sexta-feira, 28 de abril de 2017

Greve geral: uma ação política necessária


POR EDUARDO RODRIGUES
O direito à greve, garantido na Constituição, existe por uma única razão: é uma forma legítima dos trabalhadores se organizarem para conseguir melhorias nos salários, benefícios e resistir a imposições do poder que, somente por interesse econômico, tenta reduzir os direitos de todos os trabalhadores e trabalhadoras.

Só para refrescar a memória, todos os direitos que hoje consideramos imprescindíveis, como o voto, a representação democrática, aposentadoria, limitação da jornada de trabalho, licenças, férias e etc. tiveram greves como importantes ferramentas de combate. Vale reforçar que em nenhum momento da história as melhorias na condição de vida dos trabalhadores foram meras concessões. Foram conquistas originadas através de muita luta, combatendo repressões e perseguições, oriundas de interesses muitas vezes distantes da democracia e da liberdade.

Estamos vivendo em um estado de exceção. O plano econômico e político aplicado pelo governo golpista de Michel Temer não foi eleito nas urnas. É um plano de governo desenhado pela classe patronal do país, com o interesse reduzir gastos com a contratação de funcionários e garantir o dinheiro do Estado para o pagamento da dívida pública. Uma conta que beneficia rentistas milionários e despreza os trabalhadores brasileiros. Destrói os direitos que asseguram garantias mínimas à população e transforma as relações de trabalho numa terra sem lei, retrocedendo décadas em nossa história democrática.

É um direito sair às ruas, entrar em greve, fazer pressão popular sobre o governo para manter nossos direitos conquistados através de uma história de muito sofrimento e luta. A greve geral marcada para este dia 28 de abril será a grande retomada de mobilizações populares no Brasil. Faz parte do jogo. É uma das poucas ferramentas de controle do poder que temos. Precisamos de unidade e da clareza de que, neste momento, a classe trabalhadora está por si só. E ninguém está por nós.

Os brasileiros foram às ruas não apenas por R$ 0,20. Foram contra a corrupção, pela saúde e pela educação. Esse agora é mais um passo, é pela democracia, para se fazer ouvir. Não é coisa de vagabundos, é uma ação direta do povo que trabalha, que faz a máquina econômica girar. Se preciso paramos o Brasil. Por isso, estamos em greve!

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Greve geral: as razões e desrazões de cada um


Desconstruindo o "mito": o "dossiê Bolsonaro"

POR ET BARTHES
E já que Jair Bolsonaro tem sido o tema dos últimos dias aqui no Chuva Ácida, que tal ver este filme que se tornou viral. É um video em que o ativista digital Leonel Radde, que se apresenta como policial civil, apresenta um dossier sobre o “mito”. Ou seja, mostra a trajetória da vida pregressa do deputado e diz, entre outras coisas, coisas parecidas com o que tem sido comentado aqui no blog, mas com algum humor.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Jair Bolsonaro é honesto?













POR CLÓVIS GRUNER
Boa parte dos comentários ao texto do José António Baço ontem, no “Chuva Ácida” (abaixo), responde "sim" à pergunta. À maioria deles, o fato de o deputado não ser mencionado em nenhuma delação, nem figurar nas listas que fazem com que o noticiário político se confunda com a crônica policial, são provas mais que cabais de que ele não é corrupto.

E isso, dizem, basta para atestar sua superioridade moral e gabaritá-lo para concorrer à presidência nas eleições do próximo ano. O argumento é reiteradamente usado pelos seus eleitores e simpatizantes. A questão é: Bolsonaro realmente não é corrupto? Desculpem-me o sectarismo, mas nesse caso não há meio termo: para quem é minimante decente, a resposta é “não” e por inúmeras razões.

Defender ditaduras, a tortura e seus torturadores; fazer apologia ao estupro (de mulheres bonitas, porque as feias não merecem); incitar a violência doméstica; exibir pública e desavergonhadamente seu racismo..., tudo isso são igualmente formas de corrupção, todas desprezíveis.

Fossem decentes, e os eleitores e simpatizantes do deputado reconheceriam que sua incitação ao ódio e à violência, seu desprezo pela democracia, pelos direitos humanos e liberdades individuais, são motivos suficientes para condená-lo ao limbo político porque, insisto, em uma cultura democrática, essas são formas de corrupção, tão graves quanto as diariamente noticiadas.

O problema é que não vivemos em uma cultura democrática. Além disso, boa parte dos seus simpatizantes e eleitores não o admiram apesar disso mas, ao contrário, justamente por isso. O que me leva de volta à questão: Bolsonaro é, segundo os padrões pouco exigentes de seus admiradores, um político honesto? Ele não aparecer nas delações e, aparentemente, não estar envolvido nos escândalos da Lava Jato, é suficiente para afirmar que ele não é corrupto?

Não. E por quê? Ora, porque o assalto ao Estado pela aliança entre empreiteiros e políticos, como estamos esgotados de saber, não foi coisa pequena: milhões foram investidos não apenas para garantir essa ou aquela licitação, mas para literalmente colocar os governos a serviço dos interesses das grandes empreiteiras.

Um esquema dessa envergadura não se faz com políticos pouco influentes e preguiçosos. Quem investe tanto, quer, precisa contar com políticos não apenas disponíveis, mas dispostos e capazes de apresentar e passar projetos, de incluir uma emenda no orçamento, de aprovar uma Medida Provisória (aqui). Ou seja, a seu modo e muito peculiarmente, é preciso que eles, os políticos, sejam, além de corruptos, competentes.

Em 2015, após 25 anos de Congresso, Bolsonaro aprovou seu primeiro projeto, uma PEC que prevê a emissão de recibos em urnas eletrônicas (aqui). Ele justificou duas décadas e meia de salários e mordomias pagas pelo erário apelando ao fato de ser “discriminado”: “sou um homem de direita”, diz, e já li e ouvi gente afirmando que ele é “minoria” no Congresso.

Mentira. Hoje no PSC, um partido que está longe de ser nanico, Bolsonaro já foi filiado ao PPR, PPB, PTB, PFL e, finalmente, PP, pelo qual foi eleito em 2014. Como deputado federal, pertenceu à base aliada de todos os governos desde FHC, inclusive Lula e Dilma, até o PP abandonar a ex-presidenta pouco antes do impeachment, no ano passado.

Mas não é só: qual posição defendida pelo parlamentar justifica afirmar que ele é ou pertence a uma “minoria” dentro do Congresso, “discriminado” pelos seus pares? A homofobia, o machismo, o racismo, sua conhecida truculência? Não. Seu desprezo pelos direitos humanos? Tampouco.

Os frequentes elogios à ditadura civil militar; sua homenagem pública a Brilhante Ustra; sua posição favorável à redução da menoridade penal e o endurecimento das chamadas “políticas de segurança pública”; suas críticas ao Estado laico; seu apoio a projetos como o “Escola sem Partido”? Não, não, não, não e, finalmente, não.

O que sobra é óbvio: Bolsonaro não aprovou nenhum projeto em 25 anos não por ser “discriminado”, mas porque é um deputado ruim e sem brilho. Não fosse um fascista, e não estivéssemos nós mergulhados nesses tempos sombrios, ele seria só mais uma figura excêntrica em um Parlamento cheio delas.

Alguém com esse perfil definitivamente não interessa a empresas e empresários que se servem da coisa pública para fins privados. Em poucas palavras: não é que Jair Bolsonaro não aparece em delações e junto a políticos corruptos porque ele próprio não seja um. Não há nenhuma relação entre a omissão a seu nome e a sua alegada honestidade.

Ele não está lá porque é incompetente.

terça-feira, 25 de abril de 2017

Bolsonaro e uma geração intelectualmente inútil

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Falar sobre Jair Bolsonaro é um tema enfadonho. Devo ter escrito um ou dois textos, feito uma ou outra citação. E só. Porque tenho uma posição clara sobre o putativo candidato à presidência: nenhum país cometeria a tolice de eleger um beócio como Bolsonaro para a presidência. As pesquisas mais recentes revelam que ele não consegue ultrapassar a barreira dos 10% nas intenções de voto. Mas – porque tem sempre um “mas” – estamos a falar do Brasil. Um dia destes tropecei nuns “bolsominions” e deu vontade de analisar.

Diz a sabedoria ancestral que o preço da liberdade é a eterna vigilância. É bom que a sociedade não se distraia. E há pelo menos um motivo para preocupação: uma geração perdida. Tenho lido – e o quotidiano confirma – que os seguidores do deputado são jovens entre os 18 e os 35 anos (e também uma molecada que sequer vota, mas cultua o “mito”). É uma geração intelectualmente inútil. Aliás, se houver alguma utilidade, será como objeto de estudo.

Quem são? No caso da molecada, tenho lido e ouvido que são aqueles caras para os quais ninguém liga na escola (as meninas, principalmente). E viram rebeldes... “porque sim”. Todos sabemos que a adolescência é um tempo de opções esquisitas. No entanto, ver adultos a apoiar Bolsonaro – alguns na universidade e alguns até com diplomas na parede – faz doer o cérebro. Não é preciso ser um neurocientista para concluir que alguma coisa atrapalha os processos mentais dessa gente. É o fracasso das sinapses.

Deve estar aí a identificação. Porque Bolsonaro é o retrato do fracasso. 1. Não tem obra. É um deputado medíocre. 2. Não tem ideias. Falta consistência intelectual. 3. Não tem um discurso. É mal articulado. 4. Não tem um programa. Limita-se a uma meia dúzia de clichês moralistas mal amanhados. Enfim, é um político que só convence os idiotas. Neste caso, a idiotia é como o sarampo: infecciosa, viral, transmissível, contagiosa e comum na infância (infância mental, claro). Mas por sorte existe uma vacina.

Bolsonaro é um significante carente de significado. Os seus seguidores desempenham o papel de construir esse “mito”, transferindo para a sua imagem o que de pior lhes vai pela cabeça. É um coquetel de ignorância: misoginia, homofobia, agressividade, incapacidade de debater, ódio aos pobres, culto da violência, antidemocracia, negação do outro, anticomunismo primário, elogio das ditaduras etc. Tudo em Bolsonaro aponta para o retrocesso civilizacional.

Os “bolsominions” (a molecada e os que têm idade mental de criança) ganharam notoriedade porque representam uma espiral de irracionalismo. O país vive um movimento que se aprofunda, aprofunda, aprofunda... e nunca acaba. Os seguidores de Bolsonaro apostam no caos político e institucional. E representam uma desafio para a democracia. É aquilo que Karl Popper chamou “paradoxo da tolerância”. Ou seja, a democracia deve abrigar, no seu seio, os que desejam acabar com a própria democracia? Eis a questão.

É a dança da chuva.