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Ilustração da capa do livro Casa Grande e Senzala |
POR JOSE ANTÓNIO BAÇO
Hoje proponho um
exercício. E se muitas das ações dos últimos anos – aquelas que foram alvo de
duras críticas – não tivessem sido levadas a efeito? Ou seja, vamos imaginar
como seria o Brasil se alguém desse atenção aos críticos e simplesmente deixasse
muitas ideias para trás. Então, vamos usar um pouquinho de imaginação e pensar num
país feito à imagem dos seus críticos.
- Vamos
acabar com o Bolsa Família.
- Não
vai mais ter Copa do Mundo.
- Podemos
abrir mão dos Jogos Olímpicos, que vão para Londres.
- Acabar
com as cotas nas universidades é outra medida inadiável.
- Que
tal tirar a Petrobras das mãos do governo e entregar aos privatistas?
- Vamos
deixar para lá esse investimento no Porto de Mariel.
- Revogar
a lei do Marco Civil é algo que se impõe.
- Também
vamos fechar as universidades criadas nos últimos anos.
Parece que temos exemplos suficientes. O que isso significaria? Ora, apenas um regresso à “normalidade”. Pobres
sem lugar na economia (não-consumidores) e a continuar na exclusão. Negros fora das universidades. Um país sem eventos capazes de projetar uma imagem
internacional e de iniciar uma cultura de turismo. Como em outros casos, uma estratégica empresa petrolífera nas ávidas mãos
dos privados. A ausência de estratégias para integração numa economia globalizada. A
internet nas mãos dos grupos que mandam mais.
É esse o Brasil vocês
imaginaram, leitor e leitora? Aposto que sim. Mas pensemos: não é o mesmo Brasil que tínhamos
há 30, 40 ou 50 anos? Exato. Mas é para onde essa gente pretende voltar.
Porque tem saudades daquele Brasil onde as coisas estavam todas no seu devido
lugar. Ou seja, o que os conservadores desejam é uma volta à velha sociedade onde as posições eram cristalinas: Casa Grande é Casa Grande, Senzala é Senzala. Uma sociedade onde pobre era pobre e não tinha que ficar sonhando com geladeira. Para que geladeira se não tem comida?
O que querem os conservadores? Voltar a um país com universidades apenas para os meninos das boas
famílias. Um
país fascinado pelo tal primeiro mundo e que, como poucos podiam viajar, criava uma ideia de distinção social. Um país dependente, acorrentado a
decisões tomadas por credores externos, e para o qual a expressão diplomacia
econômica não existia. Um país que andava de joelhos perante as instâncias
internacionais. Um país onde cada um cuida de si e inexiste a solidariedade para com o mais fraco: aquela arenga do "dar a vara..."
Enfim, o que
os conservadores propõem é o passado.