POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Não sou e nem quero ser urbanista. Mas sou um cara que gosta de cidades e que tem algumas ideias a respeito. Sempre do ponto de vista do usuário, claro. A minha visão sobre mobilidade nas urbes é a mais óbvia possível: primeiro as pessoas, depois as bicicletas, os transportes sobre trilhos, os transportes coletivos sobre rodas e, finalmente, os carros. Nem mais.É o que tenho visto nos lugares da Europa que vou visitando com o tempo. As melhores cidades são aquelas em que eu não preciso de carro. Cidades com enormes espaços para os pedestres. Mas não estou a falar de calçadõezinhos mixurucas como fazem nas cidades brasileiras. São espaços pedonais a sério, amplos, onde as pessoas caminham, fazem compras ou apenas sentam numa esplanada para tomar um café.
E em quase todas as cidades das quais mais gosto há um ponto em comum: o metrô de superfície, aquilo que aí no Brasil chamam VLT - Veículo Leve sobre Trilhos. É o transporte civilizado por excelência. No entanto, sempre que toquei no assunto, aqui no blog ou no jornal A Notícia, as pessoas arranjaram as mais esfarrapadas desculpas para não discutir o assunto.
- É caro.
- Não se adequa a Joinville.
- É coisa para o futuro.
Ou seja, é a lenga-lenga do imobilismo provinciano, de gente que nunca pôs o traseiro num veículo desses e que sequer viu o sistema a funcionar. E o pior: é gente que faz o jogo do poder público, que assim se vê livre da obrigação de pôr o assunto na agenda. Afinal, instalar um sistema de metrô de superfície é algo complexo e vai para além dos períodos de quatro anos das urnas.
Aliás, esse é o maior câncer das administrações municipais do Brasil. Não há visões de longo prazo. Porque o prazo mais distendido é sempre de quatro anos. Tudo o que demande mais tempo do que as urnas é logo posto de lado. Porque n0 Brasil governar é trabalhar para a reeleição.
Mas como sou um sujeito insistente, hoje vou fazer uma espécie de reportagem fotográfica a mostrar os lugares onde vi que a coisa funciona, sempre com o tal VLT a fazer interface com outras formas de transporte.
AMSTERDAM - Para começar, a foto mostra uma realidade mais ampla: não apenas o VLT, mas interfaces com vários sistemas transporte (tendo em consideração as especificidades locais), sempre de forma a facilitar a vida das pessoas.
ALMADA (LISBOA) - É a minha cidade. Faz o interface com o trem, ônibus e o barco no rio Tejo (da minha casa ao barco gasto cinco minutos). O projeto começou há uns 25 anos. E faz apenas cinco anos que entrou em funcionamento. A prova de que leva tempo implantar um projeto assim.
BOURDEAUX - Numa zona dedicada aos pedestres, a única interferência é a dos trilhos do metrô de superfície, que aparece lá ao fundo. Se olhar ali à direita vai ver um táxi-bicicleta para tours pela zonas pedonais da cidade. Tirei a foto em preto e branco (Bourdeaux pede fotos nesse tom), mas é recente.
BUDAPESTE - Os húngaros vivem um processo de modernização das suas estruturas, mas ainda mantêm estes veículos do período soviético. O sistema ainda tem carências, mas a base para trabalhar está feita. Também há os veículos novos, mas mostro este antigo porque parece mais charmoso.
LISBOA - O elétrico (é o nome do bondinho) é um antigo sistema usado nas ruas mais estreitas das colinas de Lisboa. Mas essas linhas antigas - onde o bonde concorre com os carros - acabaram por se tornar um ícone da cidade e foram mantidas. A Carreira 28, essa da foto, é viagem obrigatória para qualquer turista.
OSLO - Apesar de ser capital de um país, Oslo é uma cidade pequena, como pouco mais de 600 mil habitantes na sua área urbana (no total são mais de 1 milhão). Mas você pode contar com um eficiente sistema de metrô de superfície e de subway. E atenção à promessa de cumprimento de tempo: 5 minutos.
SEVILHA - É uma das cidades mais interessantes da Espanha - em especial no verão - e a as autoridades têm investido no VLT como forma de melhorar a mobilidade local. Posso estar enganado, mas parece que as obras foram rápidas por lá.
RABAT – Uma contribuição do Jordi Castan, que
apresenta a solução em Rabat, capital do Marrocos. Nunca estive na cidade, mas
se até na África as autoridades acordaram para a solução, difícil entender que
no Brasil ainda achem que é coisa do outro mundo.