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terça-feira, 18 de agosto de 2015

A meritocracia e os corpos (roliços)

POR SABRINA IDALÊNCIO

A meritocracia não discrimina. Seja o montante da sua conta bancária ou o tamanho das suas calças, lá está ela. Em uma farmácia qualquer, após adquirir suplementos alimentares proteicos, a mocinha classe mérdia universitária se pesa satisfeita. A mesma satisfação de quando escolhe roupas novas. Eis o resultado de uma rotina de atividades físicas e alimentação bem balanceada. Nada vem de graça. Até as curvas do corpo representam uma conquista.

A moça ainda não ultrapassou os 25 anos, exala saúde perfeita e contabiliza zero caso de obesidade na família. Tem tempo para planejar e preparar as próprias refeições, embora não lave as próprias roupas, muito menos o banheiro que usa. Observa uma moça de formas arredondadas que aparenta idade semelhante à sua na fila do Subway (depois de tanto esforço ela merece fast food!). A gorda carrega consigo uma criança também acima do peso. A moça reflete. Eles nem deviam estar aqui, a menos que seja pra pedir salada, pensa. Que exemplo essa mãe pensa que está passando à criança? Pergunta-se a moça sem filho algum.

Repara quando até o menino pede um lanche com mais recheios que o dela. Absurdo! E a mãe não fica nem um pouco atrás... como conseguem. Aqui ignora-se a rotina da família, seus hábitos e a herança genética. Gente gorda não merece comidas gostosas. Não merece roupas bonitas. Não merece relacionamentos felizes. Lembrou-se do desgosto quando via pessoas com quem acabara de se relacionar logo aparecendo com meninas mais gordinhas. Cadê o bom gosto que tinha quando estava com ela, tão empenhada e cuidadosa?


É assim que a meritocracia dos corpos funciona. Gente gorda não merece amar, ser amada, ser feliz, comer bem. O único tópico da pauta dessas pessoas precisa ser uma reeducação alimentar aliada a treinos pesados – como se ser gordo fosse sinônimo direto de má alimentação e sedentarismo. Pela meritocracia, gente gorda não merece viver bem porque não se esforça o suficiente.