quinta-feira, 13 de setembro de 2018
quarta-feira, 12 de setembro de 2018
Não há o “melhor dos mundos”
POR CLÓVIS GRUNER
Uma prisão em Curitiba talvez tenha, nas eleições presidenciais, repercussão equivalente ao de uma facada em Juiz de Fora. Me refiro, obviamente, à prisão do ex-governador Beto Richa ontem pela manhã (11), em ação conjunta dos Ministérios Públicos estadual e federal, e ao atentado contra o candidato a presidente e fascista de estimação dos comentaristas anônimos do blog, Jair Bolsonaro, na quinta última (06).A quantidade e a variedade de investigações envolvendo Beto Richa são tantas, que até pra quem vive aqui foi difícil entender. Ele foi preso, provisoriamente, pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), suspeito de fraude em licitações de obras públicas do Programa Patrulha do Campo. A Lava Jato pegou carona – a coincidência não foi por acaso – e deflagrou a “Operação Piloto”; Richa aparece nela como suspeito de receber propinas da Odebrecht.
É bastante provável que a prisão de Richa repercuta eleitoralmente também fora do Paraná, onde ele é um dos favoritos a uma das vagas para o Senado. Considerado há até pouco tempo, junto com Aécio Neves, uma das principais vitrines do PSDB e promessa de renovação do tucanato, sua prisão pode sepultar de vez as chances de Alckmin, cuja candidatura já se encontrava relativamente estagnada, disputar o segundo turno.
De certo até agora, é que Jair Bolsonaro vai mesmo para o segundo turno, ao menos de acordo com as pesquisas Datafolha e Ibope divulgadas, respectivamente, na segunda (10) e ontem. O levantamento do Ibope, embora divulgado depois, foi realizado antes – nos dias 8, 9 e 10 de setembro –, e seus resultados podem estar influenciados mais diretamente pelos ânimos eleitorais imediatamente após o atentado.
A pesquisa Datafolha, realizada no dia 10, parece representar melhor o ambiente em que a facada contra Bolsonaro, e a comoção que ela provocou, tende à acomodação. De todo modo, em ambas, Bolsonaro mantém uma dupla liderança: a de intenções de voto (26% no Ibope e 24% na Datafolha) e a de rejeição (41% e 43%, respectivamente). E embora os resultados não sejam tão dispares, uma nova pesquisa oferecerá um retrato mais preciso do quanto os últimos eventos podem influenciar nas eleições.
Diferentes fatores podem ter colaborado para, apesar de vítima, Bolsonaro não ter ampliado ainda mais sua vantagem. Uma facada, afinal, não muda o caráter e o programa de um candidato. Mesmo hospitalizado, Bolsonaro ainda é o presidenciável que quer trabalhadores escolhendo entre ter empregos ou direitos, ou seus eleitores expostos à violência ao defender que não cabe ao poder público, mas ao cidadão, a responsabilidade pela sua segurança, por exemplo.
Auto golpe e voto útil – Os usos políticos da facada também não colaboraram. O senador Magno Malta compartilhou uma montagem grotesca onde o autor do atentado aparece em um comício de Lula; Silas Malafaia afirmou que ele era assessor da campanha de Dilma Rousseff; Janaína Paschoal o associou ao “Lula Livre” e acusou a imprensa de esconder o fato. Foram coerentes, porque não se esperava nada diferente. Mas é possível que tenham perdido a chance de ampliar a penetração do candidato junto aos eleitores ainda indecisos.
Persiste a dúvida sobre quem será o nome a disputar com ele o segundo turno, e também nisso as pesquisas reforçam alguns medos e sugerem possíveis tendências. Cresce o temor de que Haddad, ungido ontem candidato por Lula, seja prejudicado pela alta rejeição dos eleitores ao PT. Em ambas as pesquisas, Bolsonaro perde em todos os cenários, menos com o petista, de quem ganha na pesquisa Ibope, e empata tecnicamente na do Datafolha.
Como reação, já se discute abertamente, em grupos de eleitores à esquerda, a possibilidade do voto útil em Ciro ainda no primeiro turno. Uma disputa entre ele e Bolsonaro evitaria, entre outras coisas, que se repetisse, ainda mais violenta, a polarização de 2014, cujos resultados conhecemos: a vitória apertada de Dilma, um governo fragilizado ante uma oposição fortalecida e com medo da cadeia, e a turbulência dos meses seguintes até o “grande acordo” e o impeachment.
A estratégia, obviamente, depende em parte do PT, que durante anos defendeu o “voto útil” para evitar o “mal maior”, como em 2014, inclusive. Quer dizer, para dar certo, o PT precisaria provar que a tal Frente Antifascista, anunciada ano passado, foi mais que uma bravata eleitoreira e aceitar avaliar a sério quais as chances e os riscos de Haddad, e pesar na balança se as chances compensam os riscos. Pessoalmente, acho improvável que isso aconteça.
Nos últimos dias, por exemplo, os mesmos militantes que não viram problema em ter Kátia Abreu como ministra e aliada de Dilma, lembraram repentinamente que a candidata a vice de Ciro é representante do agronegócio, e passaram a usá-la como pretexto para anunciar um futuro sombrio em caso de vitória da chapa. O argumento central é que um segundo turno entre Bolsonaro e Ciro “não é o melhor dos mundos”. Concordo.
Mas em uma eleição onde a chapa que lidera em todas as pesquisas fala em “auto golpe” e em “declaração de guerra” contra adversários políticos, e cujo candidato dissemina e alimenta um ódio contínuo contra a democracia, os direitos e liberdades individuais, soa temerário esperar “pelo melhor dos mundos”. Se Ciro não convence inteiramente, a imagem de Haddad abraçado com o “golpista” Renan Calheiros e seu filho, tampouco inspira confiança. Nenhum deles é o “melhor dos mundos”. Mas, convenhamos, não podemos nos dar a esse luxo.
terça-feira, 11 de setembro de 2018
Quem nasceu para Bolsonaro sequer chega a Trump
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Deve ter sido o britânico “The Guardian” o primeiro a chamar Jair Bolsonaro de “Trump dos Trópicos”. E agora tem muita gente aí pelo mundo a usar a denominação. É um erro. As diferenças começam numa evidência. Os dois são grandessíssimas cavalgaduras, mas não são vinho da mesma pipa. Trump é um idiota, mas pelo menos sabe fazer dinheiro e é milionário. Bolsonaro, ao contrário, é um cara que sempre viveu às custas do dinheiro público.
Não duvido que Jair Bolsonaro goste da comparação, mas duvido que Donald Trump fique feliz. É a velha história do primo pobre e do primo rico. Historicamente os EUA mandam e desmandam no Brasil e, portanto, um Bolsonaro presidente seria apenas vassalo de Trump. Aliás, já é. Quem não lembra de um ridículo Bolsonaro a fazer continência para a bandeira norte-americana? Ou de quando ele disse que o melhor era entregar a Amazônia para uma nação estrangeira?
Lanço um desafio ao leitor e à leitora. Responda a pergunta: entre Trump e Bolsonaro, quem é o maior fascista? Não tenho dúvidas de que a maioria das pessoas com dois dedinhos de testa não titubearia em apostar no brasileiro. Trump é um doidivanas, mas nunca foi visto a homenagear um psicopata torturador como o execrável Brilhante Ustra, acusado, entre outras coisas, de torturar mulheres na frente dos filhos.
Mas em termos práticos, qual é o maior fator de separação entre os dois? É a sociedade. A democracia norte-americana é sólida e tem regras que impõem limites ao seu presidente. As ações provenientes da Casa Branca estão sob constante escrutínio. O Brasil nunca teve uma cultura democrática e a coisa facilmente vira a casa da Mãe Joana. Aliás, um país onde sequer os juízes respeitam a Constituição está fadado a estar sempre na rabeira da história.
A sociedade tem que ser melhor que o indivíduo. Ou seja, a sociedade norte-americana (em que pesem os rednecks que votam nos republicanos) é mais evoluída que Donald Trump e tem mecanismos de defesa. Nem é preciso ir muito longe. É só lembrar o texto de Op-Ed, publicado semana passada no “NY Times”, em que um funcionário da Casa Branca afirma haver ações de resistência interna para impedir que o presidente tome decisões estapafúrdias.
No Brasil o buraco é mais em baixo. Qualquer pessoa mais inteligente que um símio sente arrepios ao imaginar Jair Bolsonaro como presidente. O homem é um inútil. Tem evidentes limitações intelectuais. Não possui cultura suficiente para ler o mundo. Vive perdido em paranoias solipsistas. É claro que a ideia de vê-lo no Planalto assume proporções de um filme de terror. Porque todos sabemos que a sociedade brasileira não tem mecanismos de defesa.
É a dança da chuva.
Deve ter sido o britânico “The Guardian” o primeiro a chamar Jair Bolsonaro de “Trump dos Trópicos”. E agora tem muita gente aí pelo mundo a usar a denominação. É um erro. As diferenças começam numa evidência. Os dois são grandessíssimas cavalgaduras, mas não são vinho da mesma pipa. Trump é um idiota, mas pelo menos sabe fazer dinheiro e é milionário. Bolsonaro, ao contrário, é um cara que sempre viveu às custas do dinheiro público.
Não duvido que Jair Bolsonaro goste da comparação, mas duvido que Donald Trump fique feliz. É a velha história do primo pobre e do primo rico. Historicamente os EUA mandam e desmandam no Brasil e, portanto, um Bolsonaro presidente seria apenas vassalo de Trump. Aliás, já é. Quem não lembra de um ridículo Bolsonaro a fazer continência para a bandeira norte-americana? Ou de quando ele disse que o melhor era entregar a Amazônia para uma nação estrangeira?
Lanço um desafio ao leitor e à leitora. Responda a pergunta: entre Trump e Bolsonaro, quem é o maior fascista? Não tenho dúvidas de que a maioria das pessoas com dois dedinhos de testa não titubearia em apostar no brasileiro. Trump é um doidivanas, mas nunca foi visto a homenagear um psicopata torturador como o execrável Brilhante Ustra, acusado, entre outras coisas, de torturar mulheres na frente dos filhos.
Mas em termos práticos, qual é o maior fator de separação entre os dois? É a sociedade. A democracia norte-americana é sólida e tem regras que impõem limites ao seu presidente. As ações provenientes da Casa Branca estão sob constante escrutínio. O Brasil nunca teve uma cultura democrática e a coisa facilmente vira a casa da Mãe Joana. Aliás, um país onde sequer os juízes respeitam a Constituição está fadado a estar sempre na rabeira da história.
A sociedade tem que ser melhor que o indivíduo. Ou seja, a sociedade norte-americana (em que pesem os rednecks que votam nos republicanos) é mais evoluída que Donald Trump e tem mecanismos de defesa. Nem é preciso ir muito longe. É só lembrar o texto de Op-Ed, publicado semana passada no “NY Times”, em que um funcionário da Casa Branca afirma haver ações de resistência interna para impedir que o presidente tome decisões estapafúrdias.
No Brasil o buraco é mais em baixo. Qualquer pessoa mais inteligente que um símio sente arrepios ao imaginar Jair Bolsonaro como presidente. O homem é um inútil. Tem evidentes limitações intelectuais. Não possui cultura suficiente para ler o mundo. Vive perdido em paranoias solipsistas. É claro que a ideia de vê-lo no Planalto assume proporções de um filme de terror. Porque todos sabemos que a sociedade brasileira não tem mecanismos de defesa.
É a dança da chuva.
segunda-feira, 10 de setembro de 2018
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