quinta-feira, 15 de março de 2012

Reality show com condenados à morte?


POR ET BARTHES
E quando a gente pensa que viu tudo, esta reportagem vem mostrar que a insanidade não tem limites. Segundo o vídeo abaixo, uma televisão chinesa está levando ao ar um programa que entrevista prisioneiros condenados à morte, mas com um requinte: minutos antes das execuções. As audiências, segundo o relato que podemos ouvir, têm sido excelentes, com as noites de sábado alcançando o expressivo número de 40 milhões de telespectadores. Parece que tem gente que vê isso como educativo. Vai entender.



Mais segurança ou mais multas?


POR JORDI CASTAN

A Conurb está mais interessada na segurança das pessoas ou em cobrar multas?

A Conurb informou que, nos próximos dias, abrirá a licitação para alugar aproximadamente 100 radares e lombadas eletrônicas. O objetivo declarado é o de melhorar a segurança no trânsito de Joinville. Mas a verdade pode ser bem diferente. A Conurb desenvolveu, ao longo do tempo, um modelo de negócio de uma simplicidade assustadora: precisa multar para pagar seus custos operacionais. A receita originária das multas de transito é a fonte de recursos principal - e praticamente única - para pagar salários, comprar equipamentos, alugar veículos, radares e fazer frente às suas despesas de operacão. O que transforma a arrecadação através das multas em uma necessidade. A situação coloca a empresa num dilema: como fazer para arrecadar mais?

No trânsito há soluções simples, econômicas e rápidas. E o que é mais importante: sem custo para o motorista. O problema é que estas soluções não enchem de dinheiro as esfomeadas arcas da empresa e os salários podem ficar comprometidos. Pouco tem a ver, neste caso, se a Conurb é uma empresa de economia mista ou uma autarquia como está sendo proposto. O problema reside claramente no modelo do negócio. Ter que multar não é o melhor nem para a cidade, nem para os motoristas, nem para o trânsito. É bom só para as empresas que ganham a licitação dos equipamentos que fazem disto um negócio sem risco.

Um exemplo bem simples que permite ilustrar a situação. A rua Helmuth Fallgater, meu caminho de todos os dias, tem, no trecho entre o terminal urbano Tupy e a Delegacia do Boa Vista, duas lombadas eletrônicas de 40 km e dois sinaleiras acionadas com botão. As lombadas localizadas na frente da Escola Presidente Medici e da Igreja do Evangelho Quadrangular funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana. Haja ou não culto, haja ou não aula. Às duas da madrugada, sem alunos na rua, ou às 11h30min, horário de saída, o seu funcionamento é o mesmo. Os veículos, ao se aproximarem, reduzem a velocidade, em alguns casos até freiam bruscamente, para não serem multados. A sua função é burra, porque não obrigam a detenção do carro, só obrigam a uma redução da velocidade. Continuam funcionando mesmo durante o período de férias escolares ou quando o motivo que justificou a sua instalação deixou de existir.

Tambem existem duas sinaleiras, acionadas manualmente, a primeira na frente do terminal urbano e a segunda na faixa de pedestres entre a Igreja Católica e a Creche Bakita. Os sinaleiros são acionados exclusivamente quando os pedestres precisam atravessar a rua. Caso contrário, o trânsito flui normalmente, sem redução de velocidade, sem freadas, sem perigo. Quando acionado o sinaleiro a luz vermelha obriga o veiculo a deter-se completamente e os pedestres podem atravessar a rua em total segurança.

A diferença entre um e outro sistema é que um multa enquanto o outro não. Que um detém completamente o veículo para que o pedestre possa atravessar em completa segurança. Que um só é acionado quando é verdadeiramente necessário e o outro esta aí esperando que alguém passe a 46 km frente a uma escola vazia ou a 50 km numa rua que tem sua velocidade fixada em 60 km às 2:00 da madrugada. E a arrecadação só aumenta, porque há cada vez mais bocas para alimentar.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Se você ainda não viu o Kony 2012...


POR ET BARTHES
Kony 2012. Se você é daquelas pessoas que andam aí pelas redes sociais (e deve andar, porque está vendo um blog) com certeza já se deparou com esse nome. É um documentário lançado no início do mês e que se transformou no vídeo viral de maior sucesso da história: em poucos dias conseguiu mais de 100 milhões de visualizações em redes como o Youtube e o Vimeo. É uma denúncia contra o violento Joseph Kony, fundador do Exército de Resistência do Senhor (ERS), em Uganda. Entre as acusações está o sequestro de crianças, violação de mulheres e morticínios. O filme tem sido alvo de muita polêmica – é acusado de manipulação – mas esperamos que o leitor e a leitora façam o seu próprio juízo. É longo. Tem quase 30 minutos de duração. Mas se mais de 100 milhões de pessoas já viram, deve ser porque vale a pena. Legendado, mas não garantimos a qualidade da tradução.





Cão Tarado


1.872 quilômetros por um beijo


POR ANA MELO
A escultura da imagem podia parecer pertencer a um museu de arte primitiva africana, mas é uma peça do século XX. Chama-se “O Beijo” e é de 1908, do escultor romeno Constantin Brancusi.
Brancusi nasceu em 1876, numa pequena localidade rural na Roménia e tornou-se carpinteiro e pedreiro. Mas, ao que parece, não estava satisfeito em passar a vida como artesão e pensou em ser escultor. Em 1904, decide ir tentar a sorte em Paris. Para isso tinha que atravessar a Europa. A pé.
De Bucareste até Paris são 1.872 quilômetros. Mas Brancusi conseguiu vencer a longa viagem. E instalou-se no mítico bairro parisiense Montparnasse, onde muitos artistas vindos de todo o mundo tinham os seus estúdios, como Picasso, Duchamp ou Rivera. Este bairro da margem esquerda do Sena era o centro intelectual e boêmio mais fervilhante da Europa. E tudo porque os intelectuais nunca tiveram muito jeito para ganhar dinheiro: os aluguéis muito baratos atraíam os artistas em início de carreira que queriam tentar a sorte. 
É neste ambiente que Brancusi começa a trabalhar, de início como assistente do mais importante escultor da altura, Auguste Rodin. Mas o artista  romeno acaba por se afastar do mestre, falando nestes termos: "à sombra das grandes árvores nada cresce".
“O Beijo” – de que existem várias versões -,  é considerada uma obra germinal para a escultura moderna, por contrariar de forma gritante os corpos modelados de forma fluida e sensual de Rodin. Para se perceberem as diferenças e a ruptura que representa o trabalho de Brancusi, basta olhar para um outro “Beijo”, aquele que Rodin esculpiu vinte anos antes. 
A peça do romeno rompe completamente com a tradição escultórica grega e romana e inicia uma nova era em que a escultura transcende a representação e alcança um estatuto de símbolo. E isto leva-nos a outra ideia importante: o bloco monolítico de Brancusi que forma o corpo dos dois amantes faz recordar a arte dos astecas, e os seus rostos estilizados lembram máscaras africanas.
É uma ironia da história da arte: todos os modernismos da arte europeia do início do século XX olharam para a arte dos povos chamados “primitivos” como uma pista dos caminhos a seguir. O colonizado tem a sua vingança nos museus dos colonizadores, quando Brancusi e os seus pares são catalogados de primitivistas. É caso para perguntar: “Primitivo quem, cara pálida?”


Ana Melo é formada pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa e Mestre em Ciências da Comunicação.