terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Enriquecer os fabricantes de armas


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Quando houve o massacre de crianças em Newtwon, o presidente norte-americano Barack Obama reafirmou uma promessa de campanha: a intenção de desenvolver ações para controlar a posse de armas nos EUA. Há poucos dias, depois de ter tomado posse para o segundo mandato, anunciou um pacote de medidas que pretendem acabar com as sucessivas matanças nas escolas.

Entre as propostas, destaque para quatro medidas específicas:
- Eliminar os problemas operacionais que impedem a verificação de antecedentes criminais e acabam permitindo que as armas caiam em mãos perigosas.
- Proibir o uso privado de armas de assalto, próprias para militares e com alta capacidade de fogo.
- Tornar as escolas mais seguras.
- Melhorar o acesso a serviços de saúde mental.


Barack Obama pediu ao Congresso para aprovar o pacote de leis, mas sabendo que os piores inimigos dessas medidas não seriam os opositores republicanos, muitas vezes movidos por interesses que beiram o irracional. A reação mais estridente não demorou a aparecer e veio, claro, do lado da NRA - National Rifle Association, lobby da indústria de armamentos, que acusa o presidente Barack Obama e o vice Joe Biden de serem inimigos da liberdades civis.


Wayne LaPierre, diretor executivo da NRA, não demorou a vir a público para uma declaração que, como seria de esperar, estava carregada de conceitos bélicos. E usa os mesmos argumentos que estamos habituados a ouvir dos defensores das armas no Brasil. Afinal, em todos os lugares há pessoas que acreditam ser possível combater incêndios jogando gasolina. Mas vejamos o que disse o monsieur LaPierre. 


- "Acreditamos que merecemos e que temos todo o direito de ter as mesmas liberdades
que os líderes do governo tem e as mesmas capacidade e as mesmas tecnologias que os criminosos usam para nos atacar e para atacar as nossas famílias. Isso significa que acreditamos no direito que temos de nos defender, de defender as nossas famílias com tecnologia de armas de fogo semiautomáticas".


Não é um argumento genial? O homem alega que é preciso ter, em casa, armas iguais às dos criminosos. O que leva logo a uma perguntinha básica: onde foi que os criminosos arranjaram as armas? Ora, o armamento que os criminosos possuem não foi fabricado na Catedral de Joinville. As armas foram produzidas por uma indústria cada vez mais agressiva em temos comerciais. Ou há outra procedência?


Quer dizer: os caras espalham o veneno pela sociedade e, na hora de falar na cura para o mal, propõem mais veneno. É um contrassenso ridículo, mas tem quem acredita nessa lógica. Os cidadãos que defendem a posse de armas acham que estão se proteger, mas de fato estão apenas a dar dinheiro aos fabricantes de armas, cujos escrúpulos merecem ser escrutinados. Ou melhor: estão a enriquecer os caras que ajudam a criar o problema para a sociedade.


O tal monsieur LaPierre vai mais longe e tasca aquele argumento surrado: "acreditamos no nosso país, acreditamos nos nossos direitos e acreditamos na Segunda Emenda da Constituição norte-americana na totalidade”.
O caras da NRA estão sempre a defender a tal da Segunda Emenda, que aponta para a liberdade de portar armas. Mas a leitura do texto permite outras interpretações e, inclusive, obriga à contextualização histórica.

O texto da emenda fala em "uma bem controlada milícia sendo necessária à segurança de um Estado livre, o direito do povo de ter e carregar armas não deve ser infringido". O problema é que a lei é de 1789, época em que as armas de fogo eram mosquetões. E também não parece que o Estado livre esteja em perigo nos EUA. Ou melhor, o Estado precisa é ficar livre de fanáticos perigosos como esse pessoal da NRA.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Ainda tem gente que lambe selos


POR ET BARTHES
Hoje em dia, as empresas têm que enviar correspondência para os seus clientes com a fatura a pagar. Como fazer com que eles optem por receber a fatura pelo e-mail, em vez de cartas pelo correio? A DDB da Nova Zelândia decidiu mostrar o trabalho do Lloyd, responsável por lamber 800 mil envelopes.


Resta a tristeza


POR FELIPE SILVEIRA

Não tinha como escrever sobre outra coisa nesta segunda-feira senão sobre a tragédia deste fim de semana em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, que vitimou fatalmente, pelo menos, 231 pessoas, sobretudo jovens. Nossa tragédia social é diária, mas essa, desse tamanho, tão próxima da nossa vida, não pode ser esquecida ou tratada de maneira leviana. E por isso é tão difícil escrever esse texto.

Falo de proximidade porque no momento da tragédia eu mesmo estava numa balada, aproveitando a noite, feliz da vida. Por isso, no momento que eu acordei e vi as notícias, não pude não pensar em como seria se tivesse acontecido comigo e com meus amigos na noite anterior. E acho que esse pensamento passou pela cabeça de muita gente. E, claro, não dá pra não pensar nos nossos pais, nos nossos irmãos, primos, amigos...

Como disse uma pessoa que eu admiro muito em uma rede social, a tragédia não pode ser tratada como exemplo, pois algo assim jamais deveria ter acontecido. Porém, ela nos faz pensar e tirar lições.

A primeira delas é em relação à infraestrutura. Eu, sinceramente, não imagino que isso possa acontecer em certos lugares do mundo, mais avançados neste quesito. Não dá para aceitar que locais como boates, ginásios estádios, escolas ou qualquer um que reúna mais de dez pessoas não tenha um planejamento para uma ação organizada no caso de uma tragédia, como um incêndio ou a ação de um atirador, como já ocorreu no Brasil e nos Estados Unidos. Nessa linha, dou parabéns ao prefeito Udo Döhler, que já iniciou uma ação de fiscalização no município.

É fundamental, neste momento, que todo o Brasil se volte para trabalhar na prevenção deste tipo de situação. O momento é de tristeza, mas também é de trabalho. E isso, diferente de tragédias como enchentes e desabamentos, depende muito mais da iniciativa privada do que do poder público. Hoje cedo ainda um amigo que trabalha com grandes eventos em Joinville comentou que muitos dos espaços utilizados em festas não contam com saídas de emergências adequadas.

Outra reflexão trazida pela tragédia é sobre o repugnante reflexo da nossa sociedade nas redes sociais, nos espaços de comentários. Desde o início do dia eu soube, pela revolta dos meus amigos, que havia muita gente fazendo piada sobre a tragédia. Ainda bem que ninguém que eu conheço fez isso. Acabava a amizade, se fosse uma, por ali mesmo. E não preciso nem explicar a razão.

Outra coisa muito triste são os comentários dos fanáticos religiosos que comentam em matérias dos portais de notícia que “se as vítimas estivessem em uma igreja isso não teria acontecido”. Neste momento, eu, que sou cristão, tenho a maior vergonha do mundo. Não só por ser cristão, mas também por ser humano e saber que outro pode dizer uma coisa dessa. Assim como também não consigo acreditar nessa gente que compartilha e retuita as fotos dos corpos carbonizados.

A terceira coisa que me chama a atenção é o sensacionalismo dos jornais. Sobre isso, porém, eu não vou me alongar porque, particularmente, não considerei dessa forma a cobertura que acompanhei. Soube, porém, de relatos de outras coberturas. Uma tragédia dessa dimensão não precisa que a cobertura induza o espectador a chorar ou ficar indignado. Ela já é grande demais e fez isso com todo o Brasil hoje.

Para finalizar, só quero dizer desejar força aos amigos e às famílias, principalmente aos pais das vítimas. Para muitos os próximos dias e meses não serão fáceis, mas para eles o resto da vida será muito difícil. Para todos nós, neste momento, resta a tristeza.

domingo, 27 de janeiro de 2013

São maluquices, mas existem

POR ET BARTHES
É tudo inacreditável. Mas o autor do vídeo garante que existem. Vejam a maluquice do "engenho" humano.




A barriga de Chávez

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Quando as pessoas querem acreditar numa coisa, na maioria das vezes acabam reféns desse desejo. Foi o que aconteceu com o pessoal do jornal espanhol El País esta semana. Quem, como eu, lê a publicação todos os dias sabe que há uma linha editorial hostil ao presidente venezuelano Hugo Chávez e ao que chamam chavismo. E quando viram a foto oferecida pela agência Gtres Online, os editores do jornal  não tiveram dúvidas em publicar uma reportagem a revelar “o segredo da doença de Chávez”.

A foto mostrava o presidente cheio de tubos e em agonia. Mas havia um bônus. A imagem supostamente teria sido captada por uma enfermeira cubana que a enviou para uma irmã que vive na Espanha. A identidade da tal enfermeira não poderia ser revelada, por medo de represálias do governo cubano. Era dois em um: mostrar Chávez agonizante e uma referência sobre o autoritarismo cubano, que impede a liberdade de expressão.


O resultado foi um barrigão do tamanho do mundo. Para o leitor e a leitora menos familiarizados com o jargão jornalístico, barriga é quando uma informação é divulgada como verdadeira mas não passa de conversa para boi dormir. E logo a seguir veio a informação, através das redes sociais, de que não era Hugo Chávez na imagem: era a foto de uma cirurgia a outro homem, parecido com Chávez, mas que nada tinha a ver com o episódio.

O El País tirou a imagem da internet e parou a impressão dos jornais, mas alguns exemplares já tinham vindo a público. 
Os assessores mais próximos do presidente Hugo Chávez não demoraram a protestar, acusando a publicação de participar de um complô com a oposição venezuelana. Mas justiça seja feita: no dia seguinte, o jornal pediu desculpas pela barrigada, num extenso texto publicado tanto online quanto em papel.

É mais um episódio a mostrar que o fenômeno das fotos adulteradas é um problemão. E em tempos de redes sociais a coisa pode fugir do controle, porque as pessoas acreditam no que querem acreditar. Aliás, vale uma lembrança. Foi o que aconteceu há pouco tempo, quando um colunista da Veja publicou uma foto manipulada do ex-presidente Lula abraçado com a mulher, Marisa Letícia, e a funcionária da Presidência, Rosemery Noronha.


Só que no caso brasileiro, descoberta a barriga, houve apenas um tímido desmentido.
O pior é que ainda hoje a foto circula por aí como sendo verdadeira. Porque há pessoas que querem acredita e, nesse caso, a veracidade dos fatos não interessa.

P.S.: Para os leitores anônimos, O texto não pretende discutir se Chávez é bom ou mau. O tema é a barriga do El País.