segunda-feira, 18 de julho de 2016

A prostituta virgem e a Outorga Onerosa Gratuita


POR JORDI CASTAN

Acreditem! Quando escrevo que não queria voltar ao tema da LOT sou sincero. Mas para não voltar ao tema seria preciso que os nossos vereadores deixassem de aparecer com novas sandices e colocarem o tema de novo em pauta. A última estupidez é a “Outorga Onerosa Gratuita”, a versão legislativa da “prostituta virgem” ou do político honesto, coisas que existem unicamente no mundo da mitologia ou no da fantasia do nosso Legislativo.

O primeiro ponto é a dificuldade em acreditar que possam ser tão idiotas. Devem estar sendo influenciados ou subsidiados por alguém que os supera em idiotice. Como alguém pode ter a ideia de propor uma estultice destas? Em que cabeça cabe? Sei, não precisam responder. Era uma pergunta retórica.

A ideia da "Outorga Onerosa Gratuita" não tem pé nem cabeça e deve ser refutada. Primeiro, porque a outorga onerosa é boa para Joinville. É uma maneira de ter recursos para melhorar a cidade, de poder compensar com obras que beneficiem a todos os prejuízos produzidos por determinadas obras privadas. Assim não só seguiremos socializando os prejuízos, poderemos socializar parte dos lucros. 


Há os que não querem socializar lucros, claro. Acho que é nesse grupo que estão os que assessoram os nossos vereadores. Só pode. Um exemplo: se numa determinada região a legislação permite construir até seis pavimentos, o empreendedor poderá construir nove. Ou seja, três a mais que o permitido, sempre que se pague a outorga onerosa para estes três pavimentos adicionais. Os recursos da outorga serão destinados exclusivamente a obras naquela região. Assim será possível construir parques, praças, alargar ruas, melhorar acessos e devolver um pouco da qualidade de vida perdida para os moradores daquele bairro. É uma boa ideia que os vereadores propõem retirar da LOT.

A sua maldade vai além, ao permitirem que sejam construídos até 15 ou 20 pavimentos na maioria dos bairros de Joinville. Em nome de uma equivocada visão de progresso, o que estão fazendo é desvalorizar o valor das propriedades, porque quando aumenta a oferta o preço cai. Pode até ser que alguma emenda, das apresentadas, proponha alterar a leis da economia ou as da física, porque os nossos legisladores são capazes de unir ousadia e ignorância com efeitos devastadores para Joinville.

Sem entender como a outorga onerosa é boa para Joinville, os vereadores apoiam a ideia da “outorga onerosa gratuita”, que só é boa para os especuladores. Os nossos vereadores afundam um pouco mais no mar de estultice em que tem se convertido o nosso legislativo. Vamos a esperar com curiosidade os próximos desdobramentos desta novela do debate de faz de conta sobre o futuro da cidade.


Na ânsia de ver aprovada a LOT, passa-se por cima da LOM - Lei Orgânica do Município, a nossa constituição municipal. Ignoram-se as APPs (Áreas de Proteção Permanente), permite-se a ocupação da Cota 40, das áreas de mangue, dos mananciais e a construção sobre sambaquis e sítios arqueológicos. No seu açodamento, os vereadores abriram uma caixa de Pandora que agora não tem mais como fechar e deixaram que se espalhassem pela cidade todas as suas maldades. 

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Villa: os bobos da corte são descartáveis

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Marco Antonio Villa foi demitido da Veja. Não surpreende. É mais um caso de obsolescência planejada, a mesma que já tinha atingido Arnaldo Jabor, Joice Hasselman ou Rodrigo Constantino, por exemplo. Ao longo dos últimos anos, essa gente foi estrategicamente enfiada na comunicação social com um único objetivo: fazer quinar o projeto do Partido dos Trabalhadores. Feito o trabalho, tornaram-se descartáveis.

Nenhum deles foi contratado pelo talento ou respeito no meio jornalístico (no campo da opinião, claro). As publicações apenas usaram o fato de serem pessoas com balizas éticas maleáveis ou por serem apenas ignorantes. E, claro, por se sujeitarem a ser a voz do dono em troca de um punhado de reais. Foi uma solução usada pela imprensa conservadora: pôr os seus títeres a fazer a cabeça de um público inculto, raivoso e fascistóide.

O trabalho não exige especiais dotes intelectuais. E é um claro desserviço à inteligência coletiva do país. Não se trata apenas de formar opinião na contramão do processo civilizacional. O dano mais grave foi a gestação de um fenômeno de identificação. Os ignorantes se reveem nesses arquétipos da mídia e passam a achar sábia a própria ignorância. Têm sido momentos redentores para o pensamento reacionário.

Mas o mercado midiático tem uma lógica própria. Em crise, percebeu que é economicamente inviável acomodar analistas monotemáticos. O comentador que só tem um tema – neste caso, ser contra o PT – torna-se descartável quando o tema perde relevância. Não é desajustado dizer que a tendência vai se manter. Os analistas que fizeram carreira exclusivamente a falar mal de um partido têm os dias contados. E o mercado vai estar mais fechado. Afinal, não vamos esquecer que a credibilidade é o calcanhar de Aquiles desse pessoal.

Enfim, no futuro os historiadores – não incluo Marco Antonio Villa – farão uma recensão deste período. E a história só poderá ser escrita com tintas pesadas. A função da mídia é mediar a relação do ser humano com o mundo (passe a obviedade). E muitos meios de comunicação brasileiros deixaram de lado a informação para fazer propaganda. Marco Antonio Villa e seus congêneres nada mais são do que garotos propaganda. Simples bobos da corte.


É a dança da chuva.



quarta-feira, 13 de julho de 2016

Chama apagada

POR FELIPE SILVEIRA

A chama olímpica passa por Joinville nesta quarta-feira, 13 de julho, em clima hostil. Não só pela chuva, mas pelas críticas que podemos observar em redes sociais, grupos de whatsapp e rodas de conversa por aí. É claro que milhares de pessoas vão receber o símbolo com entusiamo – inclusive eu, que sou fã dos jogos olímpicos, espero arrumar uma brecha para acompanhar a festa. Mas, de modo geral, o que as pessoas querem mesmo é apagar a tocha.

Leia o texto de José Antonio Baço sobre a tocha em Joinville (é uma leitura diferente, mas complementar a este texto)

O que me chama a atenção é que este “sentimento” não é algo promovido pela esquerda. Já é tradição no nosso campo ser contrário aos grandes eventos e às mazelas que os acompanham, como o superfaturamento de obras, as remoções das comunidades pobres de áreas centrais, o aumento da repressão aos pobres e aos movimentos sociais etc. Embora as manifestações de esquerda estejam ocorrendo, o grosso da reclamação parte da população que, tenho a impressão, comemoraria o evento em outro momento.

Vejo tudo isso com alguma preocupação. O desânimo e a revolta, com coisas que até bem pouco tempo eram vistas de outra forma, indicam a profundidade da crise de representatividade, para além do clichê tanto usado pelos comentaristas políticos. Parece que as pessoas não estão interessadas em buscar soluções para os problemas, mas que simplesmente querem ver o circo pegar fogo, deixar que tudo se exploda.

A saída para a crise é outra. Não tem outro jeito que não seja se organizar e lutar por dias melhores. Nada contra àqueles que não gostam do evento esportivo, que eu, repito, adoro, mas talvez esse desgosto signifique algo mais preocupante do que imaginamos.

Ainda sobre a olimpíada e a reação dos brasileiros, quero comentar o vídeo promocional da BBC para o evento. A emissora pública do Reino Unido criou uma animação na qual animais típicos do Brasil praticam esportes tradicionais dos jogos, como a ginástica, os saltos, o levantamento de peso e o atletismo. O vídeo gerou comentários raivosos em vários idiomas na página da BBC.

"Não sabia que os jogos seriam disputados na amazônia", escreveram alguns, ignorando a exuberância da mata atlântica fluminense. Outros dizem que, pelo vídeo, parece que nós brasileiros moramos em um lugar cheio de macacos. Bom, eu não sei onde essas pessoas moram, mas aqui em Joinville, um polo industrial, está cheio de macaquinhos e mãos-pelada nas árvores. Tem um monte de capivara nos canteiros e um jacaré de estimação da cidade.

Entendo a preocupação com a maneira como o Brasil é retratado, embora ache que isso já foi bem mais problemático. Já passou essa fase. Neste século, a imagem predominante do Brasil, apesar dos inúmeros problemas, é de um país em desenvolvimento. Também é preciso entender que filmes, vídeos, peças e outros "produtos" são recortes. Ao fazer o vídeo, se fez uma escolha. A partir dela foi criado um roteiro, cuja inspiração, a nossa fauna e flora, nossa marca incontestável, é linda. Há muitas formas de retratar o Brasil e esta é uma delas.

Mas, se alguém tiver esse trabalho pela frente em algum momento, sugiro anotar o que não pode fazer:

Filme de favela não pode, pois o Brasil não é só favela;
Filme sobre as classes média e alta também não pode, pois não mostra a realidade da favela;
Natureza, que Deus os livre;
Carnaval, nem a pau;
Futebol, deixemos isso para os ingleses.

Talvez reste apenas fazer um filme sobre o golpe.