sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

RUDOCOP


Mudar de canal não muda nada

Quino, genial.
POR FELIPE SILVEIRA

É comum, ao criticarmos a imprensa ou a mídia, ouvir a sugestão “troque de canal”. Ela é válida, sem dúvida, mas não resolve nada. A imprensa – e a mídia – vai continuar sendo ruim, muitas vezes fazendo um desserviço à sociedade e tantas outras vezes ganhando dinheiro e poder com isso.

Mudar de canal ajuda, pois você está tirando audiência de quem faz errado pra dar pra quem está fazendo certo, supostamente. O problema é que nem sempre é assim. Os jornais do meio-dia, por exemplo, costumam ser inspirados naquele que tem mais audiência, mas com pitadas mais “populares”, o que também dá audiência. De olho nesse “ibope” popular, o primeiro copia esses concorrentes. E a coisa vai ficando cada vez mais ruim. Sorteios, concursos, matérias cada vez menos informativas,  nunca reflexivas, que visam estimular o consumo e dar status de celebridades aos apresentadores.

Mudar de canal não vai mudar a maneira com que a coisa é feita, e essa maneira tem reflexos na sociedade – e, assim, na vida de todos, inclusive daquele incomodado que mudou de canal. É por isso que as TVs e rádios são concessões públicas.

Vários fatores podem influenciar uma possível mudança na maneira como o jornalismo e a programação de TVs e rádios são feitos. Um público mais exigente – e isso tem a ver com a educação de modo geral – vai cobrar mais qualidade, que deve ser oferecida por profissionais mais preparados – e isso tem a ver com mais acesso aos cursos de comunicação, que devem ser melhores do que são atualmente. Esses profissionais precisam ser unidos, para cobrar e conquistar melhores condições de trabalho (salário, carga horária, diminuição da pressão a qual estão submetidos, tempo e segurança pra produzir melhor etc). E, claro, uma mudança na legislação para cobrar que as empresas ofereçam, de fato, um serviço público, e que não sirvam como peça de manobra de interesses políticos e financeiros.

Além disso, o que considero mais importante é a crítica. Mais do que um direito, criticar é um dever. Isso tem a ver, claro, com a questão do “público mais exigente”, mas não somente, porque essa também é uma questão de tempo. A crítica vai além. Entendo que é uma cobrança constante por mais qualidade, que deve ser estimulada interna e externamente. Às vezes é injusta, às vezes é dura e pode até desanimar. Mas isso acontece, em parte, porque estamos acostumados a evitá-la.

Jornalistas e profissionais da comunicação em geral devem estar abertos a ela, até porque parte do seu trabalho é criticar, direta ou indiretamente. Lidar de maneira inteligente com ela só ajuda a aumentar a qualidade do trabalho, mas para isso é preciso lidar com ela e estimulá-la. Lembrando que lidar de maneira inteligente também pode ser refutá-la.

Mudar de canal não é a solução.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Coronér!


18 meses sem licitação e querem culpar a população

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Foto: Rogerio Souza Jr/ ND Online

Um dos grandes desafios de Carlito Merss era fazer a licitação do transporte coletivo. Não conseguiu cumprir. Desde que o contrato das permissionárias Gidion e Transtusa foi assinado em 1998, todos sabiam que dentro de 15 anos se daria o vencimento do mesmo. Udo Dohler assumiu sabendo disto. Após um considerável tempo de mandato, comunicou oficialmente que não conseguiria fazer a licitação dentro do prazo legal, e uma prorrogação emergencial das permissões seria necessária. Semanas depois, um novo comunicado dava conta de que uma nova prorrogação será feita, para atender aos pedidos dos movimentos sociais de Joinville, principalmente a Frente de Luta pelo Transporte Público. A sensação das entrevistas oficiais do prefeito na mídia é a de que o povo foi o culpado, e não os 18 meses de incompetência (já com a data da primeira prorrogação) para a não-elaboração da licitação.

O jornal A Notícia do último dia 10 retrata com perfeição esta manobra, a qual parece ser um favor de Udo Dohler perante a população:

Um mês depois de ter prorrogado a concessão do transporte coletivo com as empresas Gidion e Transtusa até o meio do ano, o prefeito Udo Döhler (PMDB) admite que terá de ampliar ainda mais o prazo antes de lançar o edital para a contratação das novas empresas que irão operar o sistema. A justificativa para o atraso é o pedido do Movimento Passe Livre (MPL) de que sejam feitas pelo menos 14 audiências públicas para discutir o edital.

—Não vamos mais apressar as coisas, nem nesse assunto e nem na LOT. Se é para discutir, iremos discutir com calma. O MPL quer 14 reuniões, sugerimos fazer oito, mas se o objetivo é debater, iremos debater e levar todas as opiniões muito a sério. Mas com isso, só se descer o santo para conseguirmos lançar o edital sem esticar a concessão um pouco mais—, explica o prefeito Udo Döhler (PMDB).

Esta declaração do chefe do executivo municipal muito me estranhou, principalmente ao lembrar da lei federal que instituiu o Plano Nacional de Mobilidade Urbana (lei 12587/12). Neste documento está muito claro que todos os cidadãos possuem o direito de serem ouvidos no que diz respeito ao planejamento da mobilidade urbana municipal, conforme enciso II, art. 14 da referida lei. Ou seja: não é nenhum favor, é obrigação.

Entretanto, os 18 meses de incompetência da atual gestão (sem esquecer as falhas da gestão anterior) deveriam ser apagadas de alguma maneira. A situação mais cômoda, como sempre foi, é o jogo de palavras, muito bem articuladas pela equipe técnica que assessora as estratégias do prefeito. E a culpa caiu nos movimentos sociais, os quais apenas querem fazer a lei ser cumprida.

A tentativa de desmoralização dos movimentos é evidente e recorrente. Vale lembrar que o mesmo aconteceu (e acontece) com os movimentos contestatórios da nova LOT, costumeiramente chamados de "donos do atraso", etc. Agora continuam com a insinuação de que tudo atrasou por culpa dos outros, e não por estarem fazendo as coisas da maneira errada. Como se a atual gestão não soubesse dos preparativos necessários para se fazer uma política de transporte seguindo a legislação vigente, pois, afinal de contas, o IPPUJ está lá desde a década de 1990 para isso.