POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Um dia destes vi um documentário onde era feita uma comparação entre as expectativas de vida dos jovens nos Estados Unidos e na Dinamarca. O filme procurava mostrar as aspirações, projetos e desejos em cada um dos países. Lembro especialmente de uma comparação entre dois jovens universitários. As diferenças eram gritantes e põem em questão o conceito de meritocracia.
O estudante dinamarquês, que parecia encarar a vida de forma mais tranquila, tinha a sua própria noção de sucesso. Queria um emprego legal, mas não um emprego qualquer. Disse não estar disposto a ser um workaholic, porque valorizava muito a vida para além do trabalho. Em resumo, queria viver bem mas sem que a obsessão de ser rico ou milionário – coisa que não rejeitava – lhe desviasse o olhar.
O universitário norte-americano era água de outra pipa. Para começar, a entrevista foi feita numa marina, onde ele dizia que sonhava ter um daqueles barcos luxuosos. O objetivo de vida era ganhar o primeiro milhão de dólares. Parece que a coisa do primeiro milhão é uma espécie de milestone do sucesso lá por aquelas bandas. E ao contrário do europeu, para ele não isso de ter uma vidinha tranquila era roubada.
Esta pequena descrição é apenas para mostrar que também o sucesso é uma coisa relativa. Para uns é um objetivo, para outros é consequência. Imagino que no Brasil a maioria esteja das pessoas esteja mais inclinada para a fórmula norte-americana. Porque em sociedades como a brasileira – ainda muito marcada pelo apartheid social – o sucesso parece ter um padrão: é ter coisas que o dinheiro pode comprar. E que os outros possam ver, claro. É a tal meritocracia.
É uma questão cultural. Tem gente que confunde sucesso com dinheiro. Ou seja, você só será considerado um sucesso se isso estiver traduzido num casarão, um carrão ou viagens. O importante é ter a grana. O problema é que para muitos importam os fins e não os meios. E esse um campo fértil para aquilo que Richard Sennet chama corrosão do caráter (e que também gera o fenômeno da corrupção).
Mas para outros, como o jovem dinamarquês, o mérito reside em viver de forma tranquila. E isso faz com que a Dinamarca seja um dos países com menores índices de corrupção no planeta (o fenômeno quase inexiste) e tenha uma das melhores posições nos índices de desenvolvimento humano. Uma coisa que muitos brasileiros – em especial os defensores da tal meritocracia – têm muita dificuldade em entender.
É a dança da chuva.
segunda-feira, 1 de janeiro de 2018
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