segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Isso não é gente de Joinville

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Quando mudei para a cidade houve uma coisa que me chamou logo a atenção: a expressão “ser de Joinville”. No princípio pensei que tivesse alguma coisa a ver com o processo de colonização, que encheu a cidade de sobrenomes cheios de consoantes a indicar uma “linhagem” europeia.

Mas foi suficiente pouco tempo para perceber o que a expressão realmente queria dizer: era apenas a mentalidade provinciana (sempre) em construção. O “ser de Joinville” significava, antes de tudo, a recusa do outro. Ou seja, a recusa da diferença. A pequena burguesia local queria apenas parar o tempo mental da cidade. E tem conseguido pelo menos atrasá-lo.

No seu “Mitologias”, o pensador francês Roland Barthes dá uma contribuição para entender o que se passou em Joinville ao longo das últimas décadas (e podemos recuar muito no tempo). Diz ele que a pequena burguesia produz uma espécie de fascismo que é usado pela burguesia, os reais donos do poder econômico.

Barthes defende a tese de que o “pequeno burguês é um homem impotente para imaginar o outro. Se o outro se mostra diante de si, o pequeno-burguês cega, ignora-o, nega-o, ou então transforma-o nele próprio. No universo pequeno burguês todos os fatos de confrontação são fatos reverberantes, todo o outro é reduzido ao mesmo”.

É por isso que a pequena burguesia joinvilense tem dificuldades em assimilar os imigrantes pobres, o homossexuais, os libertários, os disruptores, os que lutam na defesa dos seus interesses. Porque para essa pequena burguesia que “é de Joinville”, o outro só existe se for um “igual”. Se não for um igual torna-se pária.

O que significa, então, “ser de Joinville”? Não é uma coisa geográfica. É cultural. Ser de Joinville significa ser gente "ordeira, honesta, trabalhadora" e, principalmente, que fica quietinha no seu lugar e não provocar ondas. O que, convenhamos, só responde aos interesses dos que têm tirado proveito da cidade ao longo dos tempos, de forma legítima ou não.

Mas isso não esconde o fato de que a cidade vive da virtude pública e do vício privado. Por isso, quando a pequena burguesia entra numa onda sair aí pelas redes sociais a dizer que “isto é Joinville”, talvez seja melhor tomar cuidado. Porque se as pessoas olharem a cidade à lupa há o risco de abrir um armário cheio de esqueletos. 





44 comentários:

  1. Bom dia!
    Calma lá, esse movimento foi pontual e em resposta a um acontecimento.
    Você queria que a cidade ficasse parada, assistindo sua imagem ser deturpada por um evento marcante, com cenas de violência que rodaram o mundo, promovido por pessoas as fora de Joinville?
    Se ninguém fizesse nada, as críticas viriam com a cobrança: "onde estão os empresários, que deveriam defender a imagem da cidade que está sendo linchada nacionalmente?".
    Menos "crítica por críticância" nesse canal, por favor!
    Há o papel de oposição e cobrança que devem haver e serem sempre feitos, e sem dúvida o Chuva usa muito bem esse espaço para isso.
    Mas há exageros, com textos por vezes desnecessários...

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    1. Meu caro Ismael. Eu apenas fiz uma pequena reflexão sobre o inconsciente coletivo da cidade. Independe de qualquer "movimento pontual". Podia ser publicada em 1999, 2003 ou 2013 que não faria diferença.

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    2. Gostei muito do texto e, mesmo "sendo de origem", concordo. Mas os sobrenomes não seriam cheios de consoantes? Eu pelo menos contei 13 no meu, para 4 vogais. abraços

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    3. Os empresários estão fazendo o de sempre: explorando o povo.

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    4. Putz. Que touca, Roberta. Foi um ato falho. Por sorte no online dá para mudar. Obrigado pelo toque.

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  2. Este argumento do "ser de Joinville" colabora com a tese da cidade de 500 mil habitantes que se comporta como uma vila. É uma ideia impregnada na população e propagandeada pela imprensa que simplesmente não faz sentido e se torna maléfica para quem é considerado de fora de Joinville ou diferente... Isto não acontece só em Joinville mas é observado no estado inteiro, como a carta aos baianos de Brusque e a revolta contra os mendigos de Canasvieras. Um preconceito e racismo de uma população que se considera melhor do que os outros, uma hipocrisia míope que precisa de óculos para enxergar a violência que está na sua porta (ou dentro) de casa, cometidos por todas as classes sociais e por pessoas consideradas "ser de Joinville", pessoas loiras de olhos azuis. Manifestações ordeiras, como a que aconteceu na arena domingo, não resultarão em resultados, simplesmente serão ignoradas pelo resto do país e pelo mundo, e podem ser mal vistas dependendo dos argumentos que acompanham as imagens. A edição do Fantástico ontem contando a história do torcedor agredido na Arena, mostra claramente que não existem vítimas nestas história, quem foi agredido agride também. E Joinville e os responsáveis pela Arena são tão responsáveis pelos eventos que acontecem aqui quanto organizadores de eventos particulares.

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  3. De novo batendo no Isto é Joinville???...pedir paz nos estádios incomoda mesmo heim...

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  4. Este é um tema que serve um prato sem fundo para sociólogos, antropologos e psicanalistas se divertirem por um bom tempo. E é uma mentira que foi e continua sendo repetida milhares de vezes ao longo das décadas, daí estar incrustrada no inconsciente coletivo sambaquiano. É o tipo da convicção muito mais perigosa para a verdade que as mentiras.
    Confesso que fiquei muito comovido com o jogo da Arena de ontem, que mais parecia ser um encontro evangélico da salvação que uma partida de futebol.

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  5. Coisas do Sul..
    Aqui quem pena é esta joinvillense aqui rsrs
    http://botecodabete.blogspot.com.br/2009/09/eu-nao-sou-joacabense.html

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  6. A campanha "#IstoéJoinville" foi de iniciativa de torcedores do JEC e da comunidade joinvilense. Talvez seja isso que esteja incomodando muitos, pois o povo dessa vez não serviu de massa de manobra de políticos e poderosos. O povo mostrou organização e sua força. Se acham isso errado, então Viva a Violência!

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    1. Mas, catso, onde foi que eu falei em torcedores do JEC? Lê de novo o texto, Anônimo.

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  7. Isto é gente de Joinville... http://anoticia.clicrbs.com.br/sc/geral/noticia/2013/06/cei-de-joinville-sofre-ameaca-por-causa-de-barulho-e-pode-fechar-4167494.html

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  8. Não enxergo essa exacerbação sobre o “ser de Joinville”.
    Obs: não sou Joinvilense.

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  9. Se o que aconteceu na Arena esta incomodando tanto, por que os "de Joinville" (natos ou adotivos) não vestem a camisa branca para o transito, para a velocidade, para a violencia na disputa de uma vaga, para o desleixo quando ocupam mduas vagas ou uma de deficiente, ou para comparecer nas reuniões de condominio ou da associação de moradores. Ou até acompanhar as seções na cãmara de vereadores. Não me interessa quantas letras tem os nomes.... se tem raiz funda ou rasa. quero saber quem esta disposto a fazer uma cidade melhor. uma cidade diferente das MERDAS egoistas, inconsequentes e impensadas que existem por esse mundo afora. Quando é que o cidadão vai olhar o vizinho com compaixão ---- interesse em guiar nossas ações balisadas no interessa da coletividade ao invés de ficar se agredindo por conceitos e pre-conceitos arcaicos, egoistas e humanamente pequenos ........ aaaaafffffffffff!

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    1. Muito bem! Só esqueceu de mencionar que podemos pedir pelos que não tem voz, os animais... Eles também merecem respeito! Não podem continuar sendo vítimas de crueldades, abandonos e maltratos.

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  10. convido vossa senhoria a ir junto com a maior torcida do estado de SC nas periferias da cidade (onde vivem pessoas oriundas de outras cidades/estados) entregar as 11 toneladas de alimentos arrecadados pela "burguesia"...

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    1. Amigo. 1. Você não sabe o que é burguesia. 2. Não entendeu o texto ou não leu ou não sabe ler... porque nada tem a ver com a torcida do JEC.

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  11. Esse pessoal da esquerda não sabe mais para onde atirar, desespero nato. Agora as pessoas que se mobilizam para assistir um jogo de futebol e arrecadar mantimentos são taxadas de burgueses inconsequentes. E aquelas pessoas que depredam bens públicos, invadem prédios, tocam o terror “em nome da coletividade” são o quê, criminosos?

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    1. 1. É tachado. 2. A torcida do JEC, na sua maioria, é proletária e não burguesa (outro que não sabe o significado de burguesia). 3. Onde eu falei de torcida do JEC? O tema é outro, porra!

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  12. O resumão disso tudo é que teria sido ótimo se o Baço nunca tivesse chegado a conhecer Joinville. Não agrega nada.

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    1. Não agrega nada? Duas negações numa mesma frase significa... Aliás, "agrega" é um clichezão que os pernósticos gostam de usar.

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    2. No nosso mundinho NÃO tem problema NENHUM usar duas negações na mesma frase: http://wp.clicrbs.com.br/sualingua/2009/05/14/dupla-negativa/

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    3. Sabe, Sofia, não sei se percebeste, mas a minha frase era assim: "Duas negações numa mesma frase significa..." Eu não digo que significa erro de português, porque pretendia insinuar que o Anônino estava num estado de negação. Ah... e ao contrário do que diz o texto que enviaste, na minha modesta opinião há pelo menos duas coisas que vedam as duplas negações: o estilo e a elegância do texto.

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  13. Não dá pra publicar um texto sem colocá-lo sob julgamento em função do contexto de quem lê!! Questionar o termo "Gente de Joinville" quando se faz uma campanha do cunho de #IstoéJoinville, é pedir inconscientemente a associação direta do seu público leitor. Tentar se esquivar disso é querer gerar polêmica... #PARABÉNS!!

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  14. O que mais me chamou a atenção deste post é para a preciosidade do vídeo. Se trata da mais cabal prova da presença de alienígenas na cidade, estarei enviando hoje mesmo o link desta descoberta para o CUB (Centro de Ufologia Brasileiro). Enfim Joinville vai ser conhecida para o mundo por motivos menos vergonhosos.

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  15. O vídeo é bizarro, assim como muito comentários daqui.

    O mais irônico do vídeo é ser o Beto Gebaili falando que alguém não tem o padrão da cidade, sendo que ele também não é joinvilense de nascimento. Joinville é praticamente uma Israel do mangue.

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  16. Baço, quando você vai fazer um novo artigo sobre a Venezuela?
    hahahahahahahahahahah, desculpa, não aguentei.

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    1. Você como um grande articulista, principalmente em economia, poderia fazer um artigo resumindo nossa bela e formosa Venezuela. Como você domina a matéria importantíssima, a economia marxista, você poderia analisar o progresso nas políticas públicas venezuelanas. Ficaria perfeito. Ouço dizer que o Maduro está fazendo uma revolução na Venezuela. Os avanços são inúmeros, até o Jimmy Carter disse esses tempos isso. Um artigo seu seria de grande relevância para comunidade intelectual.

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    2. Vou fazer um resumo: "você é um idiota". Mas a democracia obriga a conviver com eles...

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    3. Que isso? Quanta truculência. O que você ganha com isso? Não fique nervoso José Baço? É assim que você responde seus leitores, ainda mais quando eles lhe elogiam? Na A Notícia o senhor faz assim também? Já vi o senhor ser intempestivo antes, mas gratuitamente assim, nunca tinha visto. Olha, que o natal faça o senhor refletir melhor suas condutas como jornalista a fim de que possamos fazer a revolução socialista, uma América Latina mais integrada, mais justa e menos cruel. A luta continua amigo! Estamos do mesmo lado. Somos comunistas! O bolivarianismo vai sair vitorioso. Viva la revolución! Por um Baço 2014 menos intempestivo e mais paciente e educado. Você consegue, vamos revolucionar amigo. Sugiro uma primeira coluna para o chuva ácida: O SALDO DO BOLIVARIANISMO. Não nos decepcione Baço. Você é um articulista de grande relevância para a comunidade intelectual.

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    4. Há aqui um mal-entendido (ou mal-entendidos) que não estou a perceber.

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    5. Comece a perceber escrevendo um artigo sobre o saldo do bolivarianismo. Que tal? O que o senhor vai colocar no saldo? Que os venezuelanos estão limpando o bumbum com o jornal, que não existe mais sequer um único canal de televisão independente com a venda da Globovision para os boliburgueses, que inflação está beirando 50%, que houve saques por toda o país, que empresários foram presos por não acatarem a redução dos preços, que a criminalidade avança cada vez mais, que o país contém a maior favela do mundo, que falta alimentos básicos, peças de vestuário etc... nos estabelecimentos etc.. Que tal começar assim querido amigo Baço, membro dos comunistas.com, dos amigos do Governo Futebol Clube. Não nos decepcione Baço. Você é um articulista de grande relevância para a comunidade intelectual.

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    6. Mas o que eu tenho a ver com a Venezuela? Quem disse que eu sou comunista? E se fosse, qual é o problema (até podia escrever um texto sobre o 120º aniversário do Mao Tse Tung, que é comemorado justamente hoje)? E o que isso tem a ver com este texto especificamente?

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    7. Pensei que fosse comunista, desculpe-me. Sempre observo que você adula as figuras bolivarianas e vive comprometido em enaltecer a agenda progressista. Sendo assim, imaginá-lo sendo um comunista não é nenhum absurdo, entendo eu. Será que você não tem o sonho de tornar nosso país em uma réplica moderninha cubana/bolivariana? Será que você pensa que se os movimentos armados tivessem sucesso, o Brasil estaria em melhor condição socioeconômica? Diga-me você, José Baço. Aguardo seu artigo de janeiro de 2014 sobre o bolivarianismo. Você é muito relevante à comunidade intelectual.

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    8. Eu sou responsável pelo que escrevo e não pelo que você entende. Eu sou quem eu sou e não quem você imagina que eu sou. E não será alguém que se esconde atrás de um perfil de Anônimo a fazer a minha agenda. Espero que não entenda como má educação, mas é isso.

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    9. Perfeito! Então seja responsável começando por escrever para nós um grande artigo sobre o bolivarianismo, mais precisamente o caso Venezuelano. Enquanto eu me escondo atrás do anonimato, muito interessante neste caso, entendo que o Baço Junior, figura renomada no jornalismo regional, anda se escondendo atrás de agendas politicamente corretas para não dizer logo que ainda sonha em ver um mundo vermelhinho. Pelo o que você me respondeu, estou errado, mas é uma impressão que o senhor passa. Por isso, insisto que deverias fazer um artigo sobre o bolivarianismo para tirarmos a dúvida que paira no ar. O senhor vai topar? Acho muito bom saber que você se conhece melhor do que ninguém, mas sou leitor das suas resenhas de longa data e evidentemente que tiro minhas conclusões. Vamos lá, não desanime Baço, como eu disse, você é relevante à comunidade intelectual. Aguardo essa completude bolivariana. Já é o suficiente para tirar conclusões, se é que você me permite, ademais, o senhor é uma figura com atos públicos, não?

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  17. Penso que o autor da frase “isso não é gente de Joinville” quis, na verdade, afirmar que são raros os jonvillenses que adotam esse visual. Um pouquinho de sensibilidade e bom senso não fazem mal a ninguém.

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    1. realmente está faltando não só um pouquinho, mas muita sensibilidade e bom senso para muitos joinvilenses abrirem a mente para o mundo exterior e aceitarem que pode haver vida humana fora dos limites de Araquari e Garuva.

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  18. Baço e Gebaili.. qual o pior? Escolha difícil... É o roto e o rasgado....

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    1. Deixe-me pensar... Realmente é difícil, porque somos muito parecidos.

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  19. É nessas horas que o anonimato não deveria ser anônimo!
    Os caras escrevem baboseiras e não tem coragem de assumir.
    Vão pras ruas salvar animais abandonados, vão prestar serviços comunitários, seus inúteis...
    Della

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