quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A barba do sapo barbudo

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO


A ideia era evitar o assunto. Mas parece que a coisa ganhou contornos de fato jornalístico e, como toca na minha área de trabalho, fico à vontade para dar um pitaco. A notícia seria de que Lula teria recebido uma proposta de 1 milhão de reais da Procter & Gamble, detentora da Gillette, para cortar a barba com lâminas da marca.

Antes dos comentários, vamos aos fatos.

1. A notícia surgiu na coluna Radar Online, da revista Veja.

2. A Gillette negou que tal proposta tenha sido feita.

3. Até ao momento em que escrevo este texto ninguém conseguiu provar qualquer coisa nesse sentido.

4. Pessoalmente não sei se houve essa proposta. Li aqui e ali, mas sei tanto quanto qualquer leitor do Chuva Ácida. Ou seja, pouco.

Mas os fatos não interessam. O que interessa às pessoas é aquilo em que elas querem acreditar. Os que odeiam Lula acham que o cara é um safardana e que certamente fez alguma coisa errada. Os que defendem o ex-presidente acham que ele não chegaria ao ponto de deixar a imagem na mira dos detratores.

Em tempo de revolução digital, a opinião pública é baseada muito na emoção e pouco na razão. E passa a valer a lógica expressa na famosa frase atribuída a Nelson Rodrigues:

- Quando os fatos contradizem a minha opinião, danem-se os fatos.

Mesmo assim, vamos analisar os fatos.

É importante salientar que é uma notícia publicada pela “Veja” (poucas publicações de peso repercutiram a nota). Mesmo com o desmentido, a revista insiste na sua versão e diz que a fonte da informação seriam pessoas próximas. Aliás, parece que por lá as fontes são sempre “pessoas próximas”. Ah... o nome é “Veja”. E para bom leitor essa palavra basta.

O fabricante desmentiu a notícia. Mas como profissional de marketing fico a perguntar: e se a proposta realmente tivesse sido feita? Posso estar enganado, mas uma marca líder teria muito pouco a ganhar com uma associação ao câncer. Pode ser que não. Mas o risco parece ser muito maior do que os benefícios para a marca.

Mas os marketeers são seres tinhosos. E fico aqui a imaginar uma solução para criar um goodwill. Porque a percepção dos eleitores/consumidores sofreria uma reviravolta se Lula aceitasse (desde que com um certo recato) e o dinheiro fosse revertido para uma instituição de combate ao câncer. Seria um negócio onde todo mundo sairia a ganhar. Você ia reclamar?

Mas com Gilette ou sem Gillette, tem gente que achou oportunismo a publicação das fotos do ex-presidente sem cabelos e sem barba. Oportunismo? Não, gente. É jornalismo. Aliás, um fato tão relevante do ponto de vista jornalístico que jornais de todo o mundo publicaram as fotos.

Mas de tudo o que se fala e escreve, só uma coisa é certa: o sapo barbudo não tem mais barba.



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POR ET BARTHES

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A sociedade dos mutirões


Por JORDI CASTAN
Vivemos de mutirão em mutirão. O mutirão das cirurgias represadas, o da limpeza das praias, o da limpeza do Rio Cachoeira, o "tapaburacos", o mutirão disto ou daquilo. A pintura apressada dos meios-fios e a roçada do mato nos canteiros da Beira Rio antes do desfile do 7 de Setembro, são exemplos do nosso cotidiano. O mutirão é o reconhecimento da improvisação. É a celebração da falta de planejamento.

Um dia sim e outro também ignoramos a importância e a necessidade de planejar, de fazer as coisas de forma organizada e de algo tão básico como o manutenção preventiva. A falta de manutenção, e dos mínimos indicadores de eficiência e controle, nos faz passar pela vergonha de ver prédios públicos, sejam eles escritórios, escolas, bibliotecas, hospitais, consultórios, museus ou a própria Casa da Cultura, interditados pela vigilância sanitária ou por oferecer risco aos cidadãos.

O mutirão não é uma exclusividade do poder público. Quem não deixou para estudar na última hora? Quem não se lembrou do carro só depois que nos deixou na mão? Esta falta de previsão forma parte da nossa cultura. Deixamos cair aos pedaços para depois apresentar projetos de revitalização que custam dezenas de vezes mais que o que deixamos de gastar com a manutenção que não fizemos. Quem mora em condomínio sabe que muitos proprietários não querem gastar na manutenção do prédio que aos poucos se deprecia e exigirá recursos muito maiores para a sua recuperação.

O exemplo da Biblioteca Rolf Colin, que permanece fechada à espera de um projeto de uma nova biblioteca pode tardar lustros em se concretizar. Ou a Casa da Cultura que, sem recursos para sua manutenção mais elementar, agora sonha com um novo projeto de revitalização que custará milhões. O resumo é que não temos dinheiro para manter, mas nos lançamos a buscar recursos para construir obras que não poderemos manter. Não seria mais lógico manter melhor o que já temos? Estamos nos convertendo nos proprietários de um patrimônio público ruinoso e decadente. Como aristocratas arruinados que não podem manter o patrimônio que herdaram.

Não prever orçamento para a manutenção adequada do patrimônio público e não atender adequadamente as demandas por atendimento médico e limpeza de rios e córregos poderia ser considerada uma irresponsabilidade dos administradores. Mas os principais responsáveis são os que acreditam que o mutirão é a forma correta de administrar uma cidade.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Afinal, quem é o pai do parque?


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

É um fait-diver, claro. Mas acho que vamos ter que fazer um exame de ADN para definir quem é o pai do Parque da Cidade. Afinal, pelo que tenho lido, aqui e acolá, há pessoas que negam ser uma realização do governo Carlito Merss. E defendem que a paternidade é do ex-prefeito Marco Tebaldi. Ou seja, Tebaldi é o pai, Carlito apenas criou.

Ora, é um imbroglio genético que causa algum espanto. Afinal, na maioria dos casos são os pais que não querem assumir os filhos. Aqui é o contrário. Aliás, o parque ainda nem é conhecido por todos os joinvilenses e já provoca burburinho. Deu para perceber três grupos distintos a falar na questão.

UM - O primeiro grupo é o mais óbvio. É o pessoal ligado ao prefeito, que se esforça para passar a ideia de que, mais que um parque, estamos a falar de uma espécie de éden terrestre. Menos, senhores, menos. Mas dá para entender a euforia. Afinal, estamos a falar de um momento raro na atual administração: a inauguração de uma obra de porte.

DOIS - Um outro grupo é formado por pessoas que acham o parque uma necessidade, mas discordam da forma como foi projetado. É fácil entender. Porque, segundo argumentam, o parque não se parece com o que podemos considerar boas referências. Ou seja, parques mais humanizados, com mais natureza e menos concreto. Mas há uma atenuante: antes esse que nenhum.

TRÊS - O terceiro grupo é formado por pessoas ligadas – emocionalmente e sem interesses pessoais, claro – à antiga administração Marco Tebaldi. E mesmo confrontados com algumas evidências, rejeitam a ideia de que Carlito Merss é o responsável pelo projeto. Ok... leitor e a leitora, aposto que vocês devem estar a imaginar coisas terríveis: que essas pessoas estão louquinhas para voltar aos cargos públicos e blablablá. Nada disso.

Não sejam maledicentes, leitores. Eu garanto que é tudo feito por amor a Joinville e dedicação à forma de administrar do ex-prefeito. Sabe aquele pessoal que foi para as redes sociais dar repetidos parabéns ao prefeito Carlito Merss por ter executado uma obra da gestão Tebaldi? Não foi ironia. Eles estavam a ser sinceros. Afinal, para eles vale a lógica: a César o que é de César, a Tebaldi o que é de Tebaldi.

E mais. Se aquele radialista pergunta onde está o dinheiro deixado por Tebaldi para construir oito parques – e até agora só viu um – não há qualquer maldade ou interesse pessoal. É pura devoção, admiração e reconhecimento pelo talento de um líder político que tirou Joinville do atraso e pôs a cidade no futuro. Não é lindo quando as coisas são feitas sem qualquer interesse e com desapego?

DÚVIDA - Mas preciso confessar. Depois dos depoimentos dessa gente – que , repito, não espera benefícios pessoais e age por pura abnegação – fiquei em dúvida. Afinal, quem é o pai do parque?


P.S. – Sempre que alguém não entende uma ironia, morre um "callichirus major" na praia do Vigorelli.