POR FELIPE SILVEIRA
Não tinha como escrever sobre outra coisa nesta segunda-feira senão sobre a tragédia deste fim de semana em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, que vitimou fatalmente, pelo menos, 231 pessoas, sobretudo jovens. Nossa tragédia social é diária, mas essa, desse tamanho, tão próxima da nossa vida, não pode ser esquecida ou tratada de maneira leviana. E por isso é tão difícil escrever esse texto.
Falo de proximidade porque no momento da tragédia eu mesmo estava numa balada, aproveitando a noite, feliz da vida. Por isso, no momento que eu acordei e vi as notícias, não pude não pensar em como seria se tivesse acontecido comigo e com meus amigos na noite anterior. E acho que esse pensamento passou pela cabeça de muita gente. E, claro, não dá pra não pensar nos nossos pais, nos nossos irmãos, primos, amigos...
Como disse uma pessoa que eu admiro muito em uma rede social, a tragédia não pode ser tratada como exemplo, pois algo assim jamais deveria ter acontecido. Porém, ela nos faz pensar e tirar lições.
A primeira delas é em relação à infraestrutura. Eu, sinceramente, não imagino que isso possa acontecer em certos lugares do mundo, mais avançados neste quesito. Não dá para aceitar que locais como boates, ginásios estádios, escolas ou qualquer um que reúna mais de dez pessoas não tenha um planejamento para uma ação organizada no caso de uma tragédia, como um incêndio ou a ação de um atirador, como já ocorreu no Brasil e nos Estados Unidos. Nessa linha, dou parabéns ao prefeito Udo Döhler, que já iniciou uma ação de fiscalização no município.
É fundamental, neste momento, que todo o Brasil se volte para trabalhar na prevenção deste tipo de situação. O momento é de tristeza, mas também é de trabalho. E isso, diferente de tragédias como enchentes e desabamentos, depende muito mais da iniciativa privada do que do poder público. Hoje cedo ainda um amigo que trabalha com grandes eventos em Joinville comentou que muitos dos espaços utilizados em festas não contam com saídas de emergências adequadas.
Outra reflexão trazida pela tragédia é sobre o repugnante reflexo da nossa sociedade nas redes sociais, nos espaços de comentários. Desde o início do dia eu soube, pela revolta dos meus amigos, que havia muita gente fazendo piada sobre a tragédia. Ainda bem que ninguém que eu conheço fez isso. Acabava a amizade, se fosse uma, por ali mesmo. E não preciso nem explicar a razão.
Outra coisa muito triste são os comentários dos fanáticos religiosos que comentam em matérias dos portais de notícia que “se as vítimas estivessem em uma igreja isso não teria acontecido”. Neste momento, eu, que sou cristão, tenho a maior vergonha do mundo. Não só por ser cristão, mas também por ser humano e saber que outro pode dizer uma coisa dessa. Assim como também não consigo acreditar nessa gente que compartilha e retuita as fotos dos corpos carbonizados.
A terceira coisa que me chama a atenção é o sensacionalismo dos jornais. Sobre isso, porém, eu não vou me alongar porque, particularmente, não considerei dessa forma a cobertura que acompanhei. Soube, porém, de relatos de outras coberturas. Uma tragédia dessa dimensão não precisa que a cobertura induza o espectador a chorar ou ficar indignado. Ela já é grande demais e fez isso com todo o Brasil hoje.
Para finalizar, só quero dizer desejar força aos amigos e às famílias, principalmente aos pais das vítimas. Para muitos os próximos dias e meses não serão fáceis, mas para eles o resto da vida será muito difícil. Para todos nós, neste momento, resta a tristeza.