sexta-feira, 29 de setembro de 2017

O desmonte do Brasil e a grande ameaça ao cinema nacional

POR DOMINGOS MIRANDA
O desmonte do Brasil se dá em todos os setores: na economia, na política, no judiciário, na educação, na saúde e na cultura. O cinema é um dos mais poderosos meios de conscientização dos povos, por isso os ditadores sempre tentaram manietá-lo. O Brasil é reconhecido internacionalmente pela qualidade de suas películas e o Cinema Novo se tornou referência mundial. Filmes como "O Pagador de Promessas", "Central do Brasil" e "Cidade de Deus" são críticas ácidas, mas também emotivas, à nossa desigualdade social.

Pois bem, a última afronta ao povo brasileiro praticada pelo nosso usurpador mor do poder aconteceu em agosto, quando Temer vetou a prorrogação  da Lei do Audiovisual, que se encerra dia 31 de dezembro de 2017. Este é um mecanismo que os produtores de cinema usam para captar recursos para a realização de seus filmes e existe desde 1993. Não há nenhum gasto do Tesouro Nacional ou desoneração fiscal. A pessoa ou empresa interessada em participar desta lei destina parte de seu imposto de renda (até 4%) para a produção cinematográfica.

É claro que todo o setor, que emprega 250 mil pessoas, ficou revoltado com este absurdo. Isto é coisa de gente vingativa, pois, durante o Festival de Cannes, no ano passado, toda a equipe de "Aquarius" fez um protesto, antes da apresentação do filme, com cartazes contra Temer, imagem que circulou o mundo todo.

Tal desatino presidencial, se não for derrubado pelos congressistas, poderá afetar também Joinville que está estruturando um polo de cinema em Santa Catarina. Os curtas metragens de diretores da região tem angariado sucesso em festivais. Recentemente foi realizado o 1º Joinville International Short Film Festival, que exibiu 80 curtas de 30 países. Mesmo com todas as dificuldades e falta de incentivos, a sétima arte desabrocha às margens do rio Cachoeira.

Joinville também poderia explorar um outro lado do cinema pouco comentado, o de cidade polo para a produção cinematográfica. Paulínia, no interior de São Paulo, descobriu este filão e deu certo. Lá foram realizados filmes de grande bilheteria. A antiga administração municipal se descuidou do polo, mas que agora está sendo reativado. A nossa cidade oferece as condições adequadas para esta empreitada: tem um bom visual, hotelaria de primeira qualidade, diversidade de paisagens (desde praias até montanhas com araucárias) e a maior diversidade étnica do país.

Ideias não custam caro, mas o importante é colocá-las em prática. Assim como a dança deu um visibilidade nacional e internacional para Joinville, o cinema também poderá fazer o mesmo. Basta ver o exemplo de Gramado, uma pequena cidade gaúcha que soube explorar este filão. Que tal entrar por este caminho? As autoridades municipais poderão dar uma resposta.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Golpe militar não é opção. E os militares sabem disso...

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Dizem que um bêbado – e não só – deve tomar muito cuidado ao descer as escadas, porque se erra um degrau acaba por errar todos. O bêbado é o Brasil. E o golpe que apeou Dilma Rousseff do poder (ainda há quem recuse a palavra) foi o primeiro degrau errado. O país começou a rolar escada abaixo até se transformar num bordel onde tudo o que cheire a poder, no Executivo, no Legislativo ou no Judiciário, se prostitui.

O Brasil mergulhou num vazio ético. O resultado é que começou a surgir, aqui e acolá, alguma algaravia sobre intervenção militar. A doideira dessa gente é tanta que há militares a lustrar os coturnos e alguns cretinos a fazer eco dessa tontice na sociedade. Desde o escroto senador Magno Malta, para quem 7 em cada 10 brasileiros querem a volta dos militares, até o empresário catarinense daquela loja da breguésima “estátua da liberdade”.

Intervenção? Difícil acreditar que os militares embarquem nessa furada. É de notar que ainda existem, nas fileiras, quadros que se orientam por uma ultrapassada mentalidade da caserna, quando os cérebros eram simples depósitos de ideias reacionárias. Mas hoje o golpismo militar dos anos 60 parece um exotismo. Aliás, seria o golpe pelo golpe, porque os militares não saberiam o que fazer com o poder. Só reprimir. E isso não é solução.

A ideia da autoridade autoritária, do “prende e arrebenta” e da “ordem” imposta pelas armas ainda tem adeptos por esse Brasilzão afora. Afinal, muitos brasileiros nunca souberam o que fazer com a democracia. Há muita gente que considera a liberdade uma coisa estranha, quase antinatural. E se recusa a entrar no século 21. Mas mesmo que haja muita gente a clamar pelo golpe, não parece que os militares entrem nessa roubada.

O leitor e a leitora lembram do último golpe militar (ou tentativa) ocorrido no mundo? Sem pesquisar muito, é fácil lembrar Tailândia, Egito, Sudão, Costa do Marfim ou Guiné-Bissau. Sem desrespeito pelos povos desses países, fica a pergunta: é nesse ambiente terceiro-mundista que o Brasil quer se situar? Claro que não. O golpe militar é um problema, nunca a solução. Os militares brasileiros sabem disso, apesar de vez por outra entenderem dar prova de vida.

É a dança da chuva.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Higienização em Joinville: a incompetência não se cerca com grades







POR JORDI CASTAN
Em Joinville os problemas se gradeiam. Não se resolvem, só se escondem. Em lugar de buscar soluções, o caminho escolhido é o de colocar grades. Grades, muros, cercas elétricas e concertinas é a alternativa dos incompetentes para lidar com os problemas da cidade.

Primeiro foi a marquise do Bradesco no centro. Agora o jardim do MAJ, um dos poucos espaços verdes abertos à população, é o próximo alvo e corre o risco de ser gradeado. Seria aberto apenas em alguns horários. E com isso Joinville pode perder mais um espaço público, com a anuência de parte da sociedade que mora atrás de grades e muros.

É resultado de uma sanha higienizadora, que esconde os problemas em lugar de enfrentá-los e resolvê-los. E que ganha força com o apoio de uma administração inepta, caolha e covarde.
É mais fácil colocar uma grade que exigir mais segurança. É mais fácil excluir as pessoas que integrá-las. É mais fácil empurrar que aproximar.  É mais fácil impor que escutar. As escusas são as mais variadas e esfarrapadas. Faltam policiais, não há câmaras, há consumo de drogas, as pessoas tem medo. As famílias têm se afastado do jardim do MAJ, onde fazem barulho, bebem álcool e por aí afora.

Deixa entender. A Guarda Municipal não foi criada para apoiar e complementar o trabalho da Policia Militar? Ou foi criada só para os agentes ficarem escondidos e multar? Não há uma legislação que estabelece o nível de barulho permitido em áreas residenciais? Por que não se fiscaliza e se faz cumprir? Ah sei, os policiais não tem combustível, veículos, disponibilidade, efetivo ou qualquer outro motivo o escusa que venha a calhar.

Só falta dizer que os policiais são covardes demais para resolver esses problemas menores, que são fruto só da inépcia das autoridades. Aliás, é bom lembrar que o jardim do MAJ está na frente da Cidadela Cultural Antarctica, aquele cortiço cultural em que se converteu o espaço que deveria ser um centro irradiador de cultura.

Joinville é hoje uma cidade acomodada, acovardada e que causa vergonha. Uma sociedade de omissos que não levantam a bunda do sofá para resolver e enfrentar seus problemas. E problemas que se avolumam frente a inércia e o descaso. A proposta de gradear o jardim do MAJ é estúpida, própria de quem encara os problemas desde uma visão parcial e distorcida. O uso dos jardins do MAJ pela sociedade não é um problema de segurança pública, é um problema cultural, social, humano. E de meio ambiente, até paisagístico. Por isso não pode ser tratado só a partir de uma abordagem repressiva e truculenta. Porque gradear um espaço público como aquele é cercear o direito de uso de um dos poucos espaços públicos que a sociedade utiliza.

Há várias tribos e grupos que fazem dos jardins do MAJ seu espaço de lazer, numa cidade que não oferece quase nada para a população. Não há só arruaceiros. Aliás, é o que menos há. Vejo famílias fazendo piquenique, casais tirando fotos, gente celebrando um aniversário, escutando música, passeando ou simplesmente namorando ou conversando.

Em lugar de melhorar o espaço - cuidar do jardim e melhorar a manutenção do vergonhosamente abandonado Parque das Águas - a mobilização é para gradear o espaço. Começo a achar que Joinville merece mesmo esse bando de ineptos que administram a cidade. Uma sociedade que não se mobiliza para defender a liberdade é uma sociedade que merece mesmo viver rodeada por grades, cercas e muros. Uma sociedade cada dia mais fragmentada, desarticulada, desestruturada, gradeada.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Futebol , calcio, football: dos alambrados nas várzeas, aos torcedores de PS

POR EMERSON GONÇALVES
Sou da turma de 1975. Nasci aqui em Jaraguá do Sul e as primeiras lembranças da bola me remetem aos divertidos rachões nos enlameados campos de várzea do bairro Água Verde. Aliás, nome inspirado por ali estarem sediados os primeiros campinhos de bola próximos a áreas alagadiças com muito limo. Naquela época, por influência das rádios cariocas e paulistas, geralmente a piazada ou torcia para times do RJ ou SP e, nesses rachões, você se achava um Sócrates, um Emerson Leão, um Serginho Chulapa ou, quem sabe, um Dinamite. E  os metidos a craque eram Zico.

Meu falecido pai era santista; mas não teve jeito, os dois filhos escolheram ser palmeirenses, mesmo numa época em que o time vivia numa fila e conseguia perder campeonato paulista até para o Internacional de Limeira.

Sou da geração que achava o máximo assistir aos domingos na Band o campeonato italiano e ver por lá desfilarem os maiores craques da época e aprender a ter um segundo time pra torcer, dessa vez na Itália. Já adulto me peguei assistindo aos jogos do espanhol, que se tornou destino para os grandes craques do mundo todo.

Mais recente os torcedores dos times tupiniquins começaram a temer os chineses com suas cifras milionárias, arrancando os jogadores que mal e mal começam a se destacar nos certames regionais. Nos últimos dias, visto a transferência milionária redescobrimos o campeonato francês.

Mas confesso que o que mais me assusta, de repente, seja uma preocupação nostálgica e boba. É ver a geração do meu sobrinho, hoje com seis anos, torcer para o Barcelona, pois é o melhor time do Play Station, e nem sequer se interessar ou esboçar qualquer sentimento de apreço pelo time local do Varzeano, ou o nosso Grêmio Esportivo Juventus e muito menos pelos times nacionais.

Saudades da várzea, dos rachões com lama até o pescoço, da bola de borracha e das narrações em rádios em ondas curtas que as melhores jogadas ficavam por conta do nosso imaginário, pois bem nesses momentos o som do sinal da emissora era superado pelas interferências eletromagnéticas.




Emerson Gonçalves vive em Jaraguá do Sul, 
é reporter na Rádio RBN 94,3 FM
e torce pelo Palmeiras.