POR FELIPE SILVEIRA
POR FELIPE SILVEIRA
Algumas passeatas do último domingo, chamadas pelo Movimento Brasil Livre (MBL), mal encheram duas kombis. Em algumas cidades reuniram milhares de pessoas, mas nelas se esperavam milhões. O que aconteceu? O que isso significa? A população acordou? O gigante voltou foi tirar uma soneca? A onda conservadora virou uma marolinha? Estaria a revolução bolivariana finalmente batendo à porta?
Não sei dizer o que houve, mas sei que fenômenos dessa natureza são mais complexos que continhas de dois mais dois. Que é tentador explicar as coisas a partir das nossas ideias, apertando a realidade aqui e ali para que ela caiba onde a gente bem entender, mas que isso não nos serve.
Contudo, há algumas pistas que podem nos ajudar a entender melhor as coisas. A primeira delas é que, parece evidente, protestos baseados na demonização de uma figura (o PT, Dilma, Lula, o comunismo) percam força após ter alcançado o objetivo que era retirar essa figura do poder. A segunda tem a ver com a primeira. Se o objetivo maior foi alcançado, qual é o novo? Até agora pouca gente sabe o que o MBL foi fazer nas ruas no último domingo. A terceira pista tem a ver com o preço da propaganda na TV aberta. Até pouco tempo atrás, a propaganda era cortesia da emissora. Desta vez não rolou.
A partir daí, dizer que a onda conservadora diminuiu, ou que nem existiu, debochando do baixo número de presentes nas manifestações, me parece mais um deboche com a própria cara. Imaginar que a população que esteve nos protestos anteriores e ficou em casa neste tenha de alguma forma “acordado” é uma ilusão que a esquerda não pode se permitir. Pensar que estes brasileiros vão votar em um projeto progressista, democrático, inclusivo ou qualquer coisa parecida assim, do nada, é de uma preguiça imensa. E que vão sair as ruas para promover mudanças dessa natureza é simplesmente alucinação.
O trabalho da esquerda é muito mais amplo e muito mais duro. Se a direita passou os últimos anos destruindo as noções de busca pela igualdade, de garantia de direitos, reconstruir tudo isso é um trabalho muito mais imenso. A começar por uma nova estética, por novas palavras de ordem, inclusive pelo não uso da expressão “palavras de ordem”.
Quando precisou, a direita colocou gente nas ruas. Agora, que não precisa mais, não adianta rir da direita na kombi. Somos nós que temos que encher as ruas.
quarta-feira, 29 de março de 2017
terça-feira, 28 de março de 2017
Não há juízes popstars, "doutor Moro"
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Qualquer pessoa com um pouco mais de história lembra de outros tempos, quando os juízes eram para respeitar. Havia uma imagem de rigor, sabedoria e algum distanciamento, o que permitia confiar numa certa isenção (mesmo nos tempos mais fechados). Hoje isso mudou. Muito por culpa do escrutínio a que os juízes estão submetidos, mas também porque alguns perderam o foco e se converteram em popstars. Neste caso, o juiz Sérgio Moro é exponencial.
Há um evidente mau ambiente na relação entre o cidadão e a Justiça. E causa desconforto ver que as pessoas comuns sentem-se à vontade para desaforar publicamente um juiz. Não é preciso ir longe. É só dar um saltinho às redes sociais. Exemplos? Que tal ver os comentários sobre a recente ação de condução coercitiva do blogueiro Eduardo Guimarães? Os desaforos contra o juiz foram mais que muitos. As pessoas parecem ter perdido e o respeito e também o medo.
Uma rápida olhada mostra expressões como “juizeco”, “psicopata”, “valentão”, “desequilibrado”, “dono do Brasil”, “cretino”, “figura grotesca” e até um sofisticado “alienista” (alusão a Simão Bacamarte, delirante personagem machadiano). E vale lembrar que em tempos o próprio Eduardo Guimarães chamou Moro de “psicopata investido de um poder discricionário”. Depois da condução coercitiva, o jornalista Luís Nassif afirmou que a ação contra o blogueiro foi “um desejo pessoal de vingança” de Moro.
No entanto, isso é apenas o que vem a lume, porque em circuitos fechados como o WhatsApp, por exemplo, as pessoas não são meigas. É evidente que muita gente não engole o enfatuado juiz de Curitiba. A constatação entra em choque com as crenças do próprio juiz, que num vídeo recente defendeu que as suas ações à frente da Lava Jato têm apoio da “grande maioria, talvez da totalidade da população”. Há muita presunção nesta afirmação, claro.
Em contexto, a situação deve preocupar os cidadãos de bom senso (não são os tais homens de bem). A pessoa que desrespeita um juiz está na antessala do desrespeito pela Justiça. E como a Justiça brasileira tem dado evidências de, vez por outra, andar por caminhos tortos, o resultado tem sido a descrença dos cidadãos nas instituições. Ninguém ganha com isso. O estado democrático de direito precisa de instituições credíveis, nas quais o cidadão sinta que pode contar. É inegável que hoje a Justiça tem um déficit de confiança.
Em bom português, Sérgio Moro está a “por-se a jeito”. A falta de recato faz com que se torne um alvo para os opositores. As evidências surgem aos borbotões. Os registros fotográficos das suas aparições públicas mostram o juiz quase sempre cercado de pessoas com uma certa plumagem política. Aliás, a controversa fotografia ao lado de Aécio Neves no evento da IstoÉ tornou-se um dos momentos mais embaraçosos da história recente.
Poderia ficar a enumerar os desaforos de que o juiz é alvo. Mas não interessa. O facto é que ao entrar nas vestes de popstar, Sérgio Moro atrai as atenções e torna o escrutínio mais implacável. E, claro, os seus erros e contradições tornam-se mais evidentes. Apesar de ainda ser visto como um virtuoso por um certo público (os conservadores que anseiam por ver preso o ex-presidente Lula), talvez seja a hora de Sérgio Moro descer à terra.
É a dança da chuva.
Qualquer pessoa com um pouco mais de história lembra de outros tempos, quando os juízes eram para respeitar. Havia uma imagem de rigor, sabedoria e algum distanciamento, o que permitia confiar numa certa isenção (mesmo nos tempos mais fechados). Hoje isso mudou. Muito por culpa do escrutínio a que os juízes estão submetidos, mas também porque alguns perderam o foco e se converteram em popstars. Neste caso, o juiz Sérgio Moro é exponencial.
Há um evidente mau ambiente na relação entre o cidadão e a Justiça. E causa desconforto ver que as pessoas comuns sentem-se à vontade para desaforar publicamente um juiz. Não é preciso ir longe. É só dar um saltinho às redes sociais. Exemplos? Que tal ver os comentários sobre a recente ação de condução coercitiva do blogueiro Eduardo Guimarães? Os desaforos contra o juiz foram mais que muitos. As pessoas parecem ter perdido e o respeito e também o medo.
Uma rápida olhada mostra expressões como “juizeco”, “psicopata”, “valentão”, “desequilibrado”, “dono do Brasil”, “cretino”, “figura grotesca” e até um sofisticado “alienista” (alusão a Simão Bacamarte, delirante personagem machadiano). E vale lembrar que em tempos o próprio Eduardo Guimarães chamou Moro de “psicopata investido de um poder discricionário”. Depois da condução coercitiva, o jornalista Luís Nassif afirmou que a ação contra o blogueiro foi “um desejo pessoal de vingança” de Moro.
No entanto, isso é apenas o que vem a lume, porque em circuitos fechados como o WhatsApp, por exemplo, as pessoas não são meigas. É evidente que muita gente não engole o enfatuado juiz de Curitiba. A constatação entra em choque com as crenças do próprio juiz, que num vídeo recente defendeu que as suas ações à frente da Lava Jato têm apoio da “grande maioria, talvez da totalidade da população”. Há muita presunção nesta afirmação, claro.
Em contexto, a situação deve preocupar os cidadãos de bom senso (não são os tais homens de bem). A pessoa que desrespeita um juiz está na antessala do desrespeito pela Justiça. E como a Justiça brasileira tem dado evidências de, vez por outra, andar por caminhos tortos, o resultado tem sido a descrença dos cidadãos nas instituições. Ninguém ganha com isso. O estado democrático de direito precisa de instituições credíveis, nas quais o cidadão sinta que pode contar. É inegável que hoje a Justiça tem um déficit de confiança.
Em bom português, Sérgio Moro está a “por-se a jeito”. A falta de recato faz com que se torne um alvo para os opositores. As evidências surgem aos borbotões. Os registros fotográficos das suas aparições públicas mostram o juiz quase sempre cercado de pessoas com uma certa plumagem política. Aliás, a controversa fotografia ao lado de Aécio Neves no evento da IstoÉ tornou-se um dos momentos mais embaraçosos da história recente.
Poderia ficar a enumerar os desaforos de que o juiz é alvo. Mas não interessa. O facto é que ao entrar nas vestes de popstar, Sérgio Moro atrai as atenções e torna o escrutínio mais implacável. E, claro, os seus erros e contradições tornam-se mais evidentes. Apesar de ainda ser visto como um virtuoso por um certo público (os conservadores que anseiam por ver preso o ex-presidente Lula), talvez seja a hora de Sérgio Moro descer à terra.
É a dança da chuva.
segunda-feira, 27 de março de 2017
Administrador de meia tigela é o que começa a obra sem saber como acaba
POR JORDI CASTAN
Ninguém teria a coragem de iniciar a construção da sua casa sem antes ter a propriedade do imóvel. É verdade que ainda temos áreas de invasão e que quando acontecem, na maioria dos casos os proprietários legais da área conseguem a reintegração de posse para evitar as ocupações ilegais. Em Joinville o próprio poder público é o que inicia obras sem ter adquirido antes a área.
O melhor exemplo, ainda que o correto fosse falar do pior exemplo, é o da malfadada duplicação da avenida Santos Dumont. O que deveria ser uma duplicação, que daria a Joinville uma avenida segura, larga e totalmente duplicada, se converteu pelo acúmulo da inépcia num arremedo de binário e duplicação. Uma caricatura do que estava previsto, por conta da falta de planejamento, da improvisação e de projetos mal feitos, que sofreram várias mudanças inclusive com a obra já iniciada.
Faltou prever os recursos para as desapropriações. Alguém imaginou que em Joinville essas coisas pudessem acontecer? Pois acontecem e a Prefeitura o máximo que fez foi esperar a doação das áreas por parte dos proprietários. Como será com as outras ruas e avenidas que precisam ser concluídas ou duplicadas como a Almirante Jaceguay, a Ottokar Doerfehl, a continuação da Marquês de Olinda?
Alguém começaria as obras de reforma da sua casa sem ter o
dinheiro? Sem ser dono do imóvel? Sem ter um projeto definido? E sem prazo para
terminar? Em Joinville essa é a praxe nas obras públicas. Ninguém, com um
mínimo de bom senso, trancaria o corredor ou o acesso ao quarto ou a sala
durante meses a fio, menos ainda deixaria a cozinha ou o banheiro interditados
por obras de reforma sem data de conclusão.
Joinville está assim de patas pra cima, arregaçada, esgarçada por obras que não avançam. Obras que se alastram como lesmas em férias. As equipes ficam mais tempo paradas que trabalhando. O que já era ruim vira um caos. A resposta da Prefeitura é o silêncio, olhar para o outro lado, fazer de conta que não acontece nada e que tudo esta perfeito. Os moradores da rua Otto Bohem sabem bem o que é conviver com a desídia e falta de gestão. Os das ruas Piratuba e Iririú também. Os da Jerônimo Coelho têm diariamente uma versão das ruínas romanas na frente da sua casa. Obras mal sinalizadas, sem cumprir as normas de segurança e oferecendo um risco alto de acidentes. Acidentes, alias que já tem custado, nesta gestão mais de uma morte.
O poder público insiste em se fingir de morto. Apostando em que o joinvilense vai cansar, vai se acostumar, vai desistir de exercer os seus direitos. Conta com a mansidão do joinvilense, com a sua natural aversão a reclamar. E até agora tem lhe dado bom resultado. O certo é que um administrador que se preze não teria a cidade neste estado de abandono e se não fosse frouxo não se esconderia trás sua trupe de áulicos.
Joinville está assim de patas pra cima, arregaçada, esgarçada por obras que não avançam. Obras que se alastram como lesmas em férias. As equipes ficam mais tempo paradas que trabalhando. O que já era ruim vira um caos. A resposta da Prefeitura é o silêncio, olhar para o outro lado, fazer de conta que não acontece nada e que tudo esta perfeito. Os moradores da rua Otto Bohem sabem bem o que é conviver com a desídia e falta de gestão. Os das ruas Piratuba e Iririú também. Os da Jerônimo Coelho têm diariamente uma versão das ruínas romanas na frente da sua casa. Obras mal sinalizadas, sem cumprir as normas de segurança e oferecendo um risco alto de acidentes. Acidentes, alias que já tem custado, nesta gestão mais de uma morte.
O poder público insiste em se fingir de morto. Apostando em que o joinvilense vai cansar, vai se acostumar, vai desistir de exercer os seus direitos. Conta com a mansidão do joinvilense, com a sua natural aversão a reclamar. E até agora tem lhe dado bom resultado. O certo é que um administrador que se preze não teria a cidade neste estado de abandono e se não fosse frouxo não se esconderia trás sua trupe de áulicos.
Vender a imagem de bom gestor é uma coisa. Ser um bom gestor é outra muito diferente. O melhor exemplo vem da administração de uma casa, onde a cada dia as famílias põem à prova as suas habilidades como administradoras. Planejam, preveem, administram e gerenciam os recursos familiares com competência e sabedoria. Gastam com critério, de acordo com a sua disponibilidade, poupam, investem e ainda sobra tempo e disposição para dar atenção e melhorar a vida de todos os membros da família.
Uma cidade não é outra coisa que uma grande família e o administrador municipal tem a obrigação e a responsabilidade de fazer o melhor para os cidadãos que aqui moram e trabalham. O resultado da gestão municipal é perceptível no cuidado e gosto de pensar em termos de capricho. Mas capricho é algo que faz anos que não vemos por aqui, assim que vamos ficar no cuidado, que já estaria de bom tamanho.
sexta-feira, 24 de março de 2017
Bolsominions em luta contra o armário?
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Ah ah ah. Desculpem, leitor e leitora, mas não resisti a começar com um pouquinho de zoa. É que tenho em mãos um texto de uma publicação muito respeitável, com notícias que não posso deixar passar batidas. E os bolsominions foram a primeira coisa que me veio à mente quando li a matéria. Afinal, o texto serve como “recado” aos tipos que fazem da homofobia uma marca de perfil.Eis o resumo da ópera: a homofobia é uma coisa que bate mais forte nos indivíduos que têm desejo por pessoas do mesmo sexo. Ou seja, homossexuais que não têm coragem para abrir as portas do armário. Vou repetir: muitos dos homofóbicos têm um gay adormecido dentro deles. E, segundo o texto, louco para acordar. Diz o texto que a agressividade é uma das formas de “compensar” essa (auto)repressão sexual.
Ok… é o tipo afirmação que qualquer aspirante a psicanalista pode fazer e que surge sempre em debates sobre a homofobia. Mas desta vez, como já disse, temos uma diferença. Porque tem fundamento científico e vem referendada por um estudo realizado nas universidades de Rochester e da Califórnia, nos Estados Unidos, e de Essex, na Inglaterra.
Não é um daqueles estudos malucos que só servem para sorver o dinheiro de pesquisa. Os resultados são para levar a sério. Tanto que foram publicados no “Journal of Personality and Social Psychology”, da American Psychological Association. Claro, estamos a falar de uma publicação que os bolsominions não leem. Porque , enfim, a maioria não lê. E os que leem não entendem.
Podia ficar aqui a sacanear os bolsominions homofóbicos (passe a redundância), mas vou me limitar a relatar os principais detalhes do estudo, que faz uma análise construção da identidade dos indivíduos e das influências da família nesse processo. Partindo da tese de que nem todo homofóbico é bolsominion, mas todo bolsominion é homofóbico, vamos ver se temos o match.
1. Em grande número de casos, a homofobia afeta indivíduos que se sentem atraídos por pessoas do mesmo sexo, mas acabam ficando no armário.
2. Na maioria dos casos, a homofobia e o preconceito acontecem por culpa do autoritarismo dos pais, que reprimem e rejeitam os desejos dos filhos. Os homossexuais têm medo da reprovação dos pais, caso admitam desejo por pessoas do mesmo sexo.
3. Os jovens que crescem em ambientes repressivos tendem a mostrar uma desarmonia entre o que dizem e o que sentem em relação a pessoas do mesmo sexo. No estudo, as pessoas que se declaravam heterossexuais – mas não o demonstravam implicitamente, segundo os pesquisadores – eram mais propensas à hostilidade contra os homossexuais.
4. O estudo afirma que os homofóbicos vivem em constantes batalhas contra elas próprias. Óbvio...
5. Tudo indica que a homofobia pode ser uma reação de quem se identifica com os homossexuais, mas luta para rejeitar o fato.
Viram? Mas se você é simplesmente homofóbico e sente culpa por isso, fica pelo menos uma boa notícia. A culpa não é sua, mas dos seus pais repressores. Mas se você é bolsominion não tem atenuante. Não dá para culpar a sua família pela sua burrice. Ah... se os armários falassem.
É a dança da chuva.
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