segunda-feira, 26 de novembro de 2012

As cotas e os heróis da direita

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Reinaldo Azevedo e Joaquim Barbosa devem ser, neste momento, dois dos ídolos mais queridos da direita hidrófoba. O primeiro por causa de um estilo marcado pela pouca cultura, uma enorme truculência e uma indisfarçável raiva de classe (não dá para chamar ódio de classe, porque é patológico e não sociológico). O segundo - talvez involuntariamente - virou queridinho da Reaçolândia por ter mandado engaiolar os caras do mensalão.

A popularidade de Joaquim Barbosa entre os conservadores não para de crescer. O delírio é tanto que, imaginem, o homem já foi comparado ao Batman. Santa loucura! Mas tem explicação. É que a direita hidrófoba está louquinha para ver se ele consegue jogar a tarrafa sobre o ex-presidente Lula. O fato é que essa gente, há muito tempo órfã de resultados nas urnas, move-se pela sede de vingança. E espera que o novo ministro do STF seja o instrumento dessa caça ao homem. A torcida é por uma espécie de duelo entre morcego e molusco.


Essa sublimação que os conservadores fazem de Joaquim Barbosa é tão insana que já começam a confundir a obra-prima do mestre com a prima do mestre de obras. Para a direita, Barbosa é uma espécie de super-homem da moralidade. E agora até surgiu uma campanha nas redes sociais a dizer que ele chegou à presidência do STF sem precisar de cotas. Ok... a questão precisa de um esclarecimento.
O fato é que Joaquim Barbosa é a favor das cotas. 

É aqui que os destinos dos dois heróis da direita hidrófoba se cruzam. Mas a coisa fica estranha. O que move a direita não é um ideário político, mas apenas retaliação: se é contra Lula é meu aliado. Quando manifestou apoio às cotas, Joaquim Barbosa foi alvo de duras críticas de... adivinhem quem? Ora, foi o próprio Reinaldo Azevedo, esse oráculo da direita iliterata, a detonar o ministro do STF. No seu entender, o negro e pró-cotas Joaquim Barbosa dividia o mundo entre bem e o mal. O bem do lado dos defensores das cotas, o mal do lado dos opositores.

Foi assim, nas palavras do próprio Tiozinho Rei, num texto com alguns meses :
- "É surrealista! Qualquer ministro branco que eventualmente se opusesse às cotas, então, estaria, segundo Barbosa, defendendo um interesse pessoal. Já Barbosa, negro e pró-cotas, só tem esse pensamento porque é um amigo da humanidade. O Bem de um lado, o Mal de outro. Conviva sem reação com esses absurdos retóricos e argumentativos quem quiser. Eu não convivo. E não venham com a história de que Barbosa disse ou quis dizer outra coisa. Está tudo gravado. Está lá. Ele disse e quis dizer o que disse".


Pois é, gente. O problema é que os conservadores gostam apenas da espuma dos fatos. E sofrem de uma espécie de glaucoma político: veem apenas o que querem ver, acreditam apenas no que querem acreditar.

Em tempo: Joaquim Barbosa tem muito mérito em chegar ao lugar onde chegou. Mas talvez tenha chegado com um atraso histórico. Porque se o sistema de cotas tivesse sido implantado antes, talvez um negro chegar ao cargo não tivesse sido tão demorado.

Construir a marca Joinville - 3* (final)


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

QUE CIDADE EM 2028? – É preciso que o próximo prefeito consiga ver para além das eleições e tenha coragem de lançar um olhar sobre o futuro. A questão é a seguinte: que cidade Joinville quer ser em 2030 ou 2040? Parece tempo demais para os políticos de vistas curtas, mas é um trabalho que precisa ser feito. E com método, organização e ambição.

Criar uma marca é também ter respostas para perguntas simples que um estrangeiro ou um brasileiro de outra região poderia fazer.
- Por que eu devo fazer turismo em Joinville?
- Por que a minha empresa, que é da geração digital, iria para Joinville?
- Por que eu deveria considerar Joinville uma opção cultural?
- Por que eu, que sou um “cérebro”, devo transferir o meu quociente intelectual para Joinville?

A maioria dessas perguntas teria respostas insatisfatórias. Porque não existe uma idéia clara do que Joinville representa na mente das pessoas. Hoje a cidade é um bom destino para os migrantes e para as empresas que vivem pela lógica das chaminés. Mas o mundo vive tempos pós-industriais e é necessário cada vez mais investir num progresso limpo e tentar atrair cérebros. Joinville quer ter uma imagem parecida com o Silicon Valley ou com a cidade de Cubatão?

COMO CRIAR A MARCA? – Tudo começa com uma decisão estratégica. É preciso que a cidade assuma uma vocação e, a partir daí, definir um rumo para o futuro. É preciso perguntar se Joinville quer ser a cidade da ética protestante, de um rio de águas negras, professores sem produção intelectual, de uma economia em que tudo gira à volta das chaminés? Não parece.

A marca-Joinville (que, repito é mais do que um slogan e um logotipo) tem que apontar para o futuro, para a ecologia, para a sociedade do conhecimento, para as tecnologias da informação, para os cérebros, para o bom turismo, para uma cultura cosmopolita, para uma mídia moderna, para políticos confiáveis etc. Mas é preciso uma administração pública disposta a escolher esse caminho de maneira empenhada.

Aliás, repito para que fique claro, criar uma marca-cidade não é uma operação de cosmética e muito menos uma simples campanha de publicidade. A marca não vive de frases, anúncios ou filmes, mas de um conceito. É preciso mudar mentalidades, porque não adianta criar uma percepção que não encontra eco na realidade.

A criação da marca-Joinville exige obras concretas, mas é preciso recusar o imediatismo e investir num objetivo estratégico de longo prazo. Mais sentido de missão, menos eleitoralismo. É essencial, acima de tudo, promover a integração de inteligências para desenvolver soluções criativas.

Ou seja, é preciso levar a imaginação ao poder.


* Texto publicado há quatro anos no jornal A Notícia mas que, na opinião do autor, ainda permanece válido.

domingo, 25 de novembro de 2012

Vettel tricampeão!!!

POR GABRIELA SCHIEWE

O sexto lugar de Sebastian Vettel foi mais do que suficiente para lhe garantir o seu terceiro campeonato consecutivo.

O GP do Brasil foi o reflexo da temporada, embargado de muita emoção e competitividade.

Para finalizar, ainda, Felipe Massa voltou ao pódium no seu país, ocupando o terceiro lugar, lhe fazendo gotejar felicidade de seus olhos, numa vitória pessoal.

Parabéns Vettel e Alonso pelo brilhante campeonato e disputa até as últimas voltas.

MELHOR E PIOR - Semana 27


Construir a marca Joinville - 2*


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

A MARCA-CIDADE – Era natural que a tendência das marcas-país chegasse às cidades. E vale salientar que o desenvolvimento de uma marca é mais simples nos municípios, uma vez que estamos a tratar de um meio cultural mais homogêneo e de fácil circunscrição geográfica. É inconcebível, portanto, que quase nada tenha sido feito em Joinville ao longo de décadas.

O investimento na imagem é algo que algumas cidades vêm fazendo há muito tempo. E por isso hoje são marcas fortes. Quem não se lembra do caso do designer Milton Glaser, em Nova Iorque? Há 30 anos, a cidade que nunca dorme efetivamente perdeu o sono. Havia muita violência, as ruas tinham mau aspecto e os turistas simplesmente desapareceram. A administração de Nova Iorque estava à beira da falência.

Foi aí que as autoridades decidiram investir numa campanha para devolver a auto-estima aos nova-iorquinos e conquistar os forasteiros. E lançaram as peças publicitárias com o famoso “I Love NY”. Foi nesse momento que surgiu o lance tão simples quanto genial de Milton Glaser, que criou a marca “I – coraçãozinho – NY”. Hoje a cidade tem uma marca fortíssima.

Aliás, não é o único episódio a envolver um designer. Um caso interessante é o de Manchester, na Inglaterra, que há alguns anos contratou o designer Peter Saville para ocupar um cargo inusitado: diretor de criação da cidade. Manchester era uma cidade feia, chuvosa, triste. E precisava construir uma marca.

Depois da explosão de uma bomba do IRA, que em 1996 destruiu o centro vitoriano da cidade, as autoridades decidiram reconstruir o local. E mais: essa seria a semente para mudar a imagem da cidade. Peter Saville chegou ao conceito de “Manchester Original Modern”. E faz questão de explicar que não é um slogan, mas um significante que revela a nova Manchester. Há uma série de ações concretas por trás desse conceito.

A MANCHESTER CATARINENSE – A experiência inglesa pode ser um bom exemplo para Joinville que, por coincidência, ainda é conhecida por muita gente como a Manchester Catarinense. Há pontos comuns entre as duas cidades. Muitos negativos. Mas os ingleses perceberam o problema e se lançaram na construção da marca e mudança de imagem. E se a Manchester original quis mudar...

Construir uma marca é um trabalho difícil e os resultados demoram a aparecer. E, claro, não dá votos no curto prazo. Talvez isso explique o fato de nenhum político no poder se ter dedicado ao tema. Mas uma coisa é certa: quem investiu – e investiu bem – na construção da marca-cidade não tem do que se queixar.

Milão é moda. Nova Iorque é efervescência. Paris é romance. Barcelona é cultura. Tóquio é modernidade. E Joinville é... Fica a pergunta: como a cidade é percepcionada dentro e fora das suas fronteiras? O fato é que não existe uma imagem forte e sustentada, porque as autoridades nunca se preocuparam em elaborar um projeto a sério.

As pessoas ingenuamente alimentam a ilusão de que basta escolher um tema e escrever frases. Joinville pode ser, por exemplo, a Cidade das Flores, Cidade das Bicicletas, Cidade da Dança, a Manchester Catarinense ou um pedaço da Europa no Brasil. Mas nenhuma dessas imagens se firmou porque não é fruto de um trabalho estratégico bem articulado. E porque talvez Joinville não seja nada disso.


(continua amanhã)

* Texto publicado há quatro anos no jornal A Notícia mas que, na opinião do autor, ainda permanece válido.