sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Crônica de um dia com o SUS e a economia burra do gestor



POR ANTONIA GRIGOL

Este ano meu propósito era não reclamar de Udo Dohler. Afinal, não votei nele. Meu propósito era reclamar de quem votou e escolheu ser mandado pelo dono da cidade. Um homem que despreza trabalhador e trabalhadora, que nos acha indolentes e relaxados. Mas os fatos batem à minha porta:

1. Faço a defesa intransigente do SUS e, para quem não entende o que significa intransigência, defendo que ninguém tenha outras formas de assistência que não seja o SUS.

2. Ontem, usei o SUS para tomar banho, escovar os dentes e meu café (tudo garantido por agências reguladoras do SUS e Vigilância Sanitária). Mas estas ações do SUS não foram suficientes para eu não sentir dores articulares. Um dia dói o cotovelo, outro o joelho e as articulações das mãos doem todos os dias.


3. Procurei a Unidade de Saúde Costa e Silva no dia 12 de janeiro. Cheguei por volta de 08h20min, retirei a senha do acolhimento, expliquei a minha necessidade à enfermeira Marlene Serafim, que me encaminhou para consulta. 

4. No dia marcado fui cedinho. Fiz meu prontuário novo. A funcionária da recepção me orientou e encaminhou para a sala de espera em frente aos três consultórios médicos. Saquei da bolsa um livro da Edith Seligmann intitulado "Trabalho e Desgaste Mental". A mulher do meu lado ficou contando as lajotas. Outra lendo "50 Tons de Cinza" e a terceira uma revista.

5. Em poucos minutos já estávamos conversando. Primeiro foi uma disputa para saber quem tinha mais dores ou doenças, a saga nos consultórios médicos públicos e privados a consultas e exames pagos. Os remédios caros, comprados porque os SUS não garantiu. Enfim, uma bela sessão de "contação" de histórias.

6. Logo o papo rumou para a obesidade. Aí novamente as mulheres interagiram e falaram sobre os melhores alimentos. O que engorda e emagrece, as dificuldades com dieta e a luta para manter o corpo da artista da TV. As mulheres contavam suas histórias vividas e sentidas a seu modo, mas cada uma com a história mais importante. O terceiro assunto foi a comida para os filhos. Neste momento, houve divergências. Este, confesso, foi um momento tenso quando as mulheres/mães que estavam no banco responsabilizam as mulheres pela obesidade dos filhos. Ufa! Ainda bem que a cada quarto de hora três saiam do papo porque eram chamadas para os consultórios e eu fui ficando sozinha. Aí escutei "Antonia". Era o meu médico me chamando.

7. O profissional médico Rafael Gorges Werlichl, recém-chegado de Pirabeiraba com muitos elogios dos moradores do distrito, ouve minhas queixas, faz algumas sugestões e solicita os exames laboratoriais. E me encaminha para o agendamento dos exames.

8. Retorno para a recepção e escuto o farmacêutico chamar a senha 189. Tinha tanta gente que fiquei meio tonta. Aí encontrei uma técnica de enfermagem. Sempre simpática, me cumprimenta e fala “hoje está corrido, estamos em duas técnicas para atender todo mundo". Eu, que ia perguntar qual o caminho para realizar a minha vacina atrasada da hepatite, me calei e pensei. Como duas técnicas de enfermagem dão conta de toda esta gente? Impossível não adoecer. Mas o governo do Udo Dohler investiu pesado quatro anos em campanhas para denigrir a imagem dos trabalhadores do setor público. E se, naquele momento, uma delas demonstrasse cansaço, as pessoas iam achar que era preguiça.

9. Então peguei a senha para agendar os meus exames. Eu sentei e fiquei olhando para as pessoas, seus movimentos, suas expressões. Também olhei para as paredes e vi um belo painel com fotos de pessoas. E me dei conta que Udo Dohler é excludente até no painel. Pareciam fotos do Facebook. Só gente rindo, feliz. Achei bonito. Mas nenhuma pessoas com deficiência... Fui chamada. Demorei para perceber que era eu. Quase perdi a vez... a recepcionista precisou chamar duas vezes. Então sentei em frente ao computador entreguei minha solicitação. Eram 9h17min e a menina da recepção gentilmente explica que não tem como marcar meus exames porque a cota do dia terminou e que somente na segunda-feira às 7 horas da manhã nova cota será liberada. Orientou-me a voltar nesse dia.

10. Aí meus pensamentos voaram para 2012, quando fui gestora e que os exames eram na hora. Mas agora são os tempos de Udo Dohler e ele cortou 65% do orçamento. Eu com as dores... vim para casa. Se eu estivesse trabalhando teria perdido três dias de trabalho para ir à unidade de saúde. Como ficaria minha situação no trabalho?

11. Porque as unidades de saúde ficam abertas ao meio-dia se o exame que eu preciso marcar só pode ser às 7 horas. E tem que estar no limite do horário, porque às 8 e pouquinho terminam as cotas para a cidade inteira?

12. Porque tão poucos funcionários para atender toda a demanda? E quando elas adoecerem quem vai devolver a saúde?

13. Enfim, só restou esperar segunda-feira para ir marcar o exame. Mas se o gestor estivesse preocupado com a economia, teria assegurado que meu problema fosse resolvido antes. Por quê? Porque a cada vez que vou a unidade gero mais custos para o SUS. Porque utilizo toda a estrutura de saúde da unidade, luz, água, funcionários, etc. Recursos que, se fossem utilizados uma única vez, tudo bem. Mas três para a mesma finalidade? A economia burra de Udo Dohler e sua equipe não dá conta de enxergar isto.

Tem cocô no prraia das ricos


POR BARON VON EHCSZTEIN
Guten Tag, minha povo.


Tá quente, nón? Eu estou aqui na Balneárrio Camborriú, o praia das ricos e dos milionárrias de Xoinville. É um marravilha, porque aqui nón entrra kommunisten e nem pobres. Eles vón tudo parra os praias do povón, lá onde pode levá frango com farrofa e levá a rádio para tocá aquela desgraça de música de botucudas… axé, fanque e sertanexa universitárria.

…das Leben ist kein Ponyhof. Mas fico aqui a pensar. Por que serrá que a xente compra apartamentos de milhõns de real no beirra do prraia e depois nunca vai no água. Ah… é porque tem… como chama aquele coisa… ah… coliformes fecais. É uma nome engraçada para dizer que tem cocô no água. Scheiße. Nón dá parra tomar banho. A xente fica aqui uma mês inteirrinho e nón põe os pé lá.

Otro coisa que deixa com o pulga atrás do orrelha. A xente constrói aquelas arranha-céus da alturra da mundo e depois fica sem praia, porque só tem sombra. Hopfen und Malz ist verloren. Nón tem praia e ficamo tudo branquela. Mas tá tudo certa: porque aqui não é lugarr daqueles povo mais escurrinha. Voll geil!

Palavra de barón. Kleinvieh macht auch Mist.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

De carneiro que recua, espere grande marrada

POR ET BARTHES

Uma coisa é certa. As ovelhas alemãs não são cordeirinhos. Surpreendidas e assustadas por um carro na estrada, acabam por se virar contra o pastor. As imagens têm mais de um ano, mas ainda impressionantes.


quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Verão e coliformes fecais












POR RAQUEL MIGLIORINI
Em matéria veiculada na mídia nacional, Santa Catarina foi destaque pela balneabilidade de suas praias, ou melhor, pela não balneabilidade. As análises de coliformes fecais (bactérias presentes no intestino de mamíferos, incluindo os humanos) ficaram  acima do permitido em 70% dos pontos analisados nas praias catarinenses perto do período de festas e melhorou um pouco na primeira quinzena de Janeiro.

Sabemos que a quantidade de turistas que visitam o litoral catarinense no verão agrava a situação mas essa desculpa não é mais aceitável. Existem tecnologias para estações de tratamento de esgoto doméstico que permitem usos intermitentes, ou seja, podem ser ativadas na temporada e desativadas ao longo do ano para diminuição de custos.

Em setembro de 2016, a prefeitura de Balneário Camboriú inaugurou a Passarela da Barra, ou passarela do “seu” Maneca, em homenagem ao senhor que fazia o vai-e-vem de passageiros pelo rio que dá o nome a cidade. Foram gastos R$ 30 milhões numa passarela. 

Ficou bonita, tem obras e fotografias em exposição, mas garanto que o “seu” Maneca ficaria muito mais feliz se esse dinheiro todo tivesse sido utilizado na coleta e tratamento de esgoto que é despejado diariamente no rio que ele tanto cuidou. Usando como exemplo um sistema de tratamento de efluentes, como um reator anaeróbico, e a instalação da rede coletora para cerca de 5000 habitantes, o custo seria de aproximadamente R$ 8 milhões. Seria uma aplicação mais digna dos recursos públicos. Agora, aquela pergunta básica: o que aparece mais, a Passarela sobre o rio ou um monte de tubos enterrados?

Balneário Camboriú tem mais da metade das praias centrais poluídas e culpa a falta de chuvas pelo alto índice de coliformes na água ou o excesso de chuvas pelos surtos de viroses e leptospirose. A solução encontrada pela antiga gestão para se livrar do esgoto doméstico, seria a construção de um emissário para jogar os efluentes em alto mar. Desconheço proposta mais indecorosa e arcaica. Mas talvez tenha surgido porque uma estação de tratamento, por menor que seja, pode ocupar um terreno onde caberia um prédio. E isso, naquela cidade,é inconcebível. Aliás, esse estilo contaminou Itapema, Penha e demais cidades dos arredores. E bota contaminação nisso.

De nada adianta a indignação dos catarinenses, contestando os dados e dizendo que no Nordeste a situação é pior. Não é. Santa Catarina precisa se livrar do coronelismo que assola sua beleza natural e cuidar do seu quintal, escolher governantes preocupados com a preservação ambiental e que tenham a visão mais avançada em relação ao turismo e desenvolvimento urbano. Se não, corremos o risco de afundar no que está sendo jogado direto no mar.