terça-feira, 24 de setembro de 2013
Mudança no secretariado
Nesta semana, vazou através de setores da imprensa, a notícia que o prefeito prepara ajustes e
mudanças no seu secretariado.A informação é interessante sob vários aspectos.
O primeiro a chamar a atenção é que, apesar do ufanismo do prefeito e de seus
colaboradores mais próximos, o time começa a mostrar sintomas de fatiga.
Não dá mais para continuar respondendo as demandas concretas dos joinvilenses, recitando mantras, com frases feitas e solicitando ainda mais paciência. A data divulgada para as supostas mudanças no secretariado devem coincidir com o primeiro quarto do seu governo. Apesar do prefeito ter dificuldade em escutar, a repetição, a frequência e a severidade das críticas e reclamações ao seu governo, parece que finalmente lhe chegaram ao ouvido. Se assim for, ganharemos todos. Ganharemos ainda mais se as mudanças que sejam feitas, verdadeiramente passem a privilegiar a competência antes que a cor partidária. Isso parece, porém, mais improvável.
Não dá mais para continuar respondendo as demandas concretas dos joinvilenses, recitando mantras, com frases feitas e solicitando ainda mais paciência. A data divulgada para as supostas mudanças no secretariado devem coincidir com o primeiro quarto do seu governo. Apesar do prefeito ter dificuldade em escutar, a repetição, a frequência e a severidade das críticas e reclamações ao seu governo, parece que finalmente lhe chegaram ao ouvido. Se assim for, ganharemos todos. Ganharemos ainda mais se as mudanças que sejam feitas, verdadeiramente passem a privilegiar a competência antes que a cor partidária. Isso parece, porém, mais improvável.
Outro aspecto é o porta
voz ou porta-vozes escolhidos. A prefeitura municipal possui uma competente e
poderosa equipe de comunicação e administra uma verba que é cobiçada pelo
mercado. Que a informação tenha vazado num bate-papo informal, permite
identificar o objetivo, que é o de pré-aquecer o forno primeiro, deixar o
marreco macerando nos temperos para que pegue gosto antes de assar. Até os
nomes dos setores, fundações e secretarias que estariam no olho do furacão
foram citados. Assim que os “marrecos” já podem começar a se preparar para a
fritura. Tecnicamente nos poucos meses que lhes quedam, serão mortos vivos,
perambulando pelos corredores da prefeitura. Tratados, a partir de agora, como pesteados
e evitados pelos que até anteontem lhes davam afetuosos tapinhas nas costas.
O episódio evidencia
antes que nada, a pouca elegância dos gestores e da sua corte de acólitos. Ao
transferir o ônus e provocar o desgaste da imagem pública e arranhar o prestiígio
dos que venham a ser substituídos, há uma mudança de foco sobre qual é o
problema e de quem a responsabilidade da escolha da equipe. É bom não esquecer
que é o gestor que tem essa responsabilidade. Os que sejam trocados sairão com
o desgaste de não terem sido competentes no desempenho das suas funções.
Os que assumam o seu lugar o farão sob uma pressão enorme, sabendo que tem
menos tempo para mostrar resultados. O tempo corre, os resultados teimam em
continuar sem aparecer e o nervosismo aumenta. A rispidez, o desanimo e a frustração
também aumentam na mesma proporção.
Fica a pergunta no ar: as mudanças serão pautadas por 2014 ou por 2016? O ideal seria que o prefeito
pautasse as suas escolhas orientado pela experiência de Warren Buffett e procure,
nos que venham a formar a sua equipe, três características: inteligência,
energia e integridade e se não tiverem a última, nem perca tempo procurando as
outras duas.
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
Chuva Ácida completa dois anos
POR COLETIVO CHUVA ÁCIDA
Estamos cientes de que, em todo este tempo online, abrimos um novo canal para o debate, o contraponto e a crítica com conteúdo sobre os acontecimentos da cidade, do país e do mundo. Consolidamos isto em mais de 1400 postagens, que geraram quase 16 mil comentários e 570 mil visitas.
No dia de ontem os integrantes deste espaço reuniram-se em uma videoconferência (hangout do Google) para debater os objetivos do blog, os principais temas relatados neste último ano, e as expectativas para daqui em diante. A conversa foi transmitida ao vivo, via YouTube. Para quem não assistiu (ou quer ver de novo), a gravação do bate-papo pode ser conferida no vídeo abaixo:
Agradecemos a todos pelas visitas, comentários, sugestões, críticas e apoio, em todos os momentos. Os nossos propósitos seguem firmes, e esperamos melhorar diariamente, renovando-nos e refutando a estagnação e conservadorismo característicos das mídias tradicionais. É por isto que dedicamos parte de nossas vidas a este projeto.
sábado, 21 de setembro de 2013
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
Porque há histórias bonitas
POR ET BARTHES
Para quem gosta de uma história bem contada, daquelas que emocionam.Os nomes e as coisas
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
No tempo em que era criança não havia bullying. É que a palavra não exisitia (nunca ouvi alguém falar) e então a gente não
sabia se sofria disso ou não. Como podem ver, o problema da minha geração era apenas sofrer de déficit
semântico, porque ninguém tinha dado o nome à coisa. Aliás, se fosse pelos padrões de hoje acho que não tinha sobrevivido à minha
infância e pré-adolescência.
Gente, aquilo era o reino do bullying. O Baleia era
gordo. O Tiziu era um preto pequenininho. O Bode era japonês. O Mijão mijava na
cama (mas era boato). O Frangão tinha um parafuso a menos. O Portuga, filho de
portugueses, era burro. O Pamonha era molóide. O Barranqueiro nem me atrevo a
dizer. O Pelé, nem preciso dizer. E eu era o Linguiça, por ser muito magro e alto.
É claro que a gente fazia piada e sacaneava com essas
características mais marcantes dos outros. Aliás, se não houvesse motivo para
pôr apelido, a gente inventava. Criança sabe ser amiga, mas também tem um certo
prazer em sacanear os outros. Mas às vezes o caldo entornava e tinha gente que saía
no braço. Só que ao final do dia a coisa passava e o pessoal acabava sempre amigo. Era normal para a molecada da minha geração.
Hoje é diferente. Vem especialista e diz:
- O que parece ser um apelido inofensivo pode afetar
emocional e fisicamente o alvo da ofensa.
Claro que pode. Mas que culpa a gente tinha? A minha geração cresceu de
outro jeito, com mais autonomia. Naquela época a gente tinha a rua, o campinho de futebol e o córrego para nadar nos dias de calor (e de frio também que criança não sofre com essas coisas). E garanto que não há maneira melhor para
cimentar as amizades. Ah... e tinha o lado legal de que os pais e os professores nunca estavam nesses lugares.
Aliás, não sei que caminhos tomaram todos os meus
amigos, apenas alguns. O Baleia ficou magro. O Frangão trabalha com
investigação em agricultura. O Bode virou um pro dos computadores. O Portuga é
engenheiro. O Tiziu tentou fazer carreira no futebol mas se deu mal. Eu fiz
voto de pobreza e fui para o jornalismo. Mas sobrevivemos.
E hoje, quando vejo tanta gente a repetir essa palavra
– e o tantão de gente que parece saber tudo sobre o assunto – só penso numa coisa: ainda bem que eu não sabia
inglês e nunca aprendi aprendi essa palavra bullying. Porque a minha infância podia ter sido muito chata. E viva o déficit semântico.
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
E se houvesse uma troca de lugares?
POR ET BARTHES
A cidadania nossa de cada dia. Deem uma olhada na mulher do 1m08s.
Os intocáveis
POR CLÓVIS GRUNER
Se depender da vontade do vereador James Schroeder (PDT) e de 17 de seus pares, joinvilenses que forem flagrados bebendo em lugares públicos serão considerados infratores. Assunto da semana, na última quinta-feira a Câmara de Vereadores aprovou o projeto de lei 48/2013, que visa proibir o consumo de bebidas alcoólicas em locais públicos. O projeto precisa agora passar por uma segunda votação antes de ser submetido ao prefeito Udo Döhler, que não sabe ainda se vai vetar ou sancionar a nova lei. Mas não importa seu futuro. Já é uma excrescência que ela tenha sido redigida, submetida ao legislativo e obtido ampla maioria de votos.
Trata-se de uma lei repleta de furos,
aparentemente ambigua em suas intenções. Exemplos: os bares que possuem mesas em
calçadas, que são públicas, podem continuar
a fazê-lo, porque pagam pela ocupação do
espaço, que é público! Não por coincidência, é na badalada “Via Gastronômica” e
adjacências, que se localizam as principais casas que poderão continuar a
utilizar as calçadas públicas como se fossem privadas. Aliás, trata-se da mesma
via onde acontece o Stammtisch, um evento que nada tem de popular e, por isso
mesmo, pode continuar a frequentar e usar os espaços públicos sem ser afetado
pela lei.
Não são melhores os argumentos para
explicar a necessidade do projeto. De acordo com Schroeder, ele atende um clamor popular, embora sua noção de
“popular” seja bastante restrita, limitando-se aos conselhos comunitários
de segurança (Consegs) e ao 17º Batalhão da Polícia Militar, responsável pelo policiamento
na zona Sul de Joinville, que o demandaram. Em entrevista concedida a um jornal local meses atrás, o vereador explica
didaticamente suas intenções: “O que queremos”, afirmou, “é justamente promover
o debate sobre o consumo de álcool entre os jovens. A lei vai permitir que a
polícia aja preventivamente e não precise ir até um local depois que uma
aglomeração de jovens com som alto e bebidas, por exemplo, já tenha virado
bate-boca ou vias de fato com vizinhos incomodados, o que acontece com frequência nos bairros”.
PRODUÇÃO DE ILEGALIDADES – Tudo junto e misturado, e a
cidade pode vir a ter uma lei elitista, preconceituosa e segregacionista.
Porque nem mesmo o discurso pretensamente bem intencionado – o de que o álcool
é um problema de saúde pública, por exemplo – convence: medidas
sócio-educativas são muito mais necessárias e eficazes para combater problemas
como o alcoolismo, que proibir seu consumo em lugares públicos. Principalmente porque
não é nas ruas e praças onde mais se consome álcool, mas em espaços fechados,
como bares e baladas. Há o acúmulo de lixo, o barulho, as brigas, os excessos?
Sim, por certo. Mas como se tratam de exceção, e não da regra, não seria mais
razoável prevenir ou, se for o caso, coibir e punir os excessos usando os
mecanismos e aparatos legais e policiais já à disposição, ao invés de produzir
novas ilegalidades?
A resposta é simples: o objeto da lei são os bairros e
populações periféricos, (o texto não podia ser mais explícito quando se refere à
Zona Sul, lugar historicamente estigmatizado pelos joinvilenses mais
“tradicionais”), aqueles que vivem em “vulnerabilidade social”, na definição do
Charles Henrique aqui no Chuva. Os frequentadores da Via Gastronômica e
do Stammtisch podem beber nas calçadas e fechar uma via pública, consumir
álcool, voltar para casa dirigindo e postar suas fotos nas redes sociais. O
problema, afinal, não são eles: nenhuma lei municipal ousaria tocar nos
privilégios de quem circula exibindo suas Tommy Hilfiger. Mas James Schroeder, seus colegas de parlamento e os muitos
joinvilenses que aplaudiram a nova medida não estão sozinhos.
No século XIX, autoridades inglesas
limitaram o horário dos pubs ao perceberem que, mais que beber, seus
frequentadores os utilizavam como lugar de sociabilidades e discussões
políticas. No começo do século passado, praticar capoeira era delito previsto
no Código de Posturas da então capital federal, o Rio de Janeiro. Andar
descalço também – uma proibição que inspirou uma das mais memoráveis passagens
do romance de estreia de Lima Barreto, “Recordações do escrivão Isaías Caminha”.
Mais ou menos à mesma época, em Curitiba, reuniões e eventos populares –
definidos como “batuques e fandangos” – organizados por negros ou imigrantes que
vivessem em regiões distantes do centro, só poderiam ocorrer mediante
autorização policial.
A HISTÓRIA SE REPETE COMO FARSA – Na década de 1960, em Joinville, entre as preocupações das autoridades
estavam os mendigos, jogadores e prostitutas. Para os primeiros, pretendeu-se o
internamento compulsório; para os segundos, além de limites impostos pelo
Código de Posturas de 1956, inúmeras batidas policiais, principalmente em bares
localizados nos bairros mais à periferia. Para as últimas, o prefeito Helmut
Fallgater projetou a construção
de uma espécie de “centro de tolerância”: casas construídas especialmente para
o funcionamento da prostituição, “tudo ficando seguramente bastante isolado (...) em zonas apropriadas, para melhor
contrôle e observação da Polícia”.
Em abril deste ano a Câmara de Vereadores de São Paulo aprovou em primeira
votação um projeto que proíbe os bailes funks nas ruas da capital paulista.
O que eventos tão
distantes no tempo e no espaço tem em comum? Todos, sem exceção, não legislaram
em função do bem comum mas, tão somente, proibindo e punindo práticas populares.
Contaram, como o projeto de lei de James Schroeder, com o apoio da população
“ordeira”, os homens e mulheres de bem. Aliás, vem do Facebook o comentário que
define, sintética mas exemplarmente, o espírito da nova lei e as razões do
entusiasmo com que foi recebida por alguns: “meuuuuuuuuuuuu nem fala,
vai ser uma benção.... a gentalha tem q se ferrar mesmo... escória da sociedade”,
escreveu uma joinvilense de bem, certamente ordeira. Apesar da flagrante
limitação retórica, ninguém conseguiu defini-la melhor.
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