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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A sociedade dos mutirões


Por JORDI CASTAN
Vivemos de mutirão em mutirão. O mutirão das cirurgias represadas, o da limpeza das praias, o da limpeza do Rio Cachoeira, o "tapaburacos", o mutirão disto ou daquilo. A pintura apressada dos meios-fios e a roçada do mato nos canteiros da Beira Rio antes do desfile do 7 de Setembro, são exemplos do nosso cotidiano. O mutirão é o reconhecimento da improvisação. É a celebração da falta de planejamento.

Um dia sim e outro também ignoramos a importância e a necessidade de planejar, de fazer as coisas de forma organizada e de algo tão básico como o manutenção preventiva. A falta de manutenção, e dos mínimos indicadores de eficiência e controle, nos faz passar pela vergonha de ver prédios públicos, sejam eles escritórios, escolas, bibliotecas, hospitais, consultórios, museus ou a própria Casa da Cultura, interditados pela vigilância sanitária ou por oferecer risco aos cidadãos.

O mutirão não é uma exclusividade do poder público. Quem não deixou para estudar na última hora? Quem não se lembrou do carro só depois que nos deixou na mão? Esta falta de previsão forma parte da nossa cultura. Deixamos cair aos pedaços para depois apresentar projetos de revitalização que custam dezenas de vezes mais que o que deixamos de gastar com a manutenção que não fizemos. Quem mora em condomínio sabe que muitos proprietários não querem gastar na manutenção do prédio que aos poucos se deprecia e exigirá recursos muito maiores para a sua recuperação.

O exemplo da Biblioteca Rolf Colin, que permanece fechada à espera de um projeto de uma nova biblioteca pode tardar lustros em se concretizar. Ou a Casa da Cultura que, sem recursos para sua manutenção mais elementar, agora sonha com um novo projeto de revitalização que custará milhões. O resumo é que não temos dinheiro para manter, mas nos lançamos a buscar recursos para construir obras que não poderemos manter. Não seria mais lógico manter melhor o que já temos? Estamos nos convertendo nos proprietários de um patrimônio público ruinoso e decadente. Como aristocratas arruinados que não podem manter o patrimônio que herdaram.

Não prever orçamento para a manutenção adequada do patrimônio público e não atender adequadamente as demandas por atendimento médico e limpeza de rios e córregos poderia ser considerada uma irresponsabilidade dos administradores. Mas os principais responsáveis são os que acreditam que o mutirão é a forma correta de administrar uma cidade.