sábado, 15 de outubro de 2011

Steve Jobs: um contra-revolucionário

Por MARIA ELISA MAXIMO

Num primeiro momento, minha reação à morte de Steve Jobs foi parecida com as muitas reações que pulularam na internet semana passada: "puxa, lá se foi mais um gênio". No dia seguinte, ler a declaração de Richard Stallman, um dos precursores do movimento software livre, me fez ver o fato sob outro ângulo, bem mais interessante, diga-se de passagem. Disse Stallman: Steve Jobs, the pioneer of the computer as a jail made cool, designed to sever fools from their freedom, has died (06.10.11).

Sim, é claro: a "revolução" tecnológica de Jobs destina-se a poucos, não gera partilha, fecha-se em si mesma. No extremo oposto, a cultura do software livre tem por princípio a liberdade: liberdade de utilização, de exploração, de distribuição (cópia) e de modificação (visando o aerfeiçoamento). Em outras palavras, a lógica do open source é, justamente, o antídoto para sistemas fechados e aprisionantes como o da Apple (e, também, é claro, o da Microsoft).

Sem ignorar seus méritos como designer, como bem lembrou Stallman, Jobs fez do computador uma prisão. Colaboração, compartilhamento, conhecimento livre - estas sim, expressões chave da cultura digital contemporânea - ficaram de fora nos inventos de Jobs. Rodrigo Savazoni, num texto para o coletivo Trezentos, traduz perfeitamente a distopia criada por Jobs: a do homem egoísta, circundado de aparelhos perfeitos, em uma troca limpa e “aparentemente residual”, mediada por apenas uma única empresa: a sua.

Se os sucessores de Jobs forem, como desejou Stallman, menos eficientes que ele, talvez estejamos na iminência de uma maior abertura para a cultura do compartilhamento e da colaboração, atravessada pelo verdadeiro "espírito hacker", ampliando os caminhos da revolução tecnológica de fato.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

É melhor mesmo?

POR JORDI CASTAN

Escolher candidatos comexperiência em trabalhos anteriores é uma boa opção? José António Baço pensaque sim. Que é melhor escolher candidatos que mostrem no seu currículoexperiência em ter trabalhado de forma produtiva.

Não tenho tanta certeza queo José António esteja certo. É só dar uma olhada para a carga horária que amaioria dos políticos cumpre, o tipo de atividades a que se dedica no exercíciodo cargo e, principalmente, a tranquilidade que é a sua jornada semanal. Nuncater trabalhado – ou tê-lo feito pouco – deve ajudar a levar uma vida como essa. Afinal,não fazer nada exige algum talento e preparação.

Tem que ser muito cara de pau para folgar com atranqüilidade que o fazem. É preciso desenvolver capacidade de abstração quasetotal, para passar horas a fio fazendo pouco. Ou pior, ainda tentando criar aimpressão, junto aos eleitores, de que a jornada está recheada de importantesatividades políticas e que a participação em cada uma delas é quase uma questãode segurança nacional.

Visto desde outraperspectiva, nunca ter trabalhado de forma produtiva pode ser considerado umdiferencial competitivo importante. Desocupados profissionais tem todo o tempodo mundo para fazer “politicagem”.

Machado e Gisele voltam

POR ET BARTHES


Duas notícias na mesma semana. O filme com Machado de Assis para a Caixa voltou ao ar com um pedido de desculpas e um ator negro a viver o papel do escritor. E o Conselho de Ética do Conar arquivou o processo caso do spot da Hope, estrelado por Gisele Bündchen, em decisão unânime. Agora só resta saber se a Hope vai veicular o filme novamente (a marca já deve ter feito um vox pop para saber o que as pessoas pensam).


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A arte da Mentira Política

POR JORDI CASTAN

Recentes estudos comprovam o que todos já estamos carecas desaber. Todos mentimos. A diferença reside na quantidade de vezes e no tamanhodas mentiras.

Mark Twain escreveu que “ ninguém poderia viver com alguém quefalasse sempre a verdade". E é hoje que a sua afirmação se mostraprofética.

Especialistas fazem questão de diferenciar as pequenas mentiras,aquelas chamadas caridosas, como, por exemplo, quando alguém próximonos pergunta: você acha que engordei? Ou os contadores de histórias, Quandotodos sabemos que tudo não passa de um exagero ou de uma fabulação, neste grupoé fácil encontrar pescadores e namoradores. Que não podem ser colocadas nomesmo nível que aquelas proferidas pelos mitômanos profissionais, aqueles quetem como objetivo enganar, burlar e se aproveitar da boa fé dos outros.

Neste quesito ninguém consegue um refinamento maior que os nossos políticos.Inclusive já em 1600 o escritor britânico Jonathan Swift escreveu o seu tratadoda "Arte da Mentira Política", livro de leitura obrigatóriaem curso de graduação e doutorado, que mostra com todo luxo de detalhes arefinada técnica que deve ser desenvolvida para poder mentir comprofissionalismo.

Além da teoria, a arte da mentira requer a prática. E só a práticadiária leva a perfeição. Entre as dicas que devem ser seguidas à risca pelosmitômanos profissionais, destacam a de não estabelecer prazos curtos para aspromessas que se façam, porque podem ser verificados pelos eleitores. Por istonão é recomendável dar datas exatas para inauguração de parques, praças, PAs(Pronto Atendimentos), o asfaltamento de ruas ou a construção de binários.Sempre é necessário deixar a porta aberta para o imponderável, como chuvas,desapropriações ou raios.

Outro tema que merece ampla discussão é se o povo tem ou não direito a saber averdade. A opinião geral é que o povo formado por gente ignara e poucopreparada, deve ser enganado sistematicamente, que não pode e não deve, peloseu próprio bem, ser confrontado com a verdade.

É verdade, contudo, que frente às mentiras contumazes dos políticosprofissionais, o povo responde com as suas. Numa ingênua forma de resposta eequiparação, comentando e fofocando, que fulano engordou no governo, quecomprou casa na praia, ou que uma vizinha assegura que a mulher fez umaplástica, paga por um empreiteiro. Há quem assegure que aquela ex-miss teriasido a sua amante. Mentiras tolas, que o povo usa para tentar se equiparar averdadeiros profissionais da dissimulação e da truanice.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Votar em quem nunca trabalhou?


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Vou direto ao ponto. Você acha que uma cara que nunca precisou matar um leão por dia – como a maioria das pessoas normais – está preparado para governar uma cidade como Joinville? Ou seja, você votaria num candidato que nunca trabalhou? Não sei o que vocês pensam, leitor e leitora, mas tenho as minhas dúvidas.

Um parêntese. Quando digo “nunca trabalhou” é óbvio que estou a falar de políticos profissionais. Gente que sempre – ou quase sempre – viveu da política. E tomo a liberdade de incluir aí os tipos que usaram os meios de comunicação, com passagens curtas ou não, para atingir a necessária popularidade.

Sou capaz de dizer, sem medo de errar, que há dois tipos de visão de sociedade. Há a visão do mundo real – onde habitamos eu, leitor e a leitora – que obriga a mostrar competência todos os dias para manter um lugar no mercado de trabalho. E há a visão do “mundo mamata”, que é onde os profissionais da política vivem.

SOLUÇÕES FÁCEIS – O olhar dos políticos profissionais sobre a sociedade é obviamente desfocado. Afinal, uma pessoa que nunca sentiu na pele as durezas do mundo real será incapaz de encontrar soluções reais para os problemas. Ou seja, quem está habituado a uma vida fácil só é capaz de encontrar soluções fáceis.

É sempre bom lembrar a frase atribuída a Anaïs Nin: “não vemos as coisas como elas são: vemos as coisas como nós somos”. Portanto, uma pessoa que sempre viveu na esfera do poder, com empregos que caem no colo por manigâncias políticas, só pode achar que é tudo muito simples.

Mas fica um alerta. Isto não quer dizer que eu esteja aqui a defender a ideia do empresário salvador. Nem pensar. É claro que esses tipos tem uma vida de trabalho. Mas por vezes estão habituados a ver o mundo tão lá do alto que os cidadãos comuns parecem formiguinhas. E quem sempre viveu no Olimpo por vezes só consegue descer ao mundo real com operações de cosmética do marketing.

NÃO É MOLEZA – Para terminar, fica a reflexão. O e-leitor e a e-leitora tem um ano para escolher. É tempo mais que suficiente para dar uma boa olhada nas biografias. Mas com muito cuidado, porque muitas dessas biografias – que aparecem cheias de virtudes – são escritas por marqueteiros.

Como escolher? Há muitas formas. Mas saber se o cara já teve que dar duro na vida é um bom critério. Afinal, a missão de governar uma cidade como Joinville não é moleza.