segunda-feira, 17 de agosto de 2015

A tocha



Na segunda seguinte ao domingo em que o joinvilense ficou divido entre sair à rua para protestar contra tudo e contra todos ou ficar twittando contra, publico um texto sobre o que faz mexer os joinvilenses.


A tocha

A população deseja médicos especialistas para realização de consultas. E o prefeito, a tocha.
A população deseja cirurgias que aguarda há muito tempo. E o prefeito, a tocha.
A população deseja a ampliação da rede de saneamento básico. E o prefeito, a tocha.
A população deseja vagas nas creches para suas crianças. E o prefeito, a tocha.
A população deseja obras para redução dos alagamentos. E o prefeito, a tocha.
A população deseja a reabertura do mirante do Boa Vista. E o prefeito, a tocha.
A população deseja a duplicação da Avenida Santos Dumont. E o prefeito, a tocha.
A população deseja a licitação do transporte coletivo. E o prefeito, a tocha.
A população deseja que os parques públicos tenham segurança e iluminação. E o prefeito, a tocha.
A população deseja mais obras e menos publicidade. E o prefeito, a tocha.
A população tem outras prioridades. E o prefeito, a tocha.

Em homenagem ao Johnny Storm (Tocha Humana).

Em tempo, cada Joinville tem o prefeito que merece e cada Brasil tem o presidente que merece. Há quem acha este governo ótimo e não tolera nem críticas, nem outras manifestações que não sejam as de loa e apoio incondicional. São os arautos da democracia, os que a querem tanto que a querem toda só para eles.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Barulho da Chuva #9


Religião e política: um debate necessário

POR VALDETE DAUFEMBACK

Religião e política. Embora o ditado popular diga que são temas que não se discutem, considero, indiscutivelmente, duas de minhas paixões sempre à espera de um bom debate em qualquer espaço e tempo. Talvez esta disponibilidade esteja arraigada aos valores assimilados na infância, por viver em uma comunidade herdeira de conduta moral religiosa medieval com seus ritos, obrigações, símbolos e representações do lugar destinado à alma após a passagem nesta vida terrena.

As forças poderosas destes espaços, deus e o diabo, cada qual com suas legiões, na concepção religiosa travam uma luta constante entre o bem e o mal, constituindo-se duas condições imperativas de escolha aos humanos. Mas se são apenas duas em que uma está condicionada à outra, surge a dúvida quanto ao livre arbítrio, o que já se constitui uma transgressão, indicando a satisfação do diabo e a derrota de deus.

Neste ponto, a dúvida sinalizava a encruzilhada entre a religião e a política. A mera crença perde espaço para a reflexão e a representação destes dois poderes passa a dispor nova interpretação. Significa, portanto, que deus e o diabo formam a elite, a qual decide o destino dos humanos. Como resultado tem-se a rebeldia e o desejo de participar das decisões que conduzem a sociedade, independente de crença religiosa, raça, cor e gênero. Este é um ato político mais significativo da história humana.

Da manifestação da dúvida à participação popular e a formação do Estado laico, a política consagrou o direito de expressão e de pensamento em estado de rizoma, quebrando as verdades inquestionáveis com a multiplicidade de escolhas e de identidades. A árvore de onde se acreditava originar o bem e o mal, com suas raízes milenares, depois do encontro com a ciência, com grupos étnicos, gêneros e suas possibilidades de trânsito, não se admite mais que se constitua um único pólo soberano com suas verdades acima do bem comum, da vontade democrática da convivência humana.

Quando o poder religioso, utilizando-se de traquejo político, não respeita as decisões democraticamente dispostas pela Constituição Federal (Estado laico), proporciona a quebra de confiança nos representantes eleitos para conduzir a estabilidade e harmonia social. Ao assumir uma postura autoritária de negar à sociedade o direito de se expressar para incluir nos currículos escolares temas em favor das minorias em nome da paz social por meio da compreensão da diversidade cultural, étnica e de gênero, estes representantes eleitos jogam na lata do lixo a Constituição Federal, o seu compromisso com a população e a esperada postura ética.

É cada vez mais corrente a presença de representantes políticos que, pautados em um livro que dizem sustentar a teoria da árvore do bem o do mal (a qual classifica, condena e elege valores considerados essenciais aos escolhidos), excluem do debate temas da realidade social e preferem olhar o mundo pela ótica bipolar das relações sociais e atribuir à família a responsabilidade dos conflitos resultantes da intolerância.

Este retorno da crença religiosa sobrepondo à política dentro poder legislativo constitui-se um perigo à sociedade. Abre portas para a volta da inquisição e para legitimar as agressões contra aqueles que não se enquadram nos critérios da verdade inquestionável pregado por grupos dotados de mentes odiosas em nome deus.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

O “16 de Agosto” é para tontinhos


















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Faz algum tempo publiquei, aqui mesmo no Chuva Ácida, um texto com 10 razões para antever o fracasso do “15 de Março”. Foi na mouche. Não vou repetir a fórmula do decálogo, mas estou muito à vontade para prever que o “16 de Agosto” será outro fracasso. E ainda pior que o anterior. Por todas as razões enumeradas em março e por algumas recentes que fazem muita diferença. O que mudou de lá para cá?

Há alterações no xadrez político. Os donos do capital saíram a campo para afirmar que esperam bom senso e equilíbrio. Uma nota conjunta assinada por Paulo Skaf, presidente da FIESP, e Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, presidente da FIRJAN, afirma que “o momento é de responsabilidade, diálogo e ação para preservar a estabilidade institucional do Brasil”. Os empresários temem o caos e enviaram o sinal: tomem juízo.

E mais. Também parece haver uma mudança no comportamento da velha mídia, que entrou em processo mitótico. De um lado, os veículos que acreditam ter viabilidade econômica, como a Globo e a Folha, que parecem rever as suas posições*. A lógica é simples: a instabilidade política contagia a economia e ninguém ganha com isso. Outros, que estão a um passo do abismo financeiro, como a Veja, apostam no caos pois só podem sobreviver em ambientes mais lassos.

Com a posição expressa pelos empresários a favor da estabilidade política, perde-se qualquer réstia de argumento. E sem o incitamento da velha mídia – todos lembramos do esforço para levar pessoas às ruas em março – o pessoal do oba-oba não será mobilizado. Ou seja, o movimento será feito apenas pelo pessoal do ódio de classe e do “quanto pior, melhor”. Em resumo: só os tontinhos  vão sair às ruas. 


Enfim, pelas razões apontadas em março (ver aqui) somadas às apresentadas hoje, só resta uma conclusão: o “16 de Agosto” será apenas um circo de ódio, irracionalidade e tonterias. Mas com menos gente ainda.

É a dança da chuva.

* Em se tratando do Globo melhor ficar com um pé atrás.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Cidades, soluções e cidadania

Ciclistas protestam e propõem ideias para melhorar o trânsito
POR FELIPE SILVEIRA

Embora eu me identifique e seja identificado como um comunista que deseja a revolução, não a espero. Não deposito minhas fichas nesta ideia e nem acho que o advento de uma vá resolver meus problemas do dia pra noite. Pelo contrário, se acontecesse, meus problemas se multiplicariam. Por outro lado, mesmo que eu não me considere um reformista, no sentido clássico, acredito que uma grande mudança só pode ocorrer devagar, etapa por etapa, um pouquinho aqui, outro ali e mais um acolá.

Um bom exemplo é o trânsito. As pessoas só vão deixar de matar umas às outras e a deixar de se matar (por estresse, doença, acidente, brigas...) a partir de diversas mudanças que levem a humanização do ato de se locomover.

Não adianta esperar, pois não vai rolar um decreto que determine a paz no trânsito. Mas outros podem acontecer, como um decreto sobre a construção de ciclovias; e outro que diminua a velocidade para 30, 40 ou 50 km/h; ou mais um sobre melhores calçadas (que estimulem o deslocamento a pé). Outras mudanças não dependem do governo, como a instalação de bons vestiários para que trabalhadores possam ir de bicicleta ao trabalho. Mudanças em outros áreas podem influenciar, como a geração de empregos nos bairros, tornando o deslocamento mais curto.

Com a saúde e a segurança pública é a mesma coisa. Não adianta pensar que contratar médicos e policiais vai resolver os problemas. É preciso transformar (humanizar!) a formação nas duas áreas. Na saúde também é preciso mudar os hábitos alimentares da sociedade, alterar a forma de produzir alimentos, gerar interesse por atividade física que desenvolva a saúde e promover ações preventivas.

A saúde da população também melhoraria muito com mudanças no trânsito, já que todos os dias chegam muitos acidentados nos hospitais, o que sobrecarrega, e muito, a fila. Dessa forma, com apenas uma mudança - a diminuição da velocidade máxima permitida, por exemplo -, haveria diminuição da fila na saúde.

A segurança pública também não se resolve com o aumento da repressão, com instalação de equipamentos (cerca elétrica, câmeras etc.) ou prisão em massa da população negra e pobre. Já a descriminalização das drogas, proposta defendida até por FHC, tem se mostrado uma ótima forma de combater a violência gerada pelo tráfico. O Uruguai e o Colorado (estado norte-americano) são bons exemplos da mudança. Justiça social, melhor distribuição de renda e educação com oportunidades também são necessárias para diminuir a violência que é movida pela busca do lucro.

Aliás, é justamente pelo combate à violência que é importante a inclusão de temas e ações sobre minorias na educação. A população LGBT, a comunidade negra, imigrantes, pessoas com deficiência, pessoas com obesidade, mulheres e outras diversidades da sociedade sofrem uma quantidade muito maior de violência em toda a sua vida, tanto física quanto psicológica. Elas apanham, são assassinadas, são preteridas em qualquer coisa que disputem por serem o que são. Estes problemas não serão resolvidos sem a inclusão da discussão na escola, na mídia, no bar com os amigos e nas famílias. Pelo visto, a Prefeitura e os vereadores de Joinville não se importam, já que não incluíram ações e discussões sobre o assunto no Plano Municipal de Educação. Saiba mais sobre o assunto no texto de Pedro Henrique Leal.

Não se trata, aqui, de dizer que as únicas possibilidades de mudança sejam as pequenas, mas de começar a ver as pequenas como parte de algo maior. Elas servem como forma de engajamento, de puxar as pessoas para as causas. E, uma vez que alguém se torna um militante de uma, dificilmente para naquela, dificilmente fecha a cabeça novamente.