sexta-feira, 4 de maio de 2018

As 20 melhores fotografias feitas com celular em 2018

POR LEO VORTIS
As câmeras de celular evoluíram muito nos últimos tempos. Hoje é possível ter fotos de elevada qualidade técnica e até mesmo os profissionais da fotografia já estão usando este recurso em alguns trabalhos. O resultado é que todos nós, donos de um smartphone, acabamos virar “fotógrafos”.

Mas se a qualidade dos equipamentos digitais é cada vez melhor, é o talento de cada um a fazer a diferença. Ou seja, é preciso criatividade, talento e, claro, saber o momento exato de fazer o clique. Os resultados a gente tem visto principalmente nas redes sociais.

A Organização Mundial da Fotografia organizou, há pouco tempo, Prémio Sony - World Photography Mobile Phone Awards. E hoje apresentamos as três fotografias vencedoras, bem como as que entraram para a shortlist (em vídeo). Dê uma olhada e veja se concorda com as escolhas. A minha favorita, aviso já, é On The Edge, de Atle Ronningen.










quarta-feira, 2 de maio de 2018

Espoliação urbana e déficit habitacional: crônica de tragédias anunciadas


POR CLÓVIS GRUNER
Em maio de 1978, o “Extra”, jornal joinvilense que circulou entre 1977 e 1988, publicava um contundente editorial sobre o problema da moradia e o processo de favelização em Joinville: apenas naquela década, o déficit habitacional passara de cinco para 15 mil residências e o futuro, segundo o jornal, era o “colapso”. O colapso não veio, ao menos não como o matutino temia, mas o problema persiste desde então.

Hoje, o déficit quantitativo (número de famílias que não dispõem de moradias em termos absolutos) é de aproximadamente 12 mil residências. Em termos de déficit qualitativo (grosso modo, a falta de condições básicas de moradia), são cerca de 27 mil residências. E isso em uma cidade com estimados 12 mil domicílios vazios, e algo em torno de 30 mil terrenos baldios ou subaproveitados – ou seja, sua área construída é menor que 10% do coeficiente de aproveitamento do lote. Uma coisa e outra são, em grande medida, resultado de um crescente monopólio imobiliário, construído por meio de investimentos industriais e da especulação, eventos que por vezes se confundem.

Começo com esses dados bastante genéricos sobre a situação local para lembrar que a tragédia ocorrida na madrugada de terça (01), em São Paulo, onde um edifício ocupado por cerca de 150 famílias desabou, não é um problema exclusivo da metrópole. São Paulo é uma cidade superlativa, e por isso suas mazelas sintetizam e reverberam uma situação gravíssima que não é nova nem está limitada a um único local. Em todo o país, estima-se em sete milhões o número de famílias que se enquadram no déficit habitacional quantitativo; o qualitativo é de 15,5 milhões - respectivamente, 22 milhões, algo em torno de 10% da população brasileira, e cerca de 48 milhões de pessoas.

Nas cidades de porte médio e grande, a situação se agravou principalmente em função do processo migratório que, a partir dos anos de 1950-60, deslocou milhares de indivíduos do campo para as regiões urbanas. A crescente especulação imobiliária, aliada à irresponsabilidade e negligência dos poderes públicos, empurraram famílias e grupos em situação vulnerável a morar em regiões cada vez mais periféricas e a ocupar imóveis ociosos, tornando-se às vezes reféns de movimentos cujos interesses, apesar da denominação, nem sempre são sociais – segundo relatos de moradores, o Luta por Moradia Digna (LMD), que gerenciava a ocupação no largo do Paissandu, cobrava dos residentes um valor acima do necessário para a manutenção do local. É provável que não seja o único.

Direito à cidade e à moradia – Nos anos de 1980, o sociólogo Lucio Kowarick cunhou o conceito de “espoliação urbana” para traduzir as desigualdades e os conflitos sociais que tinham como palco as cidades, decorrência da distribuição desigual dos resultados do desenvolvimento econômico industrial. A exclusão de grupos inteiros de condições dignas de habitação é, a um só tempo, continuidade e extrapolação das formas de extorsão características do mundo do trabalho, sobrepujando para a moradia a precariedade observada, por exemplo, nas fábricas. Mas a espoliação denunciada por Kowarick não diz respeito exclusivamente à falta absoluta de um teto.

Suas formas de manifestação são muitas e diversas: as longas horas despendidas em transportes coletivos de péssima qualidade; a inexistência de investimentos públicos – saneamento básico, pavimentação, praças e parques, ausência de equipamentos culturais, de lazer e esportivos, etc... –; a fragilidade das moradias e das condições de vida nas periferias; a exposição constante à situações de risco e de violência urbana, criminosa e policial, são algumas delas. Velhas conhecidas dos moradores citadinos, elas se constituíram em característica intrínseca de centros como Curitiba, cidade onde moro, equivocadamente tomada como modelo urbanístico por quem dela só conhece a propaganda oficial.

Nem a Constituição de 1988, que transformou a moradia em um direito, nem o Estatuto da Cidade, que sugere medidas efetivas para garantir ou ao menos ampliar significativamente esse direito, têm sido suficientes para evitar tragédias como a de São Paulo – e que custou, ao menos oficialmente, uma vida, a de Ricardo, conhecido pelos moradores do edifício como “Tatuagem” – e outras tantas pequenas tragédias cotidianas, cujas dores nem sempre saem no jornal.

Em uma declaração lamentável, mas que traduz a mentalidade de parte de seus eleitores (e não apenas os seus), o ex-prefeito e candidato a governador João Dória afirmou que o prédio havia sido ocupado por uma “facção criminosa”, tratando como criminosos, indistintamente, todos os moradores do edifício, e que a solução para o problema é “evitar as invasões”. Sobre a ausência de politicas habitacionais e os interesses escusos, públicos e privados, que sustentam e reproduzem a espoliação urbana, razão primeira de nossos problemas, nada além do silêncio. Um silêncio, aliás, nada surpreendente, além de significativo.

terça-feira, 1 de maio de 2018

Feliz dia dos colaboradores...

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Trago más notícias: o trabalhador morreu. De quê? De assassinato semântico. Quem tenha estado atento às mudanças na linguagem das últimas décadas vai se lembrar da causa do óbito. Foi quando os empresários decidiram extirpar a palavra trabalhador do dicionário das empresas, substituindo-a pela expressão colaborador, uma denominação contaminada pela ideologia burguesa.

As palavras têm história. E não é preciso um grande exercício para entender a lógica. Trabalhador é uma expressão que vem do discurso de classes. É um sujeito incômodo, que luta pelos seus direitos, que se organiza, exige salário, faz greve. É claro que o patronato prefere lidar com o colaborador. Afinal, ele colabora.

Numa economia de mercado, nada mais natural que haver também uma economia do mercado linguístico. E há quem torture as palavras. Quem detém o poder económico, comunicacional e político pode impor o seu logos. É um fenômeno conhecido pelos estudiosos como “logocracia”. O poder da palavra. O poder pela palavra.

É célebre o diálogo entre Alice e Humpty Dumpty, em que o escritor Lewis Carrol sintetiza a questão da relação entre linguagem e poder.
- Quando eu emprego uma palavra, ela quer dizer exatamente o que me apetecer... nem mais nem menos – retorquiu Humpty Dumpty
- A questão é se você pode fazer com que as palavras queiram dizer tantas coisas diferentes.
- A questão é quem é que tem o poder... é tudo – replicou Humpty Dumpty.

A conclusão é óbvia. Os donos do poder têm a capacidade de fundar o vocabulário do mundo. Se linguagem e pensamento são indissociáveis, então a manipulação da linguagem será a manipulação do pensamento. O colaborador é filhote dessa falsificação. Tanto que a expressão foi assimilada por muitos trabalhadores, que se autodefinem como colaboradores.

A vida dos donos do poder fica mais fácil. Baixar o cacete para submeter os trabalhadores não é o único caminho. Há a linguagem. A estratégia passa por torná-los colaboradores, fazer com que se sintam integrantes de algo maior, domesticar o seu comportamento e conseguir a adesão. Um truque linguístico é coisa simples, mas de longo alcance.

E que tal extrapolar a questão para o plano político? Um partido de trabalhadores que preserve a consciência de classe será sempre uma pedra no sapato dos donos dos meios de produção. Não por acaso que a burguesia brasileira encetou o seu plano: destruir o Partido dos Trabalhadores e impedir que o país volte a ter um governo popular.

Pierre Bourdieu denuncia uma “vulgata planetária - da qual se encontram notavelmente ausentes capitalismo, classe, exploração, dominação, desigualdade e tantos vocábulos decisivamente revogados sob o pretexto de obsolescência ou de uma presumível falta de pertinência - produto de um imperialismo apropriadamente simbólico: os seus efeitos são tão poderosos e perniciosos porque ele é veiculado não apenas pelos partidários da revolução neoliberal”.

Ou como diz o próprio Karl Marx, os integrantes das classes hegemônicas “dominam também como pensadores, como produtores de ideias, regulam a produção e a distribuição de ideias do seu tempo; que, portanto, as suas ideias são as ideias dominantes da época”. Enfim, Bourdieu e Marx apontam para o mesmo destino: é mais fácil de controlar um colaborador, porque alienado ele perde a noção da sua condição de trabalhador.

É a dança da chuva.

segunda-feira, 30 de abril de 2018

Os honestões e o segredo de construir uma imagem na TV

POR JORDI CASTAN
Eles apareceram. Chegou o tempo dos honestões. Não confundir com os honestos, porque esses deveriam se fazer presentes o ano todo, a cada minuto. Mas são tão escassos que há quem ache que foram extintos pela cobiça, a corrupção e o próprio sistema, que não tolera que convivam, no mesmo espaço e tempo, duas espécies tão opostas.

Os honestões são esses animais políticos que pipocam a cada dois anos em eventos, festas, encontros e principalmente nas televisões dos eleitores, amparados pelo modelo eleitoral que estabelece o horário eleitoral gratuito. Ainda que poucos saibam nada ter de gratuito.

Do dia para a noite. aparecem com soluções miraculosas para todos os problemas da sociedade. Se transformam em experts em saúde, segurança ou mobilidade. Dão aula de educação, de planejamento e, por aqui, até temos os que se apresentam como gestores de sucesso.

Na realidade, são encantadores de burros, vendedores de ar quente, promotores do engano e da trapaça. Têm nos iludidos seu público cativo, no eleitor desinformado e facilmente manipulável seus mais ferventes seguidores. Para facilitar sua identificação o blog coloca à disposição dos seus leitores este vídeo que mostra como identificar a alguns destes honestões.



sexta-feira, 27 de abril de 2018

Para que servem as redes sociais? Para xingar, mentir, ofender...

POR LEO VORTIS
A internet revolucionou a esfera pública. Pessoas que antes não tinham um meio de expressão, hoje podem ir para as redes sociais ofender, caluniar, xingar, difamar, odiar. Ok... não era essa a ideia original, mas é o que temos. Aliás, as redes sociais também servem para inventar ou reproduzir notícias falsas. É uma casa de loucos, um autêntico vale-tudo.

“Eu estou certo”...
Nas redes sociais, todos acreditam estar certos e ser portadores da verdade derradeira. Autênticos gênios. Até mesmo aqueles que se “informam” de forma preguiçosa e sem critério. Pergunto: você consegue passar um único dia nas redes sociais sem experimentar algum sentimento de vergonha alheia? Não, certo?

“Não tenho dúvida”.
As redes sociais são um lugar onde a dúvida não existe. As pessoas vivem com inabaláveis certezas, mesmo que sejam as coisas mais estapafúrdias. E ai de quem tentar questionar. Enfim, como anunciava Bertrand Russel, “aquilo que as pessoas de fato querem não é o conhecimento, mas a certeza”. Exato, sir.

“Você é burro”.
Já notaram como as pessoas mais tapadas são as primeiras a chamar as outras de “burros” ou ignorantes”. É só dar uma olhada nas caixas de comentários da imprensa ou blogs. O “argumentum ad hominem” (atacar a pessoa e não as ideias) é a lógica mais comum. Discutir com esse tipo de gente é jogar palavras ao vento. Afinal, dois monólogos não fazem um diálogo.

“É mentira, mas eu acredito”.
As “fake news”, as mentiras nas quais a pessoa quer acreditar, devem ser o que  há de pior nas redes sociais. Já notaram o tantão de mentiras que todos os dias circulam por aí? O problema é que as pessoas querem acreditar, porque aquilo justifica algum dos seus preconceitos. Mas tem uma boa notícia. True news. Jimmy Wales, um dos criadores da Wikipedia, está trabalhando numa plataforma que vai publicar notícias neutras e baseadas em fatos reais. “Fake news” não entram.

Aliás, deixo aqui alguns conselhos práticos para evitar as fake news. Não interessa para muitos, mas lá vai:
1 – Ver se o URL (o endereço da página) é de uma fonte credível.
2 – Verificar a data, porque há muitas notícias velhas que são requentadas.
3 – Pesquisar se alguma fonte jornalística credível (jornal, televisão, rádio) também está falando no tema.
4 – Pesquisar no Google – usando as palavras-chave certas – para ver se o tema é debatido em outros meios. Usar o mesmo procedimento para saber também os nomes das pessoas.
5 – Estar atento à qualidade gráfica dos posts. Na maioria das vezes, as imagens são mal feitas e o visual é ruim (tudo depende da educação visual do leitor).
6 – Tentar perceber se as imagens não são manipuladas ou falsificadas.
7 – Ver se há mais alguém a falar no mesmo assunto.

E agora, você, que achou isto tudo uma grande inutilidade, já pode ir até a caixa de comentários dizer o quanto eu sou fraquinho.