quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Depredação da Rio dos Peixes é sintoma de degradação social

POR RAQUEL MIGLIORINI
Recentemente, a sede do Instituto Sócio-Ambiental Rio dos Peixes, uma OSCIP que tem como objetivo a Educação Ambiental e preservação da Bacia Hidrográfica do Rio Piraí, foi depredada e muito material foi destruído. Toda a fiação elétrica foi roubada, o telhado foi danificado (o que provocou infiltração em muitas salas) e paredes foram pichadas. Nas pichações, aparece o nome do responsável: PGC – Primeiro Grupo Catarinense.

Parece claro que traficantes e milícias que ocupam alguns bairros da cidade não se preocupariam em roubar e vender fios por uns trocados. É necessário fazer um exercício e ampliar o olhar. Esses grupos aliciam menores, moradores da periferia. Sem acesso a Cultura, Esportes e Educação Integral de qualidade, essas crianças e adolescentes são presas fáceis por não terem nada de valor ao seu redor e por não terem a alma alimentada por coisas que não estão na cesta básica. Esse vazio é preenchido com a promessa de status e dinheiro fácil que o crime organizado proporciona. O começo desse processo é o vandalismo e o roubo e venda de materiais de pouco valor.

Não há novidade aqui. Esse processo aconteceu na maioria das grandes cidades brasileiras. Chegamos ao caos extremo do Rio de Janeiro mas, proporcionalmente, Joinville não se encontra tão distante.

Existe uma receita que, se feita corretamente, nunca desanda: 
manter essas crianças com a alma tão alimentada por música, dança, teatro e todas as outras formas de arte, de modo que elas falem NÃO ao convite dos traficantes. 
Oferecer diversas modalidades esportivas para que esses jovens desenvolvam habilidades e se sintam valorizados.
Oferecer Educação de qualidade para que os pais tenham suporte e possam trabalhar seguros de que seus filhos não estão à mercê de qualquer indivíduo na rua.
Pensar a cidade da periferia para o Centro, e não o contrário. Embelezar o bairro e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos faz com que eles tenham orgulho e cuidem do lugar onde moram.

Ao compararmos essa lista com a reforma administrativa recente e com o “enterro” dos planos municipais de cultura, esporte, de meio ambiente, de saneamento básico, temos um panorama claro e triste do que acontece na cidade, longe das ruas com nomes ilustres. A atual Câmara de Vereadores chancela todos os pedidos do Executivo sem discussão e sem responsabilidade pela queda vertiginosa da qualidade de vida dos habitantes da cidade.

Pior do que os governantes não exercitarem esse olhar e adotarem essas medidas, é a fala generalizada de que só é vândalo e ladrão quem quer. Que se a pessoa quiser, ela se torna um “cidadão de bem”. E ainda, pensar no crescimento da cidade com a oferta de subempregos, sem mobilidade e moradia adequadas.

Joinville cresceu e não se deu ao trabalho de aprender com os erros seculares de outras cidades. A depredação da sede Rio dos Peixes é um pequeno sintoma que a degradação social já está em andamento na Cidade das Flores (sic).

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

O Brasil e a suruba ideológica

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Pobre Brasil. Os efeitos do golpe podem ser comparados ao bêbado que, ao descer uma escada, erra o primeiro degrau. E se errou o primeiro... erra todos. O fato é que o país mergulhou numa espiral de insanidade que parece não ter hora para acabar. As estocadas não foram apenas políticas (a queda de Dilma) ou econômicas (a imposição de um modelo neoliberal). O buraco é mais em baixo.

A grande mudança foi cultural. Mas de forma negativa. O Brasil está a ser transformado numa enorme suruba ideológica, onde escroques e todos os tipos de aproveitadores estão empenhado em açambarcar a sua parte do butim. A coisa virou uma bandalheira. A moral e a ética despencaram para o grau zero e muitas pessoas do círculo do poder atual perderam a noção de ridículo. Não é teoria. Há fatos e personagens para comprovar. 

O analfabeto-mirim Kim Kataguiri divulgou uma lista de pessoas que se recusaram a “debater” com ele? Fico por um dos nomes: Jânio de Freitas. É um crime de lesa-inteligência. Será que ele pensa mesmo ser capaz de debater com o velho jornalista. Ah ah ah. Aliás, é bom lembrar que ele foi atropelado pelo senador Roberto Requião num debate na Guaíba.

E o que dizer da ex-futura-quase-ministra Cristiane Brasil que, cercada por genéricos de Alexandre Frota num barco de luxo, pôs a circular nas redes sociais um vídeo onde diz nada com coisa alguma. E para completar o nonsense, os brucutus ainda acham relevante para a história o planeta que façam depoimentos a defendê-la. Sério?

A coluna Painel, da Folha, divulgou que o juiz Marcelo Bretas foi inquirido por receber auxílio moradia, junto com a mulher. O que é proibido, segundo o jornal. Diante do fato, o juiz, muito conhecido pelo seu moralismo e fervor evangélico, argumentou ser tudo legal.  É moral? Claro que não. Mas os moralistas têm uma moralidade muito volátil.

O “presidente” Michel Temer vai ao programa Sílvio Santos, numa tentativa de fazer a reforma da previdência ficar mais palatável para o povão. De fato, quis mesmo foi dar um cagaço na população. Para fechar a coisa, tentou fazer humor: “eu vou passar um dinheiro para você”. E deu 50 reais ao apresentador em mãos. Mas todos sabem o que significa, né?

Enfim, são apenas alguns exemplos a mostrar o grau de descaramento que tomou conta do país. Perdeu-se a noção de ridículo. As esferas de poder estão mergulhadas num lodaçal e, com as atuais peças em jogo, não parece que um dia seja possível dar um xeque-mate aos malfeitos. Pobre Brasil.

É a dança da chuva.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

O jeito chileno de fazer bem versus o jeito sambaquiano de fazer nas coxas

POR JORDI CASTAN
Aproveitei as férias para visitar Santiago de Chile e cheguei à conclusão que estes chilenos estão loucos. Endoidaram. Insistem em fazer as coisas bem feitas, em manter as cidades limpas e bem conservadas. E, imaginem, em priorizar as pessoas sobre os veículos e o verde sobre o cinza do concreto. 

As praças, parques e as árvores que vicejam nas ruas da cidade estão bem cuidadas. Há equipes de jardineiros profissionais que cuidam, plantam e podam as plantas com conhecimento e cuidado. Tudo bem diferente das roçadas de mato por apenados e outros trabalhadores desqualificados, sem conhecimento ou formação adequadas para o trabalho e a função. 

Calçadas e praças têm pisos adequados, acessíveis e seguros. Nada de pavers e outras soluções que se utilizam nas terras sambaquianas, que envelhecem rápido demais e mal. Ou seja, soluções que priorizam o barato sobre a qualidade e a durabilidade. Mas são critérios. Os chilenos insistem em escolher materiais duráveis, de qualidade melhor e de trabalhar com profissionais que conhecem o seu trabalho e gostam de fazê-lo bem feito. 

Porque as coisas não duram, quebram antes do que deveriam e têm um acabamento tosco e de baixa qualidade? Ou pior: por que insistimos em projetar mal, executar pior e não prever nenhuma manutenção que aumente a durabilidade e acabe custando menos. Ora, toda esta inépcia custa muito cara a toda a sociedade.

Difícil achar uma resposta que sintetize a diferença entre o modelo seguido com persistência por chilenos e pela maioria dos países desenvolvidos e os países e sociedades que preferem a opção de fazer coisas pelo método que no Brasil é conhecido, desde a época colonial, pela expressão: "feito nas coxas". Há uma cultura estabelecida e bem consolidada de fazer as coisas nas coxas. E o resultado, aqui por estas bandas sambaquianas, é uma cidade que se esfarela, obras públicas pagas a peso de ouro que não duram e que precisam ser reformadas antes de prazo. 

A ideia de fazer bem feito nem passa pela cabeça dos administradores públicos. Projetos sem detalhamento, sem definição de materiais e sem especificações técnicas adequadas permitem que sejam usados materiais de qualidade inferior, que não se cumpram nem prazos, nem se respeitem orçamentos. Um bom exemplo de coisas feitas nas coxas é o projeto e a execução da duplicação da Avenida Santos Dumont. Ou alguém tem outra expressão que sintetize melhor a falta de planejamento, a péssima qualidade dos projetos elaborados e a forma como é mal gasto o dinheiro público. Lembremos que essa obra se alastra por anos a fio,  já causou dezenas de acidentes, alguns mortais, e quando fique pronta será só um remendo medíocre do que foi anunciado.

A insistência dos chilenos em querer fazer as coisas bem e em mantê-las para que sigam bem e não precisem ser refeitas antes do prazo é a maior prova que os chilenos estão loucos. Certos estamos nós.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Dia da Infâmia: ditadura da toga cassa o direito de Lula ser presidente

POR DOMINGOS MIRANDA
O 24 de janeiro de 2018 será conhecido como o Dia da Infâmia. Nesta data, três desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), por unanimidade, aprovaram a condenação de Lula, em sentença dada pelo juiz Sérgio Moro, e aumentaram a sua pena para 12 anos de prisão. Isto significa que o candidato do PT, líder nas pesquisas, não poderá ser candidato a presidente neste ano. Na edição do dia 23, o jornal americano The New York Times, publicou uma extensa matéria e seu título sinalizava o nosso futuro: “Democracia do Brasil empurrada para o abismo”.

O analista político Mark Weisbrot, bem diferente da nossa grande imprensa que faz parte da Ditadura da Toga e deturpa os fatos, disse que “um judiciário politizado pode excluir um líder político popular de se candidatar a cargos. Isso seria uma calamidade para os brasileiros, a região e o mundo”.

A elite do atraso arquitetou o plano para retirar a presidenta Dilma do poder usando artifícios jurídicos fajutos, chamados de pedaladas fiscais e utilizados também pelos presidentes anteriores para regularizar contas das empresas estatais. Mas os golpistas não esperavam que Lula sobreviveria politicamente ao maior ataque midiático contra um político. Como o “sapo barbudo” se preparava para dar um salto por cima de todos os outros candidatos da direita durante as eleições, anteciparam o julgamento.

A condenação de Lula foi feita na base de convicções do juiz Moro, onde ele não apresentou nenhuma prova concreta de que o apartamento triplex do Guarujá pertencia ao ex-presidente. A atitude dos desembargadores no TRF4 parecia uma ação entre compadres, com elogios orgásticos aos procuradores e ao juiz de Curitiba. O ex-guerrilheiro e ex-deputado gaúcho Flávio Koutzii comenta este momento aziago: “Parece que estamos nos alinhando com as trevas que estão avançando no mundo, não tem saída fácil para isso”.

Montesquieu, célebre filósofo francês do século 17, autor do livro “O Espírito das Leis”, que propunha a separação dos poderes, deve estar se contorcendo na tumba ao ver o que acontece no Brasil. Diante da desmoralização do Executivo e Legislativo, envolvido até o pescoço em falcatruas, o Judiciário assumiu um protagonismo que eclipsou os outros dois poderes. Juízes constrangem o presidente da República e as lideranças do Legislativo com sugestões que beiram a petulância. Melhor do que chamar a farda é colocar o poder de fato nas mãos dos togados. As aparências enganam. O que é mais incrível, juízes que desrespeitam o teto salarial, estabelecido pela Constituição, condenam acusados  pelo crime de corrupção.

Como diz o jornalista Luiz Nassif: “São tempos bicudos, nos quais se misturam o atrevimento dos corruptos, a irresponsabilidade dos deslumbrados e o temor dos legalistas”. A direita avança, mas nesta hora difícil a esquerda deve centrar suas forças em um único candidato sob o risco de chegar ao segundo turno dois candidatos do retrocesso, um deles fascista. Aqui vale a citação de Bernie Sanders, senador socialista dos EUA, que serve para nós também: “Eles têm o dinheiro, mas nós temos as pessoas”. De pé famélicos da terra, bem unidos façamos a nossa revolução.

Coxinha alegre


POR SANDRO SCHMIDT