POR RAQUEL MIGLIORINI
Hoje vi um documentário sobre as Olimpíadas que aconteceram em 2016, no Rio
de Janeiro. Foi há 30 anos. Eu me lembro bem. Mesmo tendo sido um lindo
espetáculo, não guardo boa recordação dessa época.
O Brasil vinha de um processo democrático novo, que foi retomado pelas
eleições diretas de 1989, elegendo Fernando Collor de Melo. Foi um período de
euforia. Eu, que havia saído às ruas pelas Diretas Já, não via a hora de
estrear meu título de eleitor para eleger um presidente. Mesmo sem gostar do
Collor, estava feliz pela Democracia restabelecida.
Pois vocês acreditam que ele sofreu impeachment em 1992? O irmão, Pedro
Collor, dedurou todo o processo de corrupção que acontecia no Planalto.
Fernando Collor, que governava o país só com medidas provisórias e as reeditava
ao seu bel-prazer, ficou isolado no Congresso porque queria controlar tudo
sozinho, sem permitir que outros partidos participassem da boquinha.
Depois, em 2003, assumiu o presidente Lula. Foi um período de grande
crescimento para o país. Programas como Bolsa Família e Fome Zero foram
implantados com sucesso e reconhecidos pela ONU. Lula foi reeleito e isso
começou a incomodar algumas classes sociais.
Com a presidente Dilma os programas sociais continuaram: financiamentos
estudantis, cotas nas universidades, bolsa atleta, etc. Gente que nunca havia
sonhado passar na calçada de uma universidade, se formava doutor. Coisa mais
linda.
Foi então que, durante as Olimpíadas do Rio, o Senado votou pelo
impeachment da presidente, mesmo sem provas de crimes cometidos por ela. E o
Congresso Nacional votou uma tal de PEC 241, que congelava os gastos com
programas sociais e que iniciou uma onda de privatização da Saúde e Educação.
Meus filhos trabalharam noite e dia para pagar a faculdade dos meus netos.
Os centros de pesquisas brasileiros fecharam as portas. Todas as vagas criadas
nos cursos técnicos, nas universidades públicas, os novos campus de outrora, tudo
foi vendido. Uma tristeza.
Naquela época, seguia-se a Constituição de 1988, que garantia direitos
básicos na nossa vida. E achávamos pouco, reclamávamos. Hoje, com minha idade
avançada, sei o que é depender dos outros para pagar uma simples consulta, que
era gratuita. Parcelo os exames médicos e os medicamentos que necessito aos 78
anos. E tinha gente que enchia o peito pra dizer que o SUS não funcionava.
Só consegui me aposentar há poucos anos, porque o presidente que assumiu
depois da Dilma, e que ficou conhecido como Temer, o Usurpador, aumentou a
idade para aposentadorias. Ele se aposentou aos 55 anos. Eu, aos 70.
Curiosamente, brasileiros que foram para as ruas e bateram panelas (parece
estranho, mas era assim que se manifestavam) e que eram contra a luta pela
diminuição da pobreza e da desigualdade social, se calaram diante de tudo isso.
Mesmo fazendo 30 anos, esse silêncio ainda ecoa nos meus ouvidos.