Episódio 1. Há duas semanas, o jornal “Metro”, do Reino Unido, publicava uma matéria a dizer que “detentos fazem churrasco de carne humana e despertam medo de canibalismo em tumultos nas prisões”. Era uma matéria sobre os motins nas prisões brasileiras, que fizeram dezenas de mortos, e narrava os episódios de decapitações e desmembramentos de prisioneiros.
Episódio 2. Nesta quinta-feira, o espanhol “El Mundo” trazia a seguinte manchete: “candidato ao Supremo brasileiro plagiou um livro de um ex-presidente do Conselho de Estado espanhol”. É uma referência à indicação de Alexandre de Moraes, atual ministro da Justiça, para o Supremo Tribunal Federal.
Episódio 3. Ontem à noite, o telejornal do canal português SIC Notícias mostrou uma reportagem de quase oito minutos sobre os acontecimentos no Espírito Santo, com intervenções ao vivo. Havia uma certa incredulidade dos realizadores da peça, que teve a participação de jornalistas de uma emissora de televisão capixaba, e destacou os mais de 100 mortos.
A ideia de pinçar estes três episódios, aparentemente desconectados (claro que não são), tem a intenção de mostrar como o Brasil é visto no exterior neste momento. As notícias que vão chegando todos os dias criam a imagem de um país que caiu na anomia. Ou seja, uma terra onde a lei corre ao sabor dos “donos do poder” e onde o estado de direito virou quimera. Há um preço. Os investidores fogem, os turistas não se interessam e o respeito internacional de esfacela.
Os críticos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobem nas tamancas com este tipo de afirmação, mas o fato é que desde que ele ascendeu ao poder a imagem do Brasil passou a ser respeitada em todo o mundo. O país saiu da minoridade (a velha teoria da dependência) para tornar-se um player proeminente. E isso, como é óbvio, impulsionou a economia do país. Infelizmente são tempos que já lá vão.
Hoje a degradação tornou-se uma imagem de marca do país. Mas a coisa não vem de hoje. O momento de viragem parece ter sido o ano de 2013, quando a ascensão do ideário neofascista - portanto, contra a democracia - ganhou expressão e levou o Brasil à esculhambação institucional. O resultado concreto dessa situação foi o impeachment de Dilma Rousseff. A olhar para a situação caótica do país nos dias de hoje, fica a lição. Não se brinca com a democracia. Uma vez quebrada, ela é como um espelho: não adianta colar, porque a imagem nunca vai ser a mesma.
A cara de pau de um ministro plagiador e de quem o indica para um dos cargos mais importantes da nação. A assustadora introdução da palavra “canibalismo” na semântica de rebeliões nos presídios. A polícia a ser o motor de uma greve que promove o caos. Todos estes elementos, de consequências mais ou menos graves, estão interligados. Porque refletem a desumanização da sociedade, a desagregação do estado de direito e a banalidade do mal (passe o clichê).
O mundo está de olho. Incrédulo. E sabe que o denominador comum é o desprezo pela democracia. A história cobra quando se abre mão da moral, da ética e do mais elementar bom senso. É um preço que todos vão pagar, desde os que vestiram de amarelo até os que pediram o respeito pela regra do jogo.
É a dança da chuva.