sexta-feira, 9 de junho de 2017

Uma nova forma de consumir informação


ISABELLA MAYER DE MOURA* - Conecdados
A Pesquisa Brasileira de Mídia, realizada anualmente pela Secretaria de Comunicação do Governo Federal, mostrou que em um período de apenas dois anos, entre 2014 e 2016, os celulares se tornaram o principal meio de acesso à internet entre os brasileiros e que o tempo médio que as pessoas ficam conectadas aumentou de 3h39min para 4h42min por dia. Uma grande mudança, considerando o curto espaço de tempo.

Isto mostra o quanto a internet vem mudando os nossos hábitos, inclusive a forma como consumimos notícias e como as produzimos. O Conecdados, que reúne os jornalistas Isabella Mayer de Moura (ex-repórter de economia do ND), Vandré Kramer (ex-editor de economia do AN e do ND e ex-chefe de reportagem do ND) e a webdesigner e social media Raquel Nienow (ex-Diário da Manhã de Carazinho), pegou carona nesta transformação e hoje produz conteúdo local para Joinville, focado nas áreas de política e economia, usando técnicas do jornalismo de dados, que envolve raspagem e mineração, análise e visualização de dados.

Há cinco anos, seria impossível imaginar que uma iniciativa como a nossa teria viabilidade. Primeiro, porque o Brasil só implementou a Lei de Acesso à Informação em maio de 2012. Antes dela a divulgação dos dados públicos era exceção, agora é regra. Segundo, porque as ferramentas de manipulação de dados só eram utilizadas por profissionais de áreas bem específicas, como programadores e cientistas de dados.

Felizmente, a tecnologia permitiu a criação de ferramentas poderosas com interfaces intuitivas e a internet propagou o conhecimento para que os jornalistas aprendessem a utilizá-las. Aqui no Conecdados, por exemplo, a gente faz uso indiscriminado do Webscraper para catar dados na internet, criamos nossos gráficos com o Tableau Public, analisamos e filtramos planilhas com SQL. E continuamos correndo atrás para aprender novas técnicas do jornalismo de dados. Nestes tempos em que o cenário muda em questão de dois anos, ficar parado ou conformado com o que já sabe é assinar o atestado de óbito da própria carreira.

Nós, do Conecdados, ainda estamos dando os primeiros passos, mas sabemos que nossas raízes estão fincadas no jornalismo digital. A internet é nossa casa, é nosso meio de comunicação entre equipe e com os leitores, é nossa ferramenta de trabalho e de aprendizado. O nosso grande desafio é provar que também é possível fazer jornalismo de dados longe dos grandes centros do país.

* Isabella Mayer de Moura é jornalista e idealizadora do jornal online Conecdados.

O desafio de reinventar o jornalismo


POR VANDRÉ KRAMER* - Conecdados
Nós, jornalistas, estamos passando por um profundo processo de transformação. O mais violento da história. Ao mesmo tempo que enfrentamos a mais grave crise econômica de nossa história, passamos por uma crise existencial: o modelo tradicional de consumir informação está mudando drasticamente com a difusão e o barateamento de novas tecnologias. Com isso, o modo de produção também.

Isto se reflete na forma de fazer jornalismo em e para Joinville. Os meios tradicionais estão perdendo o vigor. O ND Joinville fechou as portas, a estrutura do AN está enxuta e a RBS reduziu sua grade de produção local. Por outro lado, novas e promissoras iniciativas digitais estão surgindo. E muitos de nós estamos fazendo parte desse momento, saltando do impresso para o digital.

Ao nosso favor está a transformação da sociedade, cada vez mais plugada na internet. A Pesquisa Brasileira de Mídia, realizada pelo Governo Federal, apontava que, em 2014, 26% das pessoas usava diariamente a internet. No ano passado, esse percentual saltou para 50%. E para 49% delas, a rede mundial de computadores é uma importante fonte de acesso à informação.

A própria forma de consumir informação pela web está mudando. Laptops e desktops estão perdendo muita força para os smartphones. 91% dos pesquisados em 2016 acessavam a internet pelo celular.

Outra vantagem que temos é o barateamento do custo de difundir a informação. Antes precisávamos, por exemplo, de pesadas rotativas e uma grande estrutura logística. Hoje, com um smartphone, um computador e o acesso à internet podemos fazer jornalismo de qualidade.

Este novo mundo que estamos desbravando nos impõe dois desafios: aumentar nossa credibilidade perante a sociedade e gerarmos renda a partir dos nossos empreendimentos digitais.

Conquistar a confiança do leitor é desafiador: o barateamento da tecnologia de informação permitiu o surgimento de blogs e sites, muitos deles de qualidade duvidosa. Isto contribuiu, para que a credibilidade da sociedade na imprensa enquanto instituição caísse de 43%, em 2015, para 37%, em 2016, segundo a FGV. A das redes sociais passou de 42% para 23%.

A confiança não se constrói do dia para a noite. Diante de tanta fake news e tanta desinformação, exige um trabalho árduo, pautado pela ética, honestidade e transparência. Requer pensar em enfoques diferenciados e múltiplas abordagens para um público, que assim como nós, está se transformando. Só assim cumpriremos a missão de informar bem e com qualidade. E que espaço precioso temos: uma cidade com quase 600 mil habitantes e que é uma das maiores do Sul do País.
Ter credibilidade vai nos ajudar em outro desafio: romper com o estigma de que toda informação é uma commodity. Informação diferenciada é informação de valor. Só assim conseguiremos fazer que nossas iniciativas deem retorno financeiro. Afinal de contas, todos nós queremos, pelo menos, pagar as contas ao final do mês.

* Vandré Kramer é jornalista e um dos criadores do jornal online Conecdados.

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Vamos encarar?


POR ALBERTINA CAMILO* - Fazer Aqui
As mudanças costumam causar um certo desconforto, no mínimo, e chegam a amedrontar, atingindo o estágio do medo, que paralisa. É neste nível que está um grande número de jornalistas hoje, diante da revolução sem precedentes provocada pela mídia online – nem dá para comparar com os anos 1990, quando os computadores invadiram as redações e aposentaram as máquinas de datilografia. 

Jornais impressos que pareciam inabaláveis fecham em todo o mundo. Mais e mais jornalistas se veem longe do emprego “tradicional”, tentando entender o que está acontecendo e sem saber o que vem por aí. Mas um bom número de profissionais já decodificou o recado: não há futuro possível fora do online. O problema (prefiro pensar em desafio) é saber como transformar as inúmeras possibilidades em ganhos financeiros.

É algo novo em todos os sentidos. Jornalista tem a fama (justa, aliás) de não saber “vender”. Era tão fácil ter o salário depositado pelo empregador todo mês, não é? Como enfrentar uma forma tão diferente de produzir conteúdo e, ao mesmo tempo, fazer com que renda financeiramente?

Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come. Ou ficamos no passado, em lamúrias do tipo “era bom e eu não sabia”, vendo as novas oportunidades passarem, ou encaramos nossas inseguranças e aprendemos os segredos e truques dessa revolução jornalística (lendo, pesquisando, perguntando, conversando muito, se unindo, criando). Eu estou encarando e chamando outros a fazerem o mesmo.

A aventura do jornalismo vai continuar, não importa o formato.

* Albertina Camilo é jornalista com passagens pelos jornais A Notícia e Notícias do Dia, de Joinville. É idealizadora do recém-lançado portal online Fazer Aquique reúne produção colaborativa de jornalistas e outros profissionais. O próximo desafio é monetizar o espaço e fazer todos ganharem.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Não faltam pautas nem leitores



POR JULIANE GUERREIRO* - Paralelo Jornalismo
Embora tenha perdido um de seus jornais diários há pouco tempo e assistido à demissão de diversos profissionais de impresso e televisão, não é por falta de pauta que o jornalismo de Joinville tem enfrentado dificuldades.

É verdade que o modo pelo qual as pessoas consomem as notícias tem mudado, e que quem não se adaptar a essas mudanças e às preferências do consumidor pode sentir o revés, mas os joinvilenses continuam buscando informações e precisam de um jornalismo confiável (se é que aquele que não é pode ser chamado de jornalismo). Por isso, cada vez que se recebe a notícia de que um veículo fecha as portas, por mais criticada que possa ser a sua atuação, perde-se um espaço de debate. Foi assim com o jornal "Notícias do Dia", fechado no último dia do ano passado com a justificativa de que seu rendimento não era bom o bastante para os negócios do grupo.

Se nos grandes conglomerados o problema é o dinheiro, para quem dá os primeiros passos no jornalismo independente, aquele sem o apoio de grandes grupos de mídia ou patrocínio, não poderia ser diferente. Novas iniciativas jornalísticas, cada uma com sua característica, têm surgido em Joinville para ocupar o espaço vago de veículos que fecharam as portas – e mesmo que isso não houvesse acontecido, ainda assim haveria espaço, principalmente porque faltava ao jornalismo joinvilense vozes e tons diferentes daqueles que sempre tivemos. São veículos que unem a vontade de fazer jornalismo à necessidade dos profissionais que, dificilmente, encontram emprego nas poucas empresas do segmento na cidade, que acaba de receber mais um curso de Jornalismo.

O problema é que, sem apoio financeiro, é difícil, quase improvável, que esse conteúdo chegue aos leitores e telespectadores dos grandes grupos, e esse parece ser o grande desafio do jornalismo independente em Joinville. Diferente de outros lugares, o público ainda não está acostumado a pagar por notícias, principalmente de veículos ainda não consolidados, com pouca equipe, equipamento e recursos. Por isso, o presente do jornalismo em Joinville, assim como em outros lugares, exige o reconhecimento e apoio a iniciativas que acreditam neste serviço pelo potencial transformador que ele tem – o que também vai exigir esforços para além do jornalismo. Em resumo, não faltam pautas nem leitores, falta reconhecer e valorizar o jornalismo feito com responsabilidade.

O surgimento de novos projetos parece ser motivo para uma reflexão sobre o jornalismo em Joinville.

*Juliane Guerreiro é jornalista e editora do jornal online Paralelo Jornalismo.

terça-feira, 6 de junho de 2017

Veículos independentes precisam ocupar espaço



POR ALEXANDRE PERGER* - O Mirante
Joinville é uma cidade que, se já não chegou a isso, beira os 600 mil habitantes. Conta com intensa e pulverizada atividade econômica, esportiva, social, cultural e política. E não estou a falar de um ponto de vista megalomaníaco, daqueles que destaca a pujança dessa terra. Longe disso. O ponto aqui é que estamos falando de algo simples: muita coisa acontece por aqui. Todas essas áreas que citamos produzem, diariamente, fatos relevantes e histórias que merecem ser contadas.

Os 600 mil habitantes não formam uma massa homogênea e compacta, que muitas vezes querem fazer parecer. Há por essas bandas, sim, como em todas as outras, uma enorme pluralidade de vozes, pensamentos e visões de sociedade. E todas essas diferenças podem e devem dialogar (destaque para o diálogo) na construção de uma cidade melhor, mais justa, humana e igual.

Mas como poderemos jogar luz em todos esses fatos e ajudar a promover os debates necessários sem espaço para isso? O jornalismo joinvilense sofreu duros golpes recentemente: fechamento do ND, encolhimento do AN e redução de espaço na grade da RBS. Por um lado, isso é péssimo. Por outro, no entanto, surge aí a oportunidade para criar novas alternativas, sem vícios e dispostas a produzirem conteúdo de qualidade, ético e comprometido com a transformação social. 

Nesse sentido, veículos independentes se apresentam como possibilidades de ocupação desse espaço. Alguns já surgiram e tomara que outros apareçam. Precisamos de lugar para abrigar todas as Joinvilles.

*Alexandre Perger é jornalista e editor do jornal online O Mirante.