quinta-feira, 6 de abril de 2017

O deputado presidenciável e o risco do fascismo

POR CLÓVIS GRUNER

Na última terça-feira (03), o deputado Jair Bolsonaro (PSC/RJ) esteve na Hebraica do Rio de Janeiro onde, a pretexto de proferir uma palestra, protagonizou mais um comício eleitoral. O vídeo com a “palestra” circula pela internet desde a quarta, e os blogs e redes sociais repercutem alguns de seus momentos mais perturbadores. Em uma passagem, o deputado assume o compromisso de que, “se chegar lá”, cada cidadão terá “uma arma de fogo dentro de casa”, mas não diz como, exatamente, tal medida contribuirá para resolver ou ao menos minimizar a violência urbana e nossos crônicos problemas de segurança pública.

Sobraram críticas aos governos petistas e insinuações sobre os planos de implantação do “bolivarianismo” no Brasil, cuja principal evidência é a presença de 12 mil cubanos no país. Bolsonaro, para quem mulheres bonitas merecem ser estupradas, posto que as feias não, e que já defendeu o espancamento de filhos gays pelos pais, dessa vez mirou sua truculência contra os negros, especialmente os descendentes de quilombolas. Segundo o deputado, que prometeu rever as demarcações de terras indígenas e quilombolas, “o afrodescendente mais leve lá [no quilombo], pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem pra procriador ele serve mais”.

O show de horrores, no entanto, é didático em pelo menos dois aspectos. Perguntamo-nos seguidamente quais as ideias, qual o “projeto” de Bolsonaro para o país caso se confirme sua candidatura, o que é cada vez mais provável. A palestra é um primeiro indício do que ele “pensa” (atenção às aspas). E ele pensa mal, muito mal, ao ponto de soar patente que sua capacidade de comunicação, tão propalada por seus seguidores, sai visivelmente prejudicada em um ambiente menos inflamado.

Por outro lado, o simples fato de sua presença na Hebraica, cumprindo uma agenda de aproximação estratégica a setores mais elitizados do eleitorado, tampouco é gratuita. O crescimento da liderança de Bolsonaro, que de uma excrescência fascista passou a terceiro lugar na intenção de votos para presidente, com algo em torno de 9% – e que, segundo pesquisa Datafolha, é líder entre os com renda familiar mensal superior a 10 salários mínimos, onde chega a ter 23% na preferência dos eleitores – preocupa.

E preocupa porque não se trata de uma figura folclórica, como Tiririca, a surfar na onda de uma indignação que serve de pretexto à carnavalização da política. Como uma força centrípeta, ele canaliza, dá forma e sentido a um conjunto de afetos dispersos e difusos, tais como o ressentimento, a indiferença, o medo e o ódio. Tiririca é resultado, Bolsonaro é o sintoma de uma sociedade cada vez mais despolitizada. Por isso, entre outras razões, a ausência de ideias claras, de um projeto ou mesmo um programa mínimo de metas, não é um problema para Bolsonaro e seus potenciais eleitores.

Na mesma medida em que parte da esquerda se sente agredida quando perguntamos ao PT o que ele tem a oferecer além do carisma de Lula, parte da direita se sente representada por Bolsonaro justamente pelo que ele é - machista, homofóbico, racista; por sua apologia à tortura e sua defesa dos torturadores; e porque se identifica com o amontado de clichês e lugares comuns que o deputado oferece a título de “ideias”.

Nesse sentido, não parece estranho ver um movimento, ainda bastante tímido, de setores progressistas inflacionando a candidatura do fascista. O que está no horizonte é a reedição potencializada da polarização de 2014, porque a facilidade com que se oferece e acredita em um salvador da pátria é proporcional ao tamanho do perigo que a ameaça. Bolsonaro é sim, um perigo. Mas contra ele e o que ele representa, acredito, precisamos de mais que o carisma de Lula. E não estou a falar apenas da disputa eleitoral que se aproxima.

* Clóvis Gruner é historiador e professor universitário

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Tem culpa eu?


É só água. Não esquenta


POR RAQUEL MIGLIORINI
Existe algum tema mais importante para tratarmos do que a água? Acontece que a abundância desse recurso natural em nossa região deixa as pessoas num estado de letargia que as  impede de ver como esse bem essencial é tratado política e economicamente.

Santa Catarina possui política estadual e sistema de informações sobre recursos hídricos, comitês de bacias hidrográficas, fundo estadual de recursos hídricos. Pesquisas rápidas pela rede nos mostram o maravilhoso mundo da enganação da legalidade, onde a Política Nacional de Recursos Hídricos finge que fiscaliza os Estados e esses fingem que aplicam as diretrizes ali propostas.

Se não, vejamos: para que serve um Fundo de Recursos Hídricos - FeHidro - se os Comitês de Bacias Hidrográficas definham, ano a ano, por falta de verbas? Os comitês existem por pura imposição legal, mas sem condições de monitoramento, preservação e ações relevantes nas bacias de cada região.

O FeHidro recebe recursos da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável, aquela que deveria ser a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, para preservar os recursos naturais de Santa Catarina (mas meio ambiente é papo para “biodesagradáveis”, então mudaram o nome para sustentável, porque isso sim é coisa de primeiro mundo). Não é preciso perder tempo para dizer que não há dinheiro para Secretaria nenhuma, ainda mais para aquela que, em tese, tenta impedir o progresso.

Ocorre que a lei federal permite a cobrança da água, chamada de Outorga Onerosa, por aqueles que a usam em grande quantidade. O Governo de Santa Catarina emite outorgas para quem pede, mas não cobra pelo uso da água. Empresas, agricultores, Companhias de Água, recebem permissão para retirarem água dos rios e não pagam nada por isso. Se a Outorga Onerosa fosse implantada, o FeHidro teria recursos suficientes para bancar todos os comitês de bacias do Estado e ainda sobraria dinheiro.

Alguns dirão: “mas são destinados recursos para elaboração de planos de gestão da bacias”. Novamente, gasta-se dinheiro com documentos que nunca serão efetivamente cumpridos. Fazem o que a lei burra manda mas não investem nos estudos de capacidade dos rios, preservação das matas ciliares, pagamento por serviços ambientais, prevenção de poluição de rios e solo.

Entra governo, sai governo e ninguém se posiciona frente aos empresários da indústria têxtil, frigorífica, latifundiários. Eles continuam esgotando os recursos hídricos da maneira como lhes convém. Em Joinville tem até empresa que construiu sua própria estação de captação, num afluente do Rio Cubatão.

Método de irrigação arcaico, fiscalização precária e o declínio dos Comitês de Bacias Hidrográficas é a receita certa para que o catarinense conheça, em breve, o que é escassez. Mas é só água. Não precisa se incomodar.

terça-feira, 4 de abril de 2017

Aécio acusado de corrupção. Prendam o Lula...

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Sabe o que acontece quando você entra no Google e introduz a pesquisa “Aécio propina”? O resultado são 518 mil referências. Repito: 518 mil. É uma enxurrada de citações. Apesar de não ter valor estatístico, um número tão expressivo não pode passar despercebido. E para complicar ainda mais - se é que complica para algum tucano - a última edição da revistona trouxe uma reportagem a afirmar que a “Odebrecht depositou propina para Aécio em NY”.

Tem gente a apostar que a profecia (o mineirinho é o primeiro a ser comido) vai se realizar. Não parece. Aliás, é bom deixar claro: Aécio Neves é inocente até que seja provada qualquer culpa. E, como sabemos, os tucanos têm uma relação de afeto com a Justiça e parece improvável que venha sequer a ser acusado. Afinal, estamos a falar de uma Justiça sui generis. No Brasil, há quem ache desnecessário investigar a oposição porque, não estando no poder, não há corrupção. Podem rir...

A mesma pesquisa no Google permite reunir manchetes de publicações que, numa democracia consolidada, nunca passariam em branco. Os implicados ficariam na marca do pênalti e haveria punições. Mas, repito, estamos a falar do Brasil, um país historicamente forte com os fracos, mas fraco com os fortes e poderosos. E hoje convido o leitor e a leitora a recordar algumas das manchetes que polvilharam a imprensa nos últimos tempos. Eis...

 “Aécio e Cunha tinham esquemas ‘independentes’ em Furnas, aponta Janot”.
(Estadão)
“Aécio era ‘o mais chato’ na cobrança de propina junto à UTC, afirma delator”.
(Infomoney)
“É um terço SP, um terço nacional e um terço Aécio”, diz delator sobre Furnas.
(Folha)
“Delcídio diz em delação que Aécio foi beneficiário de corrupção em Furnas”.
(Globo)
“Documentos revelam que doleiro abriu conta secreta em Liechtenstein”.
(Época)
“Delator liga Aécio a esquema de corrupção na Petrobrás”.
(Estadão)
“Aécio repassou propinas em troca de apoio na Câmara, diz Machado”.
(Folha)
“Aécio comandou fraude na Cidade Administrativa quando era governador de MG, diz delator da Odebrecht”.
(R7)
“Aécio era ‘mineirinho’, diz delator da Odebrecht”.
(Estadão)
“Odebrecht teria acertado repasse de R$ 50 milhões a Aécio, diz jornal”.
(Valor)
“Ex-executivo da Odebrecht delata propina para Aécio, diz revista”.
(Zero Hora)
“‘Aécio vai ser o primeiro a ser comido’, diz ex-líder do PSDB no Senado”.
(Congresso em Foco)

Vou repetir. Aécio Neves é inocente até que a culpa seja provada (caso venha a ser acusado). Mas o Brasil é um país estranho, onde a presunção de inocência é altamente seletiva. Assim como a indignação dos cidadãos. Há brasileiros que leem estas manchetes publicadas aqui e, no fim, chegam sempre à mesma conclusão: “prendam o Lula”. 

É a ética torta do “pedalinho versus milhões. Para eles nunca será "a vez de Aécio". De fato, não querem saber de corrupção, porque o ódio de classe pede vingança. Querem que Lula seja preso. E o resto é o resto.

É a dança da chuva.




segunda-feira, 3 de abril de 2017

Andrea Neves chora e nega propina

A jornalista Andrea Neves, irmã de Aécio Neves, candidato à presidência derrotado nas últimas eleições, gravou um vídeo para negar qualquer envolvimento com propinas da Odebrecht. A denúncia foi publicada pela revista Veja e seria parte da delação do ex-presidente da empresa, Benedicto Junior.
“Pouco interessa agora quem mentiu, quem é o mentiroso, se o delator ou a fonte da revista. O que interessa é a mentira. Eu não sei o que está acontecendo para tanto ódio e tanta irresponsabilidade, atacar de forma tão covarde a vida das pessoas”, declarou Andrea, que em certo momento da fala não conteve as lágrimas.