quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Pobre de direita? Só o Archie Bunker...

POR MÁRIO PAGANINI
Archie Bunker é o único pobre de direita que já curti na vida. Para quem não está familiarizado com o personagem, aí vai um pequeno resumo da série All in Family (“Tudo em Família”), um clássico dos anos 70 também exibido no Brasil. O personagem principal era Archie Bunker, um trabalhador blue collar que vivia com a mulher, a filha e o genro no bairro de Queens, em Nova Iorque.

Era um reacionário. Odiava tudo que cheirasse a liberdades individuais e infernizava a vida do genro, que considerava um “esquerdista” inútil. Machista, fazia da pobre e desajeitada Edith, a mulher, uma escrava. Não disfarçava o racismo na relação com os Jefferson, uma família negra que foi viver na casa ao lado. Xenófobo, era intolerante com os estrangeiros e já naquela época falava no que hoje conhecemos por “America first”.

A série nada devia ao politicamente correto e hoje não passaria pelo crivo dessa horda que vê problemas em tudo. E se o que é bom para os EUA é bom para o Brasil, então podemos dizer que Archie Bunker é uma espécie de arquétipo do “insignificante burguês” brasileiro (nem chega a ser pequeno burguês). Ou, numa linguagem que qualquer pessoa reconhece, do pobre de direita.

Quem é o pobre de direita? O capitalista sem capital. O burguês sem meios de produção. O que está entre os 99% mais pobres e defende as ideias do 1% mais rico. Archie Bunker e os pobres de direita têm alguns pontos em comum. O mais reconhecível de todos é o fato de ambos serem uma paródia. Só que o trabalhador reaça dos subúrbios de Nova Iorque é um personagem de ficção e os pobres de direita existem na sociedade.

Continuando... quem é o pobre de direita? É o coxinha pobre. O cara é empregado, passa o dia trabalhando e vive de salário, mas repete o discurso do patrão. Paga impostos, mas não tem saúde e educação de qualidade. E ainda comemora o fim do SUS e de programas como o Prouni. Está sempre correndo atrás para cobrir o cartão de crédito, mas quando tem um tempinho vai para as redes sociais defender tretas neoliberais.

Perde boa parte da vida nos transportes ou preso no trânsito a bordo do carro popular. Fica irritado com os buracos nas ruas, mas nas eleições a seguir vota no mesmo prefeito. Nos dias em que tem tempo livre para descansar não tem lazer de qualidade disponível. Diz que não existe “apartheid social” e que isso é invenção de esquerdopatas. Aliás, não faz a menor ideia do significado de muitas das palavras que usa. Afinal, o nível de informação é rasteiro, baseado no Jornal Nacional.

Enfim, o pobre de direita só atrapalha a evolução das sociedades. Não tem a menor graça. Chato por chato, vou ficando com as reprises da série do Archie Bunker. Este pelo menos provoca riso do bom. Pobre de direita só provoca o riso amarelo da vergonha alheia.


Archie Bunker era interpretado pelo ator Carroll O'Connor

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Tacla Durán: a mídia não cobre. Encobre...

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
É vergonhoso. Os dias passam e a velha imprensa continua em silêncio sobre o depoimento do advogado Rodrigo Tacla Durán. Isso surpreende? Não. O desdém pela democracia e pelo próprio jornalismo tem sido a regra para os títulos do costume. As denúncias, que lançam um manto de suspeita sobre a Lava Jato, têm indiscutível valor jornalístico. É preciso investigar. Esse é o papel da imprensa. Nem que seja para desmentir o advogado. Mas a mídia não cobre. Encobre.

Há um déficit de democracia nas redações. Para muitos títulos da velha mídia brasileira, o valor-notícia passou a ser definido de acordo com os próprios interesses corporativos. “Deontologia”, essa palavra tão apreciada nos regimes democráticos, porque define valores éticos, não entra no dicionário. Os escrúpulos foram mandados às urtigas e a infâmia tornou-se uma linha editorial. Essa mídia tem sido um poderoso vetor para a destruição dos valores éticos no país.

Há muito por esclarecer. Tacla Durán acusa o advogado Carlos Zucolotto, padrinho de casamento de Sérgio Moro, de ter oferecido redução de US$ 15 milhões para US$ 5 milhões numa multa que lhe seria imputada. E outros US$ 5 milhões deveriam ser pagos na forma de honorários. Ou seja, o famoso “por fora”. É grave. E no meio desse turbilhão surge uma sigla que já vai ficando famosa: DD, de Curitiba. Tentar adivinhar quem seria o tal DD virou uma das manias na internet. Seria Dower Doint?

A denúncia também explodiu no colo do casal Moro, uma vez que o nome de Rosângela Moro, mulher do juiz, apareceu no olho da tempestade. Há denúncias que envolvem dinheiro. Em sua defesa, ela postou que “o tempo esclarece tudo”. Esperemos. O escândalo não acaba aqui. Há ainda a denúncia de que procuradores da Lava Jato estariam a usar documentos de autenticidade duvidosa para legitimar a palavra de delatores. E mais: haveria uma intenção de direcionar essas delações para atingir alvos específicos. Quem seria? Pergunta retórica.

As acusações de Tacla Durán devem ser vistas com alguma cautela. Afinal, o homem não é um santo. Mas por que acreditar nele e não nos outros? Há pelo menos uma razão de peso. O advogado não está preso (nem será extraditado da Espanha, onde vive atualmente) e, por isso, não sofre do stress do encarceramento. Quem nunca ouviu acusações de que Curitiba é a “Nova Guantánamo”? Ou seja, um lugar onde o esgotamento psicológico é usado como técnica para quebrar os presos e obter delações.

Mas voltemos à mídia. É lídimo fazer projeções. Se fossem denúncias contra Lula, Dilma ou o Partido dos Trabalhadores, por exemplo, alguém duvida que haveria transmissão em direto pela televisão? Edições especiais? Ou até helicópteros? Mas o tema Tacla Durán foi relegado à não-existência pela velha mídia. E todos sabemos que se uma coisa não é vista no Jornal Nacional, então não existe. O lado bom é que o tema dominou as redes sociais. Mas o Brasil é um país de infoexcluídos e a internet ainda não consegue levar as notícias a todos os lados.

Eis o cerne da questão. A mídia hegemônica encobre, mente e distorce os fatos de acordo com os próprios interesses. E tem contribuído, com relevo, para a instalação desse clima de pouca-vergonha no país. É preciso mudar. As plataformas digitais são uma solução de futuro, porque ainda carecem de maior implantação. Mas sem a democratização da mídia não há democracia. Infelizmente, só resta esperar que o próximo presidente, seja quem for, tenha tomates para resolver essa questão. Pelo bem do país.

É a dança da chuva.




segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Em Joinville, a decoração de Natal também serve para o Carnaval



POR JORDI CASTAN
É impossível não perceber a mudança de estilo e de mensagem da decoração natalina. Os enfeites de Natal,  tanto públicas quanto privados, vem mudando nos últimos anos e Joinville, como cidade ligada ao mundo, não poderia ficar de fora desta tendência. Sai toda a simbologia cristã ligada ao Natal e aos seus elementos de referência. Não há mais nem presépios, nem menino Deus, nem anjos, nem arcanjos, nem coros celestiais. Entram em troca efeitos luminosos que reúnem simultaneamente a cafonice, o excesso e o mau gosto. É uma mistura de barroco tecnológico, com falta completa de bom senso e bom gosto.

Neste sentido é difícil, no caso de Joinville, achar uma que possa tirar o primeiro prêmio do projeto luminotécnico da decoração da Prefeitura Municipal. Um bom amigo, engenheiro aposentado da Celesc, insiste que aquilo não é mesmo uma decoração mesma: é só o estoque a céu aberto de todos os enfeites que sobraram. E que, como não tiveram tempo nem local para colocar, acabaram ficando meio jogados, meio esquecidos no gramado da Beira Rio. Difícil discordar dele. Custa acreditar que aquele amontoado de luzes seja o resultado de um projeto e que alguém possa ser responsável por aquele exagerado desperdício de energia e gosto estético.

O mau gosto não é exclusividade da municipalidade. Há bons exemplos também na iniciativa privada. Trenós com renas à espera da primeira nevada dezembrina, Papais Noéis barrigudos e narigudos ou constelações de estrelas piscantes compõem a decoração, lado a lado com o mais absoluto nada. Longas fileiras de lâmpadas chinesas enfeitam árvores, palmeiras, fachadas, objetos, sacadas e qualquer tipo de objeto inanimado que, indefeso, sofre o ataque furibundo da brigada da cafonice, que se propaga com virulência e entusiasmo assustador.

A única certeza é que a do próximo ano será ainda pior, mais colorida, exagerada e carente de conteúdo e de mensagem. O resultado será uma cidade perdida no seu labirinto, sem saber o que é, nem para onde vai. O ponto mais positivo é que a mesma decoração pode ser mantida nas ruas até ao Carnaval, ao fim das contas ninguém sabe mesmo qual o objetivo deste festival de mau gosto. Vai que é para deixar as ruas mais iluminadas, as cidades mais iguais e o espírito natalino completamente ofuscado pelo excesso de iluminação e a falta de bom gosto.

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

MEC-Usaid, o avô da Escola Sem Partido

POR DOMINGOS MIRANDA
Há cerca de meio século houve uma mudança radical no nosso ensino, colocada em prática sob a orientação de técnicos norte-americanos. O principal objetivo do Acordo MEC-Usaid (United States Agency for International Development) era acabar com as ideologias nas escolas e faculdades e orientar os estudos para os interesses das grandes empresas multinacionais. É claro que houve muitos protestos, cujo auge foi em 1968 e que resultou no famigerado AI-5, que acabou com o que ainda restava de garantias democráticas.

O Acordo MEC-Usaid começou a ser gestado em 1964, logo depois do golpe militar que derrubou o presidente João Goulart. O professor norte-americano Rudolph Atcon realizou estudo sobre o ensino superior brasileiro, a pedido do MEC (Ministério da Educação). Ele propunha que “a universidade deveria se libertar de todas as malhas do Estado, ter autonomia plena para se desenvolver enquanto empresa privada”.

Quando foi colocado em prática, uma de suas medidas foi a extinção das disciplinas de filosofia e latim e a introdução de outras, como Moral e Cívica e OSPB (Organização Social e Política Brasileira). No XXVIII Fórum da UNE, os estudantes afirmaram que “o governo militar propõe para a universidade, uma universidade e um universitário inteiramente distantes e alienados dos problemas do seu país e do seu povo”.

Para a sua implantação, o governo utilizou de muita repressão. O temido Artigo 477 foi utilizado com frequência para a expulsão de professores e alunos considerados indesejáveis. Centenas de estudantes foram presos, torturados ou mortos. O último presidente da UNE antes de sua desarticulação, Honestino Guimarães, está desaparecido até os dias atuais. Em cada sala de aula sempre havia um informante do governo para relatar o posicionamento de professores e alunos.

Há um célebre ditado popular que ressalta que errar é humano, repetir o erro é burrice. Atualmente existe um movimento chamado Escola Sem Partido que, em linhas gerais, é a volta do Acordo MEC-Usaid. Seus defensores alegam que os professores estariam proibidos de abordar alguns assuntos considerados “doutrinas de esquerda”. Sem nenhuma criatividade, a direita tenta retomar uma prática adotada meio século atrás e que deixou sequelas por toda uma geração.

A burrice desses Torquemadas modernos chega a tal ponto que querem retirar o Paulo Freire como patrono da educação brasileira. Freire é um dos educadores mais respeitados em todo o mundo, mas em seu país alguns saudosistas da ditadura querem bani-lo mais uma vez das salas de aula. Aqui vale repetir uma frase do filósofo espanhol Baltazar Gracian: “A insensatez sempre se precipita à ação, pois todos os tolos são audazes”.


quarta-feira, 29 de novembro de 2017

A posse de armas vai a votos. Sim ou não?

















POR ET BARTHES
Há no Senado brasileiro um movimento para revogar o Estatuto do Desarmamento, que foi criado em dezembro de 2003. Um relatório a favor da realização de um plebiscito - que deve ser realizado no ano que vem - foi apresentado na Comissão de Constituição e Justiça da Casa e teve o “ok” do relator, o senador Sérgio Petecão (PSD-AC).
Você concorda? Sim ou não. Hoje trazemos alguns filmes do Reino Unido e, claro, dos Estados Unidos (na maioria), onde o tema está sempre na agenda por causa dos sucessivos massacres. Os filmes estão todos língua inglesa, mas é fácil entender.