POR MÁRIO PAGANINI
Foi uma diversão, durante os dois últimos anos, ver as pessoas perdidas em debates semânticos sobre o golpe.
- Foi golpe.
- Não foi.
- Foi.
- Não foi.
Ora, qualquer criança de seis anos sabe que foi um golpe desavergonhado, com o supremo e com tudo. Aliás, a entrada do elemento “justiça” na questão serviu apenas para dar um verniz de legalidade ao que foi apenas isso: um golpe. É claro que as pessoas tendem a olhar para a questão pelo lado político, mas o buraco sempre foi mais em baixo. É o petróleo, estúpido.
Não gosto de recorrer a clichês (porque essa é tática dos reacionários), mas a letra daquela música de Chico Buarque entra aqui com total perfeição: “dormia a nossa pátria mãe tão distraída sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações”. Hoje o assunto é se o Brasil vai eleger um louco para a presidência, enquanto a rapina acontece longe dos holofotes.
A imprensa, pelo menos a alternativa, anunciava, há poucos dias, que após cinco leilões, as empresas multinacionais já são donas de 75% das reservas do pré-sal. E foram necessários apenas dois anos do governo ilegítimo erguido do golpe. A estatégia do projeto neoliberal dos tucanos era óbvia: era preciso assumir o poder para, com a legitimidade das urnas, entregar o que resta dos bens da nação.
Mas não rolou. O projeto dos entreguistas fracassou. O PSDB articulou para derrubar Dilma Rousseff, num processo político cheio de irregularidades e imoralidades, na perspectiva de vir a conquistar o governo. Mas as coisas fugiram ao controle e fizeram surgir o monstrendo que atende pelo nome de Jair Bolsonaro. Mas deu chabu: o porque Bolsonaro patrolou o PSDB, ruduzindo-o à insignificância.
É provável que Bolsonaro chegue ao poder. Então, não há segredos. Paulo Guedes, um cara para lá de ultra-liberal, é capaz de fazer uma razia ainda maior que os entreguistas tucanos. Não, já não estamos a falar de uma situação em que vão os anéis e ficam os dedos. Vai tudo mesmo. Porque os tucanos acreditam na mão do mercado, enquanto Bolsonaro quer pôr uma arma nessa mão. E aí não tem como reagir.
Salve-se quem puder.
A seguir, um gráfico (que pode ter algumas variações pontuais) que explica muito bem os interesses que movem a economia do planeta.
terça-feira, 23 de outubro de 2018
segunda-feira, 22 de outubro de 2018
O fascista é você. Não apenas Bolsonaro…
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
A eleição para presidente trouxe pelo menos uma coisa positiva: ficou evidente que Bolsonaro não é o único fascista desta história; os seus eleitores também são. Não se trata de discutir o conceito de “fascista”, pergunta hoje feita por 10 em cada 10 seguidores do candidato. Aliás, é apenas mais um truque. Em vez de negarem a ideia de que são fascistas, eles tergiversam com questões semânticas.
O eleitor de Bolsonaro é o que temos de pior em termos civilizacionais. A ascensão deste candidato sem qualidades serve apenas como álibi para essas pessoas revelarem quem realmente são. Não é bonito o que temos visto pelo Brasil afora. Outro argumento de negação é o “votar contra o PT”. Ou seja, o discurso se constrói à volta do ódio ao outro. E o ódio nunca foi bom conselheiro. Não dá para disfarçar o fascista que habita em cada um…
Bolsonaro é homofóbico. Os seus eleitores também.
Bolsonaro é racista. Os seus eleitores também.
Bolsonaro prega a violência. Os seus eleitores também.
Bolsonaro é machista. Os seus eleitores (e eleitoras) também.
Bolsonaro quer toda gente armada. Os seus eleitores também.
Bolsonaro quer uma ditadura. Os seus eleitores também.
Bolsonaro defende torturadores. Os seus eleitores também.
Bolsonaro é ignorante. Os seus eleitores também.
Enfim, fascistas. E o problema não é só Bolsonaro. Porque ele apenas dá corpo ao fascismo dos seus eleitores. E é preciso cuidado, porque essa gente que está presente em todos os lugares do cotidiano dos brasileiros. Nas famílias, nas empresas, nas ruas e, claro, nas redes sociais. Afinal, a apologia do nazismo, da qual todos os dias temos notícias, é a prova de que a decência se perdeu.
Menos mal que depois desta eleição todos sabemos em quem confiar ou não. Gente que antes tinha vergonha de mostrar o seu extremismo - esse namoro com ideias fascistas - agora abandonaram a hipocrisia e saiu do armário. Enfim, agora sabemos quem são os fascistas e se queremos ou não estar sentados numa mesma mesa com eles. Eu passo. Vivo muito bem sem os fascistas.
É a dança da chuva.
A eleição para presidente trouxe pelo menos uma coisa positiva: ficou evidente que Bolsonaro não é o único fascista desta história; os seus eleitores também são. Não se trata de discutir o conceito de “fascista”, pergunta hoje feita por 10 em cada 10 seguidores do candidato. Aliás, é apenas mais um truque. Em vez de negarem a ideia de que são fascistas, eles tergiversam com questões semânticas.
O eleitor de Bolsonaro é o que temos de pior em termos civilizacionais. A ascensão deste candidato sem qualidades serve apenas como álibi para essas pessoas revelarem quem realmente são. Não é bonito o que temos visto pelo Brasil afora. Outro argumento de negação é o “votar contra o PT”. Ou seja, o discurso se constrói à volta do ódio ao outro. E o ódio nunca foi bom conselheiro. Não dá para disfarçar o fascista que habita em cada um…
Bolsonaro é homofóbico. Os seus eleitores também.
Bolsonaro é racista. Os seus eleitores também.
Bolsonaro prega a violência. Os seus eleitores também.
Bolsonaro é machista. Os seus eleitores (e eleitoras) também.
Bolsonaro quer toda gente armada. Os seus eleitores também.
Bolsonaro quer uma ditadura. Os seus eleitores também.
Bolsonaro defende torturadores. Os seus eleitores também.
Bolsonaro é ignorante. Os seus eleitores também.
Enfim, fascistas. E o problema não é só Bolsonaro. Porque ele apenas dá corpo ao fascismo dos seus eleitores. E é preciso cuidado, porque essa gente que está presente em todos os lugares do cotidiano dos brasileiros. Nas famílias, nas empresas, nas ruas e, claro, nas redes sociais. Afinal, a apologia do nazismo, da qual todos os dias temos notícias, é a prova de que a decência se perdeu.
Menos mal que depois desta eleição todos sabemos em quem confiar ou não. Gente que antes tinha vergonha de mostrar o seu extremismo - esse namoro com ideias fascistas - agora abandonaram a hipocrisia e saiu do armário. Enfim, agora sabemos quem são os fascistas e se queremos ou não estar sentados numa mesma mesa com eles. Eu passo. Vivo muito bem sem os fascistas.
É a dança da chuva.
sexta-feira, 19 de outubro de 2018
Como as democracias morrem. E como o WhatsApp é culpado
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Acabou a palhaçada. Ontem a Folha de S. Paulo publicou uma matéria a revelar que empresários ligados ao candidato Jair Bolsonaro estão a bancar a veiculação de mensagens contra o PT e Fernando Haddad pelo Whatsapp. O golpe final, diz a reportagem, seria na próxima semana e seriam investidos cerca de R$ 12 milhões. É crime eleitoral, claro. Mas no Brasil do golpe essas coisas parecem não importar. O país virou uma casa da mãe-joana e pedir ações da Justiça é atirar palavras ao vento.
O PT entrou com um pedido para que a Polícia Federal faça uma investigação. Os representantes de Ciro Gomes cogitam pedir a anulação do primeiro turno. Nada deve acontecer. Mas pelo menos agora temos as provas de que há uma fraude e isso vai pôr em causa a legitimidade do candidato fascista, caso venha a ser eleito. E deixar claro que a imagem de “honesto” é pura fachada. Há também rumores (sim, eu escrevi rumores) de que pode vir mais chumbo pesado contra Bolsonaro. É esperar para ver.
No entanto, independente dos fatos de ontem, fica uma pergunta: o que leva um país a votar num homem sem qualidades e com muitos defeitos como Jair Bolsonaro? É um daqueles momentos em que há muitos questionamentos sobre a democracia. E mesmo a ideia de “um indivíduo, um voto” – inegociável para qualquer democrata – acaba posta em xeque. Afinal, é difícil atribuir valor a um voto feito com o fígado e não com o cérebro. Enfim, é um paradoxo que a democracia terá que resolver, porque estes tempos são difíceis.
Donald Trump, Vladimir Putin, Matteo Salvini, Viktor Orbán, Nigel Farage, o crescimento AfD ou o risco da vitória de Bolsonaro (se bem neste caso há a componente fascista) são um sintoma do mal-estar da civilização. O surgimento da tal “democracia iliberal”, que não passa de uma contradição dos termos, mostra que as liberdades estão em risco um pouco por todo mundo. Há razões diferentes, claro, mas sempre baseadas nos nacionalismos exacerbados, na rejeição do outro (onde o ódio está presente) e do autoritarismo.
Em agosto deste ano, a Fundação FHC, criada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, recebeu o cientista político norte-americano Steven Levitsky, professor na Harvard University, para falar na relação entre o “populismo e o autoritarismo competitivo”. Steven Levitsky é autor do livro “Como Morrem as Democracias”, em parceria com Daniel Ziblatt, também professor na Harvard University. Os dois dedicaram os últimos 20 anos ao estudo do debacle de regimes democráticos na Europa e também na América Latina.
Nesse trabalho, os dois cientistas fazem um alerta. Hoje o fim da democracia não é mais resultado de choques fraturantes, como os golpes militares. Já não é necessário usar armas, porque porque as estruturas de poder podem ser arrebatadas através de outros estratagemas: o descrédito da política tradicional, do uso de ferramentas comunicacionais – a imprensa incluída – e a corrosão paulatina de instituições chave, como é o caso do Poder Judiciário. Qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência.
Como morrem as democracias? Deixemos o próprio Steven Levitsky falar. Veja o filme.
É a dança da chuva.
Acabou a palhaçada. Ontem a Folha de S. Paulo publicou uma matéria a revelar que empresários ligados ao candidato Jair Bolsonaro estão a bancar a veiculação de mensagens contra o PT e Fernando Haddad pelo Whatsapp. O golpe final, diz a reportagem, seria na próxima semana e seriam investidos cerca de R$ 12 milhões. É crime eleitoral, claro. Mas no Brasil do golpe essas coisas parecem não importar. O país virou uma casa da mãe-joana e pedir ações da Justiça é atirar palavras ao vento.
O PT entrou com um pedido para que a Polícia Federal faça uma investigação. Os representantes de Ciro Gomes cogitam pedir a anulação do primeiro turno. Nada deve acontecer. Mas pelo menos agora temos as provas de que há uma fraude e isso vai pôr em causa a legitimidade do candidato fascista, caso venha a ser eleito. E deixar claro que a imagem de “honesto” é pura fachada. Há também rumores (sim, eu escrevi rumores) de que pode vir mais chumbo pesado contra Bolsonaro. É esperar para ver.
No entanto, independente dos fatos de ontem, fica uma pergunta: o que leva um país a votar num homem sem qualidades e com muitos defeitos como Jair Bolsonaro? É um daqueles momentos em que há muitos questionamentos sobre a democracia. E mesmo a ideia de “um indivíduo, um voto” – inegociável para qualquer democrata – acaba posta em xeque. Afinal, é difícil atribuir valor a um voto feito com o fígado e não com o cérebro. Enfim, é um paradoxo que a democracia terá que resolver, porque estes tempos são difíceis.
Donald Trump, Vladimir Putin, Matteo Salvini, Viktor Orbán, Nigel Farage, o crescimento AfD ou o risco da vitória de Bolsonaro (se bem neste caso há a componente fascista) são um sintoma do mal-estar da civilização. O surgimento da tal “democracia iliberal”, que não passa de uma contradição dos termos, mostra que as liberdades estão em risco um pouco por todo mundo. Há razões diferentes, claro, mas sempre baseadas nos nacionalismos exacerbados, na rejeição do outro (onde o ódio está presente) e do autoritarismo.
Em agosto deste ano, a Fundação FHC, criada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, recebeu o cientista político norte-americano Steven Levitsky, professor na Harvard University, para falar na relação entre o “populismo e o autoritarismo competitivo”. Steven Levitsky é autor do livro “Como Morrem as Democracias”, em parceria com Daniel Ziblatt, também professor na Harvard University. Os dois dedicaram os últimos 20 anos ao estudo do debacle de regimes democráticos na Europa e também na América Latina.
Nesse trabalho, os dois cientistas fazem um alerta. Hoje o fim da democracia não é mais resultado de choques fraturantes, como os golpes militares. Já não é necessário usar armas, porque porque as estruturas de poder podem ser arrebatadas através de outros estratagemas: o descrédito da política tradicional, do uso de ferramentas comunicacionais – a imprensa incluída – e a corrosão paulatina de instituições chave, como é o caso do Poder Judiciário. Qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência.
Como morrem as democracias? Deixemos o próprio Steven Levitsky falar. Veja o filme.
É a dança da chuva.
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