quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Vale a pena prescrever de novo!


Os nós do jornal e outros nós da segurança pública

Reprodução da página Anarcomiguxos III
POR FELIPE SILVEIRA

A edição do fim de semana do jornal A Notícia traz uma uma reportagem sobre “os quatro nós da segurança pública” em Joinville. Chamou-me atenção que nenhum deles “bate” com os nós que eu julgo existir. Não quer dizer que eu esteja certo, mas evidencia que o jornal apresenta, senão uma visão ideológica do problema, uma visão limitada.

São os nós do jornal:

- falta de policiais pra atividade ostensiva
- falta de policiais pra investigação
- falta de condições no presídio
- atraso para a chegada das câmeras de vigilância.

Eu gostaria de dizer que se trata de tapar o sol com a peneira ou tratar câncer com aspirina. Mas não é. A defesa de mais repressão é ideológica. Mais PM, mais vigilância, mais repressão, mais defesa da propriedade, que é o que importa numa sociedade burguesa.

Também é curioso notar de onde parte a reclamação da falta de policiais. Na rua onde eu moro, na periferia da cidade, não falta policial na rua. É viatura pra lá e pra cá o dia todo. E acredito que assim seja em toda região periférica de Joinville. Será que falta PM mesmo?

Tenho pra mim que os nós sejam outros. Cito alguns:

- Desmilitarização da polícia militar, por exemplo. Não basta por si só, mas já é um grande passo para a reformulação de uma instituição autoritária e violenta como a PM.
- Inclusão social de jovens da periferia por meio da educação, da cultura, do esporte e do lazer. E quando chegar o momento certo, pelo emprego também.
- Reformulação da cidade que não trate a periferia apenas como um dormitório para os trabalhadores.
- Reformulação do Código Penal e uma nova postura do Judiciário em relação aos presos e presas e aos processos em andamento.
- Legalização da maconha e de outras drogas também como forma de tirar poder do tráfico.
- Caminhada a passos largos rumo à igualdade.
- Educação para o combate à violência, sobretudo contra mulheres e minorias de modo geral.

É característica da sociedade no neoliberalismo tratar as questões de maneira compartimentada. Assim, quando o assunto é segurança pública, discute-se quantidade de policiais e a quantidade de câmeras de vigilância. Porém, na prática uma coisa é ligada com outra. Violência é apenas um sintoma, como uma febre, de um problema maior. Descer o sarrafo não é a solução. Pelo contrário, é dar sal pra quem tá com pressão alta.

A solução é justiça social, busca pela igualdade e uma educação transformadora. Os jornais têm responsabilidade quanto a isso. E, como tudo está ligado, talvez um grande primeiro passo seja a democratização da mídia.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

A Venezuela, sempre ela...

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Venezuela. Opa! Muitos nem se darão ao trabalho de ler o texto: vão direto para os comentários dizer que sou petralha, comuna, esquerdopata e outros elogios. Tenho evitado escrever sobre o país, mas apenas porque não tenho conhecimentos suficientes. Nunca estive lá, raramente leio os jornais locais e apenas esporadicamente dou uma olhada na VTV – televisão estatal venezuelana. Portanto, o silêncio é de ouro.

Mas a questão venezuelana tem um  lado patético. Sempre que alguém quer desqualificar o interlocutor usa o argumento do “bolivariano”. É como se a palavra tivesse poderes mágicos e, quando pronunciada, libertasse uma “verdade” inquestionável. É o mito preferido dos reaças e traz uma ironia: os caras vivem no Brasil e não entendem o próprio país, mas acham que sabem tudo sobre a Venezuela. O nome disso é iliteracia.

Hoje vou meter o meu bedelho porque a coisa chegou aqui deste lado do Atlântico. Os reaças têm feito circular, nas redes sociais, um vídeo da Rádio e Televisão Portuguesa – Madeira segundo o qual o governo venezuelano pretenderia impedir as pessoas de sair do país. Ah... o oráculo da reportagem diz: “Governo venezuelano proibiu a emissão de bilhetes de avião para fora do país”. Parece simples, mas não é (nunca é).

Ora, ninguém discute que a Venezuela está em cirse. Mas é provável que as pessoas não tenham entendido a reportagem, uma vez que o sotaque madeirense é difícil até para os continentais. E ninguém se deu ao trabalho de se informar (estranho se fosse o contrário, né?). Afinal, quem está a causar problemas são os capitalistas, em especial os capitalistas que abusam do capitalismo.

O fato é que há agentes de viagens e operadores turísticos a ganhar dinheiro com a especulação. Quem compra uma passagem tem direito a comprar US$ 3 mil pela cotação oficial do governo. O que acontece? Ora, essas empresas compram passagens e adquirem os dólares, sem que ninguém viaje. E os dólares comprados retornam para o mercado paralelo valendo até sete vezes mais.

É um negócio rentável. Os caras perdem o dinheiro das passagens, mas ainda saem no lucro. O resultado é que os aviões estão sempre “cheios” de passageiros que não viajam, há menos vagas e os preços acabam inflacionados. E mais. Com o dólar oficial, os estrangeiros de países como Colômbia, Equador ou Peru aproveitam para vender os seus dólares no mercado paralelo e comprar as passagens em bolívares. Sai muito mais barato.

As autoridades estimam que 30% dos bilhetes vendidos sejam comprados por estrangeiros, o que acaba provocando uma falta de passagens. Aliás, o oráculo da matéria da RTP-Madeira (que não é muito esclarecedora, digamos), pode dar a entender uma coisa, mas na verdade a reportagem diz que o governo proibiu a emissão de bilhetes com um ano de antecedência.

O fato é que as pessoas nem se deram ao trabalho de ver a matéria, que é imprecisa, e fica fácil distorcer a notícia. É só reduzir a questão ao que se lê no oráculo (na foto) e partilhar o vídeo. É uma mensagem errada? É. Mas o que importa? É assim que o pessoal do ódio prefere. Ah... e não estou a defender a Venezuela e nem o seu governo. É apenas uma tentativa de esclarecer a distorção. Sei que não adianta, mas vou tentando. 


P.S.: Para finalizar, um aviso. Se algum leitor pretende comentar o texto com aquele palavrório manjado dos reaças, pode esquecer. Não perca o seu tempo porque não vou aprovar.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Turismo na Alemanha sem pagar a conta.

POR JORDI CASTAN

Se você é dos que acredita que o dinheiro público de Joinville está sendo bem administrado e que "nenhum centavo será desperdiçado", seria bom pensar duas vezes ou se inteirar melhor de como está sendo gasto o orçamento da cidade.

Entre 29 de agosto e 4 de setembro, o prefeito Udo Dohler e os secretários municipais de Comunicação e Desenvolvimento Econômico do município realizaram viagem à Alemanha, em missão oficial. Afortunadamente para os contribuintes, entre os que o leitor com certeza se encontra, a Lei Orgânica do Município, no seu artigo 63 inciso I, estabelece a obrigatoriedade de apresentar um relato da viagem que a comitiva oficial do município realizou.  O relatório está disponível neste link:

 Relato da Viagem da Comitiva Oficial do Município.

Recomendo a leitura do relato. Não tomará mais de quatro ou cinco minutos do seu tempo e permitirá que tenha conhecimento de como pode ser interessante fazer turismo na Alemanha custeado com recursos públicos. O relato contém oito páginas. Dez, se consideradas a capa e a última página com as assinaturas dos participantes na viagem. Tem 12 fotos e 30 linhas a meia coluna, que se estivessem escritas normalmente não representariam mais de 15 linhas de texto. Linhas que dizem muito pouco ou quase nada do que foi alcançado na viagem. Ou provavelmente mostram a verdade nua e crua.

Se depois de ler o relato ficou com a impressão que tem pouco conteúdo, que  não há objetivos e os possíveis resultados são imprecisos, bem-vindo ao grupo dos que acham que o relato só reforça a impressão que foi uma viagem turística. Fazer-se acompanhar por dois secretários municipais é uma prática comum e evidencia que os nossos prefeitos não gostam de viajar sozinhos. O prefeito Carlito Merss, quando viajou a Europa, com Paris e Barcelona na agenda, tampouco viajou sozinho. O resultado daquela viagem, com desta, foi pífio. Nada de concreto, fora algumas fotos frente a pontos turísticos das cidades visitadas.

Em tempo, o relato anexo a este post foi encaminhado ao Legislativo Municipal, que tem a obrigação constitucional de fiscalizar os atos do Executivo. Tem sorte o prefeito Udo Döhler, porque não há oposição no Legislativo. Se houvesse, com certeza um relato como esse mereceria comentários e duras críticas dos vereadores de oposição. Mas os nossos vereadores são especialistas em olhar para o outro lado quando se trata de fiscalizar o executivo.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Protocolar

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

A Prefeitura de Joinville anunciou, nesta semana, o cronograma das audiências públicas que serão realizadas para discutir o projeto da nova Lei de Ordenamento Territorial. Novamente, e não por falta de aviso, a gestão municipal dá mostras de como tem pressa em aprovar um instrumento que se enrola desde 2008 (quando o Plano Diretor foi aprovado), principalmente ao realizar rápidas audiências públicas apenas para cumprir o que manda a lei.

As oito audiências, distribuídas pelas subprefeituras do município, geram alguns desequilíbrios, considerando a divisão das discussões de uma lei que não pode ser compreendida de forma isolada, por bairros. A nova lei de ordenamento territorial gera imensos impactos por toda a cidade e integra todo o território, e por isso não é concebível que as discussões aconteçam de forma fragmentada. Por outro lado, fragmentar possibilita uma menor complexidade nas discussões e propostas formuladas, as quais culminam em maior fluidez do processo, tudo o que os gestores querem.

Como a população foi sendo, ao longo dos últimos anos, esquematicamente cerceada do processo (obrigatoriedade do CNPJ ou Estatuto Social para se candidatar ao Conselho da Cidade, reuniões a portas fechadas garantidas pela justiça, etc.), ela não tem os complexos subsídios técnicos necessários para a boa participação e assim as audiências públicas culminam num simples "sim ou não".

Independente do resultado destas audiências públicas, lembremos que o processo não termina agora. Os vereadores têm a obrigação de analisar o projeto de lei enviado pelo executivo e, então, sofrerem com novas apreciações da população organizada. Se o executivo está fechado em um projeto claro, cabe ao povo a pressão pela mudança. Caso não seja possível a mudança, a lei de ordenamento territorial entrará em vigor e dentro de alguns anos veremos que a piora da urbanidade joinvilense será um fato sem volta - e não foi por falta de aviso.