Podia escolher outros fatos. Mas vamos focar apenas alguns pontos específicos para fazer uma análise do governo de Udo Dohler. O resultado não é bom, porque no frigir dos ovos a obra realizada até este momento está muito aquém das expectativas criadas. E antes de mais nada, deixo claro que ninguém pode duvidar que o prefeito esteja a fazer o seu melhor. Mas esse melhor parece ser pouco, muito pouco. Então, vamos à prova dos nove.
1.
Udo Dohler passou, para os eleitores, a ideia de que não era um político como os outros. Insistiu-se na imagem de um craque da gestão que ia pôr a cidade nos eixos.
Só que mal assumiu e acabou refém do que há de mais atrasado na política da cidade:
pressões por cargos, joguinhos de poder, o tráfico de influência. O político veio à tona, o gestor submergiu.
2.
“Não
falta dinheiro, falta gestão” foi o mote da campanha. Mas não demorou a surgirem as
primeiras lamúrias (ainda hoje persistentes) sobre o fato de não haver dinheiro. Lembro de ter ouvido, no início do ano, um secretário a dizer, numa rádio da cidade, que só haveria dinheiro se viesse do Governo Federal. É a única saída?
3.
Aliás,
não deixa de ser estranho, para uma cidade que precisa da grana de Brasília,
que o vice-prefeito tenha arroubos juvenis e viva a pedir o impeachment da
presidente Dilma Rousseff. Já escrevi aqui que essa falta de sentido de Estado
pode ser prejudicial para a cidade. No entanto, ninguém ouviu falar que o prefeito tenha
dado um puxão de orelhas no seu vice, a pedir mais contenção.
4.
A
promessa de uma Joinville para o ano 2030 esbarra nas ações concretas. A LOT –
Lei de Ordenamento Territorial continua a ser torpedeada por pessoas
preocupadas com a mobilidade, o meio ambiente e a qualidade de vida. Não dá
para entender, por exemplo, essa coisa da construção de
prédios altos, de 20 andares ou algo parecido. As cidades do futuro caminham em sentido oposto. O prefeito deve ser fã do filme "Blade Runner". A cidade de Rick Deckard, o caçador de androides, parece inspirar o seu ideal de futuro. Prédios enormes, nenhuma área verde, ambiente sufocante. Aliás, nem Deckard gostaria. Porque a última cena da edição original do filme mostra um voo sobre uma floresta, onde sobressaem o verde e o ar puro.
5.
Joinville
tornou-se uma cidade de maquetes, de 3D e de ozalids. Quem nunca viu o filme em
3D da duplicação da Santos Dumont, com canteiro central, ciclovia, rotatórias e
elevados? E que tal lembrar a maquete da ponte que liga o Adhemar Garcia ao Boa
Vista? E a planta da proposta de ampliação da Arena Joinville? Qual
dessas obras está realizada? Pergunta retórica.
6.
Udo
Dohler sempre salientou a expertise no setor da saúde. E o que acontece? Falhas atrás de falhas. Nem é preciso uma análise exaustiva. Basta lembrar uma nota do jornalista
Jefferson Saavedra, publicada há poucos dias: “o Hospital
São José é o novo alvo de pressão do Ministério Público na saúde de Joinville. Nesta semana, a
promotora Simone Schultz apresentou ação de execução contra a Prefeitura e o hospital alegando
descumprimento de parte do acordo fechado em março do ano passado entre duas
promotorias e o município de Joinville”. Nem mais.
7.
Outro
fato que não passou batido. O anúncio do fim do turno integral para crianças de
4 a 5 anos nos CEIs a partir do ano que vem. É uma medida paliativa que
resolve o problema da Prefeitura, às voltas com questões legais e
administrativas, mas transfere o problema para os pais trabalhadores. Ora, os administradores
são eleitos para resolver os problemas dos munícipes e não para acrescentar mais
dificuldades.
8.
Os buracos de rua são um fantasma
que persegue a atual administração. Por mais investimentos que haja em
comunicação, nem mesmo uma imprensa amiguinha - e não raro submissa - pode ignorar coisas do cotidiano. Faz poucos dias reeditei aqui um texto em que
abordava a questão. Não adianta ter um filme bonito na televisão ou um
anúncio criativo no jornal, porque os buracos na rua são muito poderosos e destroem qualquer imagem positiva. Não adianta investir tanto na velha
mídia, porque os novos meios digitais, em especial as redes sociais, tomaram o palco para exercer um novo tipo de fiscalização e pressão.
9.
Enfim, o nó górdio. A administração Udo
Dohler tem demonstrado ser um deserto de imaginação. Tudo é feito pelos padrões
políticos de sempre. Não surge qualquer iniciativa out of the box. Nada
surpreende (pelo menos positivamente). Ora, quando falta dinheiro é hora de usar a criatividade. Há coisas simples que podem ser feitas sem muito dinheiro. Mas quando faltam imaginação e criatividade, é a morte do artista.
É a dança da chuva.
P.S. Não venham os comissionados falar em mundos virtuais. Os tempos são outros.
É a dança da chuva.
P.S. Não venham os comissionados falar em mundos virtuais. Os tempos são outros.