POR JORDI CASTAN
Aproveitei as férias para visitar Santiago de Chile e cheguei à conclusão que estes chilenos estão loucos. Endoidaram. Insistem em fazer as coisas bem feitas, em manter as cidades limpas e bem conservadas. E, imaginem, em priorizar as pessoas sobre os veículos e o verde sobre o cinza do concreto.
As praças, parques e as árvores que vicejam nas ruas da cidade estão bem cuidadas. Há equipes de jardineiros profissionais que cuidam, plantam e podam as plantas com conhecimento e cuidado. Tudo bem diferente das roçadas de mato por apenados e outros trabalhadores desqualificados, sem conhecimento ou formação adequadas para o trabalho e a função.
Calçadas e praças têm pisos adequados, acessíveis e seguros. Nada de pavers e outras soluções que se utilizam nas terras sambaquianas, que envelhecem rápido demais e mal. Ou seja, soluções que priorizam o barato sobre a qualidade e a durabilidade. Mas são critérios. Os chilenos insistem em escolher materiais duráveis, de qualidade melhor e de trabalhar com profissionais que conhecem o seu trabalho e gostam de fazê-lo bem feito.
Porque as coisas não duram, quebram antes do que deveriam e têm um acabamento tosco e de baixa qualidade? Ou pior: por que insistimos em projetar mal, executar pior e não prever nenhuma manutenção que aumente a durabilidade e acabe custando menos. Ora, toda esta inépcia custa muito cara a toda a sociedade.
Difícil achar uma resposta que sintetize a diferença entre o modelo seguido com persistência por chilenos e pela maioria dos países desenvolvidos e os países e sociedades que preferem a opção de fazer coisas pelo método que no Brasil é conhecido, desde a época colonial, pela expressão: "feito nas coxas". Há uma cultura estabelecida e bem consolidada de fazer as coisas nas coxas. E o resultado, aqui por estas bandas sambaquianas, é uma cidade que se esfarela, obras públicas pagas a peso de ouro que não duram e que precisam ser reformadas antes de prazo.
A ideia de fazer bem feito nem passa pela cabeça dos administradores públicos. Projetos sem detalhamento, sem definição de materiais e sem especificações técnicas adequadas permitem que sejam usados materiais de qualidade inferior, que não se cumpram nem prazos, nem se respeitem orçamentos. Um bom exemplo de coisas feitas nas coxas é o projeto e a execução da duplicação da Avenida Santos Dumont. Ou alguém tem outra expressão que sintetize melhor a falta de planejamento, a péssima qualidade dos projetos elaborados e a forma como é mal gasto o dinheiro público. Lembremos que essa obra se alastra por anos a fio, já causou dezenas de acidentes, alguns mortais, e quando fique pronta será só um remendo medíocre do que foi anunciado.
A insistência dos chilenos em querer fazer as coisas bem e em mantê-las para que sigam bem e não precisem ser refeitas antes do prazo é a maior prova que os chilenos estão loucos. Certos estamos nós.
segunda-feira, 29 de janeiro de 2018
quinta-feira, 25 de janeiro de 2018
Dia da Infâmia: ditadura da toga cassa o direito de Lula ser presidente
POR DOMINGOS MIRANDA
O 24 de janeiro de 2018 será conhecido como o Dia da Infâmia. Nesta data, três desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), por unanimidade, aprovaram a condenação de Lula, em sentença dada pelo juiz Sérgio Moro, e aumentaram a sua pena para 12 anos de prisão. Isto significa que o candidato do PT, líder nas pesquisas, não poderá ser candidato a presidente neste ano. Na edição do dia 23, o jornal americano The New York Times, publicou uma extensa matéria e seu título sinalizava o nosso futuro: “Democracia do Brasil empurrada para o abismo”.
O analista político Mark Weisbrot, bem diferente da nossa grande imprensa que faz parte da Ditadura da Toga e deturpa os fatos, disse que “um judiciário politizado pode excluir um líder político popular de se candidatar a cargos. Isso seria uma calamidade para os brasileiros, a região e o mundo”.
A elite do atraso arquitetou o plano para retirar a presidenta Dilma do poder usando artifícios jurídicos fajutos, chamados de pedaladas fiscais e utilizados também pelos presidentes anteriores para regularizar contas das empresas estatais. Mas os golpistas não esperavam que Lula sobreviveria politicamente ao maior ataque midiático contra um político. Como o “sapo barbudo” se preparava para dar um salto por cima de todos os outros candidatos da direita durante as eleições, anteciparam o julgamento.
A condenação de Lula foi feita na base de convicções do juiz Moro, onde ele não apresentou nenhuma prova concreta de que o apartamento triplex do Guarujá pertencia ao ex-presidente. A atitude dos desembargadores no TRF4 parecia uma ação entre compadres, com elogios orgásticos aos procuradores e ao juiz de Curitiba. O ex-guerrilheiro e ex-deputado gaúcho Flávio Koutzii comenta este momento aziago: “Parece que estamos nos alinhando com as trevas que estão avançando no mundo, não tem saída fácil para isso”.
Montesquieu, célebre filósofo francês do século 17, autor do livro “O Espírito das Leis”, que propunha a separação dos poderes, deve estar se contorcendo na tumba ao ver o que acontece no Brasil. Diante da desmoralização do Executivo e Legislativo, envolvido até o pescoço em falcatruas, o Judiciário assumiu um protagonismo que eclipsou os outros dois poderes. Juízes constrangem o presidente da República e as lideranças do Legislativo com sugestões que beiram a petulância. Melhor do que chamar a farda é colocar o poder de fato nas mãos dos togados. As aparências enganam. O que é mais incrível, juízes que desrespeitam o teto salarial, estabelecido pela Constituição, condenam acusados pelo crime de corrupção.
Como diz o jornalista Luiz Nassif: “São tempos bicudos, nos quais se misturam o atrevimento dos corruptos, a irresponsabilidade dos deslumbrados e o temor dos legalistas”. A direita avança, mas nesta hora difícil a esquerda deve centrar suas forças em um único candidato sob o risco de chegar ao segundo turno dois candidatos do retrocesso, um deles fascista. Aqui vale a citação de Bernie Sanders, senador socialista dos EUA, que serve para nós também: “Eles têm o dinheiro, mas nós temos as pessoas”. De pé famélicos da terra, bem unidos façamos a nossa revolução.
O 24 de janeiro de 2018 será conhecido como o Dia da Infâmia. Nesta data, três desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), por unanimidade, aprovaram a condenação de Lula, em sentença dada pelo juiz Sérgio Moro, e aumentaram a sua pena para 12 anos de prisão. Isto significa que o candidato do PT, líder nas pesquisas, não poderá ser candidato a presidente neste ano. Na edição do dia 23, o jornal americano The New York Times, publicou uma extensa matéria e seu título sinalizava o nosso futuro: “Democracia do Brasil empurrada para o abismo”.
O analista político Mark Weisbrot, bem diferente da nossa grande imprensa que faz parte da Ditadura da Toga e deturpa os fatos, disse que “um judiciário politizado pode excluir um líder político popular de se candidatar a cargos. Isso seria uma calamidade para os brasileiros, a região e o mundo”.
A elite do atraso arquitetou o plano para retirar a presidenta Dilma do poder usando artifícios jurídicos fajutos, chamados de pedaladas fiscais e utilizados também pelos presidentes anteriores para regularizar contas das empresas estatais. Mas os golpistas não esperavam que Lula sobreviveria politicamente ao maior ataque midiático contra um político. Como o “sapo barbudo” se preparava para dar um salto por cima de todos os outros candidatos da direita durante as eleições, anteciparam o julgamento.
A condenação de Lula foi feita na base de convicções do juiz Moro, onde ele não apresentou nenhuma prova concreta de que o apartamento triplex do Guarujá pertencia ao ex-presidente. A atitude dos desembargadores no TRF4 parecia uma ação entre compadres, com elogios orgásticos aos procuradores e ao juiz de Curitiba. O ex-guerrilheiro e ex-deputado gaúcho Flávio Koutzii comenta este momento aziago: “Parece que estamos nos alinhando com as trevas que estão avançando no mundo, não tem saída fácil para isso”.
Montesquieu, célebre filósofo francês do século 17, autor do livro “O Espírito das Leis”, que propunha a separação dos poderes, deve estar se contorcendo na tumba ao ver o que acontece no Brasil. Diante da desmoralização do Executivo e Legislativo, envolvido até o pescoço em falcatruas, o Judiciário assumiu um protagonismo que eclipsou os outros dois poderes. Juízes constrangem o presidente da República e as lideranças do Legislativo com sugestões que beiram a petulância. Melhor do que chamar a farda é colocar o poder de fato nas mãos dos togados. As aparências enganam. O que é mais incrível, juízes que desrespeitam o teto salarial, estabelecido pela Constituição, condenam acusados pelo crime de corrupção.
Como diz o jornalista Luiz Nassif: “São tempos bicudos, nos quais se misturam o atrevimento dos corruptos, a irresponsabilidade dos deslumbrados e o temor dos legalistas”. A direita avança, mas nesta hora difícil a esquerda deve centrar suas forças em um único candidato sob o risco de chegar ao segundo turno dois candidatos do retrocesso, um deles fascista. Aqui vale a citação de Bernie Sanders, senador socialista dos EUA, que serve para nós também: “Eles têm o dinheiro, mas nós temos as pessoas”. De pé famélicos da terra, bem unidos façamos a nossa revolução.
quarta-feira, 24 de janeiro de 2018
Deu no NY Times. Maldito jornal petralha!
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
E chegou o dia do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Muita coisa poderia ser dita sobre o evento, mas como santo de casa não faz milagre a ideia é publicar um metatexto (um texto sobre outro texto). E como os conservadores brasileiros adoram pagar pau para gringo, a fonte vai ser um jornalão da terra do Tio Sam. Afinal, só no Brasil a expressão “deu no NY Times” podia virar um bordão.
Então, vamos lá. Na edição de ontem, um texto do analista político Mark Weisbrot, economista norte-americano, co-diretor do CEPR - Center for Economic and Policy Research, em Washington, que faz um overview sobre a situação brasileira. A coisa começa a pegar logo no título, que define o atual momento do país como grave: “a democracia do Brasil está a ser empurrada para o abismo”.
Mais palavra, menos palavra, o colunista diz que os dois últimos anos desviaram o Brasil dos eixos da democracia. “Esta semana a democracia pode ser mais corroída quando um tribunal de apelação de três juízes decidir se a figura política mais popular do país, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, será impedido de competir nas eleições presidenciais de 2018, ou mesmo preso”.
Mark Weisbrot, que está longe de poder chamado de petralha, lembra o que se passou na relação entre política e o poder judiciário. “O que poderia ter sido um avanço histórico – o governo do Partido dos Trabalhadores concedeu autonomia ao judiciário para investigar e processar a corrupção oficial – acabou por tornar-se o contrário. A democracia brasileira agora é mais fraca do que tem sido desde que o governo militar acabou”.
Sérgio Moro está em foco. Diz Weisbrot que ele “demonstrou seu próprio partidarismo em numerosas ocasiões”. E acrescenta que “as evidências contra o Sr. da Silva estão muito abaixo dos padrões que seriam levados a sério, por exemplo, no sistema judicial dos Estados Unidos”. E, acrescento eu, muito abaixo do que seria levado a sério em qualquer país da Europa Ocidental. E está todo o mundo de olho.
O texto do NY Times, jornal de referência em todo o planeta, não passa ao lado do golpe. “O estado de direito no Brasil já havia sido atingido por um golpe devastador em 2016, quando a indicada do Sr. Silva, Sra. Rousseff, eleita em 2010 e reeleita em 2014, foi acusada e demitida do cargo”. Não por corrupção, mas por uma manobra contábil, diz o analista, ao lembrar que “o próprio promotor federal do governo concluiu que não era um crime”.
Enfim, não sou eu a dizer. Deu no NY Times. Maldito jornal petralha!
É a dança da chuva.
E chegou o dia do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Muita coisa poderia ser dita sobre o evento, mas como santo de casa não faz milagre a ideia é publicar um metatexto (um texto sobre outro texto). E como os conservadores brasileiros adoram pagar pau para gringo, a fonte vai ser um jornalão da terra do Tio Sam. Afinal, só no Brasil a expressão “deu no NY Times” podia virar um bordão.
Então, vamos lá. Na edição de ontem, um texto do analista político Mark Weisbrot, economista norte-americano, co-diretor do CEPR - Center for Economic and Policy Research, em Washington, que faz um overview sobre a situação brasileira. A coisa começa a pegar logo no título, que define o atual momento do país como grave: “a democracia do Brasil está a ser empurrada para o abismo”.
Mais palavra, menos palavra, o colunista diz que os dois últimos anos desviaram o Brasil dos eixos da democracia. “Esta semana a democracia pode ser mais corroída quando um tribunal de apelação de três juízes decidir se a figura política mais popular do país, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, será impedido de competir nas eleições presidenciais de 2018, ou mesmo preso”.
Mark Weisbrot, que está longe de poder chamado de petralha, lembra o que se passou na relação entre política e o poder judiciário. “O que poderia ter sido um avanço histórico – o governo do Partido dos Trabalhadores concedeu autonomia ao judiciário para investigar e processar a corrupção oficial – acabou por tornar-se o contrário. A democracia brasileira agora é mais fraca do que tem sido desde que o governo militar acabou”.
Sérgio Moro está em foco. Diz Weisbrot que ele “demonstrou seu próprio partidarismo em numerosas ocasiões”. E acrescenta que “as evidências contra o Sr. da Silva estão muito abaixo dos padrões que seriam levados a sério, por exemplo, no sistema judicial dos Estados Unidos”. E, acrescento eu, muito abaixo do que seria levado a sério em qualquer país da Europa Ocidental. E está todo o mundo de olho.
O texto do NY Times, jornal de referência em todo o planeta, não passa ao lado do golpe. “O estado de direito no Brasil já havia sido atingido por um golpe devastador em 2016, quando a indicada do Sr. Silva, Sra. Rousseff, eleita em 2010 e reeleita em 2014, foi acusada e demitida do cargo”. Não por corrupção, mas por uma manobra contábil, diz o analista, ao lembrar que “o próprio promotor federal do governo concluiu que não era um crime”.
Enfim, não sou eu a dizer. Deu no NY Times. Maldito jornal petralha!
É a dança da chuva.
terça-feira, 23 de janeiro de 2018
Lula: antes de melhorar, ainda vai piorar bastante
POR MURILO CLETO
Faltam poucas horas pro julgamento que deve sacramentar o destino do ex-presidente Lula. Na quarta-feira, 24, o TRF4 avalia recurso da defesa que contesta a sentença do juiz Sergio Moro, proferida no ano passado. Moro condenou Lula a 9 anos e 6 meses de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção passiva por considerar que a empreiteira OAS lhe presenteou com um apartamento triplex no Guarujá.
Há muita gente bem mais qualificada juridicamente do que eu pra dizer se a sentença está correta ou não e se Lula é realmente culpado. Tenho pra mim que não, mas nesse mérito eu não entro nem por decreto. O que mais chamou a minha atenção, observando com muito cuidado o comportamento das militâncias polarizadas ao longo desses meses todos, foi a relação meramente utilitarista que se desenvolveu com o julgamento.
De um lado, a esquerda que, à exceção do PCO, não tem coragem de – nesse contexto moralista e punitivista – se assumir contrária à Lei da Ficha Limpa e só quer que, independentemente do que decidir o colegiado, Lula seja candidato à presidência em outubro. De outro lado, o antipetismo que enxerga o julgamento de Lula como a oportunidade de barrá-lo nas eleições e de colocá-lo na cadeia.
No interior dessa dinâmica, absolutamente ninguém quer saber o que cada juiz vai dizer pra embasar sua decisão. Foi assim quando Moro julgou. Em instantes as 218 páginas da sentença já estavam rechaçadas de um lado e aplaudidas de outro.
É evidente que decisões judiciais não são absolutas (a própria existência de recursos prova isso) e que o debate em torno delas é saudável pra qualquer democracia. O problema é que o Brasil pós-2013 já não se vê reconhecido em quaisquer instituições. E o que é resolvido por elas serve apenas pra, de qualquer forma, validar uma posição já de antemão estabelecida na performance discursiva.
Se elas decidiram contra a minha causa, é porque estão comprometidas com os poderosos. “Se até elas” decidiram em favor da minha causa, é porque eu estou tão certo que nem elas são capazes de negar. Isso acontece o tempo todo com o Ministério Público, por exemplo. Dia desses ele era, para a esquerda, parte ativa do golpe reacionário que atropela garantias constitucionais mínimas. Depois a posição do MP serviu pra fundamentar a posição de progressistas contra o fechamento da exposição Queermuseu.
De novo, o trauma aqui não está na desconfiança nas instituições. É – insisto também nesse caso – saudável que elas tenham sido dessacralizadas. Acontece que no lugar delas não se colocou nada. E a principal função das instituições, que é a de mediar os sujeitos, desapareceu. Não se media nada num país polarizado como o nosso. Natural que em condições assim a sociedade responda com violência, sob a forma de mais justiçamentos e censura. Nesse cenário, o argumento de uma condenação ou de uma absolvição, sujeito à posição que se ocupa nesse front, não significa nada. Porque aqui o argumento também não significa nada. O total de brasileiros que vai mudar de opinião sobre Lula depois de quarta-feira é 0. Como foi em julho.
O cenário eleitoral de 2018 não é catastrófico apenas porque tem tudo pra ser uma versão caricatural de 1989, como muitos têm sugerido depois do anúncio da pré-candidatura de Collor. Mas porque até aqui ninguém, da classe política ou dos movimentos sociais, apresentou alguma alternativa suficientemente viável pra uma crise desse porte, muito maior do que a que é exibida pelos indicadores econômicos. E pior, a essa altura do campeonato é difícil achar alguém que não seja parte significativa dela.
Pode ser que melhore. Mas tudo indica que, antes de melhorar, ainda vai piorar bastante.
Faltam poucas horas pro julgamento que deve sacramentar o destino do ex-presidente Lula. Na quarta-feira, 24, o TRF4 avalia recurso da defesa que contesta a sentença do juiz Sergio Moro, proferida no ano passado. Moro condenou Lula a 9 anos e 6 meses de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção passiva por considerar que a empreiteira OAS lhe presenteou com um apartamento triplex no Guarujá.
Há muita gente bem mais qualificada juridicamente do que eu pra dizer se a sentença está correta ou não e se Lula é realmente culpado. Tenho pra mim que não, mas nesse mérito eu não entro nem por decreto. O que mais chamou a minha atenção, observando com muito cuidado o comportamento das militâncias polarizadas ao longo desses meses todos, foi a relação meramente utilitarista que se desenvolveu com o julgamento.
De um lado, a esquerda que, à exceção do PCO, não tem coragem de – nesse contexto moralista e punitivista – se assumir contrária à Lei da Ficha Limpa e só quer que, independentemente do que decidir o colegiado, Lula seja candidato à presidência em outubro. De outro lado, o antipetismo que enxerga o julgamento de Lula como a oportunidade de barrá-lo nas eleições e de colocá-lo na cadeia.
No interior dessa dinâmica, absolutamente ninguém quer saber o que cada juiz vai dizer pra embasar sua decisão. Foi assim quando Moro julgou. Em instantes as 218 páginas da sentença já estavam rechaçadas de um lado e aplaudidas de outro.
É evidente que decisões judiciais não são absolutas (a própria existência de recursos prova isso) e que o debate em torno delas é saudável pra qualquer democracia. O problema é que o Brasil pós-2013 já não se vê reconhecido em quaisquer instituições. E o que é resolvido por elas serve apenas pra, de qualquer forma, validar uma posição já de antemão estabelecida na performance discursiva.
Se elas decidiram contra a minha causa, é porque estão comprometidas com os poderosos. “Se até elas” decidiram em favor da minha causa, é porque eu estou tão certo que nem elas são capazes de negar. Isso acontece o tempo todo com o Ministério Público, por exemplo. Dia desses ele era, para a esquerda, parte ativa do golpe reacionário que atropela garantias constitucionais mínimas. Depois a posição do MP serviu pra fundamentar a posição de progressistas contra o fechamento da exposição Queermuseu.
De novo, o trauma aqui não está na desconfiança nas instituições. É – insisto também nesse caso – saudável que elas tenham sido dessacralizadas. Acontece que no lugar delas não se colocou nada. E a principal função das instituições, que é a de mediar os sujeitos, desapareceu. Não se media nada num país polarizado como o nosso. Natural que em condições assim a sociedade responda com violência, sob a forma de mais justiçamentos e censura. Nesse cenário, o argumento de uma condenação ou de uma absolvição, sujeito à posição que se ocupa nesse front, não significa nada. Porque aqui o argumento também não significa nada. O total de brasileiros que vai mudar de opinião sobre Lula depois de quarta-feira é 0. Como foi em julho.
O cenário eleitoral de 2018 não é catastrófico apenas porque tem tudo pra ser uma versão caricatural de 1989, como muitos têm sugerido depois do anúncio da pré-candidatura de Collor. Mas porque até aqui ninguém, da classe política ou dos movimentos sociais, apresentou alguma alternativa suficientemente viável pra uma crise desse porte, muito maior do que a que é exibida pelos indicadores econômicos. E pior, a essa altura do campeonato é difícil achar alguém que não seja parte significativa dela.
Pode ser que melhore. Mas tudo indica que, antes de melhorar, ainda vai piorar bastante.
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