onde à noite costuma-se ouvir os sons da natureza, a harmonia do canto dos pássaros ao amanhecer, o estilo da vida rural no dia seguinte. Enfim, o “direito à preguiça” estava garantido, tudo ao seu tempo.
Mas no segundo dia do ano a ficha caiu ao tentar visitar parentes e amigos residentes em centros urbanos de municípios nos arredores, pois as cidadezinhas estavam desertas, as casas de comércio fechadas, as residências trancadas, ninguém nas ruas. Para onde foi todo mundo? Percebi que a situação daquelas pequenas cidades não diferia muito de Joinville, onde nas férias de fim de ano até restaurantes e panificadoras se mudam para as praias.
No terceiro dia, hora de voltar para Joinville. Durante o trajeto, que levou doze horas para percorrer trezentos e cinquenta quilômetros, além da paciência e do cansaço, fiquei observando a quantidade de carros com placas de todas as partes do Brasil que entravam e que saiam das cidades litorâneas, certamente de turistas ou veranistas em férias. Pensei: ‘Essa movimentação toda deve ser o reflexo da crise anunciada no ano passado desde as primeiras manifestações da eleição presidencial. Imagina se não houvesse crise’.
A história tem registrado que diante de uma crise econômica o lazer é o primeiro atributo a sair da lista do consumo dos trabalhadores. Será que a população brasileira mudou seu estilo de vida? Ou a mídia, aliada a interesses interesseiros de alguns políticos alardeou uma crise com propósitos específicos?
A considerar o cenário internacional, não estou afirmando que o Brasil está livre de uma crise econômica. Porém, a crise anunciada, para tristeza de muita gente que torcia por um desastre na economia para desestruturar a política “esquerdista”, ainda está na lista de espera do tempo. Ora, as crises econômicas são necessárias porque possibilitam o surgimento de novos mercados, dizem os capitalistas. Sem elas o capital não se renovaria e entraria no processo entrópico. Além do mais, a crise força os trabalhadores a se atualizarem profissionalmente e assumirem o ônus das mudanças tecnológicas.
Quanto ao próximo verão, para resolver o aborrecimento tumultuado do trânsito, quem sabe pensemos em um meio de transporte alternativo, barco, helicóptero, ou jatinho, talvez.
Alguma dica de como construir aeroporto no sítio?
quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
Notas soltas sobre o caso Charlie
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
> A primeira edição do Charlie Hebdo
pós-massacre já está nas bancas. O primeiro número anunciado era de um milhão de
exemplares, passou para três milhões e, no final, acabou em cinco milhões. E foram poucos. Logo pela manhã os franceses formaram filas para comprar um
exemplar do semanário, que hoje tem edições em 16 línguas e mais de 25 países.
Esgotou.
> A capa da edição de hoje (à esquerda) traz uma imagem de
Maomé a falar em perdão, a dizer que é Charlie, mas com uma lágrima no canto do
olho.
> Fontes do “Le Canard Enchaine”, o maior
semanário satírico francês, com tiragem de cerca de 500 mil exemplares,
disseram ter recebido ameaças terroristas, com a promessa: “agora é a vossa
vez”. Mais ataques à liberdade de expressão.
> A direita europeia começa a sacudir a água do
capote. Diz que a austeridade imposta ao velho continente nos últimos anos nada
tem a ver com a gênese de terroristas como Charif e Said Kouachi. Será que não? De qualquer forma, a preocupação dos conservadores em desconstruir essa
teoria é um bom indicativo do contrário.
> A austeridade resulta em desemprego, desigualdade
e miséria. O clima de exclusão tem relação com a cooptação de jovens europeus
pelos extremistas? Tem. Que tal este exemplo? Há alguns anos, antes de ser recebido
por Nicolas Sarkozy, o terrorista Amedi Coulibaly (o do segundo atentado em
Paris) disse à imprensa que, caso tivesse oportunidade, iria pedir um emprego
ao então presidente francês.
> Por estranho que pareça, no Brasil há muita
gente a demonizar a França. Deve ser coisa de gente que nunca pôs os pés na
terra de Asterix. A sociedade francesa é uma das mais inclusivas do mundo. É
claro que há islamofobia. Mas não é generalizada e atinge mais intensamente franjas
situadas à direita.
> A esquerda brasileira entrou numa espiral
esquizofrênica. Refém de ideias monolíticas, não sabe como reagir aos fatos.
Não raro há tentativas de relativizar o ataque terrorista ao semanário Charlie.
Temos que aceitar todos os pontos de vista. O problema é que os argumentos por
vezes roçam a infantilidade.
> Em Paris, na França, morreram 17 pessoas. Em
Baga, na Nigéria, morreram 2 mil pessoas. Ora, são ambos casos deploráveis e
cada um tem o seu simbolismo. Mas fazer – como muita gente tem feito – uma
comparação contábil entre os casos, de forma a relativizar o massacre de Paris,
é um caso de desonestidade intelectual.
> Gente que se diz marxista a pedir respeito
pela religião do outro. Ora, o primeiro objeto de estudo do velho barbudo (então jovem) foi
justamente a religião, que ele considerava o maior problema das sociedades.
terça-feira, 13 de janeiro de 2015
Joinville em Chamas
POR FELIPE SILVEIRA
Estava lendo "O Dicionário da Corte de Paulo Francis" dias atrás e me deparei com o verbete “Gene Hackman”, que Francis usa para dar um pitaco sobre o que muda o mundo. Ele comenta a atuação do ator no filme "Mississipi em Chamas", no qual Hackman interpreta um agente do FBI que investiga o assassinato de três ativistas por direitos civis nos EUA (história baseada em fatos reais, sendo que o filme recebeu críticas por supostamente enaltecer o trabalho do FBI, diferente do que aconteceu longe das telas).
Diz Francis: “Hackman olha e ri nos falando uma enciclopédia britânica sobre a natureza humana. Não se vangloria e nem tem ilusões. São pessoas assim que avançam as causas, poucas ainda em que acreditamos, e não ideólogos e idealistas. São céticas, cínicas e eficientes. Nossa única esperança, e Gene Hackman é emblemático de nossa condição”.
Bom, eu até acho que pessoas assim “avançam as causas”, uma aqui, outra ali. Porém, seria ridículo interpretar que o próprio Francis ignorava outros fatores. Ele estava, acredito, apenas sendo Paulo Francis.
Interesses de grupos poderosos, questões religiosas, pessoas obstinadas, líderes loucos, multidões nas ruas, acaso... O mundo muda com a mistura de tudo isso, constantemente.
Ao povo, no entanto, resta a rua. Se os economicamente poderosos discutem e articulam seus interesses em algum prédio da Hermann Lepper ou da Beira-rio, o povo escancara seus desejos de maneira muito mais honesta nas ruas.
Sem perseguição política via sistema judiciário, sem capangas infiltrados para arrumar confusão, sem polícia conivente, sem mídia que fecha os olhos para o debate, sem artimanhas tão comuns aos que sempre lucram.
O povo na rua tem sua voz, seus cartazes, suas faixas e mais recentemente algumas câmeras para registrar sua poesia e, se necessário, o abuso dos outros. Como policiais que retiram suas identificações dos uniformes em pleno exercício da função.
Mas é um erro pensar que basta ir às ruas uma ou duas vezes e esperar que a partir daí as coisas se resolvam. “De que adianta?”, sempre ouvimos. Adianta que tudo faz parte de um processo e que lutas se acumulam ao longo de anos até que comecem a surgir resultados.
Os movimentos pelo passe livre, pela tarifa zero, têm aproximadamente uma década de atuação constante. Em 2013 conseguiu barrar o aumento da passagem do transporte coletivo em várias cidades, além de puxar um gigantesco movimento que envolveu toda a sociedade brasileira e que gera as mais diversas interpretações e opiniões. Sofreu e sofre forte repressão.
Mas é preciso continuar nas ruas. Acumular. Algo que nem é preciso dizer para aqueles que sempre estão lá. Eles não parecem esmorecer. Nem sob ameaças, nem com processos. Não parecem desanimar. E certamente não vão desistir.
Mas é preciso dizer a outros. Aos articuladores e leitores do Chuva Ácida, aos professores, aos estudantes, aos jornalistas, aos servidores públicos, aos profissionais da saúde. Pessoas que sabem o que acontece, como eles e outros são explorados cotidianamente, mas que parecem não se importar.
Talvez elas queiram ser como o personagem interpretado por Gene Hackman, na visão de Francis. Querem ser o sujeito que faz a sua parte da melhor forma possível.
Sabemos que não é suficiente.
segunda-feira, 12 de janeiro de 2015
Joinville e o mar
POR JORDI CASTAN
Não falha. Ano após ano, no calor do verão voltam alguns temas, como cometas que seguem um curso regular e fixo: não faltam ao seu encontro com Joinville e com os titulares. Por citar alguns: o aumento da tarifa de ônibus, o calor sufocante e úmido, a ligação entre Joinville e São Francisco do Sul e por aí vai.
Permitam escolher, aproveitando o calor, a época do ano e o aumento da tarifa de onibus, para tratar neste espaço a importância da ligação, via barco, entre Joinville e São Francisco do Sul, este ano acrescida ainda da ligação entre Joinville e Itapoá.
Confesso que minha memória não é mais a mesma, mas pelas minhas contas a empresa que agora oferece esse serviço é a quarta. Não sei por quê, mas algo me diz que não durará muito além das "aguas de março, fechando o verão".
É bom lembrar que o governo do Estado, por tanto com recursos públicos, investiu na construção do terminal de passageiros no cais Conde d'Eu. E a construção esta lá, ainda em pé, para não nos deixar esquecer do investimento. Também foram destinados recursos públicos para a dragagem do Rio Cachoeira, com um detalhe importante: o material dragado não pode ser retirado do rio e a obra exigiria dragagens periódicas para manter a hidrovia navegável. Portanto, além do custo da dragagem serão necessários novos recursos periodicamente. Para atender a legislação brasileira foi necessário ainda investir na sinalização de toda a hidrovia, desde o terminal próximo ao mercado até à Lagoa de Saguaçu e há que incluir no custo o valor do projeto e a implantação de bóias e material de sinalização.
O serviço de transporte de passageiros pela Baía da Babitonga hoje é oferecido com saída do trapiche do Espinheiros, num percorrido mais curto e que naã utiliza nenhuma outra infraestrutura que o próprio trapiche.
Os horários e as freqüências do serviço público ainda não foram informados, porque dependem do quadro de marés. Não deixa de ser um fato curioso, porque tabelas de marés são disponibilizadas e amplamente divulgadas com no mínimo um ano de antecedência. Tanto assim é que a Defesa Civil informa, com tempo, os dias horários com maior risco de enchentes o alagamentos em Joinville - caso coincidam chuvas intensas com maré alta, a chamada maré de lua.
A impressão que fica é a de não haver demanda suficiente para que serviço seja rentável durante todos os meses do ano. E ainda que não há um compromisso de oferecer um serviço que atenda a demanda que venha a existir. E assim, sem certeza da oferta regular e confiável do serviço entre as dois cidades, há menos possibilidades que o serviço se firme e se consolide.
Assinar:
Postagens (Atom)