sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Joenvile

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Vazio, desguarnecido, desocupado, limpo, livre, vago. Desabitado, despovoado. Aliviado, derramado, descarregado, despejado, entornado, esvaziado, vazado. Carente, destituído, falto, privado. Frívolo, fútil, insignificante, oco, superficial, tolo. Baldado, fracassado, frustrado, infrutífero, inútil, vão. Enganoso, fingido, hipócrita, mentiroso. Buraco, espaço, hiato, interrupção, intervalo, lacuna. Oco, vacuidade, vácuo. Nostalgia, saudade. Insaciabilidade, insatisfação. Abandonado, aberto, brecha, branco, claro, ar, cavo, côncavo, devoluto, esquisito, omissão, janela, lugar, nada, área, chocho, imane, inane.

Cidadela Cultural Antarctica, Prédio do Antigo Fórum, Giassi no Mayerle Boonekamp. Bar Tigre, Igreja no Cine Palácio, fogo e estacionamento no Cine Colon. Banda Grossa. UFSC de um curso só, na Univille, na Prudente, no prédio do agiota estrangeiro. Curva do Arroz sem contorno ferroviário, com enchente e sem alunos. Palacete sem príncipe e Palmeiras morrendo. Binários que confundem. Planejamento que não planeja. Cultura sem cultura. Dança por 14 dias. Espelho d'água sem água. Bicicletas no passado, carros no presente. Antiga prefeitura com problemas atuais. Pichação é problema, ser crítico é coisa de não querer o bem da cidade. A Jumenta vai Falar. Joenvile. #issoéArena.

Elite fazendo elitices. Pobres a serem sempre pobres. Segregados, segregadores. Função social é coisa de atrasado. Mentirosos mentindo como se fosse verdade. Imprensa amiga. Margarina. Meritocracia. Bandido bom é bandido morto. Elevados, túneis e pontes. Desenvolvimento é crescimento. LOT, Cota 40 e Faixa Viária. Hospital sem água quente, gestor do privado no público. Público no privado, privado do público. Concessionárias de 40 anos. Passe nada livre. Busscar a falência. Saudosismo sem olhar pra frente. Povo ordeiro e trabalhador. Conservar. Bater o ponto. Acordar cedo. Rotina. Tudo de novo.

Ansiedade, dor, medo, estertor, preocupação.Tortura. Amargura, dor, tumulto. Aflição, angústia, aperto, apertura, ânsia, martírio, passamento, tormento, tortura, tribulação. Paixão, desespero, arranque, combate, piada, prurido, sufoco, termo, opressão, perigo, transe, paroxismo, últimas, absinto, atormentação, traspasso. Ciúme, decadência, declínio, queda. Fim.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Sem alternativa ao pedágio?


À esquerda, uma rodovia grátis. À direita, uma auto-estrada paga
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Há uma coisa que eu, na minha ingenuidade constitucional, nunca entendi: a cobrança de pedágio nas estradas brasileiras. Não se trata da cobrança ou não em termos absolutos. Mas o fato é que se eu não tiver dinheiro para pagar o pedágio, então não posso usar as estradas. Porque não há alternativas.

E é aí que entra a minha ingenuidade constitucional. Se eu não tenho dinheiro para pagar e não posso usar as estradas, onde está garantido o meu direito de ir e vir? Sou apenas um cidadão comum sem grande conhecimento das leis, mas sempre tive em mente que a liberdade de locomoção é um direito fundamental do cidadão. Ou não?

Nos países europeus onde há pedágio, por exemplo, as pessoas pagam para andar em auto-estradas com duas ou três vias, com pistas em excelentes condições e eficientes sistemas de assistência em viagem. Mas eis a grande diferença: se você não quiser pagar tem as estradas nacionais, que são mais simples (e mesmo assim de qualidade) como alternativa.

Hoje tomo a liberdade de mostrar essa foto que fiz um dia destes, numa viagem pelo interior de Portugal. Decidi viajar por uma estrada nacional (construída e mantida pelo poder público) que em muitos pontos seguia o mesmo traçado que a auto-estrada. Ou seja, por vezes você anda por uma estrada simples, mas ao lado da auto-estrada.

Como o leitor e a leitora podem ver, a estrada nacional por onde eu estava a circular tem pista simples, mas com asfalto em boas condições. Logo à direita está a auto-estrada e, bem ao canto da foto, um portal para pagamento automático que não obriga os carros a parar. Ou seja, se eu não tiver dinheiro, continuo a poder ir e vir.

Por que toco no assunto? Porque é estranho, quando estou no Brasil, ter que pagar pedágio em estradas de vias simples (com dois sentidos). Não faz sentido. Em resumo, o que pretendo é levantar a questão. Por que os brasileiros aceitam pagar pedágio sem exigir alternativa? Será que entendem o cerceamento da liberdade de ir e vir como natural?

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Tá tudo errado

POR FELIPE SILVEIRA

Bato na tecla: tá tudo errado. Trânsito, poluição, condições de trabalho, sistema financeiro, educação precária, política rasteira, jornalismo conservador, violência, racismo, homofobia, machismo, especulação imobiliária, sucateamento do sistema de saúde, hábitos alimentares, polícia militar etc. A lista é imensa, mas nada vai mudar.

Não vai mudar enquanto você não se envolver.

Eu já escrevi sobre esse assunto aqui no Chuva Ácida, mas retomo pelo seguinte. Toda semana eu preciso escrever um texto para o blog, o que geralmente só acontece poucas horas antes da publicação. Nesta semana, por exemplo, eu poderia escrever sobre um assunto bem local, como as mudanças viárias em Joinville, que deixou meia cidade louca. Poderia escrever sobre o massacre promovido por Israel contra os palestinos. Manifestar minha indignação, pelo menos, já que a tarefa de escrever sobre o assunto não é fácil. Poderia escrever sobre a renúncia da voz dissonante no conselho da cidade, diante do teatro que é aquele espaço, usado para legitimar decisões que prejudicam muitos e beneficiam poucos – vão, inclusive, começar a discutir a Cota 40, que garante a preservação de nossos morros. Poderia escrever sobre a loucura que é a perseguição a ativistas em São Paulo. Até Bakunin, o filósofo russo, pilar do anarquismo, é considerado suspeito.

Aí, diante de tudo isso, a gente olha pro lado e vê o povo concentrado em dez séries de TV, em todos os grandes campeonatos europeus, na redução e enrijecimento dos glúteos, naquilo que podem consumir (e nada contra nada disso, pois também vejo séries, acompanho futebol e basquete, faço atividades físicas e só não consumo um pouco mais porque não tenho dinheiro). Diante de tudo isso não dá vontade de escrever algo que não seja este desabafo. Ou provocação, como queira.

Nada vai mudar enquanto você não pular catraca, não criar alternativas, não se juntar aos movimentos sociais e grupos políticos que propõem a transformação, não cobrar das pessoas que fazem errado para que façam certo. Quando você fizer isso, vai deixar de ser um agente ativo na manutenção de uma sociedade toda errada. Vai parar de achar que faz a sua parte ao fechar a torneira na hora de escovar os dentes. Vai ser um agente transformador dessa bagaça.

Meus mais sinceros votos por uma sacudida na sua vida.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Culpa do sistema.


Elegemos o Dohler errado


POR JORDI CASTAN

Fomos enganados, mostraram um Dohler na campanha e entregaram outro. Venderam gato por lebre. Olhem o vídeo e me digam se não é essa a Joinville que todos queremos. Uma cidade com mais árvores, mais verde. Com mais gente andando nas ruas, com mais bicicletas e menos carros. Uma cidade em que a felicidade é o indicativo de riqueza. Com mais causas coletivas e menos causas próprias. Uma cidade feita à mão, em que o ser humano está em primeiro lugar e não essa bagunça que estamos vendo e vivendo aqui.

O prefeito de Joinville deveria ser quem o primeiro a acreditar numa cidade feita com “as mãos". Mas a Joinville de hoje parece feita com os pés. Quem, no seu são juízo pode aprovar uma lei que deixa o passeio para os carros? Quem pode defender uma Joinville verticalizada e adensada sem preservar o verde? Quem pode ser contraria a manter a qualidade de vida dos que aqui moramos? Ou propor a retirada da “Cota 40” para poder construir em áreas hoje preservadas? Quem pode achar que o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) não é importante?

Como alguém pode querer aprovar uma LOT (Lei de Ordenamento Territorial) que permita instalar  depósitos de gás, coque, petróleo e derivados, transportadoras,  fabricas de bebidas ou de fumo em mais de 160 ruas da cidade. As mesmas ruas em que hoje estão sendo implantados os binários são as que receberão os empreendimentos considerados maiores geradores de tráfego. Como um prefeito, que tenha um mínimo de senso comum, pode querer acabar com as áreas verdes nos morros e morrotes que ainda permanecem a salvo da especulação imobiliária? E, não satisfeito com isso, estimular o avanço da cidade sobre áreas ambientalmente frágeis? Quem pode defender tais aberrações?  

É verdade que o atual prefeito nunca escondeu o seu discurso desenvolvimentista a qualquer preço. O que ninguém poderia imaginar é que a qualquer preço poderia ser tão caro. Quero meu voto de volta. Quero uma Joinville “feita a mão” como essa do vídeo da Dohler. Quero votar naquele "Dohler" e não neste. Ou será que essa cidade maravilhosa, apresentada no vídeo, é pura utopia e só existe no imaginário dos publicitários e marqueteiros?  Eu acredito na ideia que o vídeo seja uma declaração de amor a Joinville que todos queremos. #Joinvilleteamo.