quarta-feira, 15 de novembro de 2017

O que essa gente fazia para passar vergonha antes das redes sociais?

POR ET BARTHES
As redes sociais produziram pessoas estranhas. De repente qualquer um virou especialista em política, economia e sociedade. Um ator pornô que se sente à vontade para falar de educação. Uma professora universitária que teria dificuldades no ENEM. Uma jogadora que faz profissão de fé num notório corrupto. Um religioso que vive do dinheiro dos fieis e acha que tem moral para ditar regras. Uma jornalista que plagia textos de outros. Enfim, fica a pergunta: o que essa gente fazia para passar vergonha antes das redes sociais?




terça-feira, 14 de novembro de 2017

Lula deve morrer? Não, o que deve morrer é o “jornalismo” da Istoé

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Lula deve morrer. A manchete da Istoé correu como um rastrilho de pólvora e incendiou as redes sociais. Poderia ser apenas um título provocador, exagerado de propósito, para vender mais revistas. Mas não. Quem leu o artigo percebe que o desejo de morte é literal: essa gente quer mesmo que Lula morra. O artigo foi recebido com perplexidade e mesmo quem não gosta do ex-presidente achou que a revista foi longe demais.

Um texto a pedir a morte de um político (um ex-presidente) mostra o fosso de areia movediça em que se debate boa parte da velha mídia brasileira. Muita gente desejou, ao autor do artigo, o mesmo que ele pediu para Lula. Mas o buraco é mais em cima. O jornalista está apenas a ser a voz do dono, a fazer o trabalho sujo para os seus superiores. Afinal, um texto assim não sai para as bancas sem a concordância dos patrões.

A situação pede um olhar por trás da cortina. Haveria motivações menos evidentes? É lídimo imaginar que o pano de fundo é a sobrevivência da própria revista. Mais do que desejar Lula morto, a Istoé tenta permanecer viva. Há uma crise. Há informações recentes a dizer que, com a queda de Dilma Rousseff, a publicidade na Istoé cresceu 1.384%. Ou seja, ascensão de Michel Temer permitiu, à revista, ganhar algum fôlego financeiro.

Que tal um exercício de memória? Em 2015, a revista publicou um texto choramingas a acusar Dilma Rousseff de estar contra alguns meios da velha mídia. “Uma das estratégias para minar o fôlego dessas publicações é reduzir a verba publicitária a elas destinada pelo Governo Federal. Esta ação ganha a alcunha de ‘guerrilha política’, em um documento do Planalto que ficou conhecido esta semana”, dizia a Istoé, em tom de lamúria.

Qualquer pessoa familiarizada com o meio jornalístico sabe que os problemas financeiros da empresa editora da revista têm sido notícia ao longo dos anos. Impostos atrasados, dívidas a bancos, dívidas trabalhistas e até penhora de imóveis fizeram a pauta do noticiário nos últimos anos. O fato é que a revista luta para sobreviver. Mas onde é que Lula entra nessa história? A resposta é simples.

Sem as verbas publicitárias do Governo Federal – e das empresas na órbita da administração central de Brasília – a vida pode ficar ainda mais complicada para a publicação. Se Lula for eleito, a torneira das verbas publicitárias pode deixar de jorrar os milhões de reais. É essencial que Lula não possa concorrer. Se concorrer, é preciso que seja derrotado. Mas Lula diz que vai concorrer. E, para piorar, as pesquisas o põem na liderança.

É aqui que a porca torce o rabo. Se Lula não morrer, talvez morra a revista, que há muito deixou de fazer jornalismo (ao ponto de ser chamada “QuantoÉ”). O jogo de sobrevivência muitas vezes obriga ao ridículo. Não vamos esquecer que no ano passado a revista atribuiu o prêmio “Brasileiro do Ano” ao presidente Michel Temer. Não há argumento racional que sustente a escolha. A não ser, claro, um piscar de olho para as verbas publicitárias.

É óbvio. Não dá para viver só das vendas e dos leitores. A revista tem penetração num meio formado por antipetistas e alguns liberais (daqueles que não vivem sem as tetas do Estado). Mas esse público representa quase um nicho de mercado, formado por leitores pouco fieis e insuficientes para dar saúde financeira a qualquer projeto editorial. Portanto, sem verbas publicitárias – e eventualmente outras bondades governamentais – a coisa complica.

Enfim, Lula é um perigo para a Istoé. E por isso deve morrer.

É a dança da chuva.

P.S.: Para evitar mal-entendidos, como jornalista não desejo o fim de qualquer título, mas lamento que alguns estejam a matar o jornalismo.





Perdão


POR SANDRO SCHMIDT

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Evolução


POR SANDRO SCHMIDT


Como vai a cidade? Pergunte ao motorista de táxi...


POR JORDI CASTAN
Hoje mesmo de caminho para o aeroporto escutei as lamentações do motorista de táxi que me levava. Se queixava da má qualidade da obra da (mal) chamada duplicação da avenida Santos Dumont. O traçado, a péssima sinalização, o ritmo das obras, o perigo que representa trafegar por uma rua nestas condições. Não faltaram os impropérios comuns a quem, morando em Joinville, não consegue aceitar o nível de abandono, a má qualidade das obras e o descaso com a gestão da coisa pública.

Da cantilena para reclamar do novo atraso na data de conclusão das obras e, quase sem tomar fôlego, o motorista passou a se queixar do orçamento divulgado para a publicidade da Prefeitura. Na sua opinião, há dinheiro demais para obras e resultados de menos. Motoristas de táxi são bons indicadores da situação de qualquer cidade e permitem medir com precisão a temperatura política. Incomoda o cidadão comum que a verba usada para divulgar o pouco que se faz seja maior, na sua percepção, que o dinheiro investido nas próprias obras.


Com poucos minutos de viagem até ao terminal só deu tempo para escutar os comentários sobre a suposta ponte que o prefeito anda anunciando. Desde sua sabedoria, o chofer de táxi, vaticinou que a dita ponte não seria executada nem no prazo, nem pelo custo divulgado, nem seria seguido o projeto apresentado. Impossível discordar da sua leitura. Sem a menor credibilidade, perplexa, a gestão municipal passa os dias mergulhada na sua própria incompetência.

A conversa, que mais foi um monólogo, me fez lembrar da frase: "Quando os de cima perdem a vergonha, os de baixo perdem o medo". As críticas são tantas, tão comuns e tão frequentes que ninguém mais tem vontade de perder tempo discordando dos comentários. A única resposta é assentir e torcer para que acabe logo. E que na próxima eleição possamos ter a opção de votar num candidato que tire esta cidade do marasmo em que está mergulhada.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Ioga antipetista. Ideal para os anônimos...

POR ET BARTHES

A saúde pública, o conhecimento popular e o preconceito do gestor

POR DOMINGOS MIRANDA
O universo tem como característica a diversidade. A sociedade também segue este padrão, não é formada apenas por branco e preto, existem inúmeros outros matizes. E na saúde sabemos que é possível tratar as doenças do corpo e da mente das mais diferentes maneiras. O bom gestor não deve ter preconceito e colocar em prática todos os métodos possíveis. Duas cidades do Sul do Paraná – Rebouças e São João do Triunfo – deram um exemplo neste sentido. O serviço público de saúde criou carteirinhas para as benzedeiras e benzedores, permitindo que estes frequentem os estabelecimentos de saúde e que acompanhem os pacientes que desejarem o seu serviço. A população da vizinha Irati também está se mobilizando para alcançar o mesmo objetivo.

Isto não tem nada de anormal, falta apenas vontade política dos gestores. A Organização Mundial de Saúde, através da sua Declaração de Alma Ata, de 1978, deixa claro que é importante o aproveitamento dos saberes populares no atendimento primário de saúde. A Política Nacional de Práticas Alternativas, do Ministério da Saúde, já permite esta prática. No caso das comunidades do Paraná, isto aconteceu porque o povo se uniu em torno do Movimento Aprendizes da Sabedoria. O médico neurocirurgião Sérgio Felipe de Oliveira defende a presença das benzedeiras nos tratamentos e diz que “a força da fé é tremenda”.

No entanto há um outro lado importante desta prática religiosa. Quase todas as benzedeiras também trabalham com a fitoterapia, oferecendo de graça remédios feitos com plantas medicinais. Em um momento de crise profunda na economia, está aí uma boa solução para aliviar o bolso dos doentes e dos cofres públicos. A ciência já provou que as ervas curam, como faziam nossos avós no passado.

No entanto, como dizia o aclamado físico Albert Einstein, “é mais fácil quebrar um átomo do que derrubar um preconceito”. E isto é o que estamos vendo em Joinville. Em 2010 foi aprovada a Lei 6.774, de autoria do vereador Manuel Bento, que criava o Programa Municipal de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. O então prefeito Carlito Merss, com o apoio de outras entidades como a Pastoral da Saúde, começou a colocar em prática a fitoterapia na Secretaria de Saúde. Mas, a partir de  2012, no governo do prefeito Udo Döhler, o programa foi desativado. Por falta de incentivo, uma associação de pessoas que produziam remédios fitoterápicos deixou de existir. Quem mais perde com atitudes como esta é a população.

Em 2016, o deputado Darci de Matos encaminhou ofício à reitora da Univille,  Sandra Furlan, propondo que fosse estabelecido contato com a Universidade de Medicina Tradicional Chinesa, em Henan, cidade irmã de Joinville, no sentido de firmar um convênio. A universidade chinesa tem importantes trabalhos na área de fitoterapia e em Joinville temos um dos maiores laboratórios fitoterápicos do país. A Univille poderia ser um elo importante nesta parceria. Mas até hoje o parlamentar não obteve resposta.

Assim, caminhando na contramão de outras cidades que deixaram de lado o preconceito, Joinville abdica de usufruir dos benefícios de uma terapia alternativa tradicional, já testada pelos cientistas, pelos índios e por nossos antepassados. A fitoterapia tem custo barato, pois a natureza nos oferece de graça os seus ingredientes básicos. Mas, nossos gestores continuam teimosos, se recusando a enxergar uma saída para as dores da sociedade. Há cerca de dois anos foi feita uma pesquisa e 65% da população colocou a saúde como a principal queixa contra a prefeitura. Está na hora de atentar para este dado e aliviar o sofrimento do povo que depende do SUS.