segunda-feira, 7 de maio de 2012

Os licenciadozinhos contra o doutor Lula

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O tema já provoca imenso tédio, parece um eterno retorno. Lula recebeu mais cinco diplomas de doutor honoris causa na semana passada, no estado do Rio de Janeiro. E não demorou para aparecer, nas redes sociais, o costumeiro chorrilho de besteirol. Tem neguinho que não perdoa e surge logo com aquelas merdices de “não pode: eu estudei, ele não”. Nem foi preciso ir muito longe para encontrar gente a falar com o fígado.

Eis alguns exemplos:
- "Ridículo. Ao lado de Dilma, Lula recebe títulos Honoris Causa no Rio. Ex-presidente foi homenageado por cinco universidades".
- "Lula disse que não teve tempo para estudar. Não estudou porque não quis. E a incultura sempre foi útil ao seu personagem".
- "Por isso Lula não desgruda do Sírio-Libanês: dão-lhe tantos títulos de doutor, que o cara já acha que pode clinicar".

Ora... é gente que, do alto da importância de um diplominha qualquer, julga ter relevância intelectual suficiente para dizer ao mundo o que é certo e o que é errado. Aliás, só num país como o Brasil - onde ter diploma ainda é um privilégio - esse ranger de dentes dos descontentes ainda pode ter guarida. Posso garantir, leitor e leitora, que não é assim nos lugares civilizados.

Os caras que reclamam das homenagens a Lula são, na maioria dos casos, licenciadozinhos que se julgam especiais apenas porque têm um canudo para pendurar na parede. É uma marca deplorável na história do Brasil - e que estranhamente persiste ainda hoje. O cara tem um diploma qualquer e acha que deve ser considerado um herói.


Não, amigo, você não entendeu o enredo da história. É por isso que no Brasil ainda existem uns tipos - dentistas, advogados, engenheiros e psicólogos, por exemplo - que se acham merecedores do vocativo “doutor”. O problema é que o “doutor” dessa gente não é um título acadêmico, mas um título que tende para o nobiliárquico. É um símbolo de distinção social.


O meu ponto de vista é o seguinte. Se você é doutor (com doutorado) vou considerar a sua opinião sobre o tema dos títulos concedidos a Lula. Sou capaz de entender se, por acaso, você reclamar da injustica, porque teve que estudar muito para chegar a um título. A questão é que nunca vejo um doutor (com doutorado, repito) a reclamar quando Lula recebe uma homenagem pela sua trajetória política. Até porque honoris causa é, como o próprio nome diz, um título honorífico.


Ora, acho que os doutores (com doutorado, repito) entendem que um ex-metalúrgico pode saber muito mais que eles num determinado campo de saber. Porque conhecimento é algo que também se adquire com a vida, com a experiência. Para ler o mundo não basta apenas ler livros. Lula já governou uma das maiores economias do mundo, já tuteou as pessoas mais relevantes ao nível planetário e já tomou decisões que afetaram a vida de milhões de pessoas. Isso vale um curso universitário.


Mas mesmo assim, ainda hoje tem gente a insistir na ideia elitista de que a educação passa apenas por roçar o traseiro nos bancos escolares. É claro que a educação acadêmica é importante, mas não é tudo. E se eu tivesse que ouvir uma aula de Lula sobre os assuntos que ele conhece, com certeza não perderia a oportunidade. Não posso dizer o mesmo dos licenciadozinhos arrogantes que não conseguem ver o óbvio e vivem agarrados à "importância" do próprio canudo.



domingo, 6 de maio de 2012

Os parisienses, esses simpáticos

POR ET BARTHES
E como hoje devemos ter um novo presidente na França, que tal um post a mostrar a simpatia dos parisienses? Quem já foi a Paris conhece esse dom que os parisienses têm de ser simpáticos. É aqui é um dos jornais da cidade a dizê-lo numa campanha publicitária.






MELHOR E PIOR - Semana 5


sábado, 5 de maio de 2012

A arma faz diferença para matar amigos?

POR ET BARTHES
Se você mata os seus amigos, não importam as armas. Eis uma mensagem simples e direta para quem bebe e sai para as estradas.


O mundo quer internacionalizar a Amazônia?*

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Ok... pode parecer teoria da conspiração. E há coisas que passam ao lado da opinião pública brasileira. Mas o fato é que o mundo está de olho na Amazônia. Sabem aquela história de ser o "pulmão do mundo"? Muita gente em outros países acredita nisso e acha que, se é o pulmão do mundo, então deve pertencer a todos cidadãos do planeta.


Faz algum tempo, fiquei estupefato ao ouvir numa rádio de Lisboa um programa que, com a participação dos ouvintes, discutia a internacionalização da Amazônia. O debate surgia na sequência de notícias que davam conta da destruição das florestas da região. O tema é relativamente frequente na imprensa mundial, mas naquela época repercutia um artigo publicado no jornal inglês "The Independent", sob o título "Sentença de morte para a Amazônia". É uma coisa que assusta o mundo.


A pensar nisso e nos fatos recentes, ficam perguntas. Que mensagem os políticos brasileiros vão passar para o exterior com o novo Código Florestal? O que o mundo vai pensar de fazendeiros a avançar sobre as florestas? As outras nações vão assistir, impassíveis, à ocupação e destruição de zonas ainda intocadas na região amazônica?
Quem nunca ouviu falar num suposto plano para a internacionalização da Amazônia? É um tema controverso e há posições para todos os gostos: há os que levam a sério e há os que acham pura balela.

O que mais surpreendeu no programa de rádio de Lisboa, cuja audiência é composta por formadores de opinião e segmentos de públicos mais esclarecidos, foi o grande número de pessoas favoráveis à tal internacionalização, sob o argumento de que a área é de interesse mundial. A lógica é a seguinte: se os brasileiros não sabem preservar as riquezas naturais da Amazônia, é justo que outras nações assumam a tarefa.


Foi o que causou estupefação. É claro que não se deve tentar avaliar a opinião pública a partir de um grupo de amostragem tão pequeno como os ouvintes que telefonam para uma rádio. Mas a verdade é que surgem indícios de que, numa situação extrema, talvez não seja tão difícil obter o apoio da população mundial para a tal internacionalização.


O que nos traz a esse assunto? É que a região amazônica mantém imensas riquezas em termos de biodiversidade e não se pode negar que haja quem esteja de olho nesse potencial. Não apenas pela flora e pela fauna (a biopirataria é tema atual), mas também por seus vastos recursos minerais e hídricos.



Nunca é demais lembrar as previsões de que num futuro próximo a água será um bem estratégico, como hoje é o petróleo. E a Amazônia é uma das regiões mais ricas do mundo em termos hídricos e em biodiversidade. Paranóia? Talvez. Mas o petróleo tem sido o motor de muitas guerras... 


Teoria da conspiração? Não sei. Mas, de qualquer forma, é sempre bom seguir o exemplo dos jogadores de xadrez e tentar pensar alguns lances adiante. Podemos, portanto, fazer algumas perguntas. E se um dia a guerra for pela água? E se as potências hegemônicas estiverem mesmo de olho na biodiversidade da região? E se for criado um clima internacional que legitime uma intervenção para "preservar" a Amazônia? E se a opinião pública for favorável? E se...

Há mais perguntas do que respostas. Pode parecer um excesso, mas é melhor não deitar em berço esplêndido.



Veta, Dilma.


*Adaptação de um texto publicado no jornal A Notícia em 2003.