quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Extrema Esquerda x Extrema Direita


Cabeça cortada. 1 ano.


O nazismo de esquerda e gente que odeia pensar

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Faz muitos anos, quando ainda vivia em Joinville, ouvi um radialista da cidade dizer que o nazismo era de esquerda. O “jênio” chegou a essa conclusão porque Adolf Hitler pertencia ao Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Se tinha socialismo no nome, não havia dúvidas. O cara levou essa lógica ao limite e associou o ainda recente Partido dos Trabalhadores – que ele odiou desde a primeira hora – ao nazismo.

A afirmação só podia provocar risos, claro. Entre uma gargalhada e outra pensei comigo: “por sorte é só esse apoucado a aparecer com essas ideias... ninguém vai levar a sério”. E eis que mais de 20 anos depois a coisa volta a ganhar corpo. E com força. Há mesmo gente em acesos debates por causa dessa não-questão. Só em países como o Brasil, onde ninguém estuda história, esse tipo de discussão tem pernas para andar.

Não vou entrar na discussão, claro. O tema não merece um minuto do tempo de ninguém. É como entrar num debate com alguém que defende a tese de que a Terra é plana. Não faz sentido. Um debate pressupõe dois lados a argumentar e este é uma daqueles casos em que dois monólogos não fazem um diálogo. É perda de tempo quando os argumentos de um lado são respondidos pelo outro lado com clichês mal amanhados.

Mas não resisto a um comentário sobre os tipos defendem essa ideia. É que eles ressurgiram em força depois dos incidentes em Charlottesville, envolvendo militantes de extrema direita seguidores de ideais nazistas. Quem defende a maluqueira de que o nazismo é de esquerda? A turma do ódio. A turma que odeia história. A turma da escola sem partido. A turma que acredita no MBL. A turma que se “informa” pelo Facebook.

Há mais ou menos aquilo que Kostas Axelos chamou “rejeição do pensamento”. O cenário é de ascensão do anti-intelectualismo. A rejeição do pensamento invade as redes sociais e ganha contorno de uma estranha “ciência”: é tudo ao contrário. O que a pessoa não entende - e não quer entender por imperativo ideológico ou abulia intelectual - é o que ela chama esquerdismo. Enfim, é gente que se recusa a pensar.

Eis um detalhe interessante: o Brasil deve ser um dos poucos países do mundo onde a palavra “esquerdista” é usada como ofensa. No mundo civilizado não é assim. Muito pelo contrário. O mais deprimente é que essas hordas que pululam nas redes sociais são incapazes de perceber a própria ignorância. Porque não perceber o processo de subjetivação-sujeição é parte do próprio processo. Enfim, uma pescadinha de rabo na boca (o eterno retorno).

É a dança da chuva.

sábado, 12 de agosto de 2017

Burrice fenomenal ou traição nacional?

POR DOMINGOS MIRANDA
Se um ET descesse no Brasil e pedisse para entrar em contato com o nosso maior cientista não conseguiria. Simplesmente porque ele está preso e ficará atrás das grades até seus dias finais. Espantoso, mas é assim que as coisas funcionam na terra onde alguns imaginam ser mais espertos que os outros.

O almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, responsável pelo desenvolvimento de uma tecnologia 100% nacional de enriquecimento de urânio pelo método de ultracentrifugação, foi condenado a 43 anos de prisão pelo crime de corrupção durante as obras da usina nuclear Angra 3. O processo, cheio de falhas, como demonstrou o jornalista Luiz Nassif, foi conduzido pelo juiz da Lava Jato que tem notórias ligações com os serviços de informações dos EUA.

Em 1978, o almirante Othon recebeu a incumbência de iniciar os estudos para construir o primeiro submarino nuclear brasileiro e de 1979 a 1994 liderou o Programa Nuclear Paralelo, executado sigilosamente pela Marinha. Como acontece em casos semelhantes em outros países, muitas das aquisições não passam pela contabilidade oficial. Por isso soa estranho o nosso cientista ser condenado por corrupção sendo que, caso se interessasse em trabalhar no exterior, seus ganhos econômicos seriam fantásticos.

Ao fazermos a comparação com o tratamento dado pelas grandes potências a outros cientistas, veremos uma enorme disparidade com o que acontece no Brasil. O famoso cientista alemão Werner von Braun, inventor da bomba voadora V2, na Segunda Guerra Mundial, foi levado para os EUA e encarregado do nascente programa espacial americano. Von Braun era oficial da sanguinária corporação militar SS e nos seus trabalhos de pesquisa usou mão-de-obra escrava. No final da vida virou herói nacional por levar o primeiro homem à lua.

Um outro cientista alemão, Manfred von Ardenne, condecorado duas vezes pelo regime nazista,  foi capturado pelas tropas da União Soviética após a derrota do 3º Reich e conseguiu desenvolver a primeira bomba atômica naquele país comunista. Ele continuou na URSS e na Alemanha Oriental aperfeiçoando seus inventos, inclusive na área de saúde, e em 1953 recebeu o Prêmio Stalin. Portanto, em menos de uma década foi premiado por regimes políticos de características totalmente antípodas. Falou mais alto o seu conhecimento.

Um pesquisador europeu comentou que o brasileiro é um povo infantil. Uma das características da criança é ser bastante susceptível à fantasia. E, no momento, estamos acreditando que não há interesses de forças externas em inviabilizar o nosso programa nuclear para defesa. No caso dos responsáveis por trancafiar o nosso maior cientista, há duas hipóteses. Uma é o desconhecimento das forças que regem a geopolítica internacional e aí poderíamos dizer que cometem uma burrice fenomenal. No outro caso seria estarem agindo em sintonia com os interesses estrangeiros, o que caracterizaria, indubitavelmente,  um crime de lesa-pátria.

Aos brasileiros patriotas interessa a verdade. Só não podemos ficar de braços cruzados esperando o desenrolar dos fatos. Queremos o almirante Othon Pinheiro solto, como aconteceu com outros envolvidos na Lava Jato. O lugar dele é no laboratório desenvolvendo tecnologias que podem representar a independência brasileira na energia nuclear.