quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Bolsonaro, Osair e a cultura do estupro

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Duas notícias destes dias que estão muito ligadas. 1. A primeira diz que Bolsonaro virou réu na Justiça por incitação ao crime de estupro. Estamos a falar do conhecido caso da deputada Maria do Rosário, quando o bonitão disse que ela "não merecia ser estuprada" por ser "muito feia". 2. Em segundo lugar a notícia, publicada por alguma imprensa alternativa, de que Osair Antonio Souza, secretário municipal de São João do Itaperiú (tão pertinho, né?) teria afirmado que a ministra Rosa Weber, do TSF, merece "ser eternamente estuprada".

O que há de comum entre os dois episódios? A "cultura do estupro", claro. É um produto da sociedade patriarcal, que ao longo da história foi causando assimetrias entre homens e mulheres. E o pior: ainda hoje é a moldura do quadro mental de homens com a cabeça no século XVIII. O caso é sério no Brasil, onde a cultura do estupro é um problema real e silencioso. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) revelam que uma em cada cinco mulheres já foi vítima de violência sexual. E apenas um em cada 10 estupros é denunciado.

Para muitos homens as mulheres ainda são simples objetos sexuais. A violência de gênero – física e simbólica – é usada como mecanismo de controle e dominação. É o que torna comum a aceitação da violência sexual, a culpabilização das vítimas e a normalização do estupro. Daí o discurso carcomido do patriarcado: as mulheres são responsáveis pelo estupro, os homens não podem controlar seus impulsos sexuais ou que é normal agir de forma sexista.

Quando uma pessoa tem a atenção da mídia, como é o caso de um presidente da República, esse comportamento acaba virando referência para muitos. Jair diz uma anormalidade lá em Brasília e Osair se sente à vontade para repetir aqui em São João do Itaperiú. E assim a cultura do estupro vai se reproduzindo e tarda em desaparecer. Menos mal que a lei pode atuar nesses casos. Jair é réu. É esperar que Osair também venha a ser.

É a dança da chuva.



sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Bolsonaristas estão feito baratas tontas

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

O governo Lula vai bem e recomenda-se. O Brasil vem colhendo uma série de bons resultados, tanto no plano interno quanto externo. Fui de férias na semana passada e fiquei uns dias na Espanha. Deu para ver que o noticiário dos nuestros hermanos vem abrindo espaços para o presidente Lula, apesar de não haver uma unanimidade. Em alguns casos, fica evidente o papel relevante do líder brasileiro no plano internacional, mas em outras situações o tom é mais crítico – os europeus não perdoam as ambiguidades do presidente no caso da invasão da Ucrânia.

Fazendo a ponte para o plano interno, as coisas também são favoráveis. Apesar de algumas resistências provocadas pelo “criptoprimeiro-ministro” Arthur Lira (que usa o seu poder de influência para barganhar e tirar vantagens), há motivos para otimismo. A economia cresce acima das expectativas, a inflação fica abaixo das previsões, o arcabouço fiscal dá garantias de estabilidade econômica, as exportações mantêm a tendência de alta. E, imaginem, a reforma fiscal pode acontecer depois de décadas de tentativas frustradas.

Mas o sucesso do governo, tanto no plano externo e interno, tem outras consequências. A oposição bolsonarista está numa tremenda enrascada. Os malucos estavam na torcida para tudo falhar e deram com os burros n´água. Dá um certo prazer constatar o fracasso da profecia de Paulo Guedes. Lembram? O iluminado ex-ministro previu que o Brasil ia virar “uma Argentina em seis meses e chegar a uma Venezuela apenas um ano e meio”. O mais hilário é ver que o tipo agora diz que o sucesso é resultado do trabalho dele. Ipiranga vai na canga.

Que fazer? Sem ideias e sem um projeto de governo, os bolsonaristas estão feito baratas tontas. E ficam agarrados à lógica da mentira. É mentir, mentir, mentir. O problema é que na maioria dos casos as mentiras tendem para o absurdo. O meu bolsonarista predileto, por exemplo, agora ataca o governo Lula com publicações sobre “orçamento secreto, cartão corporativo, queimadas da Amazónia, viagens para o exterior, vacinas (dengue), BNDES e gastos em publicidade”. É puro suco de bolsonarismo. Tudo o que Bolsonaro fez é assacado ao atual governo.

Todo governo precisa de uma oposição decente para estar alerta e corrigir cursos. Mas decência é tudo o que não se pode esperar do bolsonarismo. Sem discurso nem ideias, o que resta aos bolsonaristas é o espetáculo deprimente, como os protagonizados por gente inútil do calibre de Nikolas Ferreira, Gustavo Gayer ou o "jornalista" Alexandre Garcia. É bom ver o bolsonarismo definhar, mas também é importante ter em mente que o Brasil precisa de uma oposição séria e a sério.

É a dança da chuva.



quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Sérgio Moro cidadão honorário de Joinville. Podem rir. Ou chorar...

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Joinville nunca engana. Quando você pensa que a coisa não pode piorar... ela despenca para um buraco ainda mais fundo. E não é que a Câmara de Vereadores quer atribuir o título de cidadão honorário ao atual senador Sérgio Moro, ex-juiz incompetente da Operação Lava-Jato? O projeto foi apresentado por um vereador que atende pelo nome de Nado (PROS). É como diz a expressão popular: de onde você nada espera, daí é que nado sai.

A explicação é o fato de Moro ter atuado na comarca de Joinville, entre 1999 e 2002, com “elevada atuação técnica”. Parece brincadeira? Não é. “Em Joinville, sua atuação foi marcada a ferro na tez local e é reconhecida pelo engajamento na efetivação do Estado de Direito, com atuação lapidar, exemplar, íntegra, dotada de elevada atuação técnica, coerência, e, sobretudo, coragem para atuar com profundo respeito às leis e à Constituição”, pontuou a justificativa.

“Marcada a ferro na tez local”? Quem escreve uma tonteria destas? A coisa pretende ser uma frase de efeito, mas o único efeito que provoca é uma convulsão estilística da tão maltratada língua portuguesa. Mas até faz algum sentido, porque isso de “marcar a ferro” é coisa de gado. O problema é que o gado de Jair Bolsonaro, maioritário de Joinville, já não se alimenta do mesmo capim que os seguidores de Sérgio Moro. Os dois brigam para conquistar a invernada da extrema direita e andam às cabeçadas. 

A argumentação diz que o ex-juiz atua com “profundo respeito às leis e à Constituição”. Onde estava essa gente quando surgiu o consórcio da Vaza-Jato, liderado pelo Intercept? Lembram? Foi aquela série de reportagens que revelaram as ações muito controversas da força-tarefa da Lava Jato. Foi quando ficou escancarado o conluio entre Sérgio Moro e o promotor Deltan Dallagnol. O ex-juiz é o que podemos chamar um “depedrador” do Estado de Direito.

Por que Joinville gosta de Moro? É simples. Porque o ex-juiz fez o favor de prender Lula pouco antes das eleições de 2018 e, desta forma, estendeu o tapete para a eleição de Jair Bolsonaro. A gente pode reclamar e dizer que o “quociente intelectual” da cidade é muito baixo, mas a sua gratidão é férrea. Aliás, mesmo depois da desgraça que foi o governo de Jair Bolsonaro, a cidade resiste como um dos bastiões do bolsonarismo mais obtuso (passe a redundância).

A imprensa diz que a homenagem acontece no dia 6 de setembro, na Câmara de Vereadores de Joinville. É bom ter pressa, porque o futuro do homenageado parece turbulento. Em linguagem pouco jurídica, podemos dizer que o ex-juiz “está mais sujo do que pau de galinheiro”. Muito boa gente acredita que, ainda em 2023, o atual senador Sérgio Moro vai se tornar o ex-senador Sérgio Moro, porque a possibilidade de cassação surge forte no horizonte. E nada garante que a coisa fique por aqui.

Para finalizar, deixo aqui a minha sugestão. O vereador que propôs a distinção a Sérgio Moro também devia ser homenageado. E de forma exemplar. Ouvir umas 10 horas ininterruptas de discursos de Sérgio Moro, com a sua inconfundível voz de marreco, dicção atrapalhada e dificuldade em lidar com a língua portuguesa. Depois disso ele iria pensar duas vez antes de propor esse tipo de besteira.



sábado, 19 de agosto de 2023

Os astros estão se alinhando para Carlito Merss

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O leitor e a leitora conhecem a expressão “os astros estão se alinhando”? É uma coisa que vem da astrologia, mas que acabou incorporada ao léxico do dia a dia das pessoas. É a expressão que melhor define a posição do ex-prefeito Carlito Merss, quando lançamos um olhar sobre as eleições para a Prefeitura de Joinville, no ano que vem. Em que consiste esse alinhamento? Numa série de fatores favoráveis que criam uma  “tempestade perfeita” (aqui no bom sentido).

O primeiro fator é a repetição do ambiente das eleições de 2008, na altura bastante favorável. O Partido dos Trabalhadores estava no governo federal, com Luiz Inácio Lula da Silva na presidência, e isso trouxe vantagens aos candidatos petistas. A economia brasileira estava num bom momento e a sociedade brasileira respirava otimismo. Isso permitiu diminuir a resistência ao partido e contribuiu para a vitória de Merss. É sempre bom lembrar que Joinville não tem tradição de votar à esquerda.

Hoje Luiz Inácio Lula da Silva está de volta ao Governo Federal e tem mantido um bom desempenho. O que, aliás, nem chega a ser um mérito tão extraordinário se a comparação for com o seu antecessor. O governo de Jair Bolsonaro foi o mais desastroso na história do país e não há como fazer pior. O desgaste da imagem do bolsonarismo joga a favor dos candidatos do Partido dos Trabalhadores. E estão dadas as condições para crescer também no plano municipal.

O ex-presidente Jair Bolsonaro está muito enrolado com a Justiça e o seu inferno nem bem começou. É muito provável que acabe na Papuda. Os próximos meses devem ser fatais para o bolsonarismo e há indícios de que muitos – os que não são bolosnaristas raiz – já estão a saltar do barco. Para usar uma expressão popular, Bolsonaro e o bolsonarismo estão mais sujos do que pau de galinheiro.

É uma situação que pode respingar no sapatênis do atual prefeito Adriano Silva, que nunca escondeu a sua condição de bolsonarista. Tudo isso sem falar que o desempenho do atual prefeito é pífio, apesar de continuar a ter o apoio dos eleitores das classes média alta e alta. É importante considerar também que o próprio partido Novo não está bem na fotografia. É um candidato forte? Sim. Mas tem rachaduras no dique? Tem.

O que os olhos não veem o coração não sente, já diz o velho ditado. Mas se tudo correr conforme o prometido, os eleitores vão começar a ver obras do Governo Federal. Esta semana o presidente Lula anunciou as obras do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que incluem as seguintes obras em Santa Catarina:
- BR-470 (adequação Navegantes - Rio do Sul);
- BR-280 (adequação São Francisco do Sul - Jaraguá do SuI);
- BR-282 (adequação Florianópolis - São Miguel Do Oeste); 
- Nova sede do Instituto de Cardiologia;
- Mais moradias do Minha Casa, Minha Vida.
São as obras de maior vulto, mas também há ações previstas no plano do saneamento básico, educação, ciência, inclusão digital, entre outros.

Que papel Carlito Merss pode ocupar neste panorama, em especial nos projetos mais ligados à região de Joinville? Hoje o petista ocupa o cargo de Gerente de Políticas Públicas do Sebrae Nacional e desfruta de um bom trânsito em Brasília. É uma vantagem, porque a atual posição permite ter as portas abertas nos gabinetes do Governo Federal. O eleitor é sensível a este aspecto.

Outro fator que parece um pormenor, mas na prática é um “pormaior”. O fato de atualmente estar no Sebrae permite uma maior exposição midiática, o que é essencial para levar o seu nome de forma mais recorrente aos eleitores. É uma questão de inteligência comunicacional. Enfim, o universo conspira a favor do petista e, como dizem os gaúchos, “um cavalo encilhado não passa duas vezes”. É tomar as rédeas.

No entanto, há algumas questões que deixam uma eventual candidatura em suspenso. A primeira é que o próprio Carlito Merss não parece disposto a concorrer. Outro fator tem sido o baixo desempenho do partido na conquista de lugares na Câmara de Vereadores e essa é uma sustentação necessária para governar bem. E, por fim, a sua escolha também não é consensual dentro do partido, onde ainda há algumas pessoas pouco focadas na lógica das probabilidades.



segunda-feira, 31 de julho de 2023

Que tal pôr o Mercado Municipal de frente para o Cachoeira?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Um dia destes um amigo estava a elogiar o Mercado de Lages. Segundo ele, na comparação com o mercado municipal de Joinville, o nosso leva uma sonora goleada. Aproveitei para introduzir um argumento que parece interessante, mas que nunca vi ser discutido: é preciso que o mercado local deixe de estar de costas viradas para o rio. O ambiente proporcionado pelos flamboyants é muito agradável, mas um rio acrescenta encantos e tem enorme potencial. Aliás, um passarinho contou que os flamboyants poderiam estar em risco por serem árvores exóticas.

O tema é oportuno. A Prefeitura de Joinville pretende realizar uma obra a que chama Porto Cachoeira, um parque linear urbano às margens do rio. É uma boa iniciativa, que, aliás, só peca por tardia. Ter um espaço junto ao rio deveria ser a coisa mais natural do mundo. Mas sem querer jogar água no chope, o São Tomé que habita em mim quer ver para crer. O historial da cidade na "realização" de obras de grande porte não tem seguido o melhor dos percursos ao longo dos tempos.

Um parque linear é bom, mas o rio precisa de atenção para se tornar mais agradável. E uma pequena mudança no Mercado Municipal, voltando-o para o rio, podia ser um bom início. Aliás, seria um retorno às origens. É bom lembrar que, no fim do século XIX, o comércio obrigava a cidade a estar virada para o rio. O Cachoeira tinha cais, porto, armazéns e até o moinho de trigo. Foi então que prefeito Procópio Gomes de Oliveira construiu o primeiro Mercado Público, de arquitetura açoriana.
 
Quando Luiz Henrique da Silveira assumiu a prefeitura, o prédio foi demolido para dar lugar à construção que existe hoje, um exemplar daquilo que as pessoas chamam “estilo enxaimel”. Mas não tem estilo e nem é enxaimel. Hoje o Germano Kurt Freissler é um lugar agradável, mas ainda há muitas insuficiências para fazer do lugar um espaço turístico sem restrições. O espaço tem potencial para ser um "ex-libris" da cidade. Mas isso exigiria iniciativa, investimentos e um olhar para além das eleições.

Talvez seja boa ideia mudar o "modelo". Sem retirar o ADN do local, tentar aumentar a oferta e pôr o local mais em sintonia com os mercados modernos que vão surgindo pelo mundo. Como? Não me perguntem. Eu sou apenas o gajo que passa um mês por ano em Joinville e gosta de tomar uma cerveja à beira de um rio. Os gestores públicos, que são pagos para isso, que descalcem essa bota. Afinal, é para isso que as pessoas pagam impostos: para que eles encontrem soluções. Eu apenas faço sugestões.

É a dança da chuva.

Mercado de Lages