quarta-feira, 5 de abril de 2017

Tem culpa eu?


É só água. Não esquenta


POR RAQUEL MIGLIORINI
Existe algum tema mais importante para tratarmos do que a água? Acontece que a abundância desse recurso natural em nossa região deixa as pessoas num estado de letargia que as  impede de ver como esse bem essencial é tratado política e economicamente.

Santa Catarina possui política estadual e sistema de informações sobre recursos hídricos, comitês de bacias hidrográficas, fundo estadual de recursos hídricos. Pesquisas rápidas pela rede nos mostram o maravilhoso mundo da enganação da legalidade, onde a Política Nacional de Recursos Hídricos finge que fiscaliza os Estados e esses fingem que aplicam as diretrizes ali propostas.

Se não, vejamos: para que serve um Fundo de Recursos Hídricos - FeHidro - se os Comitês de Bacias Hidrográficas definham, ano a ano, por falta de verbas? Os comitês existem por pura imposição legal, mas sem condições de monitoramento, preservação e ações relevantes nas bacias de cada região.

O FeHidro recebe recursos da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável, aquela que deveria ser a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, para preservar os recursos naturais de Santa Catarina (mas meio ambiente é papo para “biodesagradáveis”, então mudaram o nome para sustentável, porque isso sim é coisa de primeiro mundo). Não é preciso perder tempo para dizer que não há dinheiro para Secretaria nenhuma, ainda mais para aquela que, em tese, tenta impedir o progresso.

Ocorre que a lei federal permite a cobrança da água, chamada de Outorga Onerosa, por aqueles que a usam em grande quantidade. O Governo de Santa Catarina emite outorgas para quem pede, mas não cobra pelo uso da água. Empresas, agricultores, Companhias de Água, recebem permissão para retirarem água dos rios e não pagam nada por isso. Se a Outorga Onerosa fosse implantada, o FeHidro teria recursos suficientes para bancar todos os comitês de bacias do Estado e ainda sobraria dinheiro.

Alguns dirão: “mas são destinados recursos para elaboração de planos de gestão da bacias”. Novamente, gasta-se dinheiro com documentos que nunca serão efetivamente cumpridos. Fazem o que a lei burra manda mas não investem nos estudos de capacidade dos rios, preservação das matas ciliares, pagamento por serviços ambientais, prevenção de poluição de rios e solo.

Entra governo, sai governo e ninguém se posiciona frente aos empresários da indústria têxtil, frigorífica, latifundiários. Eles continuam esgotando os recursos hídricos da maneira como lhes convém. Em Joinville tem até empresa que construiu sua própria estação de captação, num afluente do Rio Cubatão.

Método de irrigação arcaico, fiscalização precária e o declínio dos Comitês de Bacias Hidrográficas é a receita certa para que o catarinense conheça, em breve, o que é escassez. Mas é só água. Não precisa se incomodar.

terça-feira, 4 de abril de 2017

Aécio acusado de corrupção. Prendam o Lula...

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Sabe o que acontece quando você entra no Google e introduz a pesquisa “Aécio propina”? O resultado são 518 mil referências. Repito: 518 mil. É uma enxurrada de citações. Apesar de não ter valor estatístico, um número tão expressivo não pode passar despercebido. E para complicar ainda mais - se é que complica para algum tucano - a última edição da revistona trouxe uma reportagem a afirmar que a “Odebrecht depositou propina para Aécio em NY”.

Tem gente a apostar que a profecia (o mineirinho é o primeiro a ser comido) vai se realizar. Não parece. Aliás, é bom deixar claro: Aécio Neves é inocente até que seja provada qualquer culpa. E, como sabemos, os tucanos têm uma relação de afeto com a Justiça e parece improvável que venha sequer a ser acusado. Afinal, estamos a falar de uma Justiça sui generis. No Brasil, há quem ache desnecessário investigar a oposição porque, não estando no poder, não há corrupção. Podem rir...

A mesma pesquisa no Google permite reunir manchetes de publicações que, numa democracia consolidada, nunca passariam em branco. Os implicados ficariam na marca do pênalti e haveria punições. Mas, repito, estamos a falar do Brasil, um país historicamente forte com os fracos, mas fraco com os fortes e poderosos. E hoje convido o leitor e a leitora a recordar algumas das manchetes que polvilharam a imprensa nos últimos tempos. Eis...

 “Aécio e Cunha tinham esquemas ‘independentes’ em Furnas, aponta Janot”.
(Estadão)
“Aécio era ‘o mais chato’ na cobrança de propina junto à UTC, afirma delator”.
(Infomoney)
“É um terço SP, um terço nacional e um terço Aécio”, diz delator sobre Furnas.
(Folha)
“Delcídio diz em delação que Aécio foi beneficiário de corrupção em Furnas”.
(Globo)
“Documentos revelam que doleiro abriu conta secreta em Liechtenstein”.
(Época)
“Delator liga Aécio a esquema de corrupção na Petrobrás”.
(Estadão)
“Aécio repassou propinas em troca de apoio na Câmara, diz Machado”.
(Folha)
“Aécio comandou fraude na Cidade Administrativa quando era governador de MG, diz delator da Odebrecht”.
(R7)
“Aécio era ‘mineirinho’, diz delator da Odebrecht”.
(Estadão)
“Odebrecht teria acertado repasse de R$ 50 milhões a Aécio, diz jornal”.
(Valor)
“Ex-executivo da Odebrecht delata propina para Aécio, diz revista”.
(Zero Hora)
“‘Aécio vai ser o primeiro a ser comido’, diz ex-líder do PSDB no Senado”.
(Congresso em Foco)

Vou repetir. Aécio Neves é inocente até que a culpa seja provada (caso venha a ser acusado). Mas o Brasil é um país estranho, onde a presunção de inocência é altamente seletiva. Assim como a indignação dos cidadãos. Há brasileiros que leem estas manchetes publicadas aqui e, no fim, chegam sempre à mesma conclusão: “prendam o Lula”. 

É a ética torta do “pedalinho versus milhões. Para eles nunca será "a vez de Aécio". De fato, não querem saber de corrupção, porque o ódio de classe pede vingança. Querem que Lula seja preso. E o resto é o resto.

É a dança da chuva.




segunda-feira, 3 de abril de 2017

Andrea Neves chora e nega propina

A jornalista Andrea Neves, irmã de Aécio Neves, candidato à presidência derrotado nas últimas eleições, gravou um vídeo para negar qualquer envolvimento com propinas da Odebrecht. A denúncia foi publicada pela revista Veja e seria parte da delação do ex-presidente da empresa, Benedicto Junior.
“Pouco interessa agora quem mentiu, quem é o mentiroso, se o delator ou a fonte da revista. O que interessa é a mentira. Eu não sei o que está acontecendo para tanto ódio e tanta irresponsabilidade, atacar de forma tão covarde a vida das pessoas”, declarou Andrea, que em certo momento da fala não conteve as lágrimas.


Há uma certeza: Joinville está no atoleiro do qual é difícil sair


POR JORDI CASTAN
A certeza nos apequena. São as duvidas que nos desafiam e nos fazem crescer. Pode estar aí uma boa explicação para o momento atual que vive Joinville. A cidade está apequenada, desnorteada, sem saber para onde ir, nem como sair do atoleiro em que está metida. O desenvolvimento de qualquer cidade é dinâmico, as mudanças constantes e surgem a cada dia situações que não existiam antes.

O novo é desconhecido. E, por princípio, o administrador público deve trabalhar a partir do que conhece para resolver o que não conhece. Joinville não é diferente de qualquer outra cidade. Seu crescimento desordenado é o resultado das certezas dos seus dirigentes e não das suas incertezas. A persistência em manter modelos conhecidos, mas ultrapassados, impede o desenvolvimento e o aprendizado. A teimosia, neste caso, tem um efeito perverso sobre a cidade e os cidadãos.

O bom administrador é aquele que tem a humildade de reconhecer que não sabe. O administrador certo de que tem todas as respostas é o que tem maior possibilidade de cometer mais erros. Porque isso o impede de escutar, refletir e, a partir deste ponto, aprender. É evidente que conviver com a ideia de “não saber” não é tarefa fácil numa sociedade que valoriza em excesso a segurança das certezas. A humildade permite reconhecer o que não sabemos. A arrogância faz o contrário, pois quem acredita que tudo sabe acha que não precisa aprender.

Isso explica por que políticos precisam recitar, com inventivo fervor e frequência insuportável, slogans curtos com que apregoam as suas certezas. Precisam mostrar que “sabem”, transmitir as suas certezas aos eleitores. E com este pouco que sabem, têm o suficiente para se lançar a administrar cidades e países. A verdade dessas pessoas está reduzida as poucas frases feitas que são recitadas diariamente. Não querem e não podem ser confrontados com informação divergente, porque são incapazes de lidar com dúvidas e incertezas e arrogantes demais para reconhecer a sua própria ignorância.

O risco desta estulta certeza é o de não entender que a sociedade para crescer e se desenvolver precisa colocar em dúvida suas certezas, de forma constante. O conhecimento que não provoca novas ideias e não abre novas perspectivas fenece rápido. É preciso manter a tensão que provoca o desenvolvimento. Viver num mundo de certezas representa um risco letal para uma sociedade.

A Joinville dos últimos anos parece estar submersa nesta espiral de certezas e ter perdido a capacidade de aprender. Neste quadro, a única certeza é a de que se reconhecermos que “não sabemos”. Ou, ainda, que as propostas apresentadas não são as únicas possíveis. Que pode haver outras melhores, mais econômicas e mais fáceis de implantar que as atuais. Isso pode nos levar mais longe que nos manter estultamente aferrados às nossas certezas.