POR FABIANA A. VIEIRA
A controvérsia da instalação do crematório em Joinville
mistura alguns preconceitos e a falta de um debate desarmado sobre o
planejamento da nossa cidade.
De uma parte, temos aqueles que não querem a cremação. Por fundamento religioso ou pura ignorância descartam a incineração como alternativa para o destino final de um corpo inerte. Preferem a ritualística secular de enterrar o corpo, mesmo que depois do lacre da urna não mantenham mais nenhum contato com o dito cujo. Mas é obrigatório e sensível reconhecer, que o velório e o sepultamento são práticas das mais reveladoras do sentimento verdadeiramente humano. Dignificar a morte é homenagear a vida, diriam os filósofos. O pacto entre gerações se completa com uma morte acolhida com dignidade.
De uma parte, temos aqueles que não querem a cremação. Por fundamento religioso ou pura ignorância descartam a incineração como alternativa para o destino final de um corpo inerte. Preferem a ritualística secular de enterrar o corpo, mesmo que depois do lacre da urna não mantenham mais nenhum contato com o dito cujo. Mas é obrigatório e sensível reconhecer, que o velório e o sepultamento são práticas das mais reveladoras do sentimento verdadeiramente humano. Dignificar a morte é homenagear a vida, diriam os filósofos. O pacto entre gerações se completa com uma morte acolhida com dignidade.
Temos também aqueles que desconfiam da fuligem e dos gases
tóxicos da queima e se opõem, com convicção, a permitir que sua família e a
vizinhança sejam disseminadas por uma fumaça de teor imprevisível e não sabida.
E temos aquela situação em que o crematório não é possível
no meio da classe média, mas se enquadra confortavelmente na periferia como um
bom investimento. É o planejamento urbano
induzido pelo poder econômico da propriedade.
Ou melhor, o poder da elite expulsa do seu círculo doméstico qualquer
empreendimento que seja potencialmente perturbador.
Os nossos cemitérios, entretanto, não tem mais capacidade de
expansão. Um corpo em decomposição tem consequências ambientais nefastas para o
nosso subsolo, especialmente para o lençol freático que, requer cuidados redobrados
hoje em dia. Os gases tóxicos da decomposição também são bastante prejudiciais.
Na Europa fazem centrais de queima de resíduos sólidos, lixo
mesmo, em pleno centro das cidades. São
verdadeiros shoppings totalmente limpos, automatizados, que geram
energia, descartam o volumoso detrito doméstico e não prejudicam o ambiente. Aqui,
pela insegurança na fiscalização, pela inexperiência desta prática e pela
mobilização apontada, qualquer equipamento social é banido imediatamente do
círculo excludente do centro, área reservada por excelência a moradia
nobre e negócios.
Mas modernas tecnologias de filtros já garantem a sanidade
da queima e, com crematórios devidamente instalados em áreas estratégicas,
podemos garantir todos os recursos logísticos necessários para a realização de
uma cerimônia que preserve completamente a dignidade, a segurança e a paz ao ato
de despedida das famílias.
Muitas cidades já dispõem do recurso da cremação. Transformar
o corpo em cinzas já é uma prática recorrente em todo o mundo. Cidades grandes,
médias e até pequenas, como nossas vizinhas , Jaraguá do Sul e Balneário
Camboriú, já dispõem desse serviço. Nos Estados Unidos a cremação começou em 1876.
O primeiro crematório do Brasil, na Vila Alpina em São Paulo, inaugurado em 1973,
hoje realiza 750 eventos por mês. A cremação já era considerada, um século
antes da era cristã, como uma prática corriqueira, higiênica e julgada prática
por muitas comunidades. Em vários países do hemisfério norte a cremação já é
majoritária.
Entendo que Joinville deveria enfrentar essa agenda da
modernidade sem medos e se mobilizar para viabilizar um crematório. Bom seria mesmo
se tivéssemos crematórios públicos, gratuitos, acessíveis irrestritamente a
todos. A falência dos cofres públicos abriu mais esta opção para o investimento
privado ganhar mais dinheiro.
É claro que devemos nos assegurar de todas as garantias
técnicas dessa ferramenta, mas também é uma obrigação que essa questão combine
com o planejamento para o futuro da nossa cidade. Em pouco tempo, talvez menos
do que trinta anos, iremos atingir cerca de um milhão de habitantes. Morrer não
pode se transformar em um problema.
É preciso pensar com cautela e decidir com segurança sobre
uma questão tão importante.