segunda-feira, 30 de abril de 2012

Cotas: dar o peixe ou ensinar a pescar?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Hoje o tema são as cotas raciais nas universidades. Mas descansem os leitores porque não pretendo retomar o debate-boca que precedeu a votação no Supremo Tribunal Federal, na semana passada. Houve argumentos de sobra dos dois lados e tempo mais que suficiente para a discussão. Os juízes decidiram, está decidido.

A intenção é falar da reação dos conservadores que insistem em não engolir a coisa. Ah... mas como, segundo um estudo nos EUA, um conservador é alguém com menos “matéria cinzenta na área do cérebro associada à compreensão da complexidade”, vou falar numa linguagem que eles poderão compreender: o jargão do futebol.

Então vamos lá, meu povo. O resultado do jogo foi 10 a 0. E quando um time toma uma goleada dessas, não adianta inventar desculpas. Não faz sentido pôr a culpa no árbitro e dizer que ele está a roubar. Também é besteira pôr a culpa do gramado, na bola ou na torcida. Uma goleada é uma goleada. Apito final!

Mas não. Nos últimos dias tenho lido um chorrilho de imprecações de uma pequena burguesia que demonstra uma insidiosa incapacidade de ser solidária. Uma gente que se orienta pela filosofia da vaca: cagando e andando para os outros. Ora, meus senhores, a sociedade brasileira tem uma dívida histórica a pagar: o apartheid social, que é quase sinônimo de apartheid racial, ao longo de séculos. Há dúvidas?

Isso faz lembrar uma das frases feitas preferidas dos conservadores:
- Eu não dou o peixe, ensino a pescar.
Mas quando chega a hora de ensinar a pescar – e para isso abrir espaços nas universidades públicas – torcem o nariz e fazem beicinho. Ora, vamos fazer as contas: o que a pequena burguesia tem a perder? Quase nada. Umas poucas vagas para os seus pimpolhos e nada mais. Aliás, não deixa de ser tão antigo quanto irônico: os caras defendem a iniciativa privada, mas fazem questão de ter os filhos nas universidades públicas.

Uma coisa é inquestionável. Quando a mão invisível do mercado não funciona, a mão visível do estado tem que atuar. E atuou neste caso, deixando a sociedade está obrigada a pagar uma dívida histórica. Então, qual a razão para o berreiro dos opositores das cotas? Não podendo mudar as decisões da Justiça, não podendo mudar o governo, talvez seja a expressão do secreto desejo de mudar o povo – do qual decididamente parecem não gostar.

sábado, 28 de abril de 2012

Dando a volta por cima



                                            POR RAQUEL S. THIAGO*

A despeito das desigualdades, dos privilégios, da violência, dos desgovernos, a despeito de tanta coisa que inferniza a vida do brasileiro comum... esse povo  não deixa de seguidamente mostrar ao mundo sua enorme vocação para a felicidade.

Quando o presidente Lula foi eleito, em 2002,  proclamou que a "esperança venceu o medo”, ficamos todos maravilhados... De lá para cá muita água passou por baixo da ponte, levando consigo acontecimentos que hão de engrossar os volumes dos livros de História do Brasil. Tanta coisa, tanta contradição, tanto bem, tanto mal aconteceram.

Estamos às vésperas de novas eleições e, embora tenhamos  passado  por momentos de desesperança e o medo espreite de soslaio,  nossa  capacidade incrível de superação,  de virar a página, de começar tudo de novo parece reforçar-se a cada decepção: levanta/sacode a poeira/dá a volta por cima... reza a cartilha do velho samba.

Este jeito de ser, e nossa teimosia em acreditar, a nossa natural alegria  nem sempre são aprovados  pelos analistas políticos e intelectuais, que argumentam: somos alegres porque somos ignorantes. Pode ser, em parte, que a ignorância possa ofuscar a tristeza, na medida em que não deixa conhecer a realidade... Não acredito, no entanto, que sejamos um povo “bobo alegre”. Porque aprendemos a cada desilusão e, embora caminhemos  lentamente em direção ao voto consciente, sempre é bom lembrar que este é  nosso único recurso para participarmos do processo de desenvolvimento .

Torna-se cada vez mais importante a nossa ação, a ação do povo, de um povo que nasceu com vocação para a felicidade e a cada pequeno estímulo oferecido pelo governo responde com rapidez e inteligência, apesar de tudo.

*Historiadora

Cotas, código florestal e outros trololós


sexta-feira, 27 de abril de 2012

PARAÍSO


Você entende de arte?


POR ET BARTHES
Esta pegadinha da televisão espanhola recomenda um conselho: se um dia alguém pedir a sua opinião sobre um quadro, mesmo que seja numa exposição de arte, mantenha a boca fechada. Porque é um terreno muito difícil e, por vezes, você pode estar enganado. O filme é antigo, mas ainda interessante. A produção expôs um quadro pintado por crianças no jardim de infância. Veja os comentários.


Qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amor vale amar.


POR GUILHERME GASSENFERTH

Este texto foi originalmente escrito em 18 de maio de 2011. De lá para cá, os gays conseguiram o direito à união civil homoafetiva no STF, mas os direitos básicos (à vida, à dignidade, à tolerância) continuam desrespeitados. O PLC 122 não foi aprovado ainda. Portanto, o texto continua atual em sua defesa dos seres humanos.

O debate aqui pelos comentários está aberto! Participe. Todas as opiniões contrárias, desde que respeitosas, serão consideradas.

A imagem acima ainda o choca? É bom que leia este texto então.

O título do texto foi extraído da música Paula e Bebeto, de autoria de Caetano Veloso e Milton Nascimento.

Dia 17 de maio, é o Dia Internacional Contra a Homofobia, e neste ano, completar-se-ão 22 anos da retirada do "homossexualismo" da CID - Classificação Internacional de Doenças da OMS - Organização Mundial de Saúde. Há 22 anos a ciência reconhecia que não há doença, desvio ou disfunção no comportamento homossexual. A ciência já avançou, mas alguns homens continuam atrasados e retrógrados, tentando utilizar-se de textos escritos há mais de 3.500 anos como justificativa para suas conclusões.

No mesmo Dia Internacional Contra a Homofobia, o jornal Folha de S. Paulo, em seu editorial de 17 de maio de 2011, age ou com má fé ou com leviandade e levanta preocupação com o Projeto de Lei Complementar 122 (PLC 122), notadamente porque, segundo eles, o PLC 122 é um mecanismo que poderá ser usado para cercear a liberdade de expressão. Veja trechos do texto:
"A amplitude e a indefinição dos termos ergueria uma espada sobre qualquer discurso ou escrito que condene a homossexualidade. Poderia ser acusado de ‘induzir’ a discriminação e, em tese, levar à pena de reclusão por um a três anos, mais multa."

Sim! Qualquer discurso ou escrito que condene a homossexualidade tem que ser criminalizado. Alguém pode condenar o negro? Ou o judeu? Contra o gay também não deve poder.

Nós gays não escolhemos nascer assim. Quem em sã consciência ESCOLHERIA um caminho que lhe renderá uma vida com preconceito, discriminação, intolerância, dificuldades? Ninguém, em pleno uso de suas faculdades mentais ESCOLHE ser algo que lhe trará prejuízos e sofrimento.
Eu fui educado em boas escolas; tenho pai e mãe casados, que sempre me encheram de amor e carinho e que convivem harmoniosamente com toda a família, muito bem estruturada; não convivi quando criança com gays ou lésbicas; assisti aos mesmos desenhos que qualquer criança que hoje tem 26 anos assistiu; brincava na rua com os amigos; subi na árvore; nunca tive bonecas, mas sim carrinhos; sempre tirei boas notas na escola... e aí? Onde que o MEIO definiu que eu seria gay? Eu nasci assim. E tenho orgulho de ser assim.

Não tenho problema nenhum com heterossexuais, pelo contrário: devo minha existência à deles, e para mim eles são tão normais como eu. Nós gays amamos os heterossexuais e não criaremos uma “ditadura gay”. Jamais tentarei impor a algum heterossexual a "conversão" à homossexualidade, até porque isso não existe. A "conversão sexual" não existe e é um produto que mesmo no fim do século XX já era rechaçado.

Então, se eu nasci gay, se eu naturalmente sou assim, quem poderá acusar-me de estar errado? Se a homossexualidade é encontrada mesmo entre os animais, como não poderá ser algo natural?

O texto da Folha prossegue: “Parlamentares evangélicos temem que o projeto, se aprovado, venha criminalizar a pregação contra os gays. A relatora, contudo, propôs como única modificação ao texto da Câmara que seja aberta exceção para "a manifestação pacífica de pensamento decorrente de atos de fé".

Desculpe-me a Senadora Marta Suplicy, mas nem essa exceção deveria haver. Pregação contra os gays deve ser também crime! A ausência de pregação contra os gays não implica em aceitação da homossexualidade, mas simplesmente como um processo de tolerância,como o próprio Cristo ensinara. Ninguém quer obrigá-los a gostar de nós, apenas a nos tolerar e respeitar.

E afinal, quem tem direito de pregar contra mim? “Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra”. (João, 8:7). A história das igrejas não é imaculada, pelo contrário!

Ainda a Folha, em seu texto: “E se alguém se manifestar pacificamente contra homossexuais, mas não por motivos religiosos? Poderá ser preso, censurado?”.Evidentemente, deverá ser preso e censurado. Volto a comparar (afinal, será a mesma lei): alguém pode manifestar-se pacificamente contra os negros? Contra as mulheres? Não. E com a inclusão de idosos, deficientes e gays, nem estes grupos poderão ser alvo de manifestação “pacífica” contra. Pacífica entre aspas, pois não consigo enxergar como a manifestação contra uma minoria possa estar relacionada à palavra paz. Paz é a favor, não contra.

Aos religiosos das diversas denominações, tolero-os e respeito-os todos, e os amo como irmãos que somos em Cristo. E falando Nele... contou-nos Mateus, no capítulo 22, versículos 37 a 40: "Respondeu-lhe Jesus: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas." E veja-nos o que ensinou-nos a Bíblia em I João 4:11 "Amados, se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros." É  amor ao próximo essa peregrinação anti-gay que alguns líderes religiosos apregoam?

Continua o editorial: “A criminalização da homofobia resulta de um impulso nobre, que objetiva proteger pessoas discriminadas pelo que fazem em sua vida privada. Não pode, porém, servir para cercear liberdades que fundamentam a própria convivência civilizada e democrática.”. Meus caros editores, mesmo a liberdade precisa possuir limites. Não é porque somos livres que eu tenho o direito de fazer o que eu bem entender. Não posso pegar uma arma e atirar em alguém. Da mesma forma, a discriminação contra gays deve ser criminalizada.

Vamos à nossa Constituição Federal de 1988, que já em seu preâmbulo afirma: “Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.”

Vamos adiante, na nossa Constituição Cidadã: “Art. 1º: A República Federativa do Brasil [...] tem como fundamentos: [...] II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana”.

“Art. 3º: Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: [...] IV – promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.

E, por fim: “Art. 5º: Todos são iguais perante a lei. [...] III – Ninguém será submetido a tortura ou a tratamento desumano ou degradante”.

Um conhecido afirmou: se um evangélico não quiser alugar uma edícula no fundo de sua casa para um gay, ele tem que ter esse direito. Peraí! E o gay pode ser humilhado porque o evangélico (no exemplo citado) não quer lhe alugar? Se isso não é submeter o gay a tratamento desumano, não sei o que é.

Citamos alguns dos principais trechos de nossa Carta Magna. O PLC 122 é isso. É um projeto de lei que reforça o que a Constituição já prevê. Por que não aprová-lo? Nós estamos falando de dignidade, cidadania, discriminação, preconceito, de uma SOCIEDADE FRATERNA, PLURALISTA E SEM PRECONCEITOS.

O PLC 122 quer criminalizar a discriminação dos não-heterossexuais assim como a Lei 7.716/1989 criminaliza a discriminação arbitrária por cor de pele, etnia, origem nacional e religião. O PLC quer incluir orientação sexual, idosos e deficientes na mesma lógica. Nesta proposta, se um gay resolver agredir um heterossexual ele sofrerá a mesma pena que se o inverso tivesse acontecido.

Nossos direitos não tiram os direitos dos outros. Quanto mais seres humanos tiverem direitos civis assegurados, mais pleno será o estado democrático que se busca em nosso ideário republicano.

Para finalizar o raciocínio: o Grupo Gay da Bahia (GGB) denunciou 266 assassinatos motivados por violência homofóbica só em 2011. Alguém pode dizer que a homofobia não existe ou que ela é inofensiva? 266 pessoas perderam suas vidas porque eram gays, lésbicas, travestis ou transexuais. O Brasil é o campeão mundial de assassinatos homofóbicos. E isso, puritanos e moralistas, é certo? Cadê o berreiro? “Não matarás”, diz o decálogo de Moisés. Mas não é o que os homofóbicos assassinos observaram na hora de materializar seu ódio e seu destempero mental contra um homossexual. Vale dizer ainda que o número de homicídios homofóbicos está numa preocupante progressão: nos três primeiros meses de 2012 o número dobrou em relação a 2011. Mas não esmoreceremos em nossa luta!

Tiradentes foi insurrecto por defender a redução da carga tributária. Gandhi levantou-se contra a opressão da metrópole inglesa imposta á Índia. Martin Luther King fez seu discurso ecoar em 1968 e ajudou a estabelecer direitos civis aos negros norte-americanos. Mandela fez uma revolução pacífica e ajudou a acabar com a segregação oficial que existiu até há pouco tempo na África do Sul. Brasileiros, heteros e não-heteros, é chegado o momento. Agora é a nossa vez de buscarmos pacificamente (mas com firmeza) nossos direitos, de procurarmos nossa inserção social, de lutarmos contra a homofobia, e de batalharmos pelo direito de amar a quem quisermos! Vamos em frente, em nome do amor!

“E a gente vai à luta, e conhece a dor, consideramos justa toda forma de amor”. Lulu Santos

Quem quiser obter mais informações, sugiro o site www.plc122.com.br - atualizado e cheio de informações valiosas.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

O que as mulheres precisam ver


POR ET BARTHES
A Fundaseno, organização venezuelana, convidou uma série de mulher para fazer um “casting” que, na verdade, tinha outro objetivo: elas tinham que formar palavras com algumas letras. Mas nenhuma delas viu o que era preciso ver...


Um pouco de história

POR JORDI CASTAN


O que a história pode ensinar sobre os políticos de hoje


O historiador romano Tito Lívio, na obra  "História de Roma", relata o nascimento, o crescimento, o esplendor e a queda do império romano. Um Maquiavel, mais maduro e realista que aquele que escreveu "O Príncipe", acrescentou a obra de Tito Livio os seus comentários e a converteu numa obra de leitura obrigatória.

De toda a obra, um capítulo deveria merecer a atenção dos que insistem em defender tanto o maior número de vereadores para Joinville como o valor dos seus proventos. Os argumentos favoráveis tanto ao aumento, como ao valor dos custos, deveriam ser analisados a partir do relato que Tito Lívio fez da experiência dos tribunos do povo.

Na Roma antiga, como no Brasil de outra época, os tribunos romanos, equivalentes, no âmbito local, aos nossos vereadores, não eram remunerados. Exerciam a sua função de forma gratuita. Eram eleitos pelas suas virtudes e méritos. O cargo era o reconhecimento de uma vida exemplar e honesta. Com o tempo, os novos ricos - gente de virtudes menores e interessada no poder e no reconhecimento que o cargo representava - passaram a buscar ser eleitos e começaram a influir nas campanhas eleitorais.



Resultado: o que era uma escolha entre os melhores, se converteu em algo parecido com o que conhecemos hoje. As campanhas passaram a ter custos crescentes. O cargo de tribuno ainda era exercido de forma gratuita e as únicas vantagens eram a honraria, a gloria e o poder que o tribuno exercia. Aos poucos as campanhas ficaram cada vez mais caras. Cada voto tinha que ser conquistado duramente e , não raro, oferecidos presentes para convencer os eleitores a votar em um ou outro candidato.

A partir deste momento se estabeleceu uma remuneração para os tribunos romanos que conseguiam recuperar o investimento feito durante a campanha eleitoral. Finalmente, na Roma de dois mil anos atrás, as campanhas ficaram muito mais custosas a cada eleição. O resultado foi que o total da remuneração que o tribuno receberia ao longo de toda a legislatura passou a ser inferior ao custo da campanha eleitoral. Tito Lívio conseguiu a partir desta situação identificar o surgimento da corrupção de uma forma muito próxima à que conhecemos hoje.

Como na Roma antiga, também hoje é inexplicável que alguém possa investir centenas de milhares de reais numa campanha política, para receber uma remuneração muito menor que o custo total da campanha. É possível que haja candidatos que estejam dispostos a fazer este sacrifício pessoal, mas não era lógico na Roma antiga e continua a não parecer hoje.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Sem calcinha, nem pensar...

POR ET BARTHES
Há poucos dias mostramos aqui a guerra entre evangélicos e toda a sacanagem e besteirol produzidos por esses "religiosos". Mas para manter algum equilíbrio, hoje resgatamos o filme do "padre" que não deixou a noiva casar sem calcinha. Antigo, mas atual. Baseado em fatos reais. O homem tem um ponto de vista...