Impossível não sentir um aperto
no peito ao ver a imagem daquele pequenino ser humano, inerte, de bruços,
morto, nas areias da praia de Ali Hoca, Turquia. Choca ver uma vida toda pela
frente ser afogada pela infâmia da guerra, da fome, das perseguições, das
ditaduras. Dói constatar que a humanidade regride em meio à “modernidade”.
Aylan Kurdi de apenas três anos, aquela pequena alma atirada com o rosto nas areias, morreu afogado junto seu irmão e sua mãe, após o naufrágio do bote no qual tentavam chegar a um local de paz. O que eles queriam? Apenas viver em paz.
Mas e amanhã, o que será? Todos despertarão em nossas casas, lares, reunidos com familiares, vamos ao trabalho, à escola, à universidade, aos namoros, baladas, viagens. Em algum lugar do mundo o pai sofrerá a dor das perdas, das vidas que lhe fugiram das mãos. E nós, faremos o que?
Até quando seremos hipócritas, cínicos, em chorar por Aylan e tantos outros mortos e que ainda morrerão, quando apontamos culpa para meninas estupradas porque estavam em uma festa – “mulheres de bem não andam nestes lugares” -, ou olharemos para os haitianos que andam por nossas ruas a buscar o sustento para sua gente, que está distante sofrendo a fome, a falta do marido, do filho, da mulher, da companhia que nos faz humanos.
Sim, somos indignados contra a violência das ruas, pelos refugiados que vivem na miséria em acampamentos, mas não queremos os haitianos em nossa cidade, nosso país. Eles nos tiram empregos, podem vir a formar um exército revolucionário que vai tomar as nossas casas, propriedades, comer nossas criancinhas...
A imagem do menino morto na praia mostra que o algo que não queremos ver, assumir: o capitalismo, as religiões e a ignorância privaram as pessoas de viver num mundo livre e igualitário.
Aylan Kurdi de apenas três anos, aquela pequena alma atirada com o rosto nas areias, morreu afogado junto seu irmão e sua mãe, após o naufrágio do bote no qual tentavam chegar a um local de paz. O que eles queriam? Apenas viver em paz.
Mas e amanhã, o que será? Todos despertarão em nossas casas, lares, reunidos com familiares, vamos ao trabalho, à escola, à universidade, aos namoros, baladas, viagens. Em algum lugar do mundo o pai sofrerá a dor das perdas, das vidas que lhe fugiram das mãos. E nós, faremos o que?
Até quando seremos hipócritas, cínicos, em chorar por Aylan e tantos outros mortos e que ainda morrerão, quando apontamos culpa para meninas estupradas porque estavam em uma festa – “mulheres de bem não andam nestes lugares” -, ou olharemos para os haitianos que andam por nossas ruas a buscar o sustento para sua gente, que está distante sofrendo a fome, a falta do marido, do filho, da mulher, da companhia que nos faz humanos.
Sim, somos indignados contra a violência das ruas, pelos refugiados que vivem na miséria em acampamentos, mas não queremos os haitianos em nossa cidade, nosso país. Eles nos tiram empregos, podem vir a formar um exército revolucionário que vai tomar as nossas casas, propriedades, comer nossas criancinhas...
A imagem do menino morto na praia mostra que o algo que não queremos ver, assumir: o capitalismo, as religiões e a ignorância privaram as pessoas de viver num mundo livre e igualitário.
Nós, que nos autodenominamos
seres humanos, nos comovemos, nos indignamos, até choramos por ele e mais
dezenas de milhares de imigrantes, populações inteiras que abandonam seus lares
por opressão política, religiosa, fanatismos que buscam pela violência da
guerra, o poder. A vida de Aylan choca hoje, milhões.
Aguardaremos a próxima criança
morta em uma praia, em uma praça, em um conflito qualquer? Sofreremos via redes
sociais, bradaremos por poucos dias, denunciaremos “aqueles povos” que vivem
guerreando, fugindo para a Europa, para a América do Norte, América Latina,
para... o Brasil.
Nas redes sociais, hoje a seara
onde vertem preconceitos, ofensas, falsos profetas, promotores da paz via
ditadura militar, golpes para acabar com a corrupção (?!), líderes religiosos
falsos que em nome de deus criminalizam a união de pessoas que só querem se
amar e viver em harmonia, vemos também a falsa indignação.
Por isso, em nome de Aylan, morto
na praia há quilômetros do seu lar, símbolo da ignorância e hipocrisia do mundo
“moderno” em que vivemos, deixo aqui afirmações, provocações para mexer com você,
indignado. Com você, homem e mulher de bem. Com você empresário do lucro acima
de qualquer coisa. Com você, político e religioso (às vezes os dois em um) que
move multidões em nome de deus e da verdade (?!). Com você mãe e pai, que veem
nos filhos dos outros o erro, a perversão, a desonra. Pense se você não é um
daqueles que:
- defende a paz, mas deseja ver
um ser humano apodrecer na cadeia, inclusive crianças e adolescentes
- denuncia a prostituição, os
maus costumes dos jovens, principalmente meninas, mas gosta muito das casas que
oferecem noites de prazer
- está todos os domingos, ou
qualquer dia, em uma igreja ou comunidade religiosa buscando a palavra de deus
que prega o amor ao próximo, mas sai dali falando de alguém, agredindo filhos,
mulher, marido
- vê um vagabundo em cada pessoa
que usa drogas, lícitas ou não lícitas (afinal o que é isso?), mas tem amigos
traficantes, usa só por diversão, às vezes...
- fala em liberdade como bem
comum, mas pretende impor suas visões e crenças à força, seguindo os Kim Kataguiri
e furiosos de movimentos vazios, ofendendo e agredindo quem não pensa como você...
- quer acabar com a violência,
mas apoia linchamentos públicos, agressões policiais a quem quer que seja, tudo
em nome da paz...?
Pense que naquela praia distante,
de onde nos chegou apenas a foto do menino Aylan, uma criança indefesa, cheia
de vida para correr pelas ruas, praças, realizar sonhos, ser feliz por longos
anos, morreu também um mundo inteiro. Com ele morreu mais um pouca da nossa
capacidade de sentir o outro de verdade, de desejar ao outro a felicidade, a
liberdade, o direito de viver em qualquer lugar que se queira, sem opressões,
preconceitos, violência.
Não deixe que a morte de uma vida
seja apenas uma dor passageira. Indigne-se de fato, combata o que faz este
mundo ficar pior, e parecido com o tempo das cavernas, da ignorância total. Em
nome de Aylan, lute pela humanidade, faça a sua parte. Hoje foi ele, amanha
pode ser você, seu filho, filha, pai, mãe, amigo, irmão... reflita e lute por
um mundo melhor.
É assim, nas teias do poder...