quinta-feira, 12 de maio de 2016

Como assim?


O pau que dá em Chico não dá em Francisco


POR FELIPE CARDOSO

A comunicação é um tema importante e muito estudado durante anos, mas é um assunto que não pode e nem deve ficar restrito apenas ao âmbito acadêmico. Em tempos de polarização, uma análise crítica sobre o comportamento dos veículos de comunicação tupiniquins é essencial para entendermos o jogo ideológico e os interesses implícitos por trás de cada programa.

Recentemente, viralizou nas mídias sociais algumas respostas do atual prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), ao humorista Carioca, em entrevista cedida ao programa Pânico, na rádio Jovem Pan. Com curiosidade, procurei a entrevista na íntegra e fiquei impressionado com o tratamento dado ao prefeito, não por todos os participantes do programa, mas especialmente pelo Carioca.

É notória a rispidez no tratamento, a violência nas perguntas e o ódio cego que causou desconforto no ambiente. Durante todo o programa, o humorista interrompeu o entrevistado, cortou as perguntas dos companheiros de bancadas e fez acusações sérias, porém sem base argumentativa.

O desconforto foi tão grande que os próprios colegas de trabalho começaram a se irritar com a postura do comediante. Em certo momento da entrevista provocaram Carioca, dizendo que a postura dele com o prefeito não estava sendo a mesma que tivera com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), em uma entrevista realizada semanas antes.

Fui procurar também a tal entrevista citada e, realmente, a diferença é gritante e notória. O tom de voz, as piadas, os tipos e a forma de fazer as perguntas, o respeito ao tempo de resposta... Enfim, foi apenas mais um dos diversos exemplos que estamos vendo atualmente do tipo de imprensa da qual estamos reféns. Imprensa que trabalha a serviço dos próprios interesses, imprensa que tem lado e que já nem busca mais a tão falada imparcialidade.

Em certo momento da entrevista com Haddad, Carioca se mostra indignado com a postura de Emílio Surita e diz ao microfone: “Pô, Emilio, eu não tô te entendendo, cara”. É fácil de entender, Carioca. Não se pode deixar o ódio ou as divergências de opiniões interferirem no profissionalismo. É necessário manter a ética profissional e cumprir com o papel informativo.

Dar exemplo de respeito à democracia em tempos de polarização e ódio deveria ser o papel principal de todos os meios de comunicação que realmente prezem pela liberdade.

O mesmo pau que dá em Chico tem que dar em Francisco.

Entrevista com o Prefeito Haddad (PT):


Entrevista com o Governador Geraldo Alckmin (PSDB):


quarta-feira, 11 de maio de 2016

Golpista.


O que é realmente urgente

POR RAQUEL MIGLIORINI

Ao ler uma postagem do radialista Osny Martins, na semana passada, me deparei com um alerta urgente sobre a implantação do comunismo no Brasil e a possibilidade do país virar Cuba. Não pude comentar no post porque não sou amiga dele no Facebook. E também, de nada adiantaria argumentar com uma pessoa que chama de "comunismo" o nível de consumo que o Brasil atingiu nos últimos anos. Também não adiantaria argumentar sobre como Cuba está abrindo mercado, como tem programas de medicina popular premiados, taxa de analfabetismo zero, etc.

Mas resolvi conferir a fonte que ele citou. E lá fui eu para uma leitura de 165 páginas no CADERNO DE TESES DO 5º CONGRESSO DO PT.

Na página 24 me deparei com algo que chamou a atenção: Este momento de crise exige e é propício para um salto qualitativo no modelo de desenvolvimento nacional, com ênfase na inovação e na sustentabilidade. Por exemplo: o planejamento de longo prazo, inclusive no que diz respeito aos serviços ambientais no meio urbano e rural, articulados num programa de desenvolvimento sustentável, é a saída para enfrentar o ciclo recessivo e a “crise hídrica” causada não pela natureza, mas pela ação e inação de governos como o de São Paulo”.  Continua com o seguinte texto: “Um programa socioambiental federal para preservação dos solos, das águas, do clima e da biodiversidade, construído no mesmo espírito de urgência e solidariedade que orientou o Mais Médicos, repercutirá na economia, geração de renda e qualidade de vida para toda população. Sanear, reciclar, implantar energias limpas e com menos dependência de combustíveis fósseis, reduzir desmatamentos e emissões de carbono mitigará os efeitos das crises relacionadas às mudanças climáticas e terá impacto sobre os custos financeiros de outros serviços públicos, como a saúde, por exemplo. Evidentemente isso implica em subverter a timidez das políticas do Ministério do Meio Ambiente, bem como o redirecionamento das políticas do conjunto nas diversas pastas do governo com o mesmo foco. Uma política global de Estado que supere a usual compartimentação, favoreça e estimule o cumprimento dos acordos internacionais sobre este tema.”

Não concordo com tudo o que está escrito na Tese, não me oponho a novas concessões das emissoras de rádio e televisão, desejo um Estado realmente laico e com menos desigualdade. Mas vou voltar nos dois artigos que transcrevi acima. Meus pensamentos foram captados e colocados nessa tese. É impensável um programa de Governo que não foque em novas tecnologias para amenizarmos e corrigirmos o rumo que a destruição ambiental sistemática está tomando.

Escrevi sobre o plano de Michel Temer, a Ponte para o Futuro, no meu texto anterior. A ordem ali é ceder e facilitar para que qualquer empreendedor faça o que bem entender. Isso é uma sentença de morte. Não se gera empregos assim. Geraremos, isso sim, um rastro de destruição tal qual assistimos em tantos países que tentam, com um custo altíssimo, reverter os problemas ambientais gerados pela ganância, falta de planejamento e de estudo do meio. Falta de água potável, níveis elevados de poluição atmosférica, solo estéril. É isso que queremos para nosso país?

Não brinco de Pollyana. Sei que diante de famílias sem salários é necessária a geração de renda e que isso não é um problema de solução simples. Sei que temos a bancada do boi e dos latifundiários, que jamais concordarão com a agricultura ecológica que é possível. Mas temos que seguir  os bons exemplos que alguns lugares do mundo nos mostra. Temos que prestar atenção nesse assunto. Isso sim é urgente, senhor Osny.     

terça-feira, 10 de maio de 2016

O Brasil vira chacota. Pior não fica, Tiririca?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Não foi uma, não foram duas e nem foram três pessoas. Os episódios de ontem – Maranhão assina, Dilma fica, Maranhão desassina, Dilma sai - fizeram com que muitíssima gente fosse às redes sociais expressar estupefação por esse autêntico bordel jurídico-político que dá pelo nome de Congresso Nacional. Mas para muitas dessas pessoas o pano de fundo era uma preocupação: como o mundo está a olhar para o Brasil? A coisa foi transversal e bateu em todos os lados.

O pior de tudo, no entanto, é que os acontecimentos pasmaram mesmo pessoas ligadas ao campo jurídico. Dá muito o que pensar. Nem é preciso ir longe. O advogado joinvilense Laércio Doalcei Henning, por exemplo, fez uma ironia: “vai explicar algo assim para algum gringo!”. O ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa, também entrou na onda, no Twitter, e escreveu que o Brasil está a virar motivo de chacota no exterior: “sabe o que o mundo inteiro deve estar achando sobre nós? A laughing stock (chacota)...”, escreveu.

O analista pode ser testemunha? Pode. Por viver em Portugal (ao ladinho da Europa), posso acompanhar a imprensa mundial mais de perto. E respondo. Sim… o Brasil virou motivo de piada no exterior. O mundo sabe que o impeachment é um golpe descarado contra a democracia. Mesmo assim vinha mantendo alguma simpatia pelo país. O mundo aprendeu a gostar do Brasil - e a respeitá-lo - durante os governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (mesmo que uns não gostem).

Mas pegou mal. O processo de impeachment torpedeou a imagem dos integrantes dos três poderes. O desrespeito pela democracia tornou-se indisfarçável. Mas a machadada final foi aquele espetáculo burlesco na votação do processo de impeachment. O mundo viu um circo. E riu a bandeiras despregadas. As cenas grotescas na Câmara dos Deputados - as declarações de voto -  fizeram rir mais que os programas humorísticos. Ainda hoje há gente a fazer piada.

Nenhuma pessoa minimamente habituada à democracia consegue entender. É tudo muito bizarro. O nível dos atos é surreal. O Brasil virou uma terra de ninguém, onde tudo importa menos o próprio Brasil. Dane-se o país. Os atores dessa tragicomédia golpista estão preocupados apenas em se dar bem. Não se trata de ideologia, apenas fisiologismo. A única lei em vigor é a Lei de Gerson, pela qual o importante é levar vantagem em tudo. E a nanocracia (governo de anões) a se instalar.

O mundo ri do Brasil? Sim. Mas fazer o quê? Há razões. E para que não seja apenas eu a dizer, eis o que diz o jornalista Ferreira Fernandes, do português Diário de Notícias, num texto publicado hoje: “Juntem o desmoronar da política brasileira com esta nossa traiçoeira língua portuguesa e temos a manchete do jornal O Globo, ao longo do dia de ontem: "Renan vai rejeitar a decisão de anular votação do impeachment na Câmara"... Perdão?! Digam lá outra vez...”.

Não entendeu, Ferreira Fernandes? É que a própria língua portuguesa mostra sinais de exaustão quando é preciso explicar a situação. Porque o que se vive é o indizível. Resta-nos, pois, rir. Porque o circo está montado. Pior não fica? Tiririca errou.

É a dança da chuva.