POR FERNANDA M. POMPERMAIER
O bom senso orienta: não discuta política, religião ou futebol.
Vamos discutir então temas que não causem nenhum impacto na nossa vida diretamente. Que não mexa com as nossas certezas, formas de ver o mundo ou se relacionar.
É isso mesmo?
Não posso concordar.
Quero acreditar que no meu circulo próximo de amizade ou dentre os leitores bem resolvidos desse específico blog podemos sim discutir temas polêmicos da forma como eles devem ser abordados: com respeito e tolerância. Vale lembrar que ateísmo, homossexualidade ou aborto AINDA são temas polêmicos no Brasil, mas não o são em muitos outros países, como, por exemplo, a Suécia. Aqui, se digo que não sigo nenhuma religião ou que não acredito em Deus, muitas pessoas respondem: Claro.
No Brasil, nos poucos momentos em que toquei no assunto, ouvi todo o tipo de sermão, inclusive um: você vai arder no fogo do inferno! E se não acredito em Deus automaticamente não acredito em Diabo, inferno e etc... então não chega a ser, assim, uma ameaça que me tire o sono. Mas vamos lá, é difícil para muitas pessoas compreender uma forma de viver que não abrange Deus. Desde que nascemos ouvimos que Ele existe e cada religião se encarrega para da sua forma manter a tradição e a crença dos fiéis através dos rituais, leituras, sermões, catequeses e outros.
Eu cresci numa família católica bastante praticante. Fiz batismo, comunhão, crisma, fui coroinha, coordenadora de grupo de jovens... participei de todas as formas possíveis da vida na igreja. Mas sempre tive perguntas que ficavam sem respostas. E na academia eu aprendi que dúvidas são boas e que bons projetos começam com boas perguntas. Nunca desrespeitei minhas questões e os desejos de solucioná-las. Fui atrás de respostas e passei por algumas fases. Primeiro achei que o espiritismo fazia sentido, depois desencantei e me convenci de que "deve existir uma força maior", que devemos ter alma ou algo que irá durar para sempre. Mas logo percebi que esse na verdade era o meu desejo infantil de não aceitar o fim como ele realmente é: o fim.
Entrei em sites de ateus com fóruns de discussão, li livros do Richard Dawkins, assisti documentários... E tudo fez mais sentido.
Foi um momento complexo na minha vida. Foi difícil aceitar que não exista mais nada além do que vemos, que o universo é gigante, que a humanidade é um acaso e que a minha vida é um ponto insignificante na história da Terra.
O raciocínio foi o seguinte: a Terra tem aprox. 4,5 bilhões de anos, o ser humano vive na Terra há aprox. 200 mil, desses apenas nos últimos 50 mil anos os grupos de seres humanos tiveram algum tipo de ritual relacionado à morte ou a criação de Deuses para explicar o inexplicável. O sobrenatural sempre foi uma resposta para perguntas sem resposta. Quando o homem não podia explicar o sol, os trovões, a chuva, ele tinha os deuses relacionados à natureza. A partir do momento em que a ciência passou a explicar esses fenômenos, a religião foi preenchendo outros vazios. Hoje a evolução é aceita por muitas religiões então "sabe-se" de onde viemos, mas ainda não se explica o antes do Big Ben, e aí alguns colocam Deus. Eu prefiro ficar com a pergunta sem resposta.
A morte também é outra questão fundamental porque ninguém morre e volta para contar. Eu já vi corpos se decompondo e não acredito em nada que meus olhos não vêem então pra mim morreu, vira comida de minhoca, simples assim.
Não me leve a mal, não tenho nenhum preconceito com quem acredita em vida após a morte, e sinceramente, desejaria profundamente que eu estivesse errada e que eu tivesse uma grande surpresa depois da minha morte. Só teria a ganhar. Imagine que maravilha reencontrar as pessoas que amo e de alguma forma perpetuar tudo que hoje eu sou. É muito difícil, por exemplo, saber que minha filha não é imortal. Mas esse desejo não me convence de que isso possa ser verdade. A verdade para mim é essa: não existe nada entre o céu e a terra além de ar. Eu acredito no aqui e agora, não acredito em milagres, não acredito em Deus e se tiver de dizer que acredito numa força maior que rege toda a vida no universo e no nosso planetinha preciso dizer que ela deve ser a gravidade.
Se quiser ler mais a respeito, o site que comentei é esse: http://ateus.net/
E o Richard Dawkins é esse: