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Olha aí o ROBOCOPA! |
POR FELIPE SILVEIRA
A conversa de bar com o Clóvis Gruner, numa das raras vindas do parceiro de blog para Joinville, poderia ter muitos assuntos (de fofoca a Foucault), mas não deu pra escapar daquele que tomou a maior parte do encontro: política e copa. Aliás, para ser mais preciso, da relação da copa com a política. Desse papo, trago um tópico para discutir aqui, com vocês.
A “falta” de manifestações durante a copa tem razões distintas. Entre elas, o mergulho que mídia e sociedade em geral deram no evento futebolístico, o famoso “não se fala em outra coisa”. Outro motivo eu apontei no texto da semana passada (clique aqui para ler). Para mim, um ciclo, o ciclo #NãoVaiTerCopa se encerrou. Ele foi muito válido e a luta vai continuar, mas a partir de outro mote, que a esquerda precisa encontrar.
E a luta precisa continuar, pois o “legado” da copa, no campo político, é de repressão. Foi exatamente o que o Clóvis lembrou na nossa conversa de boteco. Se estar na rua, na luta, já é desgastante por si só, imaginemos com o aparato policial e militar articulado, em clima de guerra, para a Copa do Mundo.
Com
treinamento da polícia com o FBI; com o Exército na rua; uniforme que mais parece o Robocop, o ROBOCOPA; e uma Lei de Segurança Nacional bizarra, é claro que as manifestações não seriam como em 2013. Outro momento, outro contexto, outro aparato de repressão.
Continuidades
Não podemos dizer que a repressão não nos é familiar. O povo sempre tomou porrada. Tiro, porrada e bomba, pra usar o verso da MPB. Vale para todo o mundo, mas especialmente no Brasil, cuja veia autoritária tem papel extremamente importante na história.
E se ainda cicatrizamos as feridas da ditadura civil-militar, lidando com seu “legado”, temos na copa um novo momento marcante para a história. O desaparecimento do pedreiro Amarildo (em área de UPP, e portanto algo ligado à copa); a condenação de
Rafael Braga Vieira, por porte de vinagre; a prisão de
Fábio Hideki, acusado de porte de explosivos.
Ok, tem copa, e é uma copa espetacular do ponto de vista do futebol, mas ela teve um preço, e vai deixar um legado.
Protesto não é crime!
A repressão também não é estranha aos militantes dos movimentos sociais de Joinville, especialmente daqueles que lutam por um transporte público gratuito e denunciam a relação escandalosa dos setores público e privado na exploração da população por meio deste negócio.
A perseguição aos joinvilenses ganhou um novo capítulo em fevereiro deste ano, quando três destacados militantes foram detidos após uma manifestação, enquanto tentavam conversar com policiais que tentavam tirar uma manifestante que estava de bicicleta de dentro de um ônibus. Um detalhe importante é que esta “operação” contou com cerca de 20 policiais e sete viaturas...
Os militantes foram levados à delegacia, onde passaram por situações que quem conhece a polícia como conhecemos pode imaginar o que aconteceu. Não falarei, mas você que não é bobo sabe do que tô falando.
Diante disso, o Coletivo Anarquista Bandeira Negra lançou a campanha Protesto não é crime, que recebeu o apoio de diversas organizações políticas locais. Você pode dar uma olhada em algumas notas aqui, e, quem sabe, dar o seu apoio também: nota do
MPL, do
Mulher na Madrugada, do
Mulheres em Luta, do
Psol e do
SINTE-Joinville.
Seu apoio é importante, assim como a consciência de cada um de nós diante dos cenários nacional e local. Para além do clima de festa, do #TáTendoMuitaCopa, é preciso pensar no preço que ela teve, na maneira como ela está sendo executada, e, mais importante, nas continuidades que ela propõe.