sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Jogar com a camisa 13. Dá sorte ou azar?

POR MARCO CASAGRANDE
Jogador de futebol é supersticioso? Uns dizem que sim, outros que não? Mas o que dizer de uns caras que, sempre que entram em campo, fazem questão de usar o pé direito? Vestir a camisa número 13, então, é motivo de desconfiança. Nos países mais assustadiços com as coisas do outro mundo, os jogadores evitam. Em outras culturas mais racionais, nem tanto.

No Brasil, tem muita gente jurando que o 13 dá azar. Mas também houve quem invertesse essa lógica para dizer que o número dá sorte. Ninguém melhor que Mário Jorge Lobo Zagallo, o ex-jogador e treinador da seleção brasileira, para afirmar que não há azar. Afinal, como jogador ele foi campeão mundial em 1958 e 1962, vestindo a camisa 13.

E temos Pelé. O maior craque brasileiro de todos os tempos tornou a camisa 10 um símbolo. Tanto que durante muito tempo o número era reservado aos craques de qualquer time. O que poucos sabem é que quando estreou pela seleção nacional, em 1957 (um ano antes de ser campeão mundial), Pelé tinha o número 13 às costas. Seria um amuleto?

Aliás, o “rei” Pelé tinha uma admiração especial pelo craque português Eusébio, que sempre considerou um dos maiores jogadores de todos os tempos. O “Pantera Negra”, como era conhecido o moçambicano de nacionalidade portuguesa, foi dono da camisa 10 no seu clube, o Benfica, mas na seleção imortalizou a camisa número 13.

Uma história parecida é a do argentino Mario Kempes. O atacante começou a jogar pela seleção do país vizinho com o número 13. Mas em 1978, quando os argentinos conquistaram a primeira Copa do Mundo, Kempes já usava a mítica camisa 10 alviceleste, a mesma que tempos depois viria a ser de Maradona e Messi.

A lista de jogadores que fizeram sucesso com a camisa 13 é extensa. Entre os casos mais recentes está o brasileiro Maicon, que brilhou na Internazionale de Milão. E o número 13 não é estranho a Daniel Alves, seu contemporâneo de seleção. Outro é o craque alemão Michael Ballack, que usou a camisa nos clubes e na seleção da Alemanha.

E para terminar, uma curiosidade. Na Espanha o número parece ser destinado aos goleiros. É só conferir: Bravo (Barcelona), Oblak (Atlético de Madrid), Keylor Navas (Real Madrid). Podemos lembrar o goleirão Courtois, do Chelsea e da seleção belga, que jogou no Atlético. Outro é o português Beto, que jogou no Sevilha e hoje está na Turquia.

Sorte ou azar? É para quem quiser acreditar.

Pelé, Kempes, Zagallo e Eusébio: todos têm uma história com a camisa 13







Marco Casagrande é estudante de geologia em Rio Claro,
torce pelo São Paulo e é a favor
de entrar com o pé direito em campo.


A mídia ajudou no linchamento público de Cancellier

POR DOMINGOS MIRANDA
A morte do reitor Luiz Carlos Cancellier, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no dia 2 de outubro, causou repercussão em toda a sociedade e por isso merece um novo comentário. A imprensa, que teve papel de destaque no linchamento público, sente-se incomodada e começa a fazer uma autocrítica. Como é de conhecimento geral, Cancellier foi levado preso pelos policiais federais, despido, invadido em suas partes íntimas e algemado nos pés e mãos numa cela junto com presos comuns. Ele não era acusado, nem sentenciado, mas apenas investigado por um suposto desvio de dinheiro na UFSC na gestão passada. Mas a mídia vendeu a notícia repassada pela polícia e destruiu a reputação do reitor, adquirida ao longo de quatro décadas.

No dia 8 de outubro a Folha de S. Paulo publicou artigo da ombudsman Paula Cesarino Costa, sob o título “Jornalismo de ouvidos moucos”, criticando a cobertura da prisão e morte  de Cancellier. São suas palavras: “Em uma versão eletrônica, a reportagem de setembro tem hoje um sinal de Erramos, produzido 23 dias depois de sua publicação: ‘A reportagem deixou de informar que o reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, era investigado por suspeita de interferir na apuração sobre o desvio de recursos na universidade, e não pelo desvio em si’. A admissão do erro foi direto, mas insuficiente e demorada”.

A ombudsman revela que o jornal não tem correspondente em Florianópolis e por isso que as informações da primeira reportagem foram apuradas por telefone e e-mail da polícia. E ressalta: “O que interessa é refletir sobre a maneira como a mídia tem lidado com operações policiais que buscam holofotes em investigações ainda em andamento. (...) Em alguns momentos, é preciso ter coragem para publicar. Em outros, a ousadia de não publicar”.

No mesmo dia e no mesmo jornal, o experiente jornalista Elio Gaspari, autor de cinco livros sobre a ditadura militar, abordava em sua coluna dominical o caso Cancellier, com pesadas críticas. “Nos dias de hoje, proibir um reitor afastado de pisar na universidade serve apenas para humilhá-lo. Vale lembrar que a ditadura nunca proibiu os professores que cassou de entrar nas escolas.” Dias depois veio à tona mais uma arbitrariedade: a justiça proibiu, por quatro vezes, o reitor de receber ajuda espiritual. Gaspari termina seu artigo dizendo: “O reitor Cancellier tornou-se um desencanto para o Brasil da Lava Jato”.

Outro ícone do jornalismo, Kennedy Alencar, comentou em seu programa da CBN: “Esses funcionários públicos têm poder demais para usá-lo sem questionamento da sociedade. Não gostam de controle externo, algo necessário numa democracia. A imprensa, que tem o dever de ser crítica do poder, de fiscalizar os políticos, precisa ter a mesma atitude em relação a policiais, promotores e juízes. O jornalismo não pode ser correia de transmissão da polícia nem do Ministério Público. Tampouco do Judiciário”.

O direito à dignidade foi uma conquista da democracia. Autoridades não podem agir ao seu próprio arbítrio, desrespeitando normas, quando fazem suas investigações. Com a Lava Jato, por causa de uma popularidade adquirida e que começa a declinar, muitos juízes, procuradores e delegados começaram a atuar como verdadeiros déspotas, sem prestar contas a ninguém. A nota que as associações de servidores públicos que atuaram neste caso deram à sociedade foi um escárnio à população.

Diante de tantos abusos, há urgência na aprovação do  Projeto de Lei 7596/17, que tramita na Câmara desde 10 de maio e já foi aprovado pelo Senado e que define os crimes de abuso de autoridade cometidos por juízes e procuradores. O senador Roberto Requião batizou a lei que deverá entrar em vigor de Luiz Carlos Cancellier. Em discurso, Requião falou: “Deus meu, que a morte do reitor Cancellier seja o freio das arbitrariedades e do excesso das corporações que agem à margem da lei. Amém!”.

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Dove tira campanha do ar. Foi racismo?

POR LEO VORTIS
O mundo digital facilita o cotidiano. Mas também complica a vida para as marcas, que precisam estar cada vez mais atentas ao que publicam. Com a internet, tudo tem maior visibilidade. A semana foi marcada pelos protestos e acusações de racismo contra a Dove por causa de um filme exibido no Facebook, nos Estados Unidos. 

Numa pela feita para as redes sociais, uma mulher negra tira uma camiseta marrom e, no seu lugar, aparece outra mulher, de pele e camisa claras. O filme não a acaba aqui, mas a confusão é apenas sobre esta parte. Porque há um outro take em que a mulher branca tira a camisa e, no seu lugar, aparece outra mulher, mas de traços asiáticos.

Algumas pessoas não veem racismo. Dizem que os publicitários apenas marcaram touca na  montagem do filme. E contra-argumentam. Uma mulher de pele escura sendo substituída por outra de pele clara é racismo, mas uma mulher de pele clara substituída por outra de pele asiática (mais escura) não gera controvérsia.

O fato é que as reações negativas dominaram as redes sociais. Os mais exaltados dizem que é claramente um anúncio racista, uma vez que a mulher negra estaria sendo “branqueada”. As críticas ganharam tamanho eco que a marca foi obrigada a emitir uma nota pedindo desculpas por ofensas causadas. E retirou o post da sua timeline.

O problema é que o fabricante tem um historial nesse campo. Há poucos anos, a marca passou por situação semelhante, quando publicou um anúncio com três mulheres, mas posicionou a mulher de pele escura sob a palavra “antes” e a de pele clara sob a palavra “depois”. Deu rolo. E a marca também teve que pedir desculpas.

E se fosse num país pobre, será que isso aconteceria? Há anos o mesmo fabricante tem um produto chamado Fair & Lovely, comercializado na Índia, que branqueia a pele. Na comunicação, a marca associa o sucesso à cor da pele. Quanto mais clara, melhor. O Fair & Lovely existe há anos e até hoje os países ocidentais nunca se queixaram. O segundo filme (abaixo) é bem claro.



terça-feira, 10 de outubro de 2017

Quem é o dono do "movimento das bichinhas livres"?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Fernando Holiday: “Agora tem o tarado por travesti achando que é dono do MBL. Pelo amor de Deus! Volta lá para o seu filme pornô. O que que é isso? Falta de vergonha na cara, Frota”.
Alexandre Frota: “Tarado eu sou, sim. Mas não por essa sua bundinha. Entendeu, essa sua bundinha é seca. Fraca. Se boto você de quatro, você não aguenta. Você morre ali mesmo”.

É oficial. O Brasil está mesmo no fundo do poço. Não sei se esse era o plano dos golpistas, que não mediram esforços para levar essa gente para o círculo do poder. Mas o certo é que  a democracia sangra de morte no Brasil destes dias. Já não estamos a falar apenas de obscurantismo, mas no mais nefasto momento da história recente do país. A diatribe entre esses dois nomes “relevantes” da direita brasileira é a prova dessa agonia.

É fácil perceber do que se trata, mas se o leitor e a leitora ainda não sabem a origem dessa baixaria, estamos em meio a uma disputa para ver quem é o dono do MBL - Movimento Brasil Livre. O nível do debate - lembremos que Frota ameaça matar Holiday à pirocada - nem pode ser considerado rasteiro. É inqualificável. É indizível. É vexatório. Pobre Brasil, que sangra lentamente nas mãos destes boçais.

Qual é o butim em causa? O MBL é identificado por ser uma fábrica de mentiras (as mais escabrosas), por ter sustentação financeira a partir de fontes duvidosas e por estar ligado a partidos de direita, de forma dissimulada. No entanto, o maior problema para a sociedade é o fato de ser uma pandilha de analfabetos mirins que consegue ser seguida por analfabetos políticos adultos. É o retrato da sanidade mental do país. 

E a gritaria continua. De um lado temos um bando de moleques desvairados e ignorantes que dizem ser os donos do MBL. Do outro temos um ator pornô desvairado e ignorante que diz ser o dono do MBL (“movimento das bichinhas livres”, nas palavras do próprio Frota). A assistir tudo isso está um país abúlico, uma sociedade tão habituada à lama que já nem se revolta por ser emporcalhada.

É a dança da chuva.