POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Meu amigo da classe média mediana.
Ah... e nós, brasileiros, temos culpa se lá no Primeiro Mundo as crianças nascem todas do bem? Queria ver o que eles iam achar se vivessem aqui, onde só nascem crianças más. Lá as crianças nascem loiras, boas e ricas. Aqui no Brasil não, aqui elas nascem bandidas.
Mas agora isso vai acabar. Aliás, amigo classe média mediana, eu acho mesmo que os cientistas estão a ser pouco ambiciosos. Por que não levar a idade penal ao útero? Porque está cheio de pobre aí que fica pondo filho no mundo... e vai tudo virar bandido.
Você está desejoso de que seja aprovada a redução da maioridade penal? Então tenho excelentes notícias. Fiquei a saber que no Primeiro Mundo há cientistas a trabalhar num processo secreto que tem o objetivo de identificar os bandidos logo à nascença. É uma espécie de teste do pezinho que revela se a criança nasceu boa ou má pessoa, se vai virar bandida ou não.
Este avanço científico, que recebeu o nome código “Preventive Revenge”, é uma solução definitiva, porque leva a redução da idade penal até ao berçário. Quando o sistema for posto em prática, vai tornar mais fácil a vida em sociedade: quando nasce bandida, a criança sai direto do fraldário para a cadeia. E pronto: não há mais crimes.
É também uma forma de dar um chega-para-lá nos chatos dos direitos humanos, que estão sempre a defender o indefensável e vêm com aquela conversa:
- Ah... teve uma infância difícil.
Ora, agora isso vai mudar. Se o bandido não teve infância - se foi enjaulado logo ao nascer - os caras dos direitos humanos vão para de encher o saco. É ou não e?
O processo só não foi implantado ainda porque houve alguns contratempos. Um grupo de insignificantes antropólogos insiste na tolice de que as pessoas nascem boas, mas são transformadas pela sociedade. Que idiotice. E pensar que os caras passam quatro anos na faculdade para aprender este tipo de besteira. Todos sabemos que bandido bom é bandido morto. Ou preso... e de preferência à nascença.
Há outro problema. Parece que tem gente nos países desenvolvidos que torce o nariz para a ideia. Os dinamarqueses, finlandeses, luxemburgueses, noruegueses ou suecos, por exemplo, dizem que as pessoas têm boas condições de vida por lá e quase não há crimes. Ainda menos crimes praticados por menores.
Mas agora isso vai acabar. Aliás, amigo classe média mediana, eu acho mesmo que os cientistas estão a ser pouco ambiciosos. Por que não levar a idade penal ao útero? Porque está cheio de pobre aí que fica pondo filho no mundo... e vai tudo virar bandido.
Anauê!