quinta-feira, 14 de maio de 2015

Joinville bem de saúde?

POR MÁRIO MANCINI



A Prefeitura de Joinville tem R$ 579 milhões previstos para a área, o que equivale a 25,7% do orçamento para 2015. Um bom dinheiro, pena que não reflita em ações reais.

Usarei como exemplo o bairro onde moro, o Costa e Silva. No papel é muito bem servido, pois possui dois postos de saúde e um pronto atendimento (PA 24h). Seria um exemplo, inclusive já usei o PA e fui bem atendido em um passado não muito distante.
A realidade atual é que apenas um posto de saúde está funcionando e o outro está em reforma. Já o PA foi sendo sucateado, tanto patrimonial como profissionalmente e antes de ser interditado já não possuía ortopedista e pediatra, pois na região ninguém se machuca e crianças não adoecem.
O posto de saúde está em reforma eterna, segundo a placa, financiado pelo Governo Federal com entrega prevista para junho de 2014. A Copa deve ter atrapalhado, como a equipe foi transferida para o posto novo, mesmo quando pronta a reforma (2030?) deve demorar para voltar a operar normalmente.
O PA também passa por reforma. Até agora foi repintado e só! Não se vê obra por lá, mas sejamos otimistas, as obras podem ser internas.
Portanto, devemos ter muito cuidado ao analisarmos propagandas de grandes feitos na saúde municipal, pois mostra o que foi entregue, uma ilusão de tudo bem, não o que está em “reforma”, que é em quantidade maior.
Já escreveram neste espaço que a PMJ inaugura até pintura de faixa de pedestre, comemora roçadas (que são poucas), como se o básico fosse o extraordinário; pelo que vemos é o que temos para hoje. Pior, ainda teremos um ano e sete e meses de marasmo administrativo.
E para aqueles, que sem o menor respeito e/ou pudor, comemoram a passagem do senador Luiz Henrique da Silveira, deixo o velho ditado: “ruim com ele, pior sem ele”. Espera e verás.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Um novo tempo, quem sabe...

POR FELIPE SILVEIRA

Luiz Henrique da Silveira apelou quando recorreu a Udo Döhler para ganhar a prefeitura de Joinville. Empresário, alemão, gestor de hospital, santo etc. A nova tentativa não deveria falhar, em contraposição à experiência de quatro anos antes, quando apostou as fichas no “forasteiro” Mauro Mariani.

Esse é apenas um pequeno exemplo da influência de LHS no cenário político local, que, com a morte do senador, passa a ter uma nova configuração e um novo modus operandi, já que o principal articulador não está mais entre nós.

Udo Döhler, como um Muricy Ramalho de olhos azuis, deve apostar no trabalho de sua equipe para mais quatro anos. E, junto com a máquina de propaganda, a qual apenas o capital detém a chave, deve conseguir. Kennedy Nunes deve mobilizar sua pequena máquina local para tentar o trono da Hermann Lepper. Vai incomodar. O PT junta os cacos em âmbito municipal. Parece ter desaparecido após 2012. Talvez seja reflexo do trauma somado à crise de identidade do partido nacionalmente. Sobre isso, cabe observar o posicionamento dos vereadores da sigla na atual legislatura.


E a população?

O que interessa nisso tudo é como fica a população joinvilense, observando a disputa e esperando pra ver quem vai ficar com o chicote na mão.

Vivemos um novo momento no mundo, de super-exploração no campo do trabalho, de violência no campo social, de retrocesso no campo político. Como reação a tudo isso, levantes acontecem mundo afora e inclusive aqui. No entanto, parecem ser engolidos pelo dia a dia, pela necessidade de sobrevivência e de vivência de cada um de nós.

Mas até quando os trabalhadores e estudantes de Joinville vão deixar seu mirrado salário no aluguel, na passagem do transporte coletivo, na mensalidade da faculdade? Até quando vão comer poeira nos bairros de ruas não asfaltadas? Até quando vão ver seus parentes sofrer nos corredores dos hospitais e nas filas dos postinhos? Até quando vão se contentar com as frases de efeito de empresários e comunicadores, que vendem uma Joinville planejada, mas não dizem para quem?


Novo ciclo

A morte de LHS representa o fim de um ciclo, certamente. Talvez ele representasse a política de outra época, embora estivesse à frente de muitos jovens no campo estratégico. A nova etapa da política local dá a impressão de um “cada um por si” na política eleitoral e tradicional da cidade.

Mas talvez seja justamente este momento de “fragilidade” do capital local que nos possibilite impor outros valores ao debate político. Com levantes nos bairros, nas escolas, nas fábricas e nas ruas é possível estabelecer outra relação.

Talvez não consigamos nada. Mas é preciso sonhar. E realizar.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Trabalha, vagabundo! 2


Trabalha, vagabundo! 1


Liberdade para quem?


POR FELIPE CARDOSO

Amanhã, dia 13 de maio, muitos veículos de comunicação e professores de história lembrarão da libertação dos escravos no Brasil. No dia 13 de maio de 1888, o maior país da América Latina liberta seus cativos, tornando-se o último no mundo a abandonar o sistema escravista.

Sem direito a terras, educação e saúde, abandonados e à margem, milhares de negros espalhados pelo país comemoraram a sua liberdade.

Mas qual liberdade?

Privados dos seus direitos, tendo apenas deveres, milhares de negros tiveram que se contentar com subempregos e com a moradia em morros com barracos. Além de contar com a violência e a opressão policial.

Uma liberdade maquiada, isso sim.

As senzalas tornaram-se favelas, as mortes, torturas e castigos antes praticados pelos senhores e capitães do mato, hoje são dadas por políticos e policiais. A casa grande? Não preciso nem dizer o que são. A música e a cultura ainda são criminalizados e, muitas vezes proibidas, assim como a capoeira e o samba foram. Os terreiros de Candomblé e Umbanda recebem diversos ataques de intolerantes.

Nos jornais, na moda, na publicidade, nas novelas, na política, nos altos cargos das empresas, nas universidades e vários outros lugares não vemos representatividade.

As piadas, as chacotas e as humilhações ainda são as mesmas.

Corpos ainda são arrastados. Eterna Cláudia. Corpos ainda estão desaparecidos. Eterno Amarildo. Corpos ainda são presos injustamente. Eterno Vinícius. Corpos ainda são mortos: Cláudia, Amarildo, Eduardo, DG… Melhor parar, pois a lista é grande.

Movimentos sociais ainda são criminalizados e silenciados. Enquanto isso, continuam reproduzindo o discurso da meritocracia e agora propagando o discurso do racismo reverso.

Por falar em meritocracia, quando vão nos pagar os nossos méritos de 400 anos de trabalhos forçados? Vamos seguir a lógica ao pé da letra? Um pouco de coerência faria bem nesses momentos.

Pelos erros do passado, por aprender com muitas dores e humilhações, percebemos que nada mudou. Notamos que a princesinha pintada de santa durante muito tempo, só libertou os escravos por estratégia financeira, motivos econômicos. Nossa história foi apagada, nossas árvores genealógicas estão incompletas. Até disso nos privaram.

A nossa liberdade começa a ser construída na nossa cabeça, ao observarmos os fatos, ao lermos, ao escrevermos, ao denunciarmos, ao reivindicarmos, ao nos unirmos, ao lutarmos. A liberdade do negro está sendo construída por conta própria. O PT deu algum espaço, mas esse espaço foi exigido pelo povo negro. Os movimentos estão crescendo, estamos nos conscientizando e não estamos mais aceitando tudo calado.

Após 127 anos ainda não estamos livres, mas estamos construindo os nossos próprios caminhos para a liberdade… Como sempre foi.